OTIMIZAÇÃO DE FATORES (TERRA, ANIMAL E MÃO DE OBRA) EM TRÊS DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE

Cleimar Grespan1, Giovani Mauricio Gatti2, Raquel Breitenbach3
1 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Sertão
2 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Sertão
3 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Sertão

RESUMO -

O presente estudo teve como objetivo quantificar os custos de produção e apresentar indicadores de otimização dos fatores de produção, terra, animais e mão de obra dos sistemas de produção de leite semi-intensivo, confinamento por Free Stall e confinamento por Compost Barn. Foram estudadas três propriedades localizadas na mesorregião nordeste do Rio Grande do Sul. Foram considerados para a análise dados do ano agrícola 2015/2016. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa, compreendida por estudo de casos múltiplos. Os resultados apontaram que as propriedades com sistema de confinamento tiveram maior otimização dos fatores de produção, sendo o Compost Barn que teve os melhores resultados. O sistema semi-intensivo apresentou altos custos de produção e renda agrícola negativa.

Palavras-chave: Sistemas de produção leiteira. Custos. Renda Agrícola. Otimização de fatores de produção.

OPTIMIZATION OF FACTORS (EARTH, ANIMAL AND WORK HAND) IN THREE DIFFERENT MILK PRODUCTION SYSTEMS

ABSTRACT - The present study aimed to quantify production costs and to present indicators of optimization of the factors of production, land, animals and labor of the systems of production of Semi-intensive milk, confinement by Free Stall and confinement by Compost Barn. Three properties located in the northeastern mesoregion of Rio Grande do Sul were studied. Data from the agricultural year 2015/2016 were considered for the analysis. This is a qualitative and quantitative research, comprised of multiple case studies. The results showed that the properties with confinement system had greater optimization of the factors of production, being the Compost Barn that had the best results. The semi-intensive system presented high production costs and negative agricultural income.
Keywords: Milk production systems. Costs. Agricultural Income. Optimization of factors of production.


Introdução

O leite está entre os seis produtos mais importantes em geração de renda e emprego na agropecuária brasileira, afirmando a importância que a produção de leite tem para a economia. No Rio Grande do Sul essa atividade cresceu em produtividade nos últimos dez anos. Em nível mundial, o Brasil destaca-se como o quinto maior produtor de leite (EMBRAPA, 2015). A produção de leite no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos dez anos, porém a administração dos estabelecimentos agropecuários carece de aperfeiçoamento, já que são raras as propriedades rurais que fazem uso da gestão formal. Ou seja, poucas são as unidades de produção agropecuárias que sabem os custos e o lucro das atividades desenvolvidas (BREITENBACH, 2014). Porém, independentemente do tamanho da propriedade, a gestão é um instrumento indispensável para a sustentabilidade econômica das propriedades rurais (PORTO et al., 2010). Nesse sentido, é evidente que compete ao agricultor as decisões estratégicas da propriedade, já que a gestão do negócio pode tornar o crescimento do empreendimento rural viável, fortalecendo-o para os momentos de crise, além de prepará-lo para novas oportunidades (OAIGEN et al., 2011). Na atividade de bovinocultura de leite, além da dificuldade apontada de escassa gestão formal, ainda existem altos investimentos envolvidos que demandam a administração competente. Os investimentos estruturais são ainda maiores nos sistemas de produção em confinamento, como é caso do Free Stall e Compost Barn.  Isso demanda um planejamento do agricultor no momento de decidir o sistema de produção a ser adotado em sua unidade de produção de leite (UPL), tendo em vista os recursos disponíveis e as possibilidades de retorno do capital a ser investido. Em regiões como a Noroeste do RS, em que os agricultores integram, sempre que possível, as atividades de lavoura (grãos, especialmente soja) e pecuária (especialmente leite), otimizar as áreas disponíveis é um desafio (IBGE, 2006). Esse desafio é ainda maior considerada a estrutura fundiária do estado, o qual é composto, em sua maioria, por unidades familiares (IBGE, 2006). Destaca-se isso, já que esses agricultores buscam otimizar as áreas destinadas à bovinocultura de leite para que mais áreas possam ser destinadas para a produção de grãos, evidenciando a integração lavoura/pecuária e permitindo a diversificação de renda nas propriedades. Para a atividade de leite, considera-se que os principais recursos a serem otimizados são terra, mão-de-obra e animais de produção. Considerado esse contexto, neste estudo o objetivo geral foi comparar os custos de produção e apresentar indicadores de otimização dos fatores de produção, terra, animais e mão de obra dos sistemas de produção de leite Semi-intensivo, confinamento por Free Stall e confinamento por Compost Barn em três propriedades distintas. Como objetivos específicos buscou-se a) descrever as principais características das propriedades e sistemas analisados; b) quantificar e comparar os custos de produção, produto bruto, depreciação e renda agrícola dos sistemas de produção Semi-intensivo, confinamento por Free Stall e confinamento por Compost Barn; c) Identificar o sistema/propriedade que melhor otimizou os fatores de produção terra, animal e mão de obra.

