LEVANTAMENTO DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE JAVALIS (Sus scrofa LINNAEUS, 1758) NAS DIFERENTES ESTAÇÕES DO ANO NA FAZENDA SANTA CAROLINA, EM IMBITUVA, PARANÁ

Verônica Oliveira Vianna1, Guilherme Dias Lopes2, Denilton Vidolin3, João Ricardo Alves Pereira4, Wilson Story Venâncio5
1 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
2 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
3 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
4 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
5 - Universidade Estadual de Ponta Grossa

RESUMO -

RESUMO – O javali (Sus scrofa) é uma espécie originária da Europa introduzida no Brasil para produção de carne, e vem causando danos severos aos nossos biomas e produção agropecuária. O objetivo deste trabalho foi levantar a ecologia trófica dos javalis que se encontram na fazenda Santa Carolina O método utilizados foi o de coleta de dados indireta na área, avaliando pegadas, danos e fezes. O período estudado foi de dezembro de 2014 a agosto de 2015, sendo realizada uma coleta por estação do ano, com duração de dois dias. Verificou-se perdas nas lavouras da fazenda, tais como amassamento, arranque e consumo de plantas nas lavouras de milho, soja e feijão, porém estas não foram quantificada. Baseado na análise de fezes verificou-se a capacidade que a espécie tem em flexibilizar a alimentação, o que confere ao javali uma capacidade de tolerar transformações ambientais e se adaptar.

Palavras-chave: exóticO, danos, meio ambiente, alimentação

SURVEY OF WIL BOAR FOOD BEHAVIOR (Sus scrofa LINNAEUS, 1758) AT THE DIFFERENT SEASONS OF THE YEAR IN THE FARM SANTA CAROLINA, IN IMBITUVA, PARANÁ

ABSTRACT - Wild boar (Sus scrofa) is a species native to Europe introduced in Brazil for meat production, and has been causing severe damage to our biomes and agricultural production. The objective of this work was to raise the trophic ecology of the wild boar found in Santa Carolina farm. The method used was indirect data collection in the area, evaluating footprints, damages and feces. The period studied was from December 2014 to August 2015, with a two-day collection per season of the year. There were losses in the farm's crops, such as kneading, grubbing and plant consumption in corn, soybean and bean crops, but these were not quantified. Based on the analysis of feces, the ability of the species to suppleness feeding was verified, which gives the boar a capacity to tolerate environmental changes and to adapt.
Keywords: exotic, damage, environment, food


Introdução

O javali (Sus scrofa) é um suídeo cuja distribuição original se estende da Europa Continental até as ilhas de Java e Sumatra (GISD,2005). Esta espécie de animal possui dieta que varia grandemente conforme o habitat e a área de distribuição geográfica, os indivíduos fuçam o ambiente buscando preferencialmente itens de origem vegetal, sendo mais consumidos frutos, castanhas e partes subterrâneas das plantas, além de insetos, ovos de pássaros, lagartos e pequenos mamíferos (Deberdt e Scherer, 2007). No Paraná, a espécie foi introduzida no Município de Palmeira, durante a década de 1960 (Britto & Patrocínio, 2006). Souza et. al. (2015), em levantamento realizado com produtores rurais entre os anos de 2013 e 2014 na região dos Campos Gerais, verificaram que em 95,23% das propriedades havia pelo menos um tipo de dano nas lavouras, sendo as culturas mais afetadas: soja e milho. Dentre os animais que causavam alguma espécie de dano o javali foi o mais citado. Além de problemas econômicos esta espécie ainda pode causar problemas ambientais com a fauna nativa, pois competem por alimentos, além de alterações nas propriedades químicas e físicas do solo levando a processos erosivos (GISD,2005). O objetivo deste trabalho foi levantar o comportamento alimentar de javalis (Sus scrofa Linnaeus, 1758) nas diferentes estações do ano na fazenda Santa Carolina, em Imbituva, Paraná.  

