Manejo de bovinos leiteiros a partir de índices bioclimáticos

Andressa Kemer1, Carine Lisete Glienke2, Leosane Cristina Bosco3
1 - Universidade Federal de Santa Catarina
2 - Universidade Federal de Santa Catarina
3 - Universidade federal de Santa Catarina

RESUMO -

Considerando a atuação do ambiente térmico sobre os bovinos, em especial leiteiros, objetivou-se com esse trabalho relacionar as práticas de manejo com as condições climáticas da região de Curitibanos no Planalto Catarinense, buscando mecanismos eficientes para orientar os produtores de leite do município. Observou-se que as condições edafoclimáticas da região são convenientes à exploração leiteira de animais de origem européia, que são largamente utilizadas na região Sul do Brasil. No entanto, mesmo em um cenário favorável, podem existir momentos do dia com registro de altas temperaturas ocasionando estresse nos animais. Os produtores não consideram questões climáticas para manejar o rebanho, a falta de orientações práticas aos produtores, pode ser a chave deste problema. Adequações simples, como um manejo levando em consideração o ambiente térmico do local, poderiam auxiliar fortemente nos níveis produtivos dessa região.

Palavras-chave: manejo, estresse térmico, índice de conforto térmico

Management of dairy cattle from climatic indexes

ABSTRACT - Considering the performance of the thermal environment on cattle, especially dairy cattle, the objective of this work was to relate the management practices to the climatic conditions of the Curitibanos region of the Santa Catarina Plateau, searching for efficient mechanisms to guide milk producers in the municipality. It was observed that the edaphoclimatic conditions of the region are suitable for the dairy exploitation of European origin animals, which are widely used in the Southern region of Brazil. However, even in a favorable scenario, there may be times of the day with high temperatures registering stress on animals. Producers do not consider climatic issues to manage the herd, lack of practical guidance to producers, may be the key to this problem. Simple adaptations could greatly help the productive levels of this region.
Keywords: handling, thermal stress, thermal comfort index


Introdução

Nos dias atuais entende-se que a produtividade animal depende muito mais do grau de adaptação ao ambiente e suas interações que apenas de água e alimento. Na bovinocultura leiteira, são indispensáveis práticas de manejo adequadas para cada região, considerando a raça e o sistema a ser trabalhado, visando assim, o alcance do potencial produtivo dos animais, sendo fundamental o conhecimento das condições térmicas do local, de modo a agir coerentemente com as características do rebanho (MEDEIROS & VIEIRA, 1997). Inúmeros índices foram desenvolvidos visando estimar o conforto animal relacionando ao ambiente, pois este é uma mescla de estressores que interagem entre si. O índice mais utilizado é o de temperatura e umidade (ITU), este associa os efeitos da temperatura e da umidade relativa do ar em um único valor, relacionando-os ao desempenho dos bovinos. A região de Curitibanos no Planalto Catarinense, é caracterizada por clima subtropical com verões amenos (Cfb) e latitude que possibilita a adoção de sistemas de produção animal em pastagens por todo o ano. Essas condições ambientais facilitam ainda o uso de raças leiteiras de origem europeia, com destaque para as raças Holandesa e Jersey. Essas raças constituem a base genética da maior parte dos rebanhos leiteiros do Brasil. O objetivo deste trabalho foi relacionar práticas de manejo com as condições climáticas de Curitibanos no Planalto Catarinense, buscando mecanismos eficientes para orientar os produtores de leite.

