Nitrogênio ureico no leite em propriedades leiteiras que compõe um arranjo produtivo local

Fabricia Batista de Araujo1, Juliano Silva Rodrigues2, Allan Afonso Passos3, Luciana dos Reis Valadão4, Karyne Oliveira Coelho5, Fernanda Rodrigues Taveira Rocha6
1 - Universidade Estadual de Goiás
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6 - Universidade Estadual de Goiás

RESUMO -

Objetivou-se determinar o nitrogênio ureico no leite (NUL) em bovinos leiteiros pertencentes a uma região de arranjo produtivo local (APL). Assim foram avaliadas amostras de leite de 30 rebanhos, através de um método enzimático e espectrofotométrico. Com os resultados obtidos determinou-se a frequência relativa de amostras não conformes; considerou-se o nível entre 10 a 16 mg/dL. 13 amostras (43,33%) apresentaram-se em desacordo com o preconizado, sendo aproximadamente, 85% inferior a 10 mg/dL. Diante do exposto, observa-se que o NUL está abaixo do recomendado, tornando necessária intervenção, especialmente, no que diz respeito à nutrição dos animais.

Palavras-chave: APL, Proteína, Qualidade do Leite, Ureia.

Milk urea nitrogen in dairy farms that composes a local productive arrangement

ABSTRACT - The objective was to determine the urea nitrogen in milk (NUL) in dairy cattle belonging to a region of local productive arrangement (MPA). Milk samples from 30 dairy herds were evaluated through an enzymatic and spectrophotometric method. With the results obtained, the relative frequency of non-conforming samples was determined; the level between 10 and 16 mg/dL considered adequate. It observed that 13 samples (43.33%) were in disagreement with the recommended one, with approximately 85% lower than 10 mg/dL. In view of the above, it observed that the NUL is below the recommended level, making intervention necessary, especially with regard to the animals' diet.
Keywords: Milk Quality, Protein, MPA, Urea.


Introdução

A ureia, nitrogênio ureico no leite (NUL), é uma molécula que se dissemina entre as membranas do organismo animal. Quando o leite é secretado pelas células alveolares da glândula mamária, a ureia se difunde para dentro ou para fora das células secretoras, entrando em equilíbrio com a ureia plasmática. Sabe-se que o aumento do teor do NUL no leite determina menor rendimento industrial, sendo que a proteína verdadeira é substituída pelo nitrogênio não proteico, interferindo no rendimento e qualidade sensorial do produto final. As concentrações de nitrogênio ureico do sangue (NUS) são determinadas através das estimavas de nitrogênio ureico no leite (NUL) sendo um indicativo do teor de proteína da dieta do animal (FERREIRA et al., 2006). O NUL pode ser uma importante ferramenta na determinação do ajuste da nutrição proteica de vacas em lactação, portanto um rebanho que apresenta altos níveis de NUL indica que as vacas não estão utilizando a proteína de forma eficiente, excretando grande quantidade de nitrogênio no sangue. Baixos níveis de NUL indicam uso extremamente eficiente da proteína dos alimentos ou a possibilidade de uma deficiência proteica (Peres, 2000). As concentrações médias variam de 10 a 14mg/dL ou de 10 a 16 mg/dL, no leite, segundo Cassoli e Machado, (2006) e Meyer et al., (2012), respectivamente. O NUL é um indicador da nutrição proteica para a bovinocultura leiteira e o seu monitoramento, considerado simples, rápido e barato, permite a compreensão de problemas que ocorrem também na reprodução. O excesso de ureia determina ineficiência reprodutiva gerando modificações nas secreções uterinas, o que compromete a qualidade e o desenvolvimento embrionário, causa reabsorção fetal ou intercede em uma ou mais etapas relativas à gestação. A composição do leite também fica prejudicada, sendo que é o produto de maior valor na bovinocultura leiteira e que em muitas regiões é remunerada de acordo com os níveis de qualidade (LEÃO et al., 2014). A determinação do NUL, quando associados o resultado da análise à dieta oferecida às vacas, pode-se chegar a inferências, e assim, tomar as decisões cabíveis a cada caso. O presente trabalho foi proposto com o intuito de determinar o perfil do NUL em bovinos leiteiros pertencentes a uma região de arranjo produtivo local (APL).

