LEVEDURAS VIVAS NA DIETA DE BOVINOS NELORE CONFINADOS: DESEMPENHO E PERFIL SANGUÍNEO

Lucas Domingos Ferreira Miranda1, Ramon Argentini Rizzieri2, Alexandre Perdigão3, Carolina Floret da Costa4, Daniela Dutra Estevam5, Cyntia Ludovico Martins6, Danilo Domingues Millen7, Mário De Beni Arrigoni8
1 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu
2 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu
3 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu
4 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu
5 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu
6 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu
7 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FCAT - Campus Dracena
8 - UNESP - Universidade Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho" - FMVZ - Campus Botucatu

RESUMO -

O estudo avaliou a utilização de leveduras vivas e monensina no desempenho e perfil sanguíneo de bovinos Nelore terminados em confinamento. Foram utilizados 77 bovinos confinados durante 90 dias, com delineamento experimental em fatorial 2×2, sendo os tratamentos: dieta basal sem aditivos, dieta com monensina (27ppm/kg MS), dieta com levedura (2g/dia), dieta com levedura e monensina (2g e 27ppm/kg MS). Encontrou-se efeito na IMS, IMSPV, CA e EA no tratamento com monensina, para PF, PCQ e RC não houve diferença entre os tratamentos. No perfil sanguíneo houve efeito comparando as fases de adaptação e terminação, nos parâmetros PCO2, TCO2, Beecf , Beb, bicarbonato e lactato. A adição de monensina proporcionou valores maiores para TCO2 e bicarbonato, e menor para pO2. A levedura proporcionou pH mais elevado e menor lactato. O uso da levedura pode ser uma alternativa para a monensina devido ao um possível controle da fermentação ruminal e também por apresentarem PF e RC semelhantes.

Palavras-chave: aditivos alimentares, confinamento, Nelore.

LIVE YEASTS IN NELLORE FEEDLOT CATTLE DIETS: PERFORMANCE AND BLOOD PROFILE

ABSTRACT - The study evaluated the use of live yeasts and monensin on performance and blood profile in Nellore cattle finishing in feedlot. Seventy-seven bulls were confined for 90 days, with a 2x2 factorial design. The treatments were: basal diet without additives, diet with monensin (27ppm/Kg DM), diet with yeast (2g/day), diet with yeast and monensin (2g/day and 27ppm/Kg DM. Effect on DMI, BWDMI and G:F was found when monensin was added, for final BW, HCW and dressing there wasn’t difference between treatments. In the blood profile there was an effect comparing the adaptation phase and finishing phase, in the parameters PCO2, TCO2, Beecf, Beb, bicarbonate and lactate. Addition of monensin gave higher values for TCO2 and bicarbonate, and lower for PO2. Yeast provided higher pH and lower lactate. The use of yeast may be an alternative to monensin due to a possible control of ruminal fermentation and also to have similar Final BW and dressing.
Keywords: feedlot, food additives, Nellore.


Introdução

O mundo enfrentará, nos próximos anos a deterioração ambiental e o esgotamento de recursos naturais, além da crescente pressão sobre a capacidade de alimentar uma população em rápido crescimento (MAKIYA e TRABALLI, 2009). Para solucionar estas questões, serão necessárias ferramentas que permitam pequenos ajustes no sistema produtivo. Dentre estas ferramentas, a manipulação da fermentação ruminal para melhorar o desempenho produtivo tem sido o objetivo de nutricionistas por décadas (DILORENZO, 2004), sendo os ionóforos aditivos que tornaram-se imprescindíveis na manipulação da fermentação ruminal. A ação destas substâncias no rúmen se dá por meio de mudanças na população microbiana, já que selecionam as bactérias gram-negativas e inibem as gram-positivas. Em contrapartida, países da UE, desde 2006 proibem o uso destes como promotores de crescimento (MORAIS et al. 2011). As leveduras têm sido utilizadas para substituir esses aditivos em dietas para ruminantes, com o objetivo de diminuir os riscos de acidose e melhorar o ganho de peso (GOMES et al., 2010). Mudanças na população microbiana proporcionadas pelas leveduras favorecem a digestão ruminal, por meio da remoção de oxigênio e do fornecimento de nutrientes que estimulam o crescimento de microrganismos ruminais (MORAIS et al., 2011). O objetivo do presente estudo foi avaliar a utilização das leveduras e monensina no desempenho e perfil sanguíneo de animais Nelore confinados.