Revisão Bibliográfica

A produção de bovinos é influenciada por vários fatores, sendo o clima (ambiente térmico) um dos mais importantes nesse contexto. Trata-se de uma condição limitante para a eficiência da produção, principalmente em sistemas intensivos (AZEVÊDO; ALVES, 2009; PERISSINOTTO et al., 2006). Para os homeotérmicos, o termo ”conforto térmico”, diz respeito à ocasião em que o animal se encontra em um ambiente de equilíbrio térmico, não sendo necessária a mobilidade de recursos de termorregulação para que se ajuste às condições ambientais. Neste caso, os indivíduos não sofrem estresse pelo calor, nem pelo frio. Sendo necessários baixos níveis energéticos para sua mantença, deixando disponível grande parte da energia metabolizada para processos produtivos. Essa condição, aliada a um bom potencial genético e alimentação adequada, permitirão aos animais máxima eficiência produtiva (TAKAHASHI; BILLER; TAKAHASHI, 2009; KLOSOWSKI et al., 2002). Os principais elementos climáticos estressores que causam uma diminuição no desempenho do gado leiteiro, são altas temperaturas do ar, em especial quando associadas a altas umidades e a radiação solar direta. Esses fatores climáticos, quando aliados à excesso de produção de calor metabólico, resultam em um estoque de calor corporal excedente e, caso o animal não consiga eliminar para o ambiente parte deste calor, acontece o estresse térmico (AZEVÊDO; ALVES, 2009). Diversos trabalhos descrevem índices que foram desenvolvidos com o objetivo de mensurar o conforto animal relacionando ao ambiente, pois este é composto de estressores que interagem entre si, incluindo todas as condições em que os animais vivem, e gerando combinações entre elas. O índice mais utilizado é o de temperatura e umidade (ITU). Thom (1959 apud PEQUENO, 2013) foi quem desenvolveu o ITU como um índice de conforto térmico empregado também para humanos. Esse índice é bastante utilizado por combinar os efeitos da temperatura e da umidade relativa do ar em um único valor, e estes são ligados ao desempenho dos bovinos, neste caso. O índice de temperatura e umidade (ITU), é determinado a partir da temperatura de bulbo seco (Tbs) e da umidade relativa do ar (UR), esta mensurada em função da temperatura do ponto de orvalho (Tpo).

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido em Curitibanos, Planalto Catarinense. O clima da região é do tipo Cfb, subtropical úmido com verões amenos (ALVARES et al., 2013). A temperatura do ar máxima média é de 22,0°C, e a mínima média de 12,4°C (EMBRAPA, 2011). Consideraram-se valores de ITU registrados durante o ano de 2016, sendo eles obtidos na plataforma digital do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). O índice foi gerado conforme a metodologia de Buffington et al. (1981). Os dados utilizados para o cálculo de ITU foram oriundos de estação meteorológica automática, localizada em Curitibanos (lat. 27°28’86”S, long 50°60’42”W ). Os sistemas de produção de leite existentes em Curitibanos foram caracterizados a partir de estudo de caso. Esses foram realizados a partir de visitas de campo à cinco produtores de gado de leite utilizando raças europeias (na grande maioria Holandês, Jersey e cruzas entre elas) em Curitibanos, SC.

Resultados e Discussão

Os valores do ITU (Índice de Temperatura e Umidade) registrados para Curitibanos no ano de 2016 apontaram poucos períodos onde as condições climáticas indicaram uma situação de atenção aos produtores, aproximando-se da faixa de alerta (Figura 1). As médias anuais de temperaturas observadas em 2016 (Figura 2B) para a região de Curitibanos (Figura 2A), não ultrapassaram 18°C. É pequena a área do território brasileiro que apresentou temperaturas médias anuais abaixo de 18°C. A condição térmica registrada é adequada à pecuária leiteira com raças europeias. Mesmo assim, é importante verificar essas condições durante o dia, nas diferentes estações, pois há períodos onde as temperaturas serão superiores às médias registradas. Em regiões com médias anuais de temperatura superiores a 18ºC, poucas raças com tal peculiaridade adaptativa terão condições favoráveis de desenvolvimento, piorando, caso ultrapasse os 21ºC. Neste caso, todos os bovinos com esta característica irão sofrer degeneração tropical, além de uma queda produtiva, ocorre ainda uma efetiva redução da fertilidade (MEDEIROS & VIEIRA, 1997). A faixa de 13 a 18°C é termicamente confortável para a maioria dos ruminantes, em especial vacas em lactação, sendo possível estender-se de 4 a 24°C, restringindo-se aos limites de 7 a 21°C em razão da umidade relativa do ar e da radiação solar (NÄÄS, 1998). Apesar das condições climáticas propícias à produção leiteira em Curitibanos, a realidade da região é limitada. A produtividade por animal observada é de 13,5 litros/vaca, considerada baixa em relação ao potencial produtivo das raças utilizadas. O sistema de produção predominante é o extensivo à pasto, com nível tecnológico intermediário. Não há preocupação em relação a exposição dos animais ao sol nos períodos mais quentes do dia. Embora o ambiente térmico seja favorável, existem momentos do dia que exigem cautela com o manejo. A simples observação do comportamento dos animais seria válida para verificar uma possível situação de estresse térmico no rebanho. A orientação técnica é deficiente. Esse pode ser o elemento-chave para a melhoria da produção, pois daria suporte ao entendimento das relações existentes entre a produção leiteira e o ambiente de crescimento e desenvolvimento do animal. A promoção de ajustes simples no manejo é capaz de promover resultados significativos, considerando o fato de que a produção leiteira possui chances de ser potencializada por meio do uso de técnicas que permitam a garantia do manejo ajustado ao rebanho de acordo com a situação local (LALONI et al., 2004). Um técnico capacitado presente nas propriedades auxiliaria os produtores no uso de ferramentas de manejo, como o acesso a base de dados climáticos. A observação de informações dos anos anteriores traria noções decisivas no presente e futuro. Assim, a orientação de um técnico seria fundamental para familiarização dos produtores com os dados e sua interpretação, bem como a tomada de decisão em cada situação.

