MEDIDAS MORFOMÉTRICAS CORPORAIS E TESTICULARES EM OVINOS SUBMETIDOS À DIETAS COM DIFERENTES NÍVEIS DE INCLUSÃO DE FARELO DE GIRASSOL

Izabella Motta Moreira Ribeiro1, Neyton Carlos da Silva2, Raphael Colombo Gaspar3, Moisés de Aguiar Maia4, Igor Gabriel Ataide Sampaio5, Amália Saturnino Chaves6, Luciana Castro Gerassev7, Letícia Ferrari Crocomo8
1 - UFMG/ICA
2 - UFMG/ICA
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8 - UFMG/ICA

RESUMO -

A ovinocultura se destaca como atividade agropecuária rentável em decorrência das características de rusticidade, ciclo produtivo curto e viabilização de pequenas áreas. O presente estudo objetivou avaliar a viabilidade da inclusão do farelo de girassol como fonte proteica na dieta de cordeiros. Foram utilizados 24 cordeiros mestiços, pesados, vermifugados e distribuídos em quatro tratamentos com dietas com níveis distintos de inclusão de farelos de girassol (0%, 10%, 20% e 30%) em substituição ao farelo de soja. Os animais foram submetidos às avaliações de peso, escore, biometria corporal e morfometria testicular. O delineamento utilizado foi blocos ao acaso, com 3 blocos, 4 tratamentos e 6 repetições. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de regressão, com nível de significância de 5%. Constata-se que a inclusão do farelo de girassol à dieta interferiu de maneira significativa no peso corporal e desenvolvimento testicular dos ovinos.

Palavras-chave: nutrição; consumo; pequenos ruminantes; morfometria corporal; girassol

Morphometry measurements of body and testicle in sheep submitted to diets with different levels of sunflower meal inclusion

ABSTRACT - Sheep production stands out as a profitable agricultural activity due to the characteristics of rusticity, short productive cycle and viability of small areas. The present study aimed to evaluate the viability of sunflower meal inclusion as protein source in the diet of lambs. Twenty-four crossbred lambs, previously heavy and wormed, were distributed in 4 treatments with diets with different levels of sunflower meal inclusion (0%, 10%, 20% and 30%) instead of soybean meal. The animals were submitted to evaluations of weight, score, body biometry and testicular morphometry. The experimental design was randomized block with 3 blocks, 4 treatments and 6 replicates. The results were submitted to regression analysis with a significance level of 5%. It was observed that inclusion of sunflower meal in the animals' diet significantly interfered in the body weight and testicular development of ovines.
Keywords: nutrition; consumption; small ruminants; body morphometry; sunflower.


Introdução

A ovinocultura se destaca como uma atividade agropecuária altamente rentável em decorrência das suas características de rusticidade, ciclo produtivo curto e viabilização de pequenas áreas (Deminicis et al., 2008). Tal atividade agropecuária dispõe ainda de mercado favorável a expansão uma vez que possibilita a produção de 10 ovinos ha/ano em contraste com a bovinocultura de corte com 1 bovino ha/ano. No entanto, apesar das vantagens apresentadas, a produção de carne ovina ainda não é expressiva para atender a demanda da população brasileira (MAPA, 2016). Deste modo, investimento científico e financeiro no setor, principalmente, no que diz respeito ao manejo nutricional, o qual consiste no fator determinante da produtividade do rebanho, é imprescindível. Usualmente, a maioria das dietas voltadas aos ruminantes preconiza a utilização de milho e soja como fontes energéticas e proteicas (THIAGO & SILVA, 2003; BERNARDES, 2010). A constante variação dos preços destes concentrados, no entanto, dificulta a intensificação da ovinocultura. Neste contexto, a utilização de coprodutos da agricultura, como o farelo de girassol, se destaca como alternativa economicamente promissora para o manejo nutricional e produtividade ruminantes (ABDALLA et al., 2008). Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a viabilidade da utilização do farelo de girassol como fonte proteica na dieta de cordeiros com base nas medidas morfométricas corporais e testiculares e no ganho de peso.