Revisão Bibliográfica

O javali (Sus scrofa) tem como características físicas uma silhueta compacta e forte, membros curtos, ausência de pescoço, cabeça grande e afunilada e grandes presas conhecidas por amoladeiras ou navalhas. Os indivíduos adultos possuem pelagem da cor variando do cinza escuro a preto, já os filhotes apresentam coloração diferenciada, até cinco ou seis meses sendo pelagem amarelada com riscos horizontais castanhos no dorso. Quanto ao tamanho os machos podem chegar a 1,50 metros de comprimento e ultrapassar os 100 quilos, as fêmeas chegam a 1,20 metros de comprimento e chegam aos 80 quilos (Deberdt e Scherer,2007). A agressividade alta e a facilidade de adaptação contribuíram para que o javali entrasse para a lista das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo organizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, 2006). Quanto aos impactos ambientais causados por esta espécie pode citar danos à fauna e flora como o arranque de plantas e alterações nas propriedades químicas e físicas do solo. Esses animais, costumam fuçar, reduzindo a cobertura herbácea do solo  podendo assim dar início a processos erosivos (Choquenot et al.,1996; Oliver e Brisbim,1993; GISD,2005). Javalis também se alimentam de sementes, raízes, ovos de aves e répteis, de mamíferos de pequeno porte e competem por alimento com espécies nativas e devido ao porte da espécie leva vantagem. Segundo Crawshaw,(1997) a alimentação está intimamente ligada a diversos aspectos da biologia do animal influenciando sua distribuição, densidade, comportamento e outros sendo considerada um dos principais ramos da ecologia animal. A análise da dieta através das suas fezes ou conteúdo estomacal, além da identificação de diversos itens alimentares como materiais vegetais e invertebrados, também pode levar conhecimento das espécies de vertebrados (presas) presentes na área. Os principais prejuízos financeiros para as propriedades rurais são danos a produções agrícolas, principalmente o milho (Zea mays), ataques e disseminação de doenças a rebanhos, animais de estimação e ao ser humano. Eles também podem ser vetores de doenças como brucelose, leptospirose e febre aftosa, além disso, também acabam dispersando e plantas daninhas (Deberdt, 2005).

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado na Fazenda Santa Carolina (25°10'41.10"S  50°29'13.32"O) situada no município de Imbituva, Paraná. A fazenda possui área total de 6.600 ha sendo 300 ha destinados à criação de gado e 1.800 ha à agricultura, o restante da área constitui a reserva legal. Foi realizada uma coleta por estação do ano, com duração média de dois dias. As coletas iniciaram em dezembro de 2014 e terminaram em agosto de 2015, sendo contemplada desta forma todas as estações do ano. Durante as coletas indiretas de dados, foram registrados os locais e danos causados pelos javalis à lavoura ou a área de preservação, que fica dentro da fazenda, tais como: fuçados, plantas arrancadas ou consumidas, buracos no solo, coleta de fezes e registros que evidenciavam a passagem de javalis naqueles locais. Os locais onde foram observados algum tipo de dano, foram marcados com auxílio de equipamento de posicionamento geográfico (Global Positioning System-GPS Portátil Esportivo Garmin) para elaboração de um mapa da área de vida dos javalis. Para estimar o tamanho e composição dos bandos de javalis, nas diferentes estações do ano, foram feitos registros fotográficos de pegadas ou danos. Em relação as fezes coletadas foram acondicionadas separadamente em sacos plásticos e armazenadas em freezer. Para analisar o conteúdo das fezes procedeu-se da seguinte maneira: as amostras eram lavadas em água corrente com auxílio de peneira (Tyler Mesh 10, abertura 2mm) para triagem do material. O material de origem vegetal foi separado do material de origem animal para medida de proporção. Em seguida os itens encontrados foram separados por possíveis espécies ou estruturas. Esses procedimentos foram realizados em cada uma das estações do ano.

