Ordenha Robotizada: motivações e custos de implantação

Cleimar Grespan1, Raquel Breitenbach2
1 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Sertão
2 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Sertão

RESUMO -

O objeto desse trabalho foi realizar um ensaio teórico para reunir informações acerca dos custos de implantação e potencial viabilidade econômica da ordenha robótica, bem como elencar os fatores que motivam a adoção desta tecnologia pelos agricultores. Para a obtenção desses dados foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em que foram consultados estudos científicos, técnicos, estudos de caso, materiais relativos a publicidade, bem como dados disponibilizados por sites especializados em pecuária leiteira. Como resultados, destaca-se que os investimentos nos robôs de ordenha variam, no Brasil, de R$ 15.650,00 a R$19.000,00 por vaca, incluindo estrutura e construção dos galpões, os robôs, sistemas de limpeza e biodigestores. A tecnologia tem elevado custo de implantação. O que motiva os agricultores a implantar esse sistema é a não dependência de profissionais para realização da ordenha resultando, maior tempo livre, maior qualidade do leite, aumento de produção e produtividade.

Palavras-chave: Bovinocultura leiteira, automação, gerenciamento, sistemas robóticos.

Robotic milking: motivations and deployment costs

ABSTRACT - The objective of this work was to carry out a theoretical essay to gather information about the implantation costs and potential economic viability of the robotic milking, as well as to list the factors that motivate the adoption of this technology by farmers. In order to obtain this data, a bibliographical research was carried out, in which scientific studies, technical studies, case studies, publicity materials were consulted, as well as data provided by sites specialized in dairy farming. As a result, investments in milking robots vary in Brazil from R $ 15,650.00 to R $ 19,000.00 per cow, including structure and construction of sheds, robots, cleaning systems and biodigesters. The technology has a high cost of deployment. What motivates farmers to implement this system is the non-dependence of professionals to perform milking, resulting in greater free time, higher milk quality, increased production and productivity.
Keywords: Dairy cattle, automation, management, robotic systems.


Introdução

A bovinocultura de leite vem passando por transformações, visando a melhoria na qualidade do leite, aumento de produtividade e competitividade das propriedades. Para tanto, as unidades de produção de leite (UPL) passam pelo desenvolvimento de soluções estratégicas e inovadoras que necessitam níveis distintos de automação (BANZATO, 2002). A utilização de sistemas robóticos de ordenha é uma tecnologia que melhora a qualidade do leite e diminui o trabalho físico e vem ganhando espaço no campo (REINEMANN, 2008). No entanto, nem todas as tecnologias tem comprovada viabilidade econômica. É comum observar inovações na área agropecuária que possuem estudos que atestam sua eficiência técnica, mas que não são acompanhados de estudos de viabilidade econômica. Isso faz com que muitas propriedades invistam nas tecnologias sem levar em consideração as questões econômicas (BANZATO, 2002). O que se busca com o presente trabalho é realizar um ensaio teórico para reunir informações acerca dos custos de implantação e potencial viabilidade econômica da ordenha robótica, bem como elencar os fatores que motivam a adoção desta tecnologia pelos agricultores.  Para tanto, este trabalho se baseou em pesquisa bibliográfica, considerando a realidade do Brasil e demais países. Tal ensaio é uma fase inicial que busca reunir hipóteses para um projeto maior, o qual visa calcular a viabilidade econômica da implantação de um robô de ordenha no Brasil.