Revisão Bibliográfica

Gestão em propriedades leiteiras

  A partir de 1999, com a desvalorização da moeda brasileira, houve o impulso no aumento dos preços pagos aos agricultores pelo leite produzido no Brasil, o que possibilitou maiores investimentos na atividade e aumento na escala de produção (KOEHIER, 2000). Porém, para esses investimentos serem consolidados e se tornarem parte de uma economia forte, é necessário que produtores, agroindústrias e profissionais ligados ao setor adotem tecnologias, se atualizem e sigam mecanismos de aprendizagem e de formação profissional e empresarial (SANTOS; MARION E SEGATTI, 2002, p 28). Para tanto, é imprescindível a administração eficiente visando a sustentabilidade econômica dos empreendimentos rurais. O êxito não consiste apenas em alcançar elevados níveis de produtividade, mas também em como gerenciar a produtividade obtida para alcançar o resultado pretendido (ANDRADE; MUNHÃO e PIMENTA, 2012, p. 25). Porém, a maioria dos produtores familiares normalmente não tem possibilidade financeira de contratar um profissional administrativo. Faz-se necessário, portanto, a elaboração de um sistema gerencial de fácil aplicação e manuseio, além de ser flexível para calcular o custeio de qualquer produto ou criação explorado na propriedade (BATALHA et al, 2005). Considerando a necessidade de definição dos custos das atividades agropecuárias, nesse caso o leite, destaca-se que os custos da atividade rural apresentam terminologia idêntica à utilizada nas atividades industriais, sendo classificados também em custos fixos e variáveis (RAUBER et al, 2005). Nas atividades rurais o custo da produção compreende o conjunto de todas as despesas que devem ser suportadas para a obtenção dos produtos (VALLE, 1987). Conceitualmente, na atividade leiteira o custo é o gasto que é aplicado na produção, gasto esse desembolsado ou não. É o valor aceito pelo comprador para adquirir um bem ou é a soma de todos os valores agregados ao bem, desde sua aquisição, até que ele atinja o estágio de comercialização (DUTRA, 2003). Especificamente na atividade de bovinocultura de leite, o Brasil tem comportado diferentes sistemas de produção de leite. Desta forma, para cada modelo podem surgir necessidades de gerenciamento de custos diferenciadas, dependendo das características de cada sistema. A utilização de qualquer sistema de produção de leite requer investimentos em tecnologia, ou estruturais. Portanto, a necessidade de gerenciamento de custos evidencia-se desde o início do processo de investimento, pois a gestão será o assessoramento das suas atividades na tomada de decisões rápidas e eficientes (MIRANDA, 2004).  

Sistemas de produção de leite

 

