Metabolizabilidade das dietas com níveis de bagaço de Mandioca com e sem complexo enzimático fúngico para frangos de crescimento lento de 1 a 30 dias de idade

Carla Fonseca Alves Campos1, Kênia Ferreira Rodrigues2, Aline Ferreira Amorim3, Valquíria Sousa Silva4, Iberê Pereira Parente5, Dourival Alex Araújo Beserra6, Ecione Martins da Silva7, Mariane Martins Dias8
1 - Universidade Federal do Tocantins
2 - Universidade Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal do Tocantins
4 - Universidade Federal do Tocantins
5 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão
6 - Universidade Federal do Tocantins
7 - Universidade Federal do Tocantins
8 - Universidade Federal do Tocantins

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os coeficientes de metabolizabilidade aparente da matéria seca, nitrogênio (CMAN), energia bruta (CMAEB), fibra em detergente neutro (CMFDN) e os valores de energia metabolizável aparente corrigida das dietas experimentais contendo bagaço de mandioca (BM) com e sem complexo enzimático (CE) fúngico para frangos de crescimento lento de 1 a 30 dias. Foram utilizados 250 pintos Pescoço Pelado, com um dia de idade, alojados em gaiolas de metabolismo e no 28º ao 30º dia foram realizadas as coletas de excretas. O delineamento foi inteiramente casualizado em fatorial 2 X 2 +1 (10 e 20% de inclusão do BM; presença e ausência do CE e tratamento testemunha), totalizando cinco tratamentos e cinco repetições de dez aves. O CMAN e CMAFDN das dietas com 20% do BM com complexo enzimático foram superiores ao tratamento com 20% do BM sem complexo. A utilização de enzimas fúngicas nas dietas de frangos de crescimento lento contendo 20% do BM melhora o aproveitamento do N e da FDN.

Palavras-chave: : alimento alternativo, aditivos zootécnicos, exigências

Metabolizability of diets with two levels of cassava bagasse with and without fungal enzymatic complex for slow-growing chickens from 1 to 30 days old

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the apparent metabolizable coefficients of dry matter, nitrogen (ACMN), crude energy (ACMCE), neutral detergent fiber (ACMNDF) and corrected apparent metabolizable energy values of experimental diets Containing cassava bagasse (CB) with and without fungal enzyme complex for slow-growing chickens from 1 to 30 days. A total of 250 chicks of the Pescoço Pelado strain, one day old, housed in metabolism cages, and on the 28th to the 30th day the excreta collections. The design was completely randomized in a 2 x 2 +1 factorial (10 and 20% CB inclusion, presence and absence of the enzyme complex, plus one Treatment), totaling five treatments and five replicates of ten birds. The ACMN and ACMNDF of the diets with 20% of CB with enzymatic complex were superior to the treatment with 20% of the CB without complex. The use of fungal enzymes in broiler diets containing 20% CB improves N and NDF utilization.
Keywords: alternative food, zootechnical additives, requirements


Introdução

A alimentação representa maior parte do custo total de produção, em consequência da elevada demanda desses alimentos, que tornam a produção susceptível a variações dos preços impostos pelo mercado e pelas diferentes regiões do país (SANTOS; GRANJEIRO, 2012). Dessa maneira, busca-se identificar produtos alternativos que possam ser utilizados no programa de alimentação das aves. Os coprodutos agroindustriais representam alternativa viável, tanto no enfoque nutricional como econômico. Estudos vêm sendo desenvolvidos com matéria prima de baixo custo que possuem potencialidade para substituir os alimentos proteicos e energéticos das dietas. Nesse contexto, o bagaço de mandioca demonstra potencial de utilização na alimentação de frangos de crescimento lento, nos níveis de 10 a 30% em diferentes idades, porém com limitação de uso, devido os diferentes teores de fibra e a interferência sobre a digestibilidade dos nutrientes (OLIVEIRA, 2012). As enzimas são eficientes catalisadores biológicos e seu emprego possibilita melhorar a digestibilidade dos nutrientes, o que favorece o aproveitamento do fósforo, cálcio, aminoácidos e energia, refletindo na melhor eficiência produtiva, representando economia no custo final da alimentação e benefícios ao meio ambiente (BARBOSA et al., 2014). Dentro dessa perspectiva e considerando a relevância nutricional do uso de alimentos alternativos e enzimas exógenas nas dietas de aves, objetivou-se com este trabalho avaliar os coeficientes de metabolizabilidade aparente da matéria seca, nitrogênio, energia bruta, fibra em detergente neutro e os valores de energia metabolizável aparente corrigida em dietas experimentais de frango de crescimento lento de um a 30 dias de idade contendo níveis crescentes de bagaço de mandioca com e sem complexo enzimático fúngico.

