O ESTUDANTE E SUAS EXPERIÊNCIAS EXTRACLASSE: O PAPEL DO ESTÁGIO DURANTE A FORMAÇÃO

Karynne Luana Chaves de Paula1, Santiago Augusto Silva2, André Luis da Costa Paiva3, Caroline Gonçalves Silva de Faria4, Jean Kaíque Valentim5
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - Campus Diamantina
2 - Universidade de Brasília - Campus Darcy Ribeiro
3 - Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Bambuí
4 - Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Bambuí
5 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - Campus Diamantina

RESUMO -

As atividades extraclasses podem ser a primeira e única experiência profissional. O presente trabalho teve como objetivo discutir a influência dessas atividades, com ênfase no papel do estágio, a partir do relato de estudantes de graduação em andamento. A primeira etapa da pesquisa consistiu em um levantamento bibliográfico sobre o tema e, concomitantemente a ela, para se conhecer a opinião dos diferentes intervenientes envolvidos, foi realizada uma pesquisa qualitativa através da aplicação de um questionário contendo 15 questões. O questionário foi aplicado online usando a ferramenta Google Forms, recebendo a participação de estudantes de diferentes cursos e instituições, abrangendo o conhecimento sobre definição, legislação, número de experiências e alguns pontos positivos e negativos a respeito da participação em estágios durante a graduação. Através da literatura e dos dados colhidos no questionário, pôde-se relacionar alguns dos principais pontos positivos no papel do estágio, enfatizando sua necessidade para que o conhecimento teórico, que, por sua vez, é essencial, seja associado à prática de forma eficiente. Dentre as principais falhas, destacou-se a necessidade da participação efetiva das instituições de ensino superior na orientação, informação, organização e motivação de seus alunos para com as atividades pertinentes ao estágio, não somente assumindo o papel burocrático, mas também exercendo a função educadora de avaliar se realmente a experiência de estágio está sendo incisiva na vida dos estudantes. Por fim, foi redigido um livro, contendo 126 páginas, intitulado “O Guia do Estagiário Aventureiro”, utilizando memórias e opiniões particulares da autora. Espera-se que, a partir dele, possa ser trabalhado com mais intensidade o papel do estágio na formação profissional dos estudantes universitários, usando-o como motivação para os estudantes de graduação em Zootecnia, e demais simpatizantes.

Palavras-chave: Estagiários, formação profissional, graduação, instituição de ensino.

THE STUDENT AND HIS EXTRACLASS EXPERIENCES: THE ROLE OF INTERNSHIP IN TRAINING

ABSTRACT - Extra-class activities can be the first and only professional experience. The present work had as objective to discuss the influence of these activities, with emphasis on the role of the stage, from the report of undergraduate students in progress. The first stage of the research consisted of a bibliographical survey on the subject and, together with it, for to know the opinion of the different stakeholders involved, a qualitative research was carried out through the application of a questionnaire containing 15 questions. The questionnaire was applied online using the Google Forms tool, for students from different courses and institutions, covering knowledge about definition, legislation, number of experiences and some positives and negatives regarding participation in internships during graduation. Through the literature and data collected in the questionnaire, we could relate some of the main positive points in the role of the stage, emphasizing its necessity so that the theoretical knowledge, which in turn is essential, is associated with the practice of efficient way. Among the main failings, it was highlighted the need for effective participation of higher education institutions in the orientation, information, organization and motivation of their students to the activities pertinent to the internship, not only assuming the bureaucratic role, but also exercising the educative function Of evaluating whether the internship experience is actually being incisive in the students' lives. Finally, a 126-page book entitled "The Adventurer Trainee's Guide" was drawn up, using the author's own personal memories and opinions. It is hoped that, from it, the role of the internship in the professional training of university students can be worked out more intensely, using it as a motivation for students in Animal Science and other sympathizers.
Keywords: Educational institution, graduation, trainees, vocational training.