Sistema de produção Compost Barn

  O Sistema de produção Compost Barn ou celeiro de compostagem surgiu em meados da década de 80 nos Estados Unidos, apenas em 1990 foi testado no Brasil e ainda vem sendo difundido em alguns Estados (IEPEC, 2016). Esse sistema consiste em grande espaço físico coberto para permanência das vacas leiteiras. O local em que as vacas circulam e permanecem confinadas é forrado com serragem, sobras de corte de madeira ou casca de arroz e esterco compostado. O principal objetivo do Compost Barn é garantir aos animais conforto térmico e um local seco para ficarem durante o ano, bem como a compostagem do material da cama que pode ser utilizada como adubação orgânica na propriedade ou comercializada (ENDRES E JANNI, 2007). De modo prático, é um alojamento com formato de galpão retangular, composto por uma cama semelhante as usadas em aviários, que permite instalar o animal de forma a elevar seu bem estar, reduzir as doenças, e o estresse térmico do animal. Consequentemente, observa-se redução o desgaste energético do mesmo em relação ao ambiente externo (COSTA, 2014). O Sistema Compost Barn tem por objetivo melhorar índices produtivos do rebanho, melhorar o manejo e possibilitar o uso correto dos dejetos orgânicos provenientes da atividade leiteira (EMBRAPA, 2014). As vantagens na utilização dos sistemas são: possibilita maior conforto para o rebanho; favorece a higiene do local e também dos animais; contribui para a redução de problemas de casco; diminui a contagem de células somáticas (CCS); aumenta a detecção de cio; aumento na produção de leite; diminuição do odor e incidência de moscas, aumento da produtividade; redução de doenças; e aumento da taxa de fertilidade (SEBRAE, 2015; OLIVEIRA, 2010). O sistema consegue reduzir problemas de casco, uma vez que comparativamente aos sistemas tipo free-stalls, as vacas têm mais espaço e, consequentemente, maior liberdade de movimento para se locomoverem e deitar. Ainda quando os animais estão em pé, continuam numa superfície mais macia que no concreto. Estudo efetivado em Minnesota concluiu que 7,8% de vacas têm problemas de casco em propriedades com compost barn, enquanto 19,6 a 27,8% tem esse problema em propriedades do tipo free-stalls (BARBERG et al., 2007)  

Sistema de produção Free Stall

  O Sistema Free Stall ou Tenda Livre surgiu nos Estados Unidos em 1950 e rapidamente se adaptou às necessidades da população americana ao proporcionar conforto térmico aos animais, padronização nas dietas fornecidas e sanidade ao rebanho (ARCARO, 2000). Tornou-se popular no Brasil a partir dos anos de 1980, quando alguns criadores particulares implantaram esse sistema com sucesso, e a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Brasília construiu um confinamento tipo Free Stall para mostrar aos criadores a sua viabilidade (CAMARGO, 1991). Este modelo de confinamento é um espaço coberto, construído nos sentidos leste oeste com 5 metros de pé direito nas extremidades e 6 metros de pé direito no barracão, permitindo livre acesso para os animais (NEUFELDTET et al, 2014). É constituído por baias e camas, onde se utiliza colchões de espuma, areia ou borracha e uma manta impermeável que propicia maior conforto para o animal e durabilidade do material ao longo prazo. Animais confinados destinados à produção leiteira (vacas) permanecem aproximadamente 8-16 h/d deitadas e 0,5– 3 h/d em pé na sua baia. Neste local o animal passa o dia ruminando e movimenta-se apenas para se alimentar e ser ordenhado; convertendo praticamente toda sua dieta em produtividade; diminuindo gastos com energia de locomoção e perda de eficiência produtiva (TUCKER E WEARY, 2004).  

Sistema Semi-intensivo

  De acordo com estudos dos órgãos Embrapa e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (2014), esse sistema deve proporcionar aos animais, condições de conforto natural em suas instalações. Além disso, nesse sistema os fatores climáticos como o estresse calórico e dias chuvosos interferem na atividade, ao mesmo passo que o manejo dos animais torna-se um trabalho mais árduo. Ainda, ocorre desperdício de energia pelo deslocamento dos animais e deixa de ganhar em produtividade e sanidade. Porém, a mão de obra pode ser necessária em menor escala. Neste sistema a dieta animal é basicamente gramíneas, forrageiras e volumosos, que possui media capacidade de suporte; o concentrado é proporcionado aos animais em períodos de menor oferta de forrageiras, em algumas propriedades é fornecido no cocho durante todo o ano (EMBRAPA, 2005). A suplementação de concentrados neste sistema de produção pode variar de acordo com seu potencial genético e produtividade do rebanho, geralmente composto por animais mestiços. Porém este sistema também suporta animais de médio a alto desempenho produtivo (EMBRAPA, 2005).

