Migração e sobrevivência de larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais 14 dias após a contaminação em uma pastagem de Tifton 85

Jennifer Mayara Gasparina1, Renata Grasieli Baby2, Ruan Diego de Oliveira3, Camila Iank4, Vinicius Hideo Kayano5, Lidiane Fonseca6, Raquel Abdallah da Rocha Oliveira7
1 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
2 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
3 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
4 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
5 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
6 - Universidade Estadual de Ponta Grossa
7 - Universidade Estadual de Ponta Grossa

RESUMO -

A migração e sobrevivência de larvas infectantes (L3) na pastagem de Tifton 85 (Cynodon dactylon) foram avaliadas, bem como o risco de contaminação do pasto 14 dias após a contaminação, nos diferentes estratos do pasto. Foram estabelecidos quatro tratamentos: Altura de pasto baixa na Sombra, Altura de pasto baixa no sol, Altura de pasto alta na sombra e Altura de pasto alta no sol, contendo 72 parcelas cada, de forma a permitir seis repetições por tratamento e horário (6:00, 12:00 e 18:00h). Os tratamentos com sombra obtiveram médias superiores de L3 em relação aos com sol (p0,05). A altura média do pasto foi maior no alto sol, diferindo dos demais tratamentos. Maiores recuperações de L3 ocorreram às 18:00 h (p<0,05). Verificou-se condições favoráveis para a sobrevivência e migração de L3 de nematódeos gastrintestinais nos tratamentos sombreados.

Palavras-chave: Alturas do pasto, Haemonchus spp, Ovinos

Migration and survival of infective larvae of gastrointestinal nematodes 14 days after contamination in a pasture of Tifton 85

ABSTRACT - The migration and survival of infective larvae (L3) in the pasture of Tifton 85 (Cynodon dactylon) were evaluated, as well as the risk of contamination of the pasture 14 days after the contamination, in the different sward strata. Four treatments were established: Short sward surface height in the shadow, Short sward surface height in the sun, high sward surface height in the shadow, high sward surface height in the sun. Countaning in each 72 plots of 30 x 30 cm in order to allow six repetitions per treatment and per hour (6:00, 12:00 e 18:00h). The shaded treatments obtained higher means of L3 than those with sun (p<0,05). There was no difference in L3 recovery between sward strata (p>0,05). The sward surface height was higher in the high sward surface height in the sun, differing from the other treatments. Higher recoveries of L3 occurred at 6:00 p.m. (p <0.05). Were founded favorable conditions for the survival and migration L3 gastrointestinal nematodes in the shaded treatments.
Keywords: Sward surface height, Haemonchus spp, Sheep


Introdução

As infecções por nematódeos gastrintestinais causam impacto direto no desempenho produtivo do rebanho ovino, pois retardam o crescimento e terminação dos animais, aumentando custos com mão de obra, anti-helmínticos, podendo causar altas taxas de mortalidade (AROSEMENA et al., 1999). Com isso estudos relacionados à contaminação do pasto vem aumentando gradativamente nos últimos anos. De acordo com Oliveira et al. (2009), a migração das larvas das fezes para o pasto, assim como sua permanência, concentração e localização no ambiente, são fatores determinantes do risco de infecção dos animais durante o pastejo. Assim, este trabalho teve por objetivo avaliar a migração e sobrevivência de L3 na pastagem, bem como a capacidade infectante do pasto contaminado 14 dias após a contaminação nos diferentes estratos do pasto.

Revisão Bibliográfica

Estratégias que visem o controle dos nematódeos gastrintestinais de ovinos devem ter por base a interação entre o manejo do pasto com fatores que limitam ou favorecem as fases de vida livre do parasita. Sabe-se que as diferentes espécies forrageiras podem facilitar ou limitar a migração das larvas infectantes (L3) no perfil do pasto. A estação do ano também tem influência na migração destas larvas ao longo da planta. Mesmo dentro de uma mesma estação, verifica-se ampla variação de temperatura e umidade relativa do ar ao longo dos dias. Tal fato, muito provavelmente influencia no desenvolvimento larval de nematódeos gastrintestinais (ROCHA et al., 2008). Souza et al. (2000) avaliaram o período necessário para a desinfecção das pastagens por larvas de nematódeos gastrintestinais de ovinos e verificaram que para ocorrer uma redução considerável do número de L3 nas pastagens foram necessários 42 a 56 dias na primavera, 70 a 84 dias no verão, 112 a 126 dias no outono e 98 a 112 dias no inverno. Tais resultados mostram que o período para a redução da contaminação de pastagens não condiz com o manejo do pastejo aplicado aos rebanhos visando a produção animal. Longos períodos de descanso farão com que a planta se torne mais lignificada, perdendo valor nutricional e além disso faz com que o animal entre em um pasto com altura demasiadamente elevada, o que não favorece o processo de pastejo pelo animal (FONSECA et al., 2013). Além disso, para tal tipo de manejo ser aplicado, grandes áreas seriam necessárias na propriedade. Esses resultados reforçam a importância de manter herbívoros, principalmente ovinos que são animais mais susceptíveis a infecção por nematódeos gastrintestinais, em estruturas de pasto permitam maior colheita de forragem por bocado. Isto proporcionará diluição das L3 a cada bocado dado pelo animal, como também proporcionará a ingestão de folhas, partes de melhor valor nutricional para o animal.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Estadual de Ponta Grossa. A forrageira utilizada foi Tifton 85 (Cynodon dactylon), dividida em quatro tratamentos: Altura de pasto baixa na Sombra, Altura de pasto baixa no Sol, Altura de pasto alta na Sombra e Altura de pasto alta no Sol. Cada tratamento foi dividido em 18, totalizando 72 parcelas, com seis repetições por tratamento e por horário (6:00, 12:00 e 18:00 h). Para a contaminação do pasto utilizou-se fezes de ovinos machos, naturalmente infectados por nematódeos gastrintestinais. Foram depositadas 2,5 gramas de fezes em cada parcela, o equivalente a 60.000 ovos por grama de fezes. A coleta do pasto e das fezes foi realizada 14 dias após a contaminação. O corte do pasto foi realizado em três estratos, para avaliação da migração vertical das L3 nas plantas forrageiras:  50% superior, 25% abaixo e 25% restante da altura do pasto, a fim de simular os horizontes de pastejo (BAUMONT et al., 2004). A altura do pasto foi determinada através da média de cinco pontos aleatórios utilizando a metodologia do “sward-stick” (BARTHRAM, 1985). No laboratório, as amostras de pastos foram envoltas em gaze e as de fezes em papel e colocadas em peneiras, ambas permaneceram suspensas em cálice de sedimentação permitindo submersão em água por 24 horas. Após, foram transferidas para estufa a 60 ºC, por 72 horas, para determinação da matéria seca (MS). As L3 presentes no sobrenadante foram identificadas de acordo com Keith (1953). Os dados foram analisados após a transformação logarítmica (Log (x+1)) das contagens de L3. A espécie e os estratos foram incluídos no modelo, bem como a interação entre a espécie forrageira e os estratos. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey com 5% de significância. Para facilitar a interpretação, os dados de L3 estão apresentados na forma aritmética (sem transformação). Todas as análises foram realizadas no programa JMP (SAS INSTITUTE, 2010).