Revisão Bibliográfica

A exploração ovina como fonte de alimento tem se intensificado nos últimos anos no Brasil, ocupando posição de destaque entre os diversos ramos do agronegócio, principalmente por suas características de giro financeiro rápido e boa adaptabilidade animal (Deminicis et al., 2008). No entanto, apesar das vantagens oferecidas pela ovinocultura, a produção em território nacional não atende a demanda do mercado consumidor, havendo a necessidade de importação de carne ovina de países como o Uruguai. Tal cenário aliado a rentabilidade da atividade, demonstra que a ovinocultura brasileira tem campo para expansão e consolidação. Para isso, no entanto, o setor requer maior investimento, políticas de incentivo além das estratégias de marketing e padronização do manejo sanitário, reprodutivo e nutricional dos animais. (ALVES et al., 2014). Neste contexto, o manejo nutricional merece especial atenção uma vez que consiste num dos fatores determinantes da produtividade e lucratividade do rebanho. O milho e a soja consistem na base energética e protéica das dietas formuladas para ruminantes (THIAGO; SILVA, 2003; BERNARDES, 2010). A. No entanto, assim como todas as demais culturas, estão sujeitos a oscilações de preços decorrente das variações climáticas e pressão do mercado. Neste contexto, a possibilidade de utilização de coprodutos de baixo custo e fácil obtenção como o farelo de girassol em substituição parcial do milho e soja se destaca como uma estratégia economicamente promissora para o manejo nutricional e produtividade de ruminantes (ABDALLA et al, 2008), o que tem despertado o interesse da comunidade científica. O adequado controle zootécnico também consiste num elemento fundamental para a intensificação da ovinocultura no país, uma vez que permite o gerenciamento do desempenho produtivo do rebanho. A relação positiva entre as mensurações corporais e reprodutivas, além do peso dos animais, demonstra a possibilidade de respostas conjuntas que podem ser utilizadas nos programas de seleção (COSTA JÚNIOR et al., 2006). Na grande maioria das vezes, o produtor não disponibiliza de balança e equipamentos ideais para acompanhar o desenvolvimento dos animais, além dos altos custos e falta de mobilidade das ferramentas na propriedade. Nessa situação, as medidas corporais constituem uma alternativa viável dada à alta correlação existente entre as características corpóreas, reprodutivas, peso e escore corporal (GUSMÃO FILHO et al., 2009).

Materiais e Métodos

Foram utilizados 24 cordeiros mestiços da raça Dorper e Santa Inês, previamente pesados e vermifugados. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, com 3 blocos definidos em função do peso corporal inicial dos animais, 4 tratamentos representados pelas dietas com diferentes níveis de inclusão do farelo de girassol (0%, 10%, 20% e 30%) e 6 repetições. Antes de iniciar a pesquisa, os animais passaram por um período de adaptação às instalações e às dietas durante 10 dias. Ao longo do estudo, estes permaneceram alojados em baias individuais com água ad libitum. A dieta, oferecida duas vezes ao dia, foi balanceada de acordo com as recomendações do NRC (2007) para um ganho médio diário de 200 g/dia, conforme exposto na tabela 1 .Os animais iniciaram o estudo com, aproximadamente, 4 meses de idade e foram submetidos às avaliações de peso, escore, biometria corporal e morfometria testicular a partir do primeiro dia de adaptação  até o ultimo dia do estudo com intervalo de 7 dias. O peso em quilogramas foi mensurado em balança, o escore de condição corporal foi determinado por meio de avaliação visual e palpação nas regiões esternal e lombar sendo atribuídas notas de 1 a 5 com variação de 0,5, enquanto as mensurações biométricas, as quais constam descritas na tabela 2, foram obtidas com uso de fita métrica e trena metálica. Todos os procedimentos adotados foram aprovados pela comissão de ética no uso de animais CEUA, sob o número de protocolo 189 / 2015. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de regressão, utlizando o software PROC REG do Statistical Analysis Sistems SAS (2004). Tabela 1. Composição percentual de nutrientes das dietas experimentais (g/kg de MS).  
Item (%) 0% FG 10% FG 20% FG 30% FG Farelo de Girassol
Silagem de milho 40,00 40,0 40,00 40,00 -
Farelo de soja 26,40 19,60 11,80 1,8 -
Milho 31,50 28,10 25,60 26,16 -
Farelo de girassol _ 10,00 20,00 30,00 -
Suplemento mineral 1,05 1,50 2,20 2,04 -
Fosfato bicálcico 1,05 0,8 0,40 _ -