Introdução

A passagem pelo período de formação acadêmica exerce um papel importante na construção do perfil do indivíduo, seja pessoal ou profissional. Fazer um curso de graduação não tende a ser somente uma escolha da profissão, mas também pode ser a fase de transição e consolidação da personalidade, no que diz respeito às características pessoais, como maturidade, responsabilidade e senso crítico. Nesse contexto, destacam-se durante a graduação, as atividades que envolvem habilidades extras e, ainda, externas, que seriam mais associadas com as relações interpessoais do estudante do que com as habilidades específicas do seu curso propriamente dito. Tais habilidades podem e são comumente relacionadas às disciplinas que trabalham com as interações humanas e as atividades complementares, atuantes diretamente nos métodos de aprendizagens técnico-científicos. As formas como essas habilidades são abordadas variam de acordo com a organização educacional da instituição de ensino, ou seja, por meio do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e do corpo docente, mas não somente através destes, uma vez que tais características podem ser desenvolvidas naturalmente pelo desejo do estudante em agregar mais conhecimentos, entre objetivos de ascensão profissional, por exemplo. O estágio acadêmico curricular, ou extracurricular, é um exemplo nítido de uma atividade complementar que faz parte das ementas de vários PPC de forma obrigatória (quando curricular) ou facultative (quando extracurricular), onde sua duração dependerá da matriz vigente do curso. Muitas das vezes o estágio acadêmico pode ser a primeira e única experiência profissional dos estudantes, onde ele terá de fato o contato com os desafios práticos da profissão. Diante desse cenário, os estudantes passam a ter preocupações constantes com sua situação pós-formatura, onde a inserção no mercado profissional pode apresentar dificuldades, principalmente pela inexperiência. Dessa forma, o estágio poderia ser eventualmente uma atividade preparatória para a minimização dos desafios que comprometem a conquista da vaga do primeiro emprego e, possivelmente, a única experiência do recém-formado. Barreiras institucionais, ausência de informação, falta de incentivo, sentimentos adversos como despreparo e medo e, ainda, dificuldade de encontrar oportunidades de estágio no seu meio são exemplos corriqueiros, entre os estudantes, de situações que podem inviabilizar a prática de estágio, mesmo quando ele é um componente obrigatório na grade curricular. Isso pode levar à redução do aproveitamento das atividades extraclasse como ferramentas de enriquecimento pessoal e coletivo de todos os envolvidos. Assim, o presente trabalho consistiu em uma pesquisa de caráter exploratório, que visou abordar as atividades extraclasse por meio do papel do estágio na formação do estudante, realizando um levantamento bibliográfico sobre o tema, uma aplicação de questionário para estudantes de graduação em diferentes unidades de ensino no país para discutir suas respectivas opiniões e a produção de um livro, com o objetivo de dar suporte básico e incentivar estudantes de graduação no caminho dos estágios acadêmicos.

