Levantamento fitossociológico em áreas de Caatinga no Cariri paraibano pastejadas por caprinos
Darlan Silva dos Santos1, Mariah Tenório de Carvalho Souza2, Leandro Santos e Silva3, Jordânia Kely Barbosa da Silva4, Gislaine Alexandrino da Silva5, Paulo Otávio Silva Cavalcante6, Rayane Ferreira dos Santos7, Felipe Jackson de Farias Silva8
1 - Universidade Federal de Alagoas
2 - Universidade Federal de Alagoas
3 - Universidade Federal de Alagoas
4 - Universidade Federal de Alagoas
5 - Universidade Federal de Alagoas
6 - Universidade Federal de Alagoas
7 - Universidade Federal de Alagoas
8 - Universidade Federal de Alagoas
RESUMO -
O bioma caatinga possui um complexo vegetacional de porte arbóreo que são utilizadas como suporte forrageiro em sistemas de criação extensiva de pequenos ruminantes (Souza, 2015). O experimento foi conduzido na Estação Experimental pertencente a UFPB, localizada no município de São João do Cariri-PB. O levantamento fitossociológico foi realizado em cinco áreas de Caatinga pelo método de distribuição de parcelas, de forma sistemática dispostas em formato equidistante (10 m x 10 m). Foram mensurados em cada parcela: a espécie, a altura (≥1,0m) e a circunferência ao nível do solo de todos os indivíduos vivos do estrato arbóreo. Todas as áreas apresentaram altos valores de DR e valor de importância (VI) para a espécie P. pyramidalis, evidenciando a dominância da catingueira em áreas de caatinga com sucessão. Assim, As áreas de Caatinga no Cariri paraibano apresentam-se em regeneração natural, com presença de espécimes jovens e oportunistas.
Palavras-chave: meio ambiente, nordeste, plantas nativas, sucessão natural
Phytosociological survey in areas of Caatinga in Cariri Paraíba grazing by goats
ABSTRACT - The caatinga biome has a vegetational complex of arboreal size that is used as fodder support in systems of extensive creation of goats (Souza, 2015). The experiment was conducted at the Experimental Station of the UFPB, located in the municipality of São João do Cariri-PB. The phytosociological survey was carried out in five Caatinga areas by the method of plot distribution, systematically organized in an equidistant format (10 m x 10 m). The thickness, height (≥ 1.0 m) and the circumference at the soil level of all living individuals of the tree stratum were measured in each plot. All areas presented high values of DR and value of importance (VI) for the species P. pyramidalis, evidencing that catingueira domains in areas of Caatinga at succession. Thus, the Caatinga areas in Cariri Paraíba are in natural regeneration, with the presence of young and opportunistic specimens.
Keywords: Environment, native plants, natural succession, northeast
Introdução
O bioma caatinga possui um complexo vegetacional de porte arbóreo, em sua maioria composta por leguminosas arbóreo/arbustivas que são utilizadas como suporte forrageiro em sistemas de criação extensiva de pequenos ruminantes (Souza, 2015). Além disso, a serapilheira (camada de material morto sobre o solo) contribui significativamente para a alimentação de pequenos ruminantes no período seco. Estes animais são explorados de forma semiextensiva na região nordeste neste bioma, e no período seco há uma grande escassez de volumosos.
A determinação da disponibilidade de forragem em pastagem é de fundamental importância, tanto para a pesquisa científica quanto para o planejamento da exploração racional de áreas manejadas comercialmente.
A literatura nacional e internacional relata vários métodos de determinação de massa forrageira, uns com boa aplicabilidade para as gramíneas de clima tropical e outros restritos às gramíneas temperadas; outros métodos ainda carentes de metodologias mais precisas são aplicados para o estrato arbóreo/arbustivo e herbáceas. Porém, a maior dificuldade encontra-se em métodos precisos para a determinação da disponibilidade de forragem em períodos críticos ou de seca em áreas de Caatinga de regiões semiáridas. Assim, o objetivo deste trabalho foi determinar o levantamento fitossociológico em áreas de Caatinga para averiguar a riqueza de espécies arbóreas disponíveis para o pastejo caprino em modelos extensivos de criação.
Revisão Bibliográfica
Parente (2009) estudando áreas de caatinga no Cariri paraibano verificou que o pastejo caprino interfere na vegetação da Caatinga de forma acentuada, sendo necessário ser monitorado constantemente a área pastejada. Além disso, o solo e a vegetação da Caatinga apresentam alta resiliência ao pastejo, quando oferecido uma mínima cobertura vegetal e oportunidade de rebrota, respectivamente, confirmando que a vegetação da Caatinga apresenta potencial para a produção animal. Além disso, a vegetação presente em áreas de sucessão exerce função importante na manutenção da cobertura do solo (através da deposição de folhas que compõem a serapilheira) e no incremento do teor de matéria orgânica que mantém as condições químicas, físicas e biológicas do mesmo, devendo, portanto, fazem parte das premissas do manejo a ser adotado. Gonzaga Neto et al.(2001) afirmam que a Caatinga constitui-se na mais importante fonte de alimentação para os rebanhos desta região, chegando a participar em até 90% da dieta de caprinos e ovinos durante o ano todo, principalmente para aqueles rebanhos criados extensiva ou semi-intensivamente. Porém, apresenta uma dinâmica de produção de fitomassa variável de acordo com as épocas do ano, presença do estrato vegetativo, composição química do solo, entre outros (Souza, 2015). Por isso, deve-se a importância de estudos fitossociológicos a longo prazo em regiões semiáridas.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido na Estação Experimental pertencente a UFPB, localizada no município de São João do Cariri-PB. Na área predomina o clima Bsh com temperatura média mensal varia de 27,2 ºC, precipitações de 400 mm/ano e umidade relativa de 70%. A vegetação que recobre a região estudada é a Caatinga hiperxerófita. A área experimental contém diferentes lotação animal e estados de antropização, da seguinte forma: Área 1 (10 animais – 1 animal/3.200 m
2), Área 2 (5 animais – 1 animal/6.400 m
2), Área 3, 4 e 5 (sem animais). Os animais pertencentes às áreas eram caprinos machos, adultos, sem padrão racial definido. O levantamento fitossociológico foi realizado em cinco áreas de Caatinga pelo método de distribuição de parcelas (plot sampling), de forma sistemática dispostas em formato equidistante (10 m x 10 m). Em cada área foram mensuradas 30 parcelas de 10m², resultando em um total de 1.500m² de área amostrada.