Materiais e Métodos

O presente trabalho teve como base a pesquisa qualitativa e quantitativa. Como método utilizou-se o estudo de casos múltiplos, ao passo que foram analisadas três propriedades/empresas rurais, representando cada um dos sistemas estudados (semi-intensivo, compost barn e free-stall).  Os casos estudados foram três propriedades rurais situadas no interior do município de Vila Langaro, na região Noroeste do Rio Grande do Sul, sendo uma que adota o sistema de produção de leite Semi-intensivo, outra o sistema intensivo com confinamento em Compost Barn e outra o sistema intensivo com confinamento em Free Stall. A coleta de dados foi realizada através de entrevista, complementada com preenchimento de planilhas do Microsoft Excel®, além de pesquisa documental nas anotações feitas pelos produtores rurais e documentos fiscais fornecidos pelos mesmos. Os sujeitos da pesquisa, ou seja, as pessoas que forneceram as informações necessárias para realizar a pesquisa, foram os proprietários das (Unidades de Produção de Leite) UPLs. No decorrer da pesquisa se buscou detalhar as especificidades dos diferentes sistemas produtivos em três unidades de produção de leite. Destaca-se que nos três sistemas/UPLs estudadas foi realizado o comparativo de dados, análise documental, fiscal e resgate de um ano agrícola/produtivo sendo considerado o ano agrícola de Junho de 2015 a Maio de 2016. No que se refere aos custos de produção e indicativos de desempenho, foi utilizada a Metodologia de Valor Agregado (LIMA et al., 2001). Essa metodologia utiliza os seguintes termos e significados: a) Produto Bruto (PB) representa a soma de todos os produtos finais produzidos em um intervalo de tempo, seja para comercialização ou subsistência; b) Consumo Intermediário (CI) trata-se daquilo consumido no processo de produção, não sendo aproveitado para outro ciclo produtivo; c) Valor Agregado Bruto (VAB) é utilizado como medida da riqueza social gerada em determinado período. A definição do VAB é dada pela diferença entre o PB e o CI; d) Depreciação (D) é a redução de valor dos bens corpóreos que integram o ativo permanente, em decorrência de desgaste ou perda de utilidade pelo uso, ação da natureza ou obsolescência; e) Valor Agregado Liquido (VAL) definimos como valor adicionado, é unicamente a parcela de valor novo gerado no período em consideração, é o valor agregado bruto menos a depreciação; f) Distribuição do Valor Agregado (DVA) são determinados desembolsos, como os salários pagos a mão de obra contratada, o arrendamento de terra, os juros e amortizações de empréstimos e as taxas de impostos; g) Renda Agrícola (RA) que representa a parte do valor agregado que permite remunerar o trabalho familiar e eventualmente investir na unidade de produção. Uma das principais diferenciações dessa metodologia, comparativamente às demais, é que não calcula o Custo de Oportunidade da terra, do capital e da mão de obra. Isso porque é uma metodologia desenvolvida especificamente para análise de propriedades rurais e parte do princípio que o agricultor não leva em consideração o custo de oportunidade para a tomada de decisão. Além disso, considera que o agricultor não possui a liquidez e autonomia acerca dos bens, da atividade e da mão de obra como pressupõe o referido cálculo de custo de oportunidade (LIMA et al., 2001).