Revisão Bibliográfica

O leite, secreção produzida pela glândula mamária das fêmeas de mamíferos com a finalidade de nutrir as crias, é rico em nutrientes como proteínas, lipídios, açúcares, vitaminas e minerais, essencial para o crescimento, desenvolvimento e manutenção da saúde (Ceballos et al., 2009). A composição do leite é determinante para o estabelecimento da sua qualidade nutricional e adequação para processamento e consumo humano. O leite apresenta além das proteínas e peptídeos, uma fração de compostos nitrogenados não-proteicos (NNP) como a ureia, a creatina e a creatinina que perfazem aproximadamente 5% do total de nitrogênio do leite, em contrapartida o nitrogênio proteico representa 95% (Walstra e Jenness, 1984). O nitrogênio uréico representa a porção de nitrogênio no leite na forma de ureia. O nível de NUL segue os níveis de Nitrogênio Uréico Plasmátivo (NUP), com atraso de uma a duas horas, desta forma o NUL reflete o nível de nitrogênio sanguíneo nas últimas 12 horas em que o leite foi produzido (Peres, 2001). A alta concentração de proteína bruta (PB) na dieta, de modo especial Proteína Degradável no Rúmen (PDR) está positivamente associada com maior degradação de proteína e concentração de amônia ruminal. Quando a concentração de amônia no rúmen excede a capacidade de captura e utilização pela microbiota ruminal, a mesma é absorvida pela parede do rúmen e transportada ao fígado, por meio do sistema porta e então transformada em ureia, o que eleva o teor de nitrogênio uréico no plasma (NUP). A concentração de ureia equilibra-se rapidamente aos fluidos corporais, incluindo o Leite (NUL), o que resulta em alta correlação com o NUP, o excesso de nitrogênio além de ser liberado no leite também é excretado na urina e fezes (Peres, 2001). Rebanhos que apresentam altos níveis de NUL são indicativos de que as vacas não utilizam a proteína de forma eficiente, ao invés disso, excretam grande quantidade de nitrogênio na urina. Rebanhos com baixo NUL indicam uso extremamente eficiente da proteína da dieta ou uma possível deficiência proteica. A determinação de NUL é uma análise relativamente simples. Níveis de NUL muito abaixo de 10 mg/dL refletem ou uma deficiência de proteína na dieta ou alta eficiência no aproveitamento da PDR, com pleno aproveitamento de amônia disponível às bactérias. Por outro lado, níveis de NUL de 16 mg/dL podem indicar excesso de proteína degradável na dieta sem ajustar com uma fonte adequada de carboidrato (CHO) (Fernandes e Seno, 2009). O leite, secreção produzida pela glândula mamária das fêmeas de mamíferos com a finalidade de nutrir as crias, é rico em nutrientes como proteínas, lipídios, açúcares, vitaminas e minerais, essencial para o crescimento, desenvolvimento e manutenção da saúde (Ceballos et al., 2009). A composição do leite é determinante para o estabelecimento da sua qualidade nutricional e adequação para processamento e consumo humano. O leite apresenta além das proteínas e peptídeos, uma fração de compostos nitrogenados não-proteicos (NNP) como a ureia, a creatina e a creatinina que perfazem aproximadamente 5% do total de nitrogênio do leite, em contrapartida o nitrogênio proteico representa 95% (Walstra e Jenness, 1984). O nitrogênio uréico representa a porção de nitrogênio no leite na forma de ureia. O nível de NUL segue os níveis de Nitrogênio Uréico Plasmátivo (NUP), com atraso de uma a duas horas, desta forma o NUL reflete o nível de nitrogênio sanguíneo nas últimas 12 horas em que o leite foi produzido (Peres, 2001). A alta concentração de proteína bruta (PB) na dieta, de modo especial Proteína Degradável no Rúmen (PDR) está positivamente associada com maior degradação de proteína e concentração de amônia ruminal. Quando a concentração de amônia no rúmen excede a capacidade de captura e utilização pela microbiota ruminal, a mesma é absorvida pela parede do rúmen e transportada ao fígado, por meio do sistema porta e então transformada em ureia, o que eleva o teor de nitrogênio uréico no plasma (NUP). A concentração de ureia equilibra-se rapidamente aos fluidos corporais, incluindo o Leite (NUL), o que resulta em alta correlação com o NUP, o excesso de nitrogênio além de ser liberado no leite também é excretado na urina e fezes (Peres, 2001). Rebanhos que apresentam altos níveis de NUL são indicativos de que as vacas não utilizam a proteína de forma eficiente, ao invés disso, excretam grande quantidade de nitrogênio na urina. Rebanhos com baixo NUL indicam uso extremamente eficiente da proteína da dieta ou uma possível deficiência proteica. A determinação de NUL é uma análise relativamente simples. Níveis de NUL muito abaixo de 10 mg/dL reflete ou uma deficiência de proteína na dieta ou alta eficiência no aproveitamento da PDR, com pleno aproveitamento de amônia disponível às bactérias. Por outro lado, níveis de NUL de 16 mg/dL podem indicar excesso de proteína degradável na dieta sem ajustar com uma fonte adequada de carboidrato (CHO) (Fernandes e Seno, 2009).

