O novo perfil dos alunos do curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico em Agropecuária da Etec de Santa Rita do Passa Quatro
Karina Aparecida Fioretti1, Celso da Costa Carrer2, Marcelo Machado De Luca de Oliveira Ribeiro3
1 - FZEA/USP
2 - FZEA/USP
3 - FZEA/USP
RESUMO -
O presente ensaio teve como propósito observar e analisar o novo perfil do estudante de ensino médio integrado do curso técnico de Agropecuária, procurando verificar as motivações que os conduziram a esse tipo de formação, suas experiências prévias na área, quais as questões que mais os agradam no processo de aprendizagem que encontram no curso, suas pretensões futuras e os pontos fortes e fracos da composição curricular sob sua ótica. Para tanto, foram utilizados questionários aplicados aos discentes da primeira e terceira série do curso.
Palavras-chave: ensino profissionalizante, perfil técnico agropecuário, formação técnica
The new profile of the students of the High School course integrated to the Agricultural Technician of Etec de Santa Rita do Passa Quatro
ABSTRACT - The purpose of the present essay was to observe and analyze the new profile of the integrated high school student in the Technical Course in Agriculture, seeking to verify the motivations that led to this type of training, previous experiences in the area, which issues are most pleasing to them in the process of learning that they find in the course, their future pretensions and the strengths and weaknesses of the curricular composition under their optics. For this purpose, questionnaires were applied to the first and third year students of the course.
Keywords: Vocational education, agricultural technical profile, technical training
Introdução
Nas perspectivas educacionais brasileira do século XXI novos paradigmas têm sido construídos e inseridos na rotina das escolas, sejam públicas ou particulares. Recentemente o governo Federal tem trabalhado para mudanças na composição das disciplinas que formarão os discentes para o futuro, ou seja, mercado de trabalho, quando se fala da inclusão no currículo escolar de disciplinas voltadas para a formação técnica. Sem entrar no mérito da discussão, se estas reformas serão realmente produtivas ou não, o fato é que ao longo da história a formação profissional do jovem brasileiro já passou por várias mudanças, principalmente no decorrer do século XX. No caso específico da formação em técnico agrícola encontramos um grande exemplo de transformação que vai desde a grade dos componentes curriculares até o perfil do estudante que ingressam nesses cursos. Em princípio, por volta da década de 60, esses cursos eram frequentados por filhos de grandes, médios e pequenos proprietários rurais ou indivíduos vinculados ao agronegócio.
Hoje temos um perfil bastante diferente, no qual predomina a presença de estudantes de origem mais urbana, de classes menos favorecidas e que buscam formação para rápida entrada no mercado de trabalho. A pesquisa procura identificar, na visão desses estudantes, qual a inserção social que essa formação pode favorecer e qual a perspectiva que se estabelece na relação da própria formação com as expectativas que elaboram.
Revisão Bibliográfica
Para entender as mudanças no perfil do aluno do curso técnico em agropecuária tornou-se imprescindível buscar a trajetória histórica desse curso. Observou-se o contexto econômico e político e as determinações relativas às suas funções e formas de organização.
Na fase do Brasil colonial, embora a economia brasileira fosse caracteristicamente agroexportadora, isso é, baseada no tripé agrária, latifundiária e escravista, o sistema de ensino jesuítico estava voltado às letras e humanidades e tinha caráter propedêutico, destinada às classes emergentes que identificavam na educação escolar um fator de ascensão social. Assim, a educação colonial estava afastava das atividades práticas ligadas ao mundo do trabalho, excluindo os escravos, as mulheres e agregados, demonstrando o descaso dos dirigentes com a educação profissional, especialmente aquela para o campo (CECCHIN, R.; Vieira,M., 2012).
Sendo assim, no Brasil a formação do trabalhador ficou marcada já no inicio com o estigma da escravidão, por terem sido os índios e os escravos os primeiros aprendizes de oficio. Com isto, “... habituou-se o povo de nossa terra a ver aquela forma de ensino como destinada somente a elementos das mais baixas categorias sociais” (Fonseca, 1961, p.68, In: GARCIA, 2000).