Revisão Bibliográfica

O robô de ordenha é um equipamento autônomo e inteligente o qual realiza tarefas em torno da vaca. É caracterizado ainda, como sistema único e voluntário, pois quem decide a hora e a quantidade a ser ordenhada é o animal, sem nenhuma intervenção do homem. Além da ordenha, que é o foco do robô, ele higieniza o úbere, desinfeta as tetas uma por uma, retira os primeiros jatos de leite, fornece concentrado no cocho e lava o piso (BOTEGA et al., 2008). A razão principal para adotar a automatização da ordenha, é o fato de substituir o ordenhador pelo equipamento autônomo que realiza todas as funções exercidas pelo humano, permitindo o desprendimento dos horários fixos antes estabelecidos pelas ordenhas diárias (ARMSTRONG et al, 1992). Com isso, proporciona: maior bem estar aos agricultores, através da flexibilidade de horários; diminuição da mão-de-obra; permite aumento da produção leiteira, (maior quantidade de ordenhas no dia) (REINEMANN, 2008; LOPES, 2013). Além de permitir o aumento da produção leiteira, mantém e, muitas vezes, aumenta a qualidade do leite obtido quando comparado a sistemas convencionais (REINEMANN, 2008; LOPES, 2013). Ou seja, um fator chave que influencia no processo de adoção são os ganhos econômicos percebidos de novas tecnologias (aumento na produtividade e qualidade do leite) (HARSH et al, 1992). Também fornece várias informações para melhorar o manejo geral do rebanho. Para tanto, o proprietário necessita de habilidade de gerenciamento para ter sucesso com esta tecnologia, saber operar o equipamento e otimizar e informações geradas por ele (REINEMANN, 2008; LOPES, 2013). Considerando um contexto recente de escassez de mão de obra capacitada para a atividade leiteira e/ou aumento do custo desta, a diminuição dos custos com mão-de-obra é um dos principais motivos para os produtores investirem em automação, visando ainda, maior controle e padronização das atividades (BOTEGA et al, 2008). Problematiza-se que muitas propriedades investem em soluções sem estudo de viabilidade econômica (BANZATO, 2002). De modo geral, são raras as propriedades que contabilizam suas atividades e realizam análise econômica, não conhecendo seus custos de produção de leite. Portanto, a falta de informações confiáveis leva os proprietários a implantar algo ou decidir através de sua experiência, tradição, disponibilidade de recursos financeiros e mão-de-obra, potencial produtivo da região ou a falta de outras opções (OLIVEIRA et al, 2001).

Materiais e Métodos

A presente pesquisa foi realizada com base em revisão bibliográfica. A pesquisa bibliográfica identifica informações e dados em determinados materiais selecionados, permitindo verificar relações entre eles de modo a analisar a sua consistência e compreender criticamente. Sua importância na produção de conhecimento científico se dá por ser capaz de gerar, especialmente em temas pouco explorados, hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para outras pesquisas (LIMA E MIOTO, 2007). A referida pesquisa bibliográfica e consequente interpretação das informações coletadas foi realizada durante o segundo semestre de 2016. Como fonte de dados foram utilizados artigos científicos, artigos técnicos, estudos de caso (encontrados em: Scielo, Periódicos Capes, Google Acadêmico, materiais científicos impressos, livros, etc.), materiais relativos à publicidade, dados disponibilizados por sites especializados em pecuária leiteira, assim como pesquisa em sites de empresas e informes técnicos na área de bovinocultura de leite. Para isso, usaram-se palavras chaves de pesquisa, tais como: sistemas de ordenha voluntário, sistemas automáticos de ordenha, ordenha robótica, analise econômica de ordenha automática, robôs ordenhadores, tanto em português quanto em inglês.

Resultados e Discussão

Destaca-se inicialmente, que os principais entraves para adoção da tecnologia de ordenha robotizada são destacados pelos agricultores como sendo relacionados à dependência de eletricidade, maior consumo de água e os altos custos de investimento inicial, que pode ser três vezes maior que um sistema convencional (REINEMANN, 2008; ROTZ; SODER, 2004). Portanto, o sistema de ordenha robótico é mais caro e não consegue competir do ponto de vista econômico com os sistemas convencionais de ordenha (WINNICKI et al, 2010; REINEMANN, 2008; ROTZ; SODER;  2004).  Entretanto, nota-se uma taxa alta de adoção na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA), independente do custo. Isto ocorre devido à disposição do produtor em pagar um maior valor pelo equipamento, pois este permite uma melhor qualidade de vida (REINEMANN, 2008). No Uruguai estimasse que esta tecnologia custa cerca de US$ 110.000 por unidade, dependendo da dimensão de cada fazenda leiteira (MILKPOINT, 2016). Outras pesquisas demonstravam que o ponto de equilíbrio do investimento, nos EUA, seria de US$ 175.000, e nos Países Baixos seria de NLG 310.000 (1NGL = 0,48 US$), representando valor 1,9 vezes superior ao custo do sistema de ordenha convencional (HARSH et al, 1992). Portanto, se o custo real do sistema automático fosse inferior a este valor, seria economicamente vantajoso investir neste sistema; caso custasse mais do que isso, então o sistema não seria viável (HARSH et al, 1992). No Brasil esta tecnologia entrou em operação só em 2012, quando foi implantado o primeiro sistema robótico no estado do Paraná. Estima-se que o custo total, envolvendo a compra e instalação do equipamento, estrutura e construção civil do confinamento, além da construção de um biodigestor, girou em torno de R$ 19.000,00 reais por vaca (MILKPOINT, 2013). Em outro projeto de instalação de ordenhas robóticas no Rio Grande do Sul, estimou-se um custo total de R$ 15.650,00 reais por vaca, incluindo o sistema robótico, estrutura física do confinamento, sistemas automáticos de limpeza e temperatura do galpão, além de investimentos em conforto e bem-estar animal (MILKPOINT, 2014). A tendência é que, com o passar dos anos, mais empresas fabriquem sistemas robóticos, aumentando a tecnologia e diminuindo custos de implantação deste equipamento (ROTZ; SODER, 2004). Contudo, existe número definido de vacas por robô e se caso esse número de animais não for otimizado, os custos aumentam drasticamente (ARMSTRONG et al, 1992). Por fim, destaca-se que, embora sejam considerados altos custos de investimentos, os agricultores analisam a possibilidade de adoção do sistema tendo em vista a carência de profissionais qualificados para realização da ordenha. A tecnologia robótica de ordenha auxilia neste entrave e, com isso, incentiva a permanência da produção, tornando a atividade mais atrativa para novos investidores (REINEMANN, 2008).