Resultados e Discussão

Caracterização das propriedades e sistemas Com fins de caracterizar as propriedades estudadas e os respectivos sistemas de produção de leite, destaca-se que a propriedade com sistema Semi-intensivo possui extensão de 74 hectares, sendo utilizados para atividade de bovinocultura de leite 32,5 hectares; a propriedade com sistema Compost Barn possui área de 40 hectares, sendo utilizados 27,5 para a bovinocultura de leite; já a propriedade com Free Stall possui 30 hectares, sendo utilizado 8 hectares na atividade de leite. O restante da área das propriedades é utilizado para o cultivo de grãos, especialmente soja, bem como comporta Área de Preservação Permanente (APP’s) e Reserva Legal (RL). As áreas ocupadas na bovinocultura de leite são subdivididas em plantio de milho para silagem, pastagens e benfeitorias. A Tabela 1, por sua vez apresenta, para cada sistema analisado, características que dizem respeito a quantidade de animais, animais em lactação, área utilizada em hectares para cada sistema, ocupação de animais/área, produtividade/animal/dia, investimentos em ordenha, investimentos em máquinas e estruturas utilizadas na produção. O sistema de confinamento por Compost Barn possui uma ocupação de 3,4 animais por ha, número bem próximos ao sistema de confinamento por Free Stall que tem 3,8 animais por ha. Observa-se que em sistemas confinados se consegue intensificar a produtividade por ha, utilizando tecnologias de manejo de solo e fertilidade, sendo que a área fica livre da compactação do solo pelos animais por estarem confinados. Estes fatores justificam a diferença de animais em relação ao sistema Semi-intensivo, que na propriedade estudada tem 2,7 animais por ha. Esse fator pode ser devido a não otimização do alimento (gramíneas e forrageiras) causado pelo intenso trafego de animais, em que os alimentos o mesmo não serão consumidos (EMBRAPA, 2005). Por outro lado, em sistema confinado por Free Stall ou Compost Barn, o gado recebe alimentação no confinamento, assim se otimizam as áreas de plantio sendo intensificado com tecnologia de manejo do solo, colheita e armazenagem dos alimentos. A produtividade por animal em sistemas em confinamento por Free Stall ou Compost Barn, comparativamente com o sistema semi-intensivo, é maior e tem menor oscilação. Isso se deve à baixa movimentação dos animais, ao conforto térmico, menor perda de energia e balanceamento nas dietas fornecidas (SEBRAE, 2015). Portanto, no sistema Semi-intensivo a média de produtividade diária por animal é menor, pois ocorre o desperdício com energia do animal, devido a seu deslocamento entre pastejo e ordenha, deixando de transformar essa energia em produção. A sanidade também pode ser prejudicada pelas adversidades ligadas ao ambiente (EMBRAPA, 2005).   Custos de produção e renda agrícola dos diferentes sistemas/propriedades Considerando o objetivo de comparar os custos de produção e renda agrícola dos sistemas e propriedades analisadas, a Tabela 2 faz o demonstrativo do produto bruto, consumo intermediário, depreciação, distribuição do valor agregado e renda agrícola para os três sistemas produtivos/propriedades em questão. Além disso, é realizada a análise vertical, que se baseia nos valores dos indicadores, em que é calculado o percentual para cada indicador em relação a um valor base. Tal análise demonstra a importância relativa de cada indicador através da comparação com o produto bruto (CAVALCANTE, 2010). Constata-se na Tabela 2 que o sistema por confinamento em Compost Barn foi o que obteve maior Produto Bruto, fator este devido ao maior número de animais em processo de produção e também à venda de animais. No sistema Semi-intensivo, constatou-se que os custos ultrapassaram o Produto Bruto. No entanto, como a depreciação é uma despesa não desembolsada, acaba gerando um falso equilíbrio entre as contas, isso na visão do agricultor. A Depreciação representou um custo importante nessa propriedade devido a aquisição recente de novos maquinários e construções. Somado a isso, os custos com mão de obra e juros também é fator preocupante, o que aponta a dependência de mão de obra contratada, bem como de capital externo à propriedade. A análise também buscou demonstrar o comparativo entre os sistemas/propriedades, no que se refere ao volume de produção, custo e Renda Agrícola, como podem ser observados na Tabela 3. Verificou-se que o sistema de confinamento por Compost Barn obteve um resultado positivo de R$ 0,27 por litro de leite; o sistema em confinamento por Free Stall também gera resultado positivo, porém inferior ao Compost Barn. Já no sistema Semi-intensivo, os custos foram maiores que o valor de venda do produto, obtendo um resultado negativo de R$ (-) 0,09 por litro de leite. Como já destacado, os fatores responsáveis pela Renda Agrícola negativa no sistema semi-intensivo foi o recente investimento em maquinas e estruturas, que elevam a depreciação, bem como sua dependência de capital externo para tais investimentos, onerando os custos com juros. Por fim, a dependência de mão de obra externa faz com que os custos fiquem mais altos. A participação de custos com alimentação em cada sistema tem relação com manejo das áreas, investimento em novas tecnologias, na gestão de dietas fornecidas aos animais e melhoramento genético. No sistema Free Stall representa 66,4% dos custos, no Compost Barn 65,8% e no sistema Semi-intensivo 60,5%. Nesse último sistema os animais são soltos no campo e suplementados no cocho, fazendo com que ocorra redução de custos com maquinários na atividade e de valor em estrutura de conforto para os animais. Já nos sistemas Free Stall e Compost Barn tem maior necessidade de investimento em estrutura física e maquinários, bem como as dietas que regulam a produtividade e custos com manejo diário podem elevar os custos intermediários da atividade (SEBRAE, 2015).   Otimização dos fatores de produção terra, animal e mão de obra Considerando os três principais fatores produtivos a serem otimizados na atividade de bovinocultura de leite: terra, animal e mão de obra, essa seção objetiva identificar como se dá a otimização desses fatores nas três propriedades/sistemas produtivos analisados. Constata-se que o sistema Compost Barn foi o que apresentou maior volume de produção por Unidade de Trabalho Homem, sendo 218.510,66 litros/UTH/ano, enquanto que o Free-Stall proporcionou maior volume por hectare, sendo 29.456,75 litros/ha/ano. O Sistema/propriedade semi-intensivo teve menor otimização, com 117.621,35 litros/UTH/ano e 10.857,35 litros/ha/ano. Esta diferenciação entre os sistemas intensivos e semi-intensivo ocorre devido ao manejo sobre a área de produção, já que os sistemas intensivos têm como um dos objetivos otimizar a área da propriedade. A Tabela 4, por sua vez, busca comparar a otimização dos fatores terra, animal e mão de obra a partir de um comparativo de Valor Agregado Líquido por hectare, por UTH e por animal nos três sistemas. Observa-se que o sistema/propriedade que mais agregou valor por área foi o Compost Barn, seguido do Free Stall e, em última colocação, o Semi-intensivo. Essa mesma ordem se aplica para a análise dos fatores de produção mão de obra e animal. Aponta-se que o Compost Barn teve maior destaque no que se refere a agregação de valor no fator mão de obra, já que teve VAL/UTH mais que o dobro que o sistema Free-Stall e cerca de oito vezes maior que o Semi-intensivo.