Resultados e Discussão

A primeira coleta foi realizada na primavera, neste período coincidiu  com a época de reprodução dos javalis. Por meio das avaliações visuais e registros fotográficos das pegadas observou-se que os grupos de javalis (Sus scrofa) eram grandes e compostos por fêmeas adultas, machos adultos e filhotes. Este fato proporcionou aumento da ocorrência de danos nas lavouras de milho (Zea mays), como: plantas derrubadas, arrancadas, consumidas e solo revirado. Os danos à plantação de milho, citados acima, foram registrados em nove locais distintos da fazenda. Nessa coleta não foram encontradas fezes.  Nas coletas de verão realizadas em fevereiro de 2015, observou-se que a ocorrência de arranque e consumo de plantas, nas lavouras de soja (Glycine max) e feijão (Phaseolus vulgaris). Nas de milho verificou-se que além destes, o solo foi fuçado e revirado. Pela análise das pegadas pode-se inferir que a distribuição dos animais nessa época foi diferente da primavera, pois os grupos eram compostos somente de fêmeas e filhotes, já os machos tanto adultos, como jovens eram solitários. Foram registradas mais pegadas de fêmeas e filhotes nas lavouras de soja e feijão, e de machos nas de milho. A tabela 01 apresenta a variação da composição das fezes de javalis, durante as estações do ano. Observa-se que a maioria os itens alimentar no verão é de origem vegetal. No outono verificou-se através de registro de pegadas, que os grupos mantiveram-se distribuídos da mesma maneira que no verão. Neste período não foram registrados danos a lavouras, pois é período de transição entre as culturas de verão e as de inverno (aveia, Avena sativa e azevém, Lolium multiflorum). Entretanto, foram observados fuçados nos barrancos, nas estradas, em poças de água, marcas de animais em árvores, além de raízes expostas dentro da área de reserva legal da fazenda. Nessa estação do ano observou-se que a distribuição espacial dos animais ficou próxima as áreas de reserva legal. Os registros de análise de fezes mostrou que neste período os animais se alimentaram em maior proporção de itens de origem animal (tabela 01), conferindo a capacidade de adaptação alimentar. A avaliação em relação a composição do grupo e sua distribuição feita na estação do inverno, mostrou a mesma tendência observada no outono e no verão, portanto pode-se inferir que grupos compostos por machos, fêmeas e filhotes ocorrem durante a reprodução. Nas áreas onde havia aveia foram encontrados pegadas de fêmeas com filhotes, podendo-se atribuir o consumo de aveia a estes grupos. Já machos tanto adultos, quanto jovens estavam distribuídos próximos às áreas de reserva legal. Em relação a áreas produtivas, verificou-se consumo de aveia, este fato corrobora com os resultados encontrados na avaliação das fezes dos animais (tabela 01). A proporção de matéria de origem vegetal encontrada nas fezes dos animais foi de 87,0% chamando a atenção para o aumento na utilização de alimentos disponíveis na reserva legal (tabela 01).

Conclusões

Através deste levantamento verificou-se que os danos causados por javalis (Sus scrofa) na fazenda Santa Carolina, em Imbituva, Paraná ocorrem não só nas lavouras, causando prejuízos econômicos, mas também nas áreas de reserva legal e nascente, o que pode acarretar problemas ambientais graves. O conhecimento do comportamento de formação de grupo dos javalis e sua evolução no decorrer do ano é importante para a realização de um combate mais eficaz e efetivo desta espécie. Observou-se também através das análises de fezes, que esta espécie possui o hábito alimentar onívoro e sua dieta apresenta itens alimentares diversificados durante o ano, demostrando capacidade de adaptação quando existe a escassez de algum item alimentar.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRITTO, M. M. & PATROCÍNIO, D. N. M. A fauna de espécies exóticas no Paraná: Contexto nacional e situação atual. In Unidades de conservação: ações para valorização da biodiversidade. Instituto Ambiental do Paraná.  53- 94 p. 2006.   CHOQUENOT, D.; MCILROY, J. & KORN, T. 1996 Managing Vertebrate Pests: Feral Pigs. Bureau of Resource Sciences, Australian Government Publishing Service, Canberra. 163 p.   CRAWSHAW JR.,P.G. Recomendações para um modelo de pesquisa sobre felídeos neotropicais.p.70-94.In:VALLADARES-PÁDUA,C.(Orgs.).Manejo e conservação da vida silvestre no Brasil tropical.DF:MCT-CNPq/Sociedade  Civil Mimirauá,1997.   DEBERDT, A. J., FISCHER, W. A., FRANKENBERG, S.T. & SCHERER, S. B. 2005. 10 anos de controle dojavali asselvajado no Estado do Rio Grande do Sul.Apresentação oral e painel no I Simpósio Brasileiro Sobre Espécies Exóticas Invasoras.Brasília – DF, 05 a 07 de outubro de 2005. Disponível em www.mma.gov.br/invasoras .Acesso em 20/06/2015   DEBERDT, A. J., SCHERER, S. B. O javali asselvajado: ocorrência e manejo da espécie no Brasil. Natureza e Conservação, 5(2):31 – 44 p, 2007.   GISD - Global Invasive Species Database, 2005. Disponível em: http// www.issg.org/database/species. Acesso em: 09/01/2015.   IUCN - The World Conservation Union, 2006. The IUCN red list of threatened species. Disponível em: http://www.iucnredlist.org/search/details.php/41785/all. Acesso em 20/10/2014   SOUZA, T.N.; GOLTZ, A.K.; LOPES, G.D.; PEREIRA, J.R.A; VIANNA, V.O.; Levantamento de danos causados por fauna nas lavouras do Paraná, com ênfase na região Campos Gerais. CONEX 13° Ponta Grossa; Anais eletrônico...Ponta Grossa:UEPG, 2015. Disponível em: http//:sites.uepg.br/conex_2015/. Acesso: 07de março de 2016.