Porém, somente na segunda metade do século XX essa realidade irá mudar, por conta do acelerado processo de industrialização do país e a necessidade de mão de obra especializada. A produção agrícola ficou com o cargo de abastecer a população urbana que crescia a cada dia com o cessar das guerras mundiais. Nesse sentido, o pequeno e médio proprietário rural incentivam seus filhos a aprimorarem seus conhecimentos técnicos para dar subsídios a sua produção local.
No entanto, no inicio dos anos 2000, esse tipo de formação voltou a ser vista como um projeto de formação por jovens de camadas sociais em vulnerabilidade, especialmente por causa de programas do governo federal, como Enem, Prouni e Fiés, que incentivam o indivíduo a procurar cursos de nível superior.
Mesmo tendo em conta todo esse processo de mudança na formação do discente brasileiro, no Estado de São Paulo, as Escolas Técnicas do Centro Paulo Souza, as Etecs procuram buscar as necessidades do mercado do agronegócio para aprimorar a gênese da formação do profissional da área.
Nesse sentido, objetivo da formação do Técnico em Agropecuária das Etecs baseada nos parâmetros educacionais da LDB de 1996, visa desenvolver nos discentes as seguintes competências profissionais:
- planejar, executar, acompanhar e fiscaliza todas as fases dos projetos agropecuários;
- atuar na área agropecuária, prestando assistência e consultoria técnica sobre gestão da propriedade rural;
- elaborar, aplicar e monitorar programas preventivos de sanitização na produção vegetal animal e agroindustrial;
- fiscalizar a produção de produtos de origem animal, vegetal e agroindustrial com procedimentos de biosseguridade;
- realizar medição, demarcação e levantamento topográficos rurais.
- supervisionar e realizar pesquisas e estudos de viabilidade econômica, financeira, social, política e ambiental;
- desenvolver, implementar e disseminar tecnologias de produção agropecuária.
- implantar e gerenciar sistemas de controle de qualidade na produção agropecuária;
- identificar e aplicar técnicas mercadológicas para distribuição e comercialização de produtos;
- promover a integração e organização social no meio rural.
Numa avaliação sob essas propostas na perspectiva do cenário da educação brasileira atual, percebeu-se que ficou a cabo do estudante do curso de Ensino Médio integrado ao Técnico de Agropecuária as competências e habilidades referentes ao saber fazer, ou seja, cumprir as funções requisitadas para o profissional da área com autonomia e destreza, dominando desde tarefas simples até a utilização de sofisticadas tecnologias, como máquinas e implementos agrícolas, com conhecimentos escolares. De acordo com Gondim & Cols (2003), o saber ser está relacionado com características pessoais que contribuem para a qualidade das interações humanas no trabalho e a formação de atitudes de autodesenvolvimento. O saber fazer se refere às habilidades motoras e ao conhecimento necessário para o trabalho. O saber agir se aproxima da noção de competência, ou seja, capacidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes para o trabalho.
Visto a função do estudante técnico, para o filho do médio e grande produtor ficou a responsabilidade de buscar novos investimentos e aprimoramentos para os negócios. Enquanto que o perfil do estudante técnico agrícola integrado ao Ensino Médio está no indivíduo desprovido meios materiais para frequentar o curso, que tão somente possui sua força de trabalho.
Materiais e Métodos
No desenvolvimento da pesquisa foram aplicados questionários fechados com estudantes de primeiro e terceiro anos letivos do curso de ensino médio integrado ao técnico em agropecuária da Etec de Santa Rita do Passa Quatro/SP e, também um questionário foi elaborado para os docentes do mesmo curso. Para os estudantes, as questões foram divididas em três grupos: informações gerais sobre sua situação social e familiar, informações sobre o curso e a experiência de formação e, informações sobre expectativas e conhecimento sobre o mercado de trabalho. No caso dos docentes, as questões articulavam a prática pedagógica com o perfil dos estudantes tal como percebido e a preparação que pretendem para o mercado de trabalho que identificam como existente.
