Mês de parição na produção de rebanhos de cria

Ricardo Zambarda Vaz1, José Fernando Piva Lobato2, João Restle3, Viviane Garcia Dias da Conceição4, Marcia Bitencourt Vaz5
1 - Universidade Federal de Pelotas
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3 - Universidade Federal de Goiás
4 - Universidade Federal de Pelotas
5 - Universidade Federal de Pelotas

RESUMO -

Objetivou-se avaliar dois meses de parição (outubro e novembro) e seus reflexos na produção de um rebanho de cria. Foram avaliadas 298 parições de vacas Braford com três, quatro e cinco anos de idade, sendo os bezerros desmamados precocemente com 148 dias de idade. Avaliaram-se as características de desempenho dos pares vacas/bezerros, tendo como variável independente o mês de parição das vacas. Vacas paridas em novembro foram mais pesadas e apresentaram maior condição corporal ao parto. Vacas paridas em outubro foram mais pesadas e produziram bezerros mais pesados ao desmame. A taxa de prenhez foi de 82,35 e 69,23% para vacas paridas em outubro e novembro, respectivamente. Os intervalos de partos foram menores em vacas paridas em novembro. Vacas paridas em outubro se mostraram mais eficientes comparadas as paridas em novembro, com maiores fertilidades reais. As parições de outubro se mostram mais eficientes e produtivas comparadas as de novembro quando as datas de desmame são fixas.

Palavras-chave: Desempenho reprodutivo, fertilidade real, peso ao parto, produtividade.

Month of calving in the production of herds

ABSTRACT - The objective was to evaluate, two months of calving (October and November) and its effects on the production of a herd. A total of 298 Braford cows were evaluated at three, four and five year old calves, and calves were early weaned at 148 days of age. The performance characteristics of the cow / calf pairs were evaluated, with the calf calving month as the independent variable. Cows born in November were heavier and had a higher body condition at calving. Cows born in October were heavier and produced heavier calves at weaning. The pregnancy rate was 82.35 and 69.23% for cows born in October and November, respectively. The calving intervals were lower in cows born in November. Cows born in October were more efficient compared to those born in November, with the highest real fertility. October parturitions are more efficient and productive compared to November when weaning dates are fixed.
Keywords: productivity, real fertility, reproductive performance, weight calving.


Introdução

Os sistemas produtivos pecuários para serem competitivos com as demais atividades do agronegócio necessitam de maior eficiência. As fases que compõem a produção de bovinos de corte são diferenciadas pelas atividades, manejos dispendidos, pelo tempo de produção e, principalmente, pelo retorno econômico ao produtor rural (ABREU et al., 2003). A produção de bezerros é a etapa das explorações pecuárias com maior relevância quando comparadas (PEREIRA et al., 2016). Para aumentar a eficiência produtiva e reprodutiva dos rebanhos de cria se deve primeiramente melhorar a nutrição (OLIVEIRA et al., 2006), com lotações adequadas em pastagens naturais e, se compatível e necessário, a utilização de pastagens cultivadas (VAZ et al., 2016), do controle e diminuição do período de amamentação (VAZ & LOBATO, 2010), melhorando assim a condição corporal das vacas (FONTOURA JUNIOR et al., 2009), além de controlar fatores como sanidade, mineralização, usar tratamentos hormonais, raças ou cruzamentos de animais mais produtivos. Além destas situações, a escolha da época de parição (OLIVEIRA et al., 2006) é fundamental para aumentar a produtividade dos rebanhos (ABREU et al., 2003), bem como a distribuição dos nascimentos nos meses da mesma (VIEIRA et al., 2010). O objetivo deste estudo foi verificar as consequências de dois meses de parição na mesma estação de parição de um rebanho comercial, por três anos consecutivos, na eficiência produtiva e reprodutiva das vacas.