Resultados e Discussão

Conforme apresentado na tabela 2, a análise estatística dos dados revela que o peso dos animais reduziu de maneira significativa, sendo esta perda mais expressiva conforme o aumento do nível de inclusão do farelo de girassol na dieta. Esta diferença no desempenho está relacionada, provavelmente, a menor taxa de digestibilidade dos nutrientes conforme observado por Santana (2017) uma vez que, segundo estes mesmos autores, a adição do farelo de girassol em taxas crescentes a dieta não influenciou o consumo de matéria seca e proteína bruta em ovinos. Quanto aos parâmetros relacionados à morfometria testicular, é possível verificar significativa variação dos valores referentes ao diâmetro testicular, comprimento crânio-caudal e largura latero-medial dos testículos esquerdos e direitos ao longo do estudo, o que demonstra que a inclusão do farelo de girassol na dieta interferiu significativamente no desenvolvimento testicular de modo que os níveis de inclusão 10% e 20% resultaram em valores menores que aqueles obtidos com 0% e 30 %. Tal resultado pode estar relacionado, provavelmente, ao menor nível energético da dieta uma vez que houve reajuste no teor de milho e farelo de soja em decorrência da inclusão do farelo de girassol. Com relação aos demais parâmetros analisados, não foi constatada variação significativa nos tratamentos ao longo do estudo. Vale ressaltar ainda que os coeficientes de variação em todos os parâmetros analisados foram baixos o que demonstra a homogeneidade e precisão dos dados obtidos.

Conclusões

A inclusão do farelo de girassol à dieta de cordeiros interferiu de maneira significativa no peso corporal e desenvolvimento testicular. Apesar da viabilidade econômica, a indicação ou contra-indicação de tal coproduto como fonte protéica na nutrição de pequenos ruminantes depende ainda de maiores análises dos dados apresentados e realização de novos estudos nesta mesma linha de pesquisa com intuito de verificar taxas de consumo, desempenho produtivo e reprodutivo.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABDALLA, A. L.; SILVA FILHO, J. C.; GODOI, A. R.; CARMO, C. A.; EDUARDO, J. L. P. Utilização de subprodutos da indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes. Revista Brasileira  de  Zootecnia,  v.  37,  n.3,  p. 260-258, 2008. ALVES, L.G.C.; OORIO, J.C.S; FERNANDES, A.R.M., RICARDO H.A., CUNHA, C.M. PRODUÇÃO DE CARNE OVINA COM FOCO NO CONSUMIDOR .ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.18; p. 2014 BERNARDES, O. Necessidades nutricionais de búfalas leiteiras. 2º Encuentro Nacional de Criadores de Búfalos, Colômbia, v. 421, 2010. COSTA JÚNIOR, G.S.; CAMPELO, J.E.G.; AZEVÊDO, D.M.M.R.; MARTINS FILHO, R.; CAVALCANTE, R.R.; LOPES, J.B.; OLIVEIRA, M.E. Caracterização morfométrica de ovinos da raça Santa Inês criados nas microrregiões de Teresina e Campo Maior, Piauí. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.6, p.2260-2267, 2006. Deminicis, B.B.; Lima, L.C.O.; Araújo, S.A.C.; LUNGA, L.; BLUME, M.C. Avaliação de modelos simulados de sistemas de produção de cordeiros para abate em pequenas propriedades. PUBVET, v.2, n.12, p 1- 19, 2008. GUSMÃO FILHO, J.D.; TEODORO, S.M.; CHAVES, M.A.; OLIVEIRA, S.S. Análise fatorial de medidas morfométricas em ovinos tipo Santa Inês. Arch. Zootec., v. 58, p. 1-4, 2009. SANTANA, C.D. Consumo, digestibilidade e balanço de nitrogênio de dietas com farelo de girassol para ovinos. Instituto de Ciências Agrárias (ICA) – Universidade Federal de Minas Gerais Montes Claros (UFMG)- Montes Claros - MG, 2017, 47p. Dissertação de mestrado. THIAGO, L. D. S.; SILVA, J. M. Soja na Alimentação de Bovinos, Circular Técnico. Embrapa Campo Grande, MS, 1ed., 2003. MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. <agricultura.gov.br/animal/especies/caprinos-e-ovinos>. Acesso em 22 de julho de 2016. NATIONAL RESEARCH COUNCIL NRC, 2007. Nutrient Requirements of Horses, 6th revised, Washington DC, 2007.





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