OCORRÊNCIA E ETIOLOGIA DA MASTITE BOVINA EM PROPRIEDADES LEITEIRAS NO SUL DE MINAS GERAIS

Deicylene da Silva Nunes1, Ana Paula Ferri Melotto Moreira2, Bárbara Cardoso da Mata e Silva3, Fabrício da Silva Oliveira4
1 - Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS
2 - Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS
3 - Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS
4 - Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS

RESUMO -

Objetivou-se identificar os agentes causadores da mastite clínica e subclínica em rebanhos leiteiros na região Sul de Minas. Foram realizadas 1.109 coletas de amostras de leite de quartos mamários de vacas em 10 propriedades, em que 358 foram diagnósticas com mastite clínica, por meio da caneca telada e 751 com subclínica (contagem de células somáticas acima de 200.000 células/mL), além da realização da cultura microbiológica para a identificação do agente. Dos agentes causadores isoladas no leite dos quartos com mastite subclínica 39,4% foram de Staphylococcus coagulase negativa, seguida de 12,3% Klebsiella spp.. Nas manifestações clínicas foram 26,4% Klebsiella spp. e 14,5% Staphylococcus coagulase negativa. Conclui-se que a atividade leiteira no rebanho bovino do sul de Minas Gerais necessita de intensificação das melhorias nas práticas de manejo e higiene por meio de um programa de controle de mastite mais eficiente.

Palavras-chave: mastite subclínica, microrganismos, qualidade do leite

OCCURRENCE AND ETIOLOGY OF BOVINE MASTITIS IN MILK PROPERTIES IN THE SOUTH OF MINAS GERAIS

ABSTRACT - The objective was to identify the causative agents of clinical and subclinical mastitis in dairy herds in the southern region of Minas Gerais. A total of 1.109 samples of milk samples from cows' mammary quarters were carried out in 10 farms, 358 of which were diagnosed with clinical mastitis through the lactate cup and 751 with subclinical (somatic cell count above 200.000 cells/mL). Microbiological culture for the identification of the agent. Of the causative agents isolated in the milk from the rooms with subclinical mastitis 39.4% were Coagulase negative Staphylococcus, followed by 12.3% Klebsiella spp .. In the clinical manifestations were 26.4% Klebsiella spp. and 14.5% Staphylococcus coagulase negative. It is concluded that milk activity in the bovine herds of the south of Minas Gerais requires intensification of improvements in management and hygiene practices through a more efficient mastitis control program.
Keywords: microorganisms, milk quality, subclinical mastitis


Introdução

A mastite é um processo inflamatório da glândula mamária causada por agentes patogênicos oriundos do ambiente e/ou do próprio animal (BARBOSA et al., 2009). Provoca alterações na composição do leite, por modificar a permeabilidade dos vasos sanguíneos da glândula, influenciando na habilidade de síntese do tecido secretor, bem como pela ação direta dos patógenos ou de enzimas sobre os componentes já secretados no interior da glândula (MACHADO et al., 2000). A mastite pode ser classificada quanto à forma de manifestação como clínica, em que há sinais evidentes de manifestação, tais como edema, aumento da temperatura, endurecimento e dor na glândula mamária e/ou aparecimento de grumos, pus ou qualquer alteração das características do leite. Por outro lado, a mastite subclínica caracteriza-se pela ausência de alterações visíveis no leite ou no úbere, contudo, ocorre redução da produção e composição do leite e aumento da contagem de células somáticas (CCS) (SANTOS; FONSECA, 2006). A caracterização do tipo de microrganismo predominante no leite de vacas com mastite é de grande relevância na implantação de programas de controle e melhoria da qualidade do leite (JAYARAO; WOLFGANG, 2003). Objetivou-se identificar os agentes causadores da mastite clínica e subclínica em rebanhos leiteiros na região Sul de Minas.