Revisão Bibliográfica

Estágio: definição e legislação De acordo com Brinkhus (2008), o estágio pode ser compreendido como uma medida alternativa de expandir os conhecimentos, sendo, assim, desejável pelas instituições de ensino, e, em algumas, tal medida é apresentada de forma obrigatória na matriz curricular dos cursos. Atualmente, os estágios confirmam o seu papel de inserção profissional organizada, estruturada na convergência dos sistemas educativo e produtivo, em que a escola já incorpora aspectos de aprendizado prático à formação. Dessa forma, deixa de ser apenas um meio de formação das instituições de ensino e passa a ser reconhecido pelas organizações e pelos estudantes como uma forma legítima (e às vezes necessária) para ingresso na esfera laboral (OLIVEIRA & PICCININI, 2012). Custódio e Carrão (2012) mencionam que a primeira vez em que se discutiu formalmente o tema estágio foi no ano de 1972, durante um evento que contava com a participação de docentes voltados para ações pedagógicas. Passados 25 anos, em 1997, o estágio passaria a ser regularizado pela Lei Nº 6.494, que seria modificada e complementada pela lei vigente, a Lei Nº 11.788, aprovada em 25 de setembro de 2008. Desde então, as políticas que giram em torno dos estágios são regidas pela Lei, que, segundo o seu Art. 1º, define-os como “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo dos educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação”. A lei do estágio estipula as reponsabilidades e deveres de todos os envolvidos, sendo que as instituições de ensino têm um papel central na organização do estágio, documentando, acompanhando (através da designação de um professor responsável pelo acompanhamento do aluno) e avaliando o estágio e os alunos a partir dos conteúdos desenvolvidos. Existe a celebração de um contrato de estágio entre as partes envolvidas (instituição de ensino, aluno e empresa) tendo o aluno de entregar um relatório final, que servirá de base para sua avaliação final. Processo de aprendizagem prático-científica Pimenta e Lima (2004) articulam o estágio como uma fração prática dos cursos de formação de profissionais e enfatizam, ainda, que há uma quantidade bastante expressiva de cursos que abordam as suas disciplinas separadamente, deixando de relacionar a teoria e a prática como agentes complementares uma da outra.  As autoras destacam que “o estágio tem de ser teórico-prático, ou seja, que a teoria é indissociável da prática”. Freire (2003) discorre a respeito da capacidade de aprendizado não somente como estratégia de adaptação, mas também para a transformação da nossa realidade. Dessa forma, a proposta da atividade extraclasse atua como uma ferramenta adicional no processo de aprendizagem, uma vez que torna possível o convívio com os domínios reais, tendo como consequência o enriquecimento do intelecto, da sociabilidade e da afetividade do estudante. Cabe ao educador fornecer a informação de modo que estimule o prazer, para que o aprendiz capte melhor aquilo que o cativa. Krasilchik (2004) cita que os objetivos do ensino dentro do ambiente escolar não podem ser atingidos se não forem incluídas atividades fora da escola, em contato direto com outros ambientes, pois, quanto mais as experiências educativas assemelharem-se às situações futuras em que os alunos poderão aplicar seus conhecimentos, mais fácil tornar-se-á a transferência do aprendizado. Assim, o processo de aprendizagem técnico-científica torna-se fundamental na preparação profissional do estudante. O papel do estágio Dentro do contexto dos estágios, podem-se encontrar alguns trabalhos que apontam que eles estão bastante distantes de seu objetivo pedagógico original, constituindo principalmente uma fonte de renda para os estudantes e a obtenção de mão de obra de baixo custo para empresas (públicas e privadas), uma vez que grande parte das atividades desempenhadas são de baixo nível de exigência e desempenho (AMORIN et al., 1994, TREVISAN & WITTMANN, 2002), tendo, muitas vezes, pouca relação com os conteúdos trabalhados no curso. O estágio tornou-se fundamental para a inserção profissional dos jovens, visto que permite colocar em prática conhecimentos teóricos aprendidos durante o período de formação na universidade, possibilitando ao estudante uma experiência do mundo do trabalho e do seu ramo de formação (RITNNER, 1999). No entanto, por se localizar na fronteira entre a formação e a atividade produtiva, o desconhecimento ou o mau entendimento sobre “o que é” e “como deve ser desenvolvido” o estágio leva a uma multiplicidade de práticas, que nem sempre priorizam a formação profissional do estudante. Segundo Oliveira (2009), tanto os estágios obrigatórios quanto os não obrigatórios são uma forma de ensino aprendizagem voltado para o desenvolvimento profissional no âmbito da prática. Eles objetivam preparar o aluno para o ingresso no mercado de trabalho, revisando conceitos e conhecimentos tratados ao longo do curso, desenvolvendo assuntos específicos de conteúdo e metodologia, criando situações de estudos reais aplicáveis, promovendo o exercício das atribuições próprias da profissão, capacitando o estudante a atuar em sua área e atendendo ao mercado de trabalho ao concluir o curso. Ao servir de ligação entre a escola/universidade e o mercado de trabalho, o estágio torna-se uma prática fundamental, uma vez que traz benefícios para todas as partes envolvidas: a universidade, a empresa e o estudante. Para o estudante, o estágio destina-se a oportunizar ao futuro profissional a complementação do processo ensino-aprendizagem através de experiências práticas vividas no ambiente de trabalho (RITNNER, 1999). No Brasil, o estágio não obrigatório, sobretudo, tem se configurado como um importante meio de ingresso no mercado de trabalho. No entanto, em alguns casos, a oferta apresentada não tem como objetivo principal a formação, mas sim o preenchimento de vagas temporárias ou a redução de custos de pessoal. Ao mesmo tempo, exigência das empresas para seus profissionais efetivos é refletida nos jovens potenciais. Mesmo as características comportamentais, as quais são mais dificilmente identificáveis, ganham espaço nos processos seletivos (GUADAGNIN, 2003). O papel da instituição de ensino superior Krasilchik (2004) relata que, no primeiro terço do século XX, quando o ensino científico passou a ser acrescentado ao currículo das escolas no Brasil, as atividades práticas iniciaram, passando a ser executadas dentro do processo de aprendizagem, mostrando que a ruptura do cotidiano da sala de aula e a promoção das atividades extraclasse são iniciativas de longa data na escola. Em suma, a IES deve planejar e conduzir os esforços educacionais para prover estrutura e cenários diversificados e específicos; definir diretrizes propiciadoras ao uso das metodologias ativas; promover capacitação do corpo docente e a avaliação sistemática da eficácia de sua utilização (SOUZA et al. 2014). A falta de acompanhamento e de uma instituição responsável pela fiscalização efetiva cria espaço para disfunções da proposta original, fazendo surgir formas precárias de estágio, onde o estudante assume as mesmas funções de um funcionário e desenvolve atividades sem relação com o curso, ou assina dois contratos de estágio, duplicando sua carga horária. Não basta transferir o conhecimento, mas, sim, criar possibilidades para a sua construção pelo educando. “O detalhe a ser posto em evidência importa na concepção de que o entendimento não pode ser transferido, mas sim absorvido” (FREIRE, 2003).

