Ocupação de área e produção de quilogramas de peso corporal de rebanhos de vacas de cria de diferentes tamanhos corporais

Viviane Garcia Dias da Conceição1, Gustavo Duarte Farias2, João Restle3, Liliane Cerdótes4, Pablo Tavares Costa5, Ricardo Zambarda Vaz6
1 - Universidade Federal de Pelotas
2 - Universidade Federal de Pelotas
3 - Universidade Federal de Goiás
4 - Instituto Federal Sul-rio-grandense campus Bagé
5 - Universidade Federal de Pelotas
6 - Universidade Federal de Pelotas

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a produção total e a eficiência produtiva de rebanhos de vacas de cria com predominância Charolês de acordo com o seu tamanho corporal ao parto. Foram utilizados sessenta e três pares de vaca:bezerro classificadas ao parto em Leves (331,4 kg), Moderadas (385,9 kg) e Pesadas (424,3 kg). A partir de dados de desempenho e reprodução dos grupos, simulou-se estruturas de rebanhos estáveis para uma área de 500 hectares. A necessidade de área para manutenção do par vaca:bezerro é crescente acompanhando o aumento de peso das vacas. Em rebanhos de vacas menores são observados maiores números de matrizes e mantendo as estruturas dos rebanhos constantes Vacas Leves produziram mais quilos passíveis de venda (53.085 kg) comparados aos grupos Moderadas e Pesadas (52.310 e 52.870 kg, respectivamente). Rebanhos de cria Charolês de Vacas Leves são mais eficientes que vacas de tamanho Moderado e Pesadas.

Palavras-chave: eficiência produtiva, frame, prenhez, receita

Area occupation and kilogram body weight production of herds of cows of different body sizes

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the total production and productive efficiency of herds of cows with Charolais predominance according to their body size at calving. Sixty-three cow:calf pairs were used and classified at calving into the groups Light (331.4 kg), Moderate (385.9 kg) and Heavy (424.3 kg). From the performance and reproduction data of the groups, stable herd structures were simulated for an area of 500 hectares. The need for area for the maintenance of the pair cow:calf increases with the increase in the weight of cows. In herds with smaller cows, higher numbers of arrays and a higher production of weight for sale are observed when compared to Moderate and Heavy cows. Through simulations, there were more kilos eligible for sale in herds of Light cows (53.085 kg) compared to Moderate and Heavy cows (52.310 and 52.870 kg, respectively). Charolais herds of light cows are more efficient than cows of moderate size and heavy.
Keywords: frame, pregnancy, productive efficiency, recipe


Introdução

A seleção para eficiência de crescimento tem grande importância em bovinos. Porém a seleção isolada para crescimento com altas taxas de crescimento está associada ao aumento do tamanho adulto, com acréscimo de custos de manutenção do rebanho de fêmeas e idades avançadas à puberdade (CALEGARE et al., 2010). Além, da necessidade de maior área de pastagem para a produção (ÍTAVO et al., 2014). Sendo assim, o ajuste do trinômio genótipo/ambiente/mercado torna-se determinante, para atender aos objetivos dos sistemas de produção de bovinos e para estabelecer novos conceitos para o setor, enfatizando a produção de alimentos de qualidade (EUCLIDES FILHO, 2005). O tamanho animal adulto deve ser considerado, pois está relacionado ao custo de produção, à taxa de maturação, à eficiência reprodutiva e mais importante, à eficiência econômica dos sistemas de produção (DI MARCO et al., 2007), bem como à funcionalidade dos animais e a adaptabilidade ao ambiente (HADDAD & MENDES, 2010). Maiores eficiências de crescimento corporal caracterizam animais com altos custos de mantença (MOTA et al., 2014). Com isso, são observadas baixas taxas reprodutivas e aumentos da idade à puberdade (CALEGARE et al., 2010; BOLIGON et al., 2011; REGATIERI et al., 2012). O objetivo do presente estudo foi avaliar a produção de quilogramas produzidos e prováveis de venda através de simulações de rebanhos de vacas de cria de diferentes tamanhos corporais.

Revisão Bibliográfica

Os produtores enfrentam problemas em relação aos custos de produção. A nutrição animal merece especial valorização, devido as respostas animais às melhoras nos níveis nutricionais dos rebanhos (KUINCHTNER, 2013). Por outro lado, o aumento permanente nos preços dos insumos, nesta utilizados e o valor da terra, deixam a atividade com baixa rentabilidade (PATIÑO & VAN CLEEF, 2010). Porém, existe uma grande variabilidade de frame size entre e dentro de raças devido não se ter um biótipo que apresente eficiência produtiva nas condições de criação diversas. Desta forma, os escores de frame, devem ser monitorados para manter a estrutura corporal, o nível de acabamento e a taxa de maturação dentro de um intervalo considerado ideal para os recursos disponíveis dentro dos sistemas produtivos, visando os diferentes mercados (BIF, 2016). Conforme Ritchie (1995), eficiência pode ser expressa de duas maneiras: eficiência biológica ou eficiência econômica. A primeira pode ser descrita como conversão alimentar que por sua vez refere-se o quanto é produzido, em ganho de peso dos animais por quilograma de alimento (base de matéria seca) consumido. A eficiência econômica segue o mesmo caminho, porém vislumbrando o custo benefício, sendo portanto, a relação entre o valor de venda do produto e o custo para produzir o mesmo. As análises de indicadores e de custos são ferramentas utilizadas para verificação de rentabilidade econômica da propriedade rural, permitindo uma leitura mais clara da realidade da atividade (GONÇALVES, 2016). Beretta et al. (2002), ao avaliarem por intermédio de um modelo quantitativo a produtividade e eficiência biológica de um sistema de ciclo completo com diferentes recursos, verificaram aumentos na produtividade física e melhores eficiências biológicas com o aumento dos índices produtivos e reprodutivos. Frente a esta discussão, surge a necessidade de determinar o tipo animal adequado aos sistemas produtivos e verificar a bioeconomicidade do sistema, predizendo metas de produção, para atingir os índices suficientes para cobrir os custos de produção.