Conclusões

Conclui-se com este trabalho, que o manejo dos animais, em propriedades representativas de Curitibanos, não leva em consideração as condições climáticas do local. Falta atenção dos produtores em relação a essa questão. Há carência de orientações práticas aos produtores, adequações simples, que poderiam auxiliar fortemente nos níveis produtivos da região.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALVARES, C. A.; TAP, J. L.; CENTELHAS, P. C.; GOLÇALVES, J. L. M. AND SPAROVEK, G. 2013. Köppen's climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift22: 711-728.   AZEVÊDO, D. M. R.; ALVES, A. A. Bioclimatologia aplicada á produção de bovinos leiteiros nos trópicos. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2009. 83p.   BUFFINGTON, D.E. et al. Black globe-humiddity index (BGHI) as comfort equation for dairy cows. Transaction of the ASAE, St. Joseph, v. 24, n. 3, p. 711-714. 1981.   EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 2011. Atlas climático da Região Sul do Brasil: Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Embrapa Clima Temperado, Pelotas; Embrapa Florestas, Colombo.   KLOSOWSKI, E. S. et al. Estimativa do declínio na produção de leite, em período de verão, para Maringá-PR. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 10, n. 2, p.283-288, 2002.   LALONI, L. A. et al. Índice de previsão de produção de leite para vacas Jersey. Engenharia Agrícola, Botucatu, v. 24, n. 2, mai./ago. 2004.   MEDEIROS, L. F. D.; VIEIRA, D. H. Bioclimatologia Animal. Rio de Janeiro, 1997. Disponível em: < http://wp.ufpel.edu.br/bioclimatologiaanimal/files/2011/03/Apostila-de-Bioclimatologia-Animal.pdf > Acesso em: 21/fev/2017.   NÄÄS, I.A. Biometeorologia e construções rurais em ambiente tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMETEOROLOGIA, 2., 1998, Goiânia. Anais... Goiânia: Sociedade de Biometeorolgia, 1998. p.63-73.   PEQUENO, I. D. Influência das variáveis meteorológicas, modelagem e cenários climáticos da produção de leite de cabras no nordeste do brasil. 2013. 80 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-ba, 2013.   PERISSINOTTO, M.; MOURA, D. J.; MATARAZZO, S. V.; SILVA, I. J. O.; LIMA, K. A. O. Efeito da utilização de sistemas de climatização nos parâmetros fisiológicos do gado leiteiro. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 26, n. 3, p.663-671, set./dez. 2006.   TAKAHASHI, L. S.; BILLER, J. D.; TAKAHASHI, K. M. Bioclimatologia zootécnica. Jaboticabal: [online], 2009. 91 p. Disponível em: <https://bioclimatologia.files.wordpress.com/2012/08/livro-bioclimatologia-zootc3a9cnica.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017.