Resultados e Discussão

Observou-se diferença nas alturas do pasto (p<0,05), mostrando imposição dos tratamentos. O tratamento Alto Sol (21,4 cm) apresentou a maior altura seguido por Alto Sombra (18,3 cm), baixo Sombra (16,7 cm) e baixo Sol (15,6 cm). Quanto a massa de forragem (MF) houve interação entre tratamento e estrato (Tabela 2). Nos tratamentos de maiores alturas houve maior MF (p>0,05). Da mesma forma, no estrato superior, por representar maior porção da altura do pasto, há maior quantidade de MF. Segundo Taylor (1957) densidade e altura do pasto influenciam no desenvolvimento larval nas fezes.   Tabela 2: Peso médio de pasto de uma pastagem de Tifton 85 em quatro tratamentos de altura de pasto, dois tratamentos de luminosidade e entre os distintos estratos do pasto (A - 50% superior; B - 25% Inferior, C - 25% restante da altura do pasto). Quantidades não significativas de L3 dos gêneros Trichostrongylus e Oesophagostomum foram encontradas no presente trabalho. Portanto, apenas serão expressados os valores de Haemonchus spp. Os tratamentos com sombra obtiveram maiores contagens de L3 no pasto (Figura 1), provavelmente devido aos fatores climáticos de menor temperatura e maior umidade, visto que um ambiente mais sombreado e úmido propicia um microclima mais favorável para o desenvolvimento larval (ROCHA et al., 2008). Foram encontradas diferenças entre os três horários de coletas (Figura 1), sendo que 6:00h encontrou-se a menor proporção de L3 de Haemonchus spp. Silva et al. (2008) ao avaliarem a migração e a sobrevivência de L3 de Haemonchus contortus em pastagem de Brachiaria decumbens verificaram diferença entre os horários de coleta apenas na estação primavera, os autores encontraram menor concentração de larvas 12:00h quando comparado com os outros horários. Isto indica que não há um período em que os ovinos estariam sob menores riscos de infecção. Não foi observada diferença significativa entre o número de L3 de Haemonchus spp. nos diferentes estratos de pasto (p>0.05). Silva et al. (2008) verificaram maiores concentrações de L3 no estrato superior do pasto. Em contrapartida, Rocha et al. (2007) não recuperaram L3 de nenhum estrato da planta forrageira avaliada durante a estação do verão (mesma estação do referido estudo). Esta variação de concentração de larvas nos estratos do pasto, nos mostra que as L3 não têm uma especificidade com o estrato, visto que podem facilmente migrar entre os estratos do pasto (ROCHA et al., 2008). Dessa forma, a maneira de evitarmos perdas de produtividade animal por parasitas gastrintestinais é manter os animais bem nutridos (CARVALHO et al., 1999), o que é alcançado ao se oferecer estruturas de pasto que permitam maior consumo de folhas (FONSECA et al., 2012). Portanto permitir ao animal consumir apenas o primeiro estrato (50% superior) garante melhor estado nutricional e menor susceptibilidade à infecção. Apesar de não encontrar variações significativas em determinados tratamentos, mesmo 14 dias após a contaminação do pasto os nematódeos gastrintestinais podem ser encontrados. Chiejina et al. (1989) relatam que L3 podem sobreviver dentro dos cíbalos fecais de caprinos e ovinos durante períodos de seca, em pastagens sombreadas com adequada cobertura vegetal.

Conclusões

Devido as condições favoráveis para as larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais do gênero Haemonchus, observou-se que teve maior índice de sobrevivência nos tratamentos sombreados.

Gráficos e Tabelas




Referências

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