Revisão Bibliográfica

O bagaço de mandioca é o resíduo da extração da fécula de baixo valor comercial. Inicialmente, a raiz de mandioca é descascada, triturada e lavada para retirar o amido, resultando em resíduo fibroso e grosseiro, que tem apresentado 88% de MS, 1,26% de PB e 2465 kcal de EM (OLIVEIRA, 2012). Os PNA's são componentes da parede celular e compõem mais de 90% dessa estrutura, é heterogêneo de polissacarídeos e compreendem ampla classe, como celulose, hemicelulose, pentosanas, β-glucanas, xilose, quitina e pectinas, oligossacarídeos como a rafinose (trissacarídeo) e a estaquiose (tetrassacarídeo) e não podem ser digeridos por animais monogástricos, pois, não possuem enzimas capazes de quebrar as ligações resistentes a hidrólise (BRITO et al., 2008). As enzimas exógenas são aditivos zootécnicos digestivos, proteínas globulares de estrutura terciária ou quaternária que atuam como catalisadoras dos processos biológicos, não tem função nutricional direta, mas, auxiliam o processo digestivo, aumentando a velocidade das reações bioquímicas, sem serem consumidas no processo (CAMPESTRINI; SILVA; APPELT, 2005). A adição das enzimas para monogástricos promovem aumento da digestibilidade dos alimentos e dos polissacarídeos não amiláceos, disponibilizando certos nutrientes para a absorção, com aumento do valor energético de ingredientes, maximizando o aproveitamento da proteína, energia e fósforo, proporcionando o emprego de alimentos com menor qualidade nutricional (DOURADO; BARBOSA; SAKOMURA, 2014).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Avicultura da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, Araguaína – TO. Foram utilizados 250 pintos da linhagem Pescoço Pelado, de um dia de idade. As aves foram distribuídas em um delineamento inteiramente casualizado em fatorial 2 x 2 + 1 (10 e 20% de inclusão do bagaço de mandioca; presença e ausência do complexo enzimático; mais um tratamento testemunha), totalizando cinco tratamentos e cinco repetições de dez aves. O complexo enzimático fúngico utilizado foi produzido no laboratório de bioquímica da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), sendo composto pelas enzimas xilanase e amilase e adicionadas na proporção de 7,36g/75kg de ração. As rações foram calculadas considerando-se a composição química dos ingredientes e as exigências nutricionais das aves de acordo com as recomendações de Pinheiro et al., (2014). Do 28º ao 30º dia foram realizadas coletas totais de excretas, conforme descrito por Sakomura e Rostagno (2016), para determinação da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e da energia bruta (EB) das excretas e das rações de acordo com Silva e Queiroz (2016). Foram determinados os coeficientes de metabolizabilidade aparente da matéria seca (CMAMS), nitrogênio (CMAN), energia bruta (CMAEB) e fibra em dertegente neutro (CMAFDN) e os valores de energia metabolizável aparente corrigida (EMAn) das dietas experimentais, de acordo com a equação descrita por Sakomura e Rostagno (2016). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas por contrastes ortogonais através do teste F. Para as análises estatísticas utilizou-se o software SAS 9.0 por meio do procedimento GLM (General Linear Models) (Statistical Analysis System, 2002).