Conclusões

Conclui-se que são escassas as informações sobre análise econômica do sistema de ordenha robotizada. As pesquisas existentes indicam que este sistema não consegue competir – do ponto de vista econômico - com sistemas convencionais de ordenha. Os principais motivos que levam os agricultores a adquirir o sistema são: substituição dos profissionais ordenhadores, aumento da quantidade e qualidade do leite. Já os fatores contrários à aquisição são: dependência de eletricidade, alto consumo de água e altos custos de investimento. Por fim, destaca-se que a particularidade do sistema está na existência de um número limite de vacas que cada robô é capaz de ordenhar. Neste caso, não se torna uma tática viável a busca de economias de escala, estratégia usual na bovinocultura de leite. Porém, pode ser estratégia em propriedades familiares que buscam agregar valor ao produto, já que a utilização do robô na ordenha liberaria mão de obra para atividades à jusante da produção de leite.


Referências

ARMSTRONG, D.V. et al. Analysis of capital investment in robotic milking systems for U.S. dairy farms. In: IPEMA, A. H. et al. Proceedings of the International Symposium on Prospects for Automatic Milking. Netherlands: Wageningen, 1992. BANZATO, Eduardo. O paradigma da automação. Disponível em: <http://www.guialog.com.br/ARTIGO345.htm>. Acesso em: 22 mar. 2017. BOTEGA, J. V. L. et al. Diagnóstico da automação na produção leiteira. Revista Ciência e Agrotecnologia. Lavras, v. 32, n. 2, p 635-639, mar./abr., 2008. HARSH, S.B. et al. Short and term economic aspects of automatic milking systems. In: IPEMA, A. H. et al. Proceedings of the International Symposium on Prospects for Automatic Milking. Netherlands: Wageningen, 1992. LIMA, Telma Cristiane Sasso de; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katalysis. Florianópolis, v. 10, p. 37-45. 2007. LOPES, Sandra Carneiro. Avaliação do comportamento de vacas leiteiras num sistema voluntário de ordenha. Vila Real, 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia Zootécnica) - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Duro. MILKPOINT. Primeiro sistema de ordenha robotizado é inaugurado no Brasil. Disponível em: <http://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/primeiro-sistema-de-ordenha-robotizado-e-inaugurado-no-brasil-83023n.aspx>. Acesso em: 23 mar. 2017. _____. Produtores gaúchos investem em robôs para fazer a ordenha. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/produtores-gauchos-investem-em-robos-para-fazer-a-ordenha-89681n.aspx>. Acesso em: 03 abr. 2017. _____.Uruguai terá primeira fazenda leiteira totalmente robotizada. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/uruguai-tera-primeira-fazenda-leiteira-totalmente-robotizada-103303n.aspx>. Acesso em: 04 abr. 2017. OLIVEIRA, T. B. A. et al. Índices técnicos e rentabilidade da pecuária leiteira. Scientia Agrícola, v.58, n.4, p. 687-692, out./dez. 2001. REINEMANN, D. J. Robotic milking: current situation. NMC Annual Meeting Proceedings. Madison, Wisconsin. 2008. ROTZ, Alan; SODER, Kathy. Is Robotic Milking a Viable Option?. Disponível em: <http://extension.psu.edu/animals/dairy/news/2004/is-robotic-milking-a-viable-option>. Acesso em: 27 mar. 2017. WINNICKI, S. et al. Behavior of cows and its consequences related to the use of milking robots. Engineering for rural development. Jelgava, v. 27, p. 85-88, mai. 2010.