Materiais e Métodos

Para se conhecer a opinião dos diferentes intervenientes envolvidos neste processo, foi realizada uma pesquisa qualitativa que possibilitou colher dados que permitiram conhecer os fatos vivenciados diretamente pelos envolvidos. A primeira etapa da pesquisa consistiu em um levantamento bibliográfico sobre o tema. Concomitantemente a ela, foi elaborado um questionário com perguntas de múltipla escolha e discursivas usando a plataforma Google Drive, serviço on-line gratuito da Google. Ela abriga o Google Forms, uma ferramenta para construção de formulários, que, após serem construídos, podem ser disponibilizados através de um endereço eletrônico e, quando preenchidos pelos participantes, as respostas aparecem imediatamente na página do Google Forms do usuário que criou o questionário. O questionário, identificado no presente estudo como “questionário geral”, foi elaborado para os estudantes, contendo 15 perguntas, abrangendo o conhecimento sobre definição, legislação, número de experiências e alguns pontos positivos e negativos a respeito da participação em estágios durante a graduação (Anexo I). Ele foi divulgado nas redes sociais, sem restrições de participações quanto à instituição de ensino ou curso do estudante, e esteve disponível on-line para coleta de respostas no período de 10 a 30 de outubro de 2016. Com base nos pressupostos de Severino (2009) e Santos (2010), a pesquisa realizada neste trabalho apresenta-se como exploratória, pois houve a aproximação com o tema, visando oferecer informações sobre ele, por meio da coleta de informações mediante o levantamento bibliográfico e o feedback oriundo da aplicação do questionário. Optou-se por expandir o questionário geral para o público aberto, sem especificar um grupo característico, por se tratar de uma pesquisa inicial e mais abrangente, e, ainda, por questões pessoais da autora, para conhecer estudantes de instituições de ensino de outros estados, que poderiam contribuir com suas opiniões e realidades diferentes. Através de observações do cotidiano e das experiências vividas ao longo dos 4 anos de curso, foi redigido um livro contendo 126 páginas, intitulado “O Guia do Estagiário Aventureiro”. Para sua redação, utilizaram-se memórias e opiniões particulares da autora, tendo tais parâmetros como metodologia. O livro foi elaborado entre os meses de julho e setembro de 2016 e teve a participação de estudantes de várias instituições, ofertando depoimentos oriundos de suas passagens nos estágios durante suas jornadas acadêmicas.

Resultados e Discussão

Questionário geral

Na presente pesquisa, participaram do questionário geral 44 estudantes, com predominância de participação entre os estudantes do curso de Zootecnia e Biologia (Figura 1).

Na Figura 2, é possível ver a distribuição de resposta quando perguntado sobre o a Lei Nº 11.788. Dentre os participantes, 72,7% não conhecem a Lei do Estágio; 20,5% conhecem apenas por nome, mas nunca a leram; e apenas 6,8% conhecem e já leram a legislação.

Ao serem questionados sobre a consciência da diferença entre estágio curricular e estágio extracurricular, 95,5% dos participantes mencionaram que sabiam distinguir os dois tipos. Isso mostra que, apesar dos estudantes demostrarem baixa interação com a lei do estágio, na qual são esclarecidas definições e tipologias de estágios, na prática, eles conseguem adquirir esse tipo de informação ao longo do curso.

Dos 44 estudantes, 36 já realizaram estágios extracurriculares durante o curso, sendo que 33,3% destes realizaram este tipo de estágio 2 vezes; 30,6%, uma vez; 13,9%, quatro vezes; 8,3%, três vezes; e 13,9% referiram-se à opção “outros”, havendo menções pessoais como “sou estagiário fixo na minha faculdade”.