Revisão Bibliográfica

A pecuária no Brasil busca a excelência na produtividade e qualidade dos produtos. O desenvolvimento da pecuária nacional se deve à abertura de novas fronteiras, necessitando elevar a produtividade por área, uma vez que o aumento desta está cada vez mais limitado (KNAPIK et al., 2011). Os indicadores zootécnicos do Brasil são inferiores aos índices de muitos países em que a pecuária bovina é considerada atividade econômica (ARAÚJO et al., 2014). Essa condição pode ser atribuída à estacionalidade da produção de forragens, à sanidade e a qualidade genética dos rebanhos (SILVA et al., 2008). Na região sul do Brasil, a alimentação do rebanho bovino costuma ser a base de campos naturais, ocorrendo uma deficiência nutricional de recurso forrageiro, principalmente no período de inverno (VAZ & LOBATO, 2010). No sistema de criação extensiva, predominante no Brasil, a fertilidade do rebanho apresenta variações vinculadas ao clima. Portanto, o estabelecimento de uma estação de monta de curta duração é importante no manejo reprodutivo e de grande impacto na fertilidade do rebanho (KNAPIK et al., 2011). Sua implantação permite que o período de maior exigência nutricional coincida com o de maior disponibilidade de forrageiras de melhor qualidade (VAZ et al., 2016). Concentrar os nascimentos em períodos mais apropriados do ano resulta em lotes de bezerros mais uniformes, além de permitir diferentes práticas de manejo que visam a redução da mortalidade e o aumento do peso a desmama (CARNEIRO et al. 2012). O mês de nascimento reflete a disponibilidade de alimentos, de forma que, se as vacas nos últimos três meses de gestação obtiverem boa oferta de alimentos, produzirão bezerros mais pesados (COLAZO et al., 2009). As matrizes mais eficientes possuem uma tendência de parir no início da estação de nascimento e desmamam seus bezerros mais pesados, devido a terem a sua disposição maior quantidade de forragens de boa qualidade por um período mais prolongado, dessa forma, obtiveram mais tempo para se recuperarem até a estação de monta subsequente (CARNEIRO et al., 2012).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Granja Itú, no município de Itaqui - RS. Foram utilizadas inicialmente 141 vacas Braford primíparas aos três anos de idade. As vacas, independente do período de parição foram manejadas sempre em um grupo único. Do primeiro parto até o momento do segundo, bem como após o segundo desmame, foram mantidas em pastagem natural, com uma lotação animal de 320 kg de peso vivo/ha. Durante a segunda e terceira lactação, as vacas e seus bezerros foram mantidos em pastagem de Braquiária Brizanta (Brachiaria brizantha cv Marandu) e Braquiária Humidícola (Brachiaria Humidicola (Rendle) Schweick), respectivamente. Os períodos reprodutivos foram de 62 dias, de 15 de dezembro a 15 de fevereiro de cada ano. As vacas foram pesadas até 24 horas pós-parto, aos desmames aos 148 dias, ao início e fim dos períodos reprodutivos, bem como entre estas datas a cada 28 dias para ajuste da lotação das pastagens. As variações de pesos foram obtidas através das diferenças entre as pesagens, dividido pelo número de dias entre as mesmas. A fertilidade real que contabiliza simultaneamente a fertilidade e a produção de kg de bezerros desmamados por ano efetivo, também foi calculada através da equação proposta por: [(Peso do bezerro ao desmame *365) / intervalo de partos] O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Os resultados foram submetidos à análise de variância e ao teste F. O modelo matemático referente utilizado para as análises foi: Yijk = µ + Ei + Ak + Σijk onde:     Yij = variáveis dependentes; µ = média de todas as observações; Ei = efeito da i-ésima mês de parição dentro da temporada de nascimentos, sendo i=1 (outubro); 2 (novembro); Al = efeito do conjunto k-ésimo ano e idade da vaca como co-variável; Σijk = Erro residual. As médias foram comparadas pelo teste “F” com exceção da variável percentagem de prenhez analisada pelo teste do Qui-quadrado, ambas adotando-se 5% como nível de significância máxima.

Resultados e Discussão

As vacas paridas em outubro foram mais leves e tiveram menores condições corporais ao parto quando comparadas as vacas paridas em novembro (Tabela 1). O maior peso e condição corporal das vacas paridas em novembro é devido ao parto mais tardio e, desta forma, terem um maior período pré-parto, no terço final de gestação, durante a primavera, na qual ocorre uma melhora considerável da qualidade das pastagens (KNAPICK et al., 2011). Por outro lado, as vacas paridas em outubro, tiveram o parto logo após o fim do inverno, não tendo as pastagens ainda qualidade e rebrota suficiente para permitir maiores pesos corporais das vacas. As variações observadas nos pesos das vacas ao parto entre os meses de parição são reflexos das oscilações na disponibilidade e qualidade das pastagens naturais (VAZ & LOBATO, 2010), decorrentes das condições climáticas estacionais, do manejo em geral aplicado ao rebanho, no decorrer dos anos. Ao desmame as vacas paridas em outubro foram mais pesadas e tiveram maior variação corporal diária (P<0,05) quando comparadas com as vacas paridas em novembro. O maior ganho de peso corporal ao coincidir com o período de monta tem correlação positiva com o desempenho reprodutivo subsequente em vacas (OLIVEIRA et al., 2006). No entanto, este maior peso não se refletiu em maior condição corporal (P>0,05), podendo este fato ser devido da subjetividade da avaliação. O mês de nascimento não influenciou o peso ao nascer dos bezerros, embora o período de parição tenha reflexos nesta característica em função da qualidade nutricional a qual está exposto o rebanho de cria. Entretanto, estas diferenças se manifestam quando são avaliadas as épocas de parição e não os meses dentro das épocas e com períodos reduzidos como do presente estudo (SILVA et al., 2008). No peso ao desmame dos bezerros, o mês de parição mostrou superioridade para os animais nascidos em outubro, uma superioridade de 12,75%. Este fato se deve a associação da qualidade da forragem ao período de lactação das vacas, bem como o maior número de dias de idade dos bezerros. A prenhez das vacas paridas em outubro foi superior às paridas em novembro (P<0,05; Tabela 1), 82,35 e 69,23%, respectivamente. Esta superioridade de 18,95% se deve provavelmente ao maior tempo de pós-parto das vacas paridas em outubro, uma vez que o presente estudo foi realizado em sistema produtivo, com datas fixas de início e fim da temporada de monta. Assim sendo, vacas com concepção mais no tarde e, consequentemente, parindo no final da estação de nascimentos, têm como consequência a entrada no período reprodutivo subsequente ainda no puerpério e consequente anestro (VIEIRA et al., 2010). Maiores números de dias do parto ao acasalamento são determinantes de maiores taxas de prenhez (OLIVEIRA et al., 2006).

Conclusões

Vacas mantidas durante a gestação em pastagens naturais com partos em outubro são mais leves ao parto, porém mais pesadas ao desmame devido a interação entre exigência nutricional e disponibilidade de pastagens no final da gestação e durante a lactação. Vacas mais tardias para concepção e consequente com parição em novembro possuem menor taxa reprodutiva subsequente, porém com menor intervalo do parto- concepção e de partos e tem menor fertilidade real.

Gráficos e Tabelas




Referências

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