Materiais e Métodos

Foram coletadas amostras de leite cru refrigerado, em tanques de expansão em 30 propriedades rurais de Goiás, localizadas nos Municípios de: São Luís de Montes Belos, Silvolândia, Paraúna, Caiapônia, Fazenda Nova, Palmeiras, Palminópolis e Varjão, os quais compõem uma região de APL. As amostras foram transportadas, sob refrigeração ao Laboratório de Qualidade do Leite da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, para a verificação do NUL. O NUL (mg/dL) foi determinado através do princípio analítico que se baseia na absorção diferencial de ondas infravermelhas, transformada por Fourier – FTIR, utilizando o equipamento Lactoscope® (Delta Instruments). Os resultados obtidos foram comparados aos recomendados por Meyer et al., (2012) ou seja, de 10 a 16 mg/dL.

Resultados e Discussão

De acordo com a recomendação da Clínica do Leite ESALQ−USP (Cassoli e Machado, 2006) concentrações de NUL entre 10 a 14 mg/dL estão dentro do padrão, no entanto, Meyer et al., (2012) estabelecem de 10 a 16 mg/dL. Com base nos resultados das análises de NUL dos rebanhos  13 amostras (43,33%) apresentaram-se em acordo com o preconizado. Tanto altas quanto baixas concentrações de NUL podem indicar problemas nutricionais nos rebanhos leiteiros (Cassoli e Machado, 2006; Meyer et al., 2012). Valores altos de NUL relacionam-se ao fornecimento de PB (proteína bruta) dietética, ocasionado por excessos de PDR (proteína degradável no rúmen) e/ou de PNDR (proteína não degradável no rúmen) na dieta, ou baixa taxa de fermentação ruminal de carboidratos não-fibrosos (CNF), ou ainda, relação PB:CNF aumentada. Já valores abaixo da média indicam que não há sobra e nem falta de proteína para o animal, podem indicar falta de PB na dieta, limitadas quantidades de PDR e PNDR na dieta, ou ainda, alta taxa de fermentação de CNF no rúmen. Comparando os resultados obtidos neste trabalho aos apresentados por Cassoli e Machado (2006), que avaliaram leite provenientes de 30 mil amostras de tanques de expansão de fazendas leiteiras de São Paulo e Minas Gerais, constataram que mais de 70% das amostras apresentaram NUL abaixo de 10 mg/dL, 10% com teores acima do normal e apenas 20% dentro da normalidade. Por sua vez, Bezerra (2007) relatou em seu estudo, que vacas leiteiras da Fazenda Várzea localizada no estado do Piauí, estão com excesso de proteína e/ou déficit energético, dados diferentes aos observados no presente estudo. Rosolen (2013) detectou que 89,1% das amostras de leite analisadas no Vale do Taquari-RS permaneceram entre 10 e 16 mg/dL, dentro dos níveis considerados como concentrações normais, em amostras de leite da região do Taquari. Sabe-se que o NUL é um indicador que possui múltiplos fatores que o influenciam, porém tem grande representatividade na nutrição proteica. Entretanto, vários são os problemas, desde nutricionais a reprodutivos, que são diagnosticados pelo NUL e que por vezes são solucionados com monitoramento constante, gerando um melhor desempenho do sistema produtivo. Mesmo em uma região de APL, onde se sugere que há mais incentivo e/ou acesso a informação, observa-se um significativo número de amostras em desacordo com o preconizado.



Conclusões

Uma parcela significativa das propriedades leiteiras pertencentes à região de APL apresentaram NUL abaixo do preconizado, assim,  estes resultados provavelmente relacionam-se a falta de PB na dieta, limitadas quantidades de PDR e PNDR na dieta, ou ainda, alta taxa de fermentação de CNF no rúmen. Cita-se que baixas concentrações de NUL podem determinar falhas nos índices produtivos dos animais e na qualidade do leite disponibilizado a indústria laticinista.

 




Referências

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