Resultados e Discussão

O nível de inclusão de 10% do bagaço de mandioca com e sem complexo enzimático, no contraste C2, não influenciou os coeficientes de metabolizabilidade da matéria seca (CMMS), nitrogênio (CMN), energia bruta (CMEB), fibra em detergente neutro (CMFDN) e a energia metabolizável aparente corrigida (EMAn) das dietas experimentais (Tabela 1). O contraste C1, que compara a dieta referência com os demais tratamentos, apresentou diferença significativa (P<0,05) para o coeficiente de metabolizabilidade do nitrogênio, com menores valores para as aves que consumiram 0% de inclusão do bagaço de mandioca e sem complexo enzimático. Resultado este semelhante aos de Parente et al. (2014) e Fonseca et al. (2014), que ao avaliarem o uso da batata doce para frango caipira e farelo do mesocarpo do babaçu para a linhagem Cobb 500®, respectivamente, encontraram valores de metabolizabilidade do nitrogênio inferior para a ração a base de milho e farelo de soja.   Tabela 1. Efeito dos diferentes níveis de inclusão do bagaço de mandioca com e sem complexo enzimático sobre os coeficientes de metabolizabilidade da matéria seca (CMMS), nitrogênio (CMN), energia bruta (CMEB), fibra em detergente neutro (CMFDN) e a energia metabolizável aparente corrigida (EMAn).
Variáveis Níveis de inclusão do bagaço de mandioca Contrastes ortogonais¹ CV² (%)
com e sem complexo enzimático
0% 10% + CE 10% 20% + CE 20% C1 C2 C3
CMMS (%) 70,45 70,56 71,37 73,6 71,24 0,2419 0,5423 0,0862 2,89
CMN (%) 49,70 50,96 52,69 59,48 54,42 0,0112 0,4246 0,0269 6,28
CMEB (%) 75,03 73,45 74,01 75,56 73,44 0,3492 0,6487 0,0940 2,57
CMFDN (%) 60,38 59,15 56,81 68,83 63,82 0,2197 0,2014 0,0103 4,53
EMan (Kcal/kg) 2549 2513 2518 2587 2524 0,6656 0,9013 0,1148 2,37
¹Contrastes ortogonais: C1= ração referência comparado com os demais tratamentos; C2 = 10% do bagaço de mandioca com complexo enzimático comparado a 10% do bagaço de mandioca sem complexo e C3 = 20% do bagaço de mandioca com complexo enzimático comparado a 20% do bagaço de mandioca sem complexo.²CV = coeficiente de variação   O contraste entre 20% de bagaço de mandioca com e sem complexo enzimático influenciaram o coeficiente de metabolizabilidade do nitrogênio e da fibra em detergente neutro, com maiores valores para o tratamento que fez uso do aditivo zootécnico. Resultados semelhantes foram relatados por Barbosa et al., (2014) para a metabolizabilidade do fósforo, cálcio, aminoácidos e energia, por Selle et al., (2010) e Zhang et al., (2014) para o aproveitamento da proteína e polissacarídeos não amiláceos das dietas das aves (LIMA et al., 2007). Fato este que pode ter ocorrido, devido as enzimas ao agirem como catalisadoras dos processos biológicos, aumentaram a velocidade das reações bioquímicas e melhoraram o aproveitamento dos nutrientes (BRITO et al., 2008). O bagaço de mandioca caracteriza-se por ser alimento fibroso e os polissacarídeos não amiláceos em teores elevados nas dietas das aves, principalmente na fase inicial, podem reduzir o aproveitamento dos nutrientes (HOLANDA et al., 2015), todavia, a atuação sinérgica das enzimas, propiciaram melhora no aproveitamento da fibra e do nitrogênio, como verificado no presente experimento, contribuindo para minimizar a poluição ambiental.  

Conclusões

A utilização de enzimas fúngicas nas dietas de frangos de crescimento lento contendo 20% do bagaço de mandioca melhora o aproveitamento do nitrogênio e da fibra em detergente neutro. Os coeficientes de metabolizabilidade aparente do nitrogênio e da fibra em detergente neutro das dietas com 20% do bagaço de mandioca com complexo enzimático foram superiores ao tratamento com 20% do bagaço de mandioca sem complexo.

Gráficos e Tabelas




Referências

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