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido no Setor de Bovinocultura de Corte do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria - RS. Foram avaliados 63 pares de vacas com predominância Charolês (Puros, ¾ C ¼ N) e seus bezerros desde o parto até os 210 dias. Os grupos foram formados baseados na diferença de peso das vacas em função do desvio padrão da média (42,0 kg). Foram formados três grupos de tamanhos de vacas, sendo os mesmos denominados em “Leves” com peso inferior ou igual a meio desvio padrão abaixo da média (≤ 362 kg), “Moderadas” com peso maior que meio desvio padrão abaixo da média e menor ou igual a meio desvio padrão acima da média (superior 362 kg e menor que ≤ 404 kg) “Pesadas” com peso superior a meio desvio padrão acima da média (> 404 kg). Para a eficiência produtiva dos grupos de pesos elaborou-se uma simulação de área necessária para alocar o par vaca:bezerro de cada um dos grupos, com uma lotação de 0,9 UA/ha, onde  1 UA = 450 kg de Peso Corporal. Após, com uma área fixa de 500 ha extrapolou-se as demais categorias em função do possível número de vacas e das demais categorias de um sistema de cria com venda de bezerros machos e o excedente das fêmeas de reposição (20% de reposição no rebanho de cria). O primeiro acasalamento das novilhas de reposição realizado aos dois anos de idade. Estes dados foram originados em função do número de vacas em cada grupo e seus desempenhos reprodutivos. As produções e vendas dos rebanhos foram calculadas em função dos ganhos de peso e os prováveis pesos adultos de cada grupo, bem como dos ganhos de pesos obtidos por Farias (2017). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, incluindo no modelo estatístico os efeitos fixos de tamanho das vacas, sendo a idade da vaca e sexo do bezerro utilizados como co-variáveis. A taxa de prenhez foi analisada pelo método do Qui-Quadrado (GOMEZ & GOMEZ, 1984).

Resultados e Discussão

Através da simulação de rebanhos para uma área de 500 hectares (Tabela 1), verifica-se a possibilidade de trabalhar com 420, 368 e 340 vacas, respectivamente, para os grupos Leves, Moderadas e Pesadas. Isso perfaz uma superioridade de 14,1 e 23,5% a mais de matrizes no rebanho das Leves em relação às Moderadas e Pesadas, respectivamente. Mesmo com inferior taxa de prenhez (P>0,05) as vacas Leves produziriam maior quantidade de bezerros comparada as Moderadas e Pesadas (246 vs 220 bezerros) em função do maior número de animais possíveis de alocar na mesma área. Ao avaliar o sistema produtivo, é necessário considerar a produção ocorrida por área utilizada. Conforme Calegare et al. (2010) vacas mais pesadas tendem a produzir bezerros mais pesados ao desmame, mas a produção por área pode ser menor. Para atender esta maior exigência das vacas Pesadas é necessário maior disponibilidade de área. Ao associar os pesos das vacas e dos bezerros durante a lactação e calculando os consumos dos mesmos são necessários em média na lactação 1,07, 1,24 e 1,30 ha, respectivamente, para, Leves, Moderadas e Pesadas. Silva et al. (2015) ao estudarem a eficiência produtiva ao desmame em vacas Nelore classificadas em seis grupos conforme seus pesos, considerando índices de 59% para taxa de natalidade e lotação de 0,4 UA/ha, verificaram o mesmo valor em kg de vaca para descarte ao ano ao comparem vacas médias e pesadas, justificado pelo maior número de animais de porte médio possíveis de se alocar em uma mesma área. A produção total de quilogramas de animais representa a quantidade de quilogramas possíveis de venda nos sistemas de produção, mantendo os mesmos estabilizados. Com base nisso, foram verificados valores de 53.085, 52.310 e 52.870 kg de peso corporais passíveis de comercialização nos rebanhos de vacas Leves, Moderadas e Pesadas, respectivamente. O número total de animais é decrescente entre os rebanhos tendo os grupos de pesos 781, 688 e 652 animais, respectivamente, para vacas Leves, Moderadas e Pesadas. Vacas Leves e Moderadas obtiveram maior produção total por área de superfície. No entanto, as vacas Leves foram menos exigentes nutricionalmente no período de 210 dias, sendo 15,9% mais eficientes na transformação da energia consumida em quilos de bezerro produzidos (Tabela 1). Além de produzirem maior quantidade em quilos de bezerros e vacas de descarte, gerando uma maior quantidade de quilos passíveis de vendas (Tabela 1). O aumento no número de animais nos rebanhos, bem como a venda de maiores pesos corporais totais, tem influência no resultado econômico do sistema produtivo. Esta interferência tem papel fundamental na diluição dos custos fixos do sistema. Os custos fixos representam para sistemas de cria com 60% de natalidade, 63,89% do gasto total (GONÇALVES, 2016). Quanto maior a receita com a venda dos sistemas de cria maior a diluição dos custos fixos, desde que os mesmos se mantenham estabilizados.

Conclusões

A necessidade de área pastoril para manutenção do par vaca:bezerro é crescente acompanhando o aumento de peso das vacas. A manutenção de rebanhos de cria de menor porte possibilita um maior número de matrizes e maior produção de quilos de peso para venda quando comparadas a vacas de tamanho Moderado e Pesadas.

Gráficos e Tabelas




Referências

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