Revisão Bibliográfica

O Brasil é um país tropical que produziu 35 bilhões de litros de leite em 2013 (IBGE, 2014), Apesar da produção de leite do país ser alta, a produtividade do rebanho nacional é baixa. Um dos fatores que contribuem para isso são as doenças do rebanho, como a mastite bovina, caracterizada pela inflamação da glândula mamária que promove redução nos componentes e na produção do leite, bem como modificações patológicas no tecido glandular (BURTON; ERSKINE, 2003). A mastite constitui uma fonte importante de perdas econômicas para o agronegócio não somente pelo impacto negativo sobre a produtividade e qualidade do leite, mas também pelos custos dos tratamentos e dos serviços veterinários envolvidos em programas de controle (DUARTE, 2004). Sendo assim, o seu diagnóstico e quantificação tem impacto importante na eficiência das propriedades de exploração leiteira, pois permitem a execução de medidas de controle direcionadas e, por isso, mais eficientes. A mastite é detectada pela inflamação causada pela infecção por micro-organismos e ocorre em ambas as formas clínicas e subclínicas. O leite obtido de quartos de vacas com mastite subclínica parece normal (mesmo quando há milhões de células somáticas presentes), mas o leite contém um número excessivo de células somáticas. A inflamação que resulta em anormalidades visíveis do leite ou da glândula é definida como mastite clínica (DOHOO; LESLIE, 1991). Na vaca em lactação, a mastite subclínica pode ser diagnosticada a campo muitas vezes com base nos valores de CCS ou pela California mastitis test (CMT), já a clínica, está relacionada ao uso da caneca telada. Adicionalmente, o teste tradicional para a identificação de agentes patogênicos no leite é a cultura bacteriana, considerada o “padrão ouro” podendo indicar quais estratégias de controle mais recomendadas em razão do tipo de agente causador (PYORALA; TAPONEN, 2009).

Materiais e Métodos

O estudo foi desenvolvido em 10 propriedades leiteiras localizadas na Região do sul de Minas Gerais, no período de janeiro a junho de 2016, em que foram coletas 1.109 amostras de leite de quartos mamários de vacas de diferentes fases de lactação diagnósticas com mastite clínica (n=358), por meio da caneca telada e subclínica (n=751) naquelas que apresentavam contagem de células somáticas acima de 200.000 células/mL. Após a desinfecção dos tetos, as amostras de leite foram coletadas em frascos estéreis de 10 mL, congeladas e enviadas ao laboratório para a realização da cultura microbiológica. As vacas selecionadas em cada propriedade foram examinadas antes da ordenha quanto às características do leite, avaliando-se os primeiros jatos pela prova do Tamis para detecção dos casos clínicos, observando a presença de grumos, alteração de coloração do leite, presença de pus, sangue ou leite aguado. Para análise da mastite subclínica, por meio da contagem de células somáticas (CCS), foram coletadas amostras de leite dos quartos positivos ao teste do California mastitis test (CMT) em frascos de 10 mL contendo conservante Bronopol, após a homogeneização do leite. As amostras coletadas foram enviadas ao laboratório. A análise de CCS foi realizada por citometria de fluxo, sendo considerado com mastite subclínica o leite com ≥ 200.000 CCS/mL. A partir dos resultados obtidos, foi realizada em planilhas do Excel®, a frequência de ocorrência de mastite clínica e subclínica, bem como os respectivos agentes causadores.