Oliveira (2009) relata que os estágios que mais cresceram no Brasil foram os extracurriculares, que geralmente não estão ligados ao cumprimento de requisitos para conclusão do curso. Nesses casos, os estudantes quase sempre conseguem as oportunidades por meio de agentes de integração ou contatos pessoais, que atuam como intermediadores das vagas e auxiliam no processo de inserção nas empresas como estagiários.

O resultado positivo alcançado na realização do estágio depende da compreensão dos vínculos estabelecidos entre este e os demais componentes curriculares, o valor atribuído ao estágio pelos professores e alunos e à articulação da relação teórico-prática na formação do profissional (PICONEZ, 1991). A concretização desse processo depende de uma estrutura de coordenação e acompanhamento pedagógico e do desenvolvimento da relação universidade-empresa.

Sabendo da importância das IES’s no processo de concepção e eficácia dos estágios na formação acadêmica, foi questionado aos estudantes o papel de suas instituições de ensino para a realização de estágios em seus domínios acadêmicos.

Grande parte (70,5%) das IES atua regularmente, porém, quando a iniciativa parte do aluno. Outros, 20,5%, mencionaram que a atuação da IES é péssima, deixando muito a desejar no quesito de participação neste processo. Apenas 6,8% dos participantes disseram que suas IES’s atuam de forma determinante, instruindo e dando condições plenas para a realização de estágios.

Ao abordar o processo de concessão de um estágio, questionou-se aos estudantes quais os pontos que eles consideravam mais difíceis (Figura 3). Nesta questão, o participante podia mencionar mais de uma opção, caso julgasse necessário. O obstáculo mais mencionado (24 vezes) foi o de encontrar uma empresa que receba estagiários, considerando-se aquelas na área de interesse do estudante.

O segundo lugar no ranking dos desafios foi para o setor finanças do estudante, mencionado 17 vezes como a queixa de falta de recurso financeiro para custear as possíveis despesas com o estágio. Desinformação geral a respeito de como proceder para se fazer um estágio foi mencionada 11 vezes, ficando em terceiro lugar. Com 5 menções, a instituição de ensino ficou em quarto lugar, em que os estudantes alegavam de falta de apoio. Um participante, ainda, relatou a questão da ausência de tempo para a realização de estágio como uma das dificuldades.

Ainda sobre as dificuldades, indagou-se sobre quais seriam as mais impactantes durante a realização do estágio, e, como na questão anterior, havia a opção de selecionar mais de um fator. Com 19 menções cada, não saber como realizar determinadas tarefas e insegurança foram os mais citados. Os problemas de adaptação à rotina de trabalho foram mencionados 12 vezes, ficando em segundo lugar. O terceiro item, segundo os estudantes que participaram, foi a timidez, colocando a dificuldade de socialização com as pessoas entre os mais três mais votados quando se fala em pontos difíceis durante a execução do estágio.

Seguindo a mesma linha de respostas, porém, sobre os pontos positivos, ao serem questionados acerca dos fatores mais benéficos oriundos do estágio, a oportunidade de aprendizado foi citada 41 vezes; contatos profissionais, 28, e ambiente de trabalho e as amizades, 11 vezes cada.

O objetivo do estágio é, geralmente, oportunizar o desenvolvimento de um balanço das competências e a possibilidade de encontrar um emprego por prazo indeterminado. A utilização dos estágios como período de teste é reveladora das estratégias de recursos humanos das empresas, que selecionam uma mão de obra jovem na qual identificam potencial de desenvolvimento interno durável. O estágio aparece como um fator de integração na empresa. Esta última transforma-se num ator estruturante da inserção profissional dos egressos do ensino superior na medida em que a acolhida dos estagiários se inscreve na sua política de recrutamento e renovação de qualificações (OLIVEIRA, 2009).

Quanto ao grau de satisfação com o conteúdo aprendido durante os estágios, foram apresentadas pontuações em que o participante marcava de acordo com a satisfação das suas experiências. Dos 40 estudantes que responderam essa pergunta, 42,5% avaliaram suas experiências como “muito satisfeito”; 27,5% consideraram o aprendizado no estágio “excelente”; e outros 25% “satisfeitos” com o que aprenderam. Apenas 10% dos participantes alegaram que foi razoável, o que não significa que tenha sido nulo ou uma experiência ruim. Isso enfatiza o levantamento bibliográfico da pesquisa, quando se afirma que os estágios são excelentes ferramentas de aprendizado.