Foram mensurados em cada parcela: a espécie, a altura (≥1,0m) e a circunferência ao nível do solo de todos os indivíduos vivos do estrato arbóreo (Rodrigues, 1989). As medidas de altura foram realizadas com varão de 1m de altura e para medir a circunferência dos indivíduos foi utilizada fita métrica.
As espécies foram organizadas por família no sistema de Cronquist (1988) e para verificar a suficiência amostral das áreas foram confeccionadas curvas de coletores (Rodal et al., 1992), plotando-se no eixo das abscissas, o número de parcelas adotadas.
Foi calculado o diâmetro através dos dados de CNS e para caracterizar a estrutura da comunidade arbórea, foram calculados os parâmetros fitossociológicos de acordo com Rodrigues (1989), a saber: frequência absoluta (FA), frequência relativa (FR), densidade absoluta (DA), densidade relativa (DR), dominância absoluta (DoA), dominância relativa (DoR), índice de valor de importância (IVI), índice de valor de cobertura (IVC). Para avaliação fitossociológica foi utilizado o programa Mata Nativa 3, Cientec, v. 3.11.
Resultados e Discussão
Foi determinada a curva do coletor para cinco áreas amostradas. Assim, podem-se fazer inferências se o número necessário de amostras estabelecidas foi adequado ou não para o conhecimento da população (Castro, 1987). Observa-se em todas as figuras que não houve predominância de uma assíntota, assim todos os gráficos apresentaram-se linear crescente com o surgimento de novas espécies ao longo das parcelas em todas as áreas avaliadas.
Figura 1. Curva do coletor para as áreas cinco áreas em estudo, com o número de espécies registradas em uma área acumulada de 1.500 m².
Muller-Dumbois e Ellenberg (1974) citam que o comportamento estável da curva demonstra suficiência mínima na amostragem florística da comunidade. Assim, pode-se considerar que o tamanho das parcelas foi suficiente para determinar o levantamento florístico das áreas estudadas.
Segundo estudos de florística foram encontradas as espécies:
Jatropha molíssima, Croton sonderianus,
Pilosocereus gounellei,
Tacinga palmadora, Poincianella pyramidalis, Mimosa ophthalmocentra,
Cissus decidua,
Cynophalla flexuosa e
Aspidosperma pyrifolium.
Tabela 1. Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas em cinco áreas de caatinga.
O maior número de indivíduos por hectare foi observado na área 2, com a presença marcante da espécie
P. pyramidalis em uma densidade absoluta (DA) de 4.866 indivíduos/ha. Segundo este estudo a
P. pyramidalis pode ser considerada como um forte indicador do nível de perturbação antrópica, característica que se expressa pelo comportamento de suas populações nos ambientes avaliados, já que apresenta grande poder invasor, com tendência a formar pontos densos, dominando frequentemente pastos limpos ou áreas perturbadas.
Além disso, todas as áreas apresentaram altos valores de DR e valor de importância (VI) para a espécie
P. pyramidalis, evidenciando a dominância da catingueira em áreas de caatinga com sucessão.
Em estudo semelhante, Araújo et al., (2010) verificou no ano de 2010 maiores VI e DR para a espécie
Croton sonderianus em três das áreas deste mesmo estudo. Tal fato, evidencia a alta modificação e adaptação da vegetação nestas áreas de caatinga em apenas quatro anos corridos.
O estrato arbóreo presente nas cinco áreas de caatinga apresentou uma média de altura entre 1 a 5m. Neste trabalho foram registrados espécimes com diâmetros entre 3 e 223cm, no entanto o maior número de indivíduos foi observado com intervalo entre 3 e 60cm.
Araújo et al., (2010) encontrou diâmetros menores no ano de 2010 para as mesmas áreas em pesquisa. É possível afirmar que houve um aumento no número de perfilhos basais dos estratos arbóreos, indicando um hábito de crescimento lateral ao invés de longitudinal. As plantas da Caatinga são oportunistas e bem adaptadas a climas adversos com alto poder de resiliência por estresse hídrico e o aumento no diâmetro basal pode ser considerado um indicador de adaptação destas plantas.
Conclusões
As áreas de Caatinga no Cariri paraibano apresentam-se em regeneração natural, com presença de espécimes jovens e oportunistas e servem como recurso forrageiro para pequenos ruminantes em modelos extensivos de criação
Gráficos e Tabelas
Referências
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