Resultados e Discussão

Do total, não houve crescimento microbiano para 257 e 196 amostras coletadas para mastite subclínica e clínica, respectivamente e contaminadas foram de 37 e 3 amostras, respectivamente. O percentual de microrganismo que tiveram crescimento das amostras isolados no leite dos quartos com mastite subclínica (Tabela 1) foram 39,4% de Staphylococcus coagulase negativa (180/467), seguida de 12,3% Klebsiella spp. (56/467), 11,2% de Staphylococcus aureus (51/467), 7,9% Streptococcus agalactiae (36/467), 6,3% Streptococcus uberis (29/467), 6,1% Corynebacterium bovis (28/467), 5,7% Bacillus spp. (26/467), 3,3% Pseudomonas (15/467). Os agentes causais mais prevalentes nas manifestações clínicas foram 26,4% Klebsiella spp. (42/159), 6% Staphylococcus coagulase negativa (23/159), 10,7% Bacillus spp. (17/159), 9,4% Streptococcus uberis (15/159), 8,2% Escherichia coli (13/159), 6,3% levedura (10/159), 5% Pseudomonas (8/159) e 4,4% Prototheca (7/159). A mastite clínica e subclínica causada por Staphylococcus coagulase negativa (SCN) é comum em muitas produções leiteiras intensivas em todo o mundo. Os resultados do presente estudo para amostras subclínicas estão acima dos resultados da meta-análise realizada por Djabri et al. (2002), que verificaram prevalência de mastite por SCN variando entre 5,5 e 27,1% nos rebanhos leiteiros. Estudos sobre SNC são complicados, pois são comumente referidos como um grupo de bactérias de várias espécies, pois de acordo com Aarestrupe e Jensen (1997), entre 9 a 16 espécies ou subespécies foram diagnosticadas e o seu predomínio indica ocorrência de falhas de higiene durante a ordenha. E. coli e Bacillus ssp., são microrganismos do grupo dos coliformes, e o primeiro é considerado mais comum de origem ambiental descrita para a mastite clínica, embora nas propriedades estudadas, a incidência de Klebsiella ssp. tenha sido mais elevada. Esse fato esta associado à contaminação da glândula mamária por meio de reservatórios de transmissão encontrados no ambiente, principalmente com o contato das vacas no período entre ordenhas, com material orgânico e fezes, e no presente estudo esta alta incidência estava relacionada à cama que as vacas deitavam (LANGONI et al., 2011).

Conclusões

Conclui-se que a atividade leiteira no rebanho bovino do sul de Minas Gerais necessita de intensificação das melhorias nas práticas de manejo e higiene por meio de um programa de controle de mastite mais eficiente

Gráficos e Tabelas




Referências

AARESTRUP, F.M.; JENSEN, N.E. Prevalence and duration of intramammary infection in Danish heifers during the peripartum period. Journal of Dairy Science, v.80, p. 307–312, 1997. BARBOSA, C.P.; BENEDETTI, E.; GUIMARAES, E.C. Incidência de mastite em vacas submetidas a diferentes tipos de ordenha em fazendas leiteiras na região do Triângulo Mineiro.  Bioscience Journal, Uberlândia, v.25, p.121-128. BURTON, J.L.; ERSKINE, R.J. Immunity and mastitis: Some new ideas for an old disease. Veterinary Clinics Food Animal Practice, v.19, p.1–45, 2003. DJABRI, B.; BAREILLE, N.; BEAUDEAU, F.; SEEGERS, H. Quarter milk somatic cell count in infected dairy cows: A meta-analysis. Veterinary Research, v.33, p. 335–357, 2002. DOHOO, I.R.; LESLIE, K.E. Evaluation of Changes in Somatic-Cell Counts as Indicators of New Intramammary Infections. Preventive Veterinary Medicine, v.10, p.225-237, 1991. DUARTE, R.S.; MIRANDA, O.P.; BELLEI, B.C.; BRITO, M.A.V.; TEIXEIRA, L.M. Phenotypic and molecular characteristics of Streptococcus agalactiae isolates recovered from milk of dairy cows in Brazil. Journal of Clinical Microbiology, v.42, p.4214-4222, 2004. IBGE.  2014.  Estatística da Produção Pecuária.  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica,  Brasília,  BR. JAYARAO, B.M.; PILLAI, S.R.; SAWANT, A.A.; WOLFGANG, D.R.; HEGDE, N.V. Guidelines for monitoring bulk tank milk somatic cell and bacterial counts. Journal of Dairy Science, v.87, p.3561–3573, 2004. LANGONI, H. et al. Aspectos microbiológicos e de qualidade do leite bovino. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.31, p.1059-1065, 2011. MACHADO, P.F.M.; PEREIRA, A.R.; SARRIES, G.A. Composição do leite de tanques de rebanhos brasileiros distribuídos segundo sua contagem de células somáticas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, p.2765-3768, 2000. PYÖRÄLÄ, S.; TAPONEN, S. Coagulase-negative staphylococci emerging mastitis pathogens. Veterinary Microbiology, v.134, p.3-8, 2009. SANTOS, M.V.; FONSECA, L.F.L. Estratégias para Controle de Mastite e Melhoria da Qualidade do Leite. 1.ed. Barueri: Editora Manole, 2006. 314p.





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