As principais questões tratadas nas entrevistas foram:
O que levou o discente a procurar esse tipo de curso? Quem é o discente do curso de Etim (Ensino Médio Integrado ao Técnico em Agropecuária)? O que o discente espera com o final do curso? Qual é publico que contrata esse profissional? Quais as necessidades do mercado? A formação que oferecem foi condizente com as necessidades do mercado? Quais as competências e habilidades do Técnico em Agropecuária?
Resultados e Discussão
Observa-se um alto nível de satisfação com a formação que recebem. Existe uma percepção de que a qualidade do curso pode se traduzir como maior possibilidade de inserção social, mesmo que fora da área de concentração do curso. Existe mesmo entre os estudantes a convicção de que a escola é uma boa forma de concluir o ensino médio mesmo entre os que declaram que não pretendem atuar no setor agropecuário. Quanto à formação específica para o mercado agropecuário, os estudantes acreditam estar recebendo formação adequada.
Existe uma visão de que há emprego na área específica, mas de que os salários são baixos e não competitivos. Esse fato parece explicar a compreensão de que o curso pode ser aproveitado para buscar melhor colocação em outros mercados de trabalho.
Aparece no grupo a expectativa de poder ingressar em um curso de nível superior.
Entre os docentes existe uma forte queixa sobre a dificuldade de lidar com os estudantes tanto sobre o aspecto do interesse no conhecimento quanto na questão da disciplina. De forma geral, avaliam o processo de formação como adequado às finalidades propostas.
Conclusões
A partir das entrevistas analisadas constatou-se a existência de um novo perfil nos alunos que cursam ensino médio integrado ao técnico em Agropecuária, antes frequentado por filhos de grande, médio e pequeno proprietário rural ou indivíduos vinculados ao agronegócio. Hoje, o individuo que procura esse tipo de formação provem das classes mais baixas, sem nenhum vinculo direto com o ramo, mas com propósitos de se especializar rapidamente, para depois procurar emprego ou programas governamentais de incentivo para futuros estudos na área de atuação rural. Ainda, considerando a qualidade da formação oferecida, observa-se que o ingresso no curso técnico é identificado com novas possibilidades de ascensão social mesmo que fora da área específica de especialização profissional.
Referências
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BRASIL.,
Ministério da Educação e do Desporto. Lei Nº 9.394, de 20/12/96.
estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário oficial(da) República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1996.
CARVALHO, Maria Lucia Mendes (org). Cultura, Saberes e Práticas: Memoria e História da Educação Profissional. Centro Paula Souza. São Paulo, 2011
CECCHIN, R; Vieira, MMM
. O curso Técnico em Agropecuária: Histórico e perfil dos alunos e egressos. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Graduação - Licenciatura em Ciências Agrícolas, do Campus Sertão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Disponível em
http://coral.ufsm.br/sifedocregional/images/Anais/Eixo%2004/Raul%20Cecchin%20e%20Marilandi%20Maria%20Mascarello%20Vieira.pdf . Consultada em 22/07/2016.
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.
Plano de curso atualizado de acordo com a matriz curricular homologada para o 1° semestre de 2016. Habilitação Profissional de TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA INTEGRADO AO ENSINO MÉDIO. Lei Federal n.º 9394, de 20-12-1996; Lei Federal n.º 11741/2008; Resolução CNE/CEB n.º 1, de 5-12-2014; Resolução CNE/CEB n.º 6, de 20-9-2012; Resolução CNE/CEB n.º 2, de 30-1-2012; Resolução CNE/CEB n.º 4, de 13-7-2010; Resolução SE n.º 78, de 7-11-2008; Decreto Federal n.º 5154, de 23-7-2004. Plano de Curso aprovado pela Portaria Cetec – 754, de 10-9-2015, publicada no Diário Oficial de 11-9-2015 – Poder Executivo – Seção I – página 54.
GARCIA, Sandra Regina de Oliveira. O fio da História: A gênese da formação profissional no Brasil. 23ª Reunião Anual da Anped. UEL, 2000.
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GONDIM, S. M. e COLS, G. Perfil profissional, formação escolar e mercado de trabalho segundo a perspectiva de profissionais de Recursos Humanos. Revista Psicologia: organizações e trabalho. São Paulo, Vol. 10, n. p. 119-152, 2003. GOODE, Willian J. HATT, Paul K. Métodos em pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Nacional