Revisão Bibliográfica

A fermentação ruminal é resultado da atividade dos microrganismos, que convertem os componentes da dieta em produtos que serão utilizados pelo animal como nutrientes (OWENS & GOETSCH, 1988). Os produtos da fermentação dependem da dieta, dessa forma, dietas compostas por forragens propiciarão maior desenvolvimento de bactérias celulolíticas, já em dietas compostas por amido, haverá maior população de bactérias amilolíticas (OWENS & GOETSCH, 1988). Mudanças abruptas na dieta podem resultar em perturbações da fermentação e distúrbios digestivos, como a acidose. Para evitar a incidência de acidose, aditivos vem sendo pesquisados devido ao seu grande uso nas dietas (MORAIS et al., 2011). O uso de ionóforos proporciona melhora no desempenho animal, já que há um aumento na eficiência do metabolismo energético, com isso ocorre uma redução ou modulação da ingestão de massa seca observado principalmente com a monensina. Acredita-se que o menor consumo de alimento esteja relacionado a um provável aumento no aporte energético promovido pelo aditivo, devido ao aumento na concentração de propionato disponível (MILLEN, 2010). Não existem trabalhos na literatura que elucidem a resistência de bactérias ao uso de aditivos ionóforos. Ainda assim, o uso e a importação foi proibido nos países da União Européia como medida de precaução (MORAIS et al., 2011). Buscando alternativas, as leveduras vem tendo um destaque devido ao seus principais efeitos como o favorecimento do estabelecimento microbiano, que aumenta a maturidade do rúmen, estabilização do pH ruminal por meio de interações com bactérias consumidoras de lactato e aumento da degradação de fibras (CHAUCHEYRAS-DURAND et al., 2008). O aumento no número de bactérias viáveis no rúmen, principalmente as celulolíticas são o efeito mais consistente do fornecimento de leveduras a ruminantes (NEWBOLD et al., 1995). Os mecanismos pelos quais as leveduras favorecem o aumento da população microbiana estão relacionados à capacidade de remoção do oxigênio, tóxico para bactérias celulolíticas (NEWBOLD et al., 1996). O fornecimento de leveduras pode proporcionar maior estabilidade do pH ruminal, por meio do estímulo ao crescimento de bactérias consumidoras de lactato. As alterações na ingestão de matéria seca, na fermentação ruminal e na digestão proporcionadas pela suplementação com leveduras resultam em maior ganho de peso para os animais, em magnitude semelhante aos ionóforos (MORAIS et al., 2011).

Materiais e Métodos

O estudo foi conduzido no confinamento experimental da FMVZ, Campus de Botucatu. Foram utilizados 77 bovinos confinados durante 90 dias, com delineamento experimental em blocos casualisados em esquema fatorial 2x2, sendo os tratamentos: dieta basal sem aditivos, dieta com monensina (27ppm/kg MS), dieta com levedura (2g/dia), dieta com levedura e monensina (2g e 27ppm/kg MS). Todos os dias foram coletadas as sobras da ração antes do primeiro trato, permitindo a mensuração da ingestão de matéria seca (IMS) de cada baia. A IMS também foi expressa em porcentagem de peso vivo (IMSPV). No início e no final do período experimental os animais foram pesados com jejum de sólidos de 16 horas, e a cada 28 dias os animais foram pesados, sem jejum, sendo descontados 4% do PV. Com isso, foram calculados os GPD dos animais. Aliado a isso, foi calculada CA e a EA, e as pesagens intermediárias serviram para monitorar o GPD e ajustar as percentagens dos ingredientes da dieta, se necessário. Após o abate, foi aferido o peso de carcaça quente e a partir disso foi feito o rendimento de carcaça. Para a análise do perfil sanguíneo foram realizado duas coletas, na adaptação (dia 14) e terminação (dia 33). O sangue foi coletado até três horas após o fornecimento do trato da manhã em seringas de 2 mL com anticoagulante Heparina sódica, de 48 animais (2 animais por baia) escolhidos aleatoriamente, aferiu-se também a temperatura retal. Todas as amostras foram analisadas em até duas horas após a coleta. Para avaliar os parâmetros de pH, bicarbonato, pCO2 e pO2, TCO2, O2SAT, Beecf e lactato utilizou-se o  analisador i-STAT® 1 e os valores foram corrigidos de acordo com a temperatura retal, sendo os resultados obtidos após cerca de 4 minutos. Por fim, a Beb foi calculado utilizando-se o pH e Beecf.