Conclusões

Ao finalizar este estudo, pode-se concluir que os sistemas confinados garantem uma produtividade maior do que os sistemas “abertos”. Além disso, a escala produtiva maior corrobora para a maior remuneração por litro e aumento das margens do produto. A produtividade e a escala produtiva impactam diretamente no resultado das operações, embora não sejam os únicos indicativos de sustentabilidade econômica das unidades de produção de leite. No sistema Semi-intensivo pôde-se observar que a média de produtividade por animal, área e UTH foi a menor do grupo estudado, bem como seu Produto Bruto, o que desencadeou outros reflexos negativos na renda da propriedade. O sistema Semi-intensivo apontou resultados negativos no período estudado e o que mais interferiu nestes resultados não foram fatores externos, mas o alto custo de produção desta propriedade (depreciação e mão de obra). Tal custo foi devido, especialmente, a questões de cunho gerencial, como inadequado dimensionamento de maquinários e equipamentos e a alta dependência de capital e mão de obra externa. Deve-se considerar também, neste estudo, a dificuldade de acessar dados seguros, pois os produtores não possuem controles gerenciais das propriedades. Fica evidente a necessidade do gerenciamento e controle dos custos nas UPLs, facilitando a tomada de decisão dos gestores. Se consideradas as propriedades do estudo, nenhuma delas sabia exatamente seus custos e renda agrícola, o que é uma realidade representativa da maioria das propriedades do RS. Para a propriedade com o sistema Semi-intensivo, com renda agrícola negativa, recomenda-se aumentar a média de produtividade dos animais, investindo em novas tecnologias de manejo, bem como a necessidade de diminuir a mão de obra contratada. Outro aspecto seria, após estabilização das primeiras melhorias, estudar a possibilidade de implantação de sistema confinado, o que possibilitaria ao produtor maior capacidade de animais por área, elevando a média de produtividade por animal e otimizando a genética utilizada, que é de boa qualidade. Por fim, alerta-se que esse estudo possui limitações. A principal diz respeito ao reduzido número de casos estudados, impedindo a generalização dos resultados. Outra limitação do trabalho tem relação com as próprias características da atividade leiteira, a qual é heterogênea e varia muito de propriedade para propriedade. Portanto, alguns fatores dentro de um mesmo sistema produtivo podem se diferenciar em UPLs distintas.

Gráficos e Tabelas




Referências

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