Segundo Teixeira et al. (2010), num estudo realizado com duzentos e trinta e seis jovens para identificar as suas percepções sobre o estágio, foi possível verificar que os alunos reconhecem que o estágio tem benefícios e aumenta a possibilidade de ingressarem no mercado de trabalho, pois serve para melhorar o currículo e ganhar experiência, o que lhes transmite uma maior segurança no que diz respeito à preparação para o mercado de trabalho.

Essa ideia também é confirmada por Oliveira & Piccinini (2012) em seu estudo sobre a inserção profissional de estudantes de administração no Brasil. Verifica-se que os alunos reconhecem o estágio como o meio mais propício para encontrar uma atividade relacionada com o curso de formação e como forma de ingressar numa grande empresa, pois acreditam que o contato com as pessoas da organização (colegas, clientes, chefes) contribui para a formação de redes de relacionamento. Por sua vez, estas permitem um conhecimento mais amplo do mercado e favorece o ingresso em futuras oportunidades.

Os alunos acreditam também que o estágio, apesar de poder ser uma experiência pouco proveitosa e de baixa aprendizagem, quando realizado numa grande empresa, ajuda a valorizar o currículo, pois o nome da organização serve como uma forma de certificação de competência.

A última pergunta do questionário tinha caráter opcional e se tratava de um espaço aberto para relatos sobre as experiências vividas e sobre a opinião a respeito do papel do estágio na formação acadêmica de cada estudante. Dos 44 participantes, 11 deixaram seus depoimentos, relatando, de forma geral, o quanto foi importante o estágio para o crescimento acadêmico e profissional de cada um.

O Guia do Estagiário Aventureiro

A falta de interação dos estudantes com a Lei do Estágio brasileira é uma situação real, confirmada na presente pesquisa e carente de dados na literatura que avaliam essa situação. Por isso, a necessidade de incentivo das instituições em abordar tal temática, que, por vezes, causa desinteresse nos estudantes, por se tratar de um assunto burocrático, se faz presente para melhorar as suas experiências em relação às atividades extraclasse.

Mais do que isso, é preciso incentivar a prática de estágio como um todo, não somente relacionando tal atividade com melhores chances de inserção no mercado de trabalho, mas também como fonte de incentivo ao estudante de aproveitar o seu curso de graduação como uma experiência intensa e completa em todos os sentidos.

O estágio não somente pode fornecer conteúdos técnicos e científicos para a formação do profissional, como também pode auxiliar no enriquecimento pessoal do indivíduo em características complementares, como socialização, dinamismo, liderança, entre outros.

Dentro desse contexto, o “Guia do Estagiário Aventureiro” torna-se um resultado inicial desta pesquisa, em que sua real eficácia deverá ser avaliada no decorrer dos próximos anos, participando como base de avaliação os estudantes que tiverem acesso ao livro e, sobretudo, os que conseguirão extrair algum aprendizado, ou ainda, motivação advinda dele.

Dessa forma, os resultados para este produto assumem caráter de resultados esperados, pois se espera que, a partir dele, o interesse por atividades extraclasse pertinentes ao estágio, seja ele obrigatório ou não, seja difundido e ampliado entre os estudantes de graduação do curso de Zootecnia do IFMG, a princípio, e ainda ter a possibilidade de abranger os demais estudantes dos cursos do campus e de outras instituições de ensino no Brasil.



Conclusões

O papel do estágio na formação do estudante universitário é multifacetário e transformador, podendo fornecer uma gama de aprendizados imensuráveis para o acadêmico. Entretanto, é necessário discutir constantemente os fatores que estão externamente ligados a esse papel: como e onde o estudante terá essa experiência de estágio, como fazer com que tal experiência seja de fato eficaz em sua formação e, ainda, que contribua para a inserção no mercado profissional após a conclusão do curso superior. A necessidade da participação efetiva das instituições de ensino superior na orientação, informação, organização e motivação de seus alunos para com as atividades pertinentes ao estágio, não somente assumindo o papel burocrático, como também exercendo a função educadora de avaliar se realmente essa experiência está sendo incisiva na vida dos estudantes, são as principais demandas. Por fim, o “O Guia do Estagiário Aventureiro” assume a característica de produto principal deste trabalho, e espera-se que, a partir dele, possa ser trabalhado com mais intensidade o papel do estágio na formação profissional dos estudantes. Inicialmente, nos cursos ofertados no IFMG-Campus Bambuí, usando-o como motivação e fonte de informação extra aos alunos ingressantes, e posteriormente, com ambições futuras de alcançar estudantes de várias instituições de ensino pelo país.

Gráficos e Tabelas




Referências

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