Resultados e Discussão

Encontrou-se efeito significativo na IMS (P<0,01) e IMSPV (P<0,01) no tratamento com monensina, no qual o consumo foi reduzido, devido a monensina deprimi-lo, corroborando com Millen, (2010) que acredita que o menor consumo de alimento esteja relacionado a um provável aumento no aporte energético promovido pelo aditivo, devido ao aumento na concentração de propionato disponível, resultante das alterações na população microbiana ruminal. Porém, a conversão e eficiência alimentar dos animais que receberam monensina foram melhores (P=0,03 e P=0,02; respectivamente) quando comparado com o tratamento sem monensina, devido ao baixo consumo, porém mantendo ou até melhorando o ganho, pois o uso da monensina proporciona melhora no desempenho devido ao aumento na eficiência do metabolismo energético ruminal (MILLEN, 2010). Para peso final, peso de carcaça quente e rendimento de carcaça, não houve diferença significativa entre os tratamentos com levedura e monensina. Foi observado efeito significativo quando comparadas as fases de adaptação e terminação, sendo que para os parâmetros pCO2 (P=0,01), TCO2 (P<0,01) e bicarbonato (P<0,01) a terminação apresentou valores maiores em relação a fase de adaptação. Tais resultados demonstram que os animais na fase final estavam adaptados a dieta devido aos maiores valores desses parâmetros, pois menores valores de pCO2 podem ser encontrados em casos de acidose metabólica (CARLSON, 1997). A Beecf (P<0,01), Beb (P<0,01) e o lactato (P<0,01) foram menores durante a terminação, pois o excesso de bases indica a quantidade de tampões no sangue e quanto mais próximo de zero melhor, pois quanto mais negativo, maior o grau de acidose metabólica. Relato da redução na Beb e Beecf foi relatado quando grandes mudanças de dietas são promovidas (Brown et al., 2000). A monensina proporcionou valores maiores para TCO2 (P=0,03) e bicarbornato (P=0,04), e menor valor para pO2 (P=0,01) comparado ao tratamento sem este aditivo. Os teores sangüíneos de bicarbonato e de TCO2 seguem tendências paralelas, sendo que o primeiro é cerca de 95% do valor da TCO2. Quadros de acidose ou alcalose metabólica diminuirão ou aumentarão os teores de bicarbonato e de TCO2, respectivamente (SARTI, 2010). Valores de referência para pO2 são muito escassos, apresentando valores entre 30 e 100 mmHg (CARLSON, 1997), o mesmo ocorrendo para saturação de oxigênio. A pO2 do sangue nos informa sobre a eficiência da oxigenação realizada nos alvéolos pulmonares. Animais passando por quadros de acidose tanto aguda como subaguda podem apresentar maiores níveis de pO2 (ROSS et al., 1994). A levedura proporcionou menor lactato (P<0,01) quando comparado a dietas sem este aditivo, indicando que sua maior característica é proporcionar ambiente favorável para as bactérias consumidoras de lactato agirem, corraborando com Chaucheyras, (1995) que encontrou o meus efeito quando adicionado levedura na dieta.

Conclusões

O uso dos aditivos em dietas de bovinos Nelore confinados resulta em melhoras tanto no desempenho quanto no perfil sanguíneo. No presente estudo a monensina proporcionou maiores eficiência sem prejudicar a saúde dos animais. Entretanto a levedura pode ser uma alternativa à monensina para mercados que consideram o uso de ionóforos como um risco à saúde humana, já que as leveduras proporcionaram peso e rendimento de carcaça semelhantes aos animais tratados com monensina. O uso da levedura também proporcionou menor valor de lactato sanguíneo, indicando um possível controle da fermentação ruminal, trazendo possivelmente maior segurança quando animais são confinados com alto teor de concentrado na dieta.



Gráficos e Tabelas




Referências

BROWN, M. S.; KREHBIEL, C. R.; GALYEAN, M. L. 2000. Evaluation of models of acute and subacute acidosis on dry matter intake, ruminal fermentation, blood chemistry, and endocrine profiles of beef steers. J. Anim. Sci. 78:3155-3168. CARLSON, G. P. 1997. Fluid, Electrolyte and Acid-Base Balance. In: KANEKO, J.J. (Ed.) Clin. Biochem.  Domest. Anim.. 5.ed. New York: Academic Press, 485-516. CHAUCHEYRAS, F., et al. 1995. In vitro H2 utilization by a ruminal acetogenic bacterium cultivated alone or in association with an Archaea Methanogen is stimulated by a probiotic strain of Saccharomyces cerevisiae. Appl. Environ. Microb., 61:3466–3467. CHAUCHEYRAS-DURAND, F.; WALKER, N. D.; BACH, A. 2008. Effects of active dry yeasts on the rumen microbial ecosystem: Past, present and future. Anim. Feed Sci. Tech., 145:5-26. DILORENZO, N. Effects of feeding polyclonal antibody preparations against rumen starch and lactic-fermenting bacteria on target bacteria populations and steer performance. Saint Paul, Minnesota, USA: University of Minnesota, 2004. 101p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – University of Minnesota, 2004. GOMES, C. T., et al. Aditivos (monensina sódica e levedura) para bovinos da raça Nelore terminados com rações com alto teor de concentrado. In 47 Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Salvador, 2010. Anais da 47 Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia., 2010. MAKIYA, I.K.; TRABALLI, R.C. 2009. Infrastructure as a key factor for the sustainability of agricultural distribution. In: “2nd International Workshop on Advances in Cleaner Production”, São Paulo, may, 20-21-22. MILLEN, D. D. Anticorpos policlonais e monensina sódica na alimentação de bovinos jovens confinados com dietas de alto concentrado. Tese (Doutorado). Botucatu: UNESP, 2010. MORAIS, J. A. S.; BERCHIELLI, T. T.; REIS, R. A. 2011. Aditivos. In: Berchielli, T. T.; Pirez, A. V.; Oliveira, S. G. (Ed.). Nutrição de Ruminantes. 2. ed. Jaboticabal: Editora Funep. p. 565-599. NEWBOLD, C. J. et al. 1995. Different strains of Saccharomyces cerevisiae differ in their effects on ruminal bacterial numbers in vitro and in sheep. J. Anim. Sci., 73:1811-1818. NEWBOLD, C. J.; WALLACE, R. J.; McINTOSH, F. M. 1996. Mode of action of the yeast Saccharomyces cerevisiae as a feed additive for ruminants. Brit. J. Nutr., 76:249-261. OWENS, F. D.; GOETSCH, A. L. 1988. Ruminal fermentation. In CHURCH, D. C. (Ed.). The ruminant Animal: digestive physiology and nutrition. Long Grove, Waveland, p. 145-171. ROSS, J. G., SPEARS, J. W., GARLICH, J. D. 1994. Dietary electrolyte balance effects on performance and metabolic characteristics in growing steers. J. Anim. Sci.  72:1842-1848. SARTI, L. M. N. Efeito da suplementação com anticorpos policlonais e/ou monensina sódica sobre a saúde ruminal de bovinos jovens confinados. 2010. 94 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - UNESP-FMVZ, Botucatu, 2010.