Padrões de deslocamento de novilhas de corte em pastagem de azevém em consórcio com leguminosas

Milene Marques Nunes1, Luciana Pötter2, Juliano Melleu Vicente3, Amanda Carneiro Martini4, Giovana Antonio Rocha5, Luzilene da Silva Costa6, Cristian Cecconi Deon7, Juliana Squizani Dutra8
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RESUMO -

Foram estudados os padrões de deslocamento de novilhas de corte em três sistemas forrageiros: pastagem exclusiva de azevém, pastagem de azevém consorciada com trevo vermelho e pastagem de azevém consorciada com ervilhaca. Os registros das estações alimentares foram feitos em seis ciclos de pastejo (manhã e tarde). A partir desses dados foram calculados a taxa de deslocamento e o número de passos entre estações alimentares. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo. Na primeira data de avaliação as novilhas em pastejo de azevém mais ervilhaca realizaram número de passos entre estações 50% superior ao número de passos realizados nos demais sistemas forrageiros. Na primeira e terceira data de avaliação, em azevém mais ervilhaca, o número de passos por minuto foi 33 e 28% maior, respectivamente, do que nos demais sistemas forrageiros. A busca por locais de alimentação é modificada quando o azevém é consorciado com ervilhaca .

Palavras-chave: Lolium multiflorum Lam., passos entre estações, passos por minuto, Trifolium pratense, Vícia sativa

Displacement patterns of beef heifers on ryegrass pasture intercropped with legumes

ABSTRACT - The displacement patterns of beef heifers in three grazing systems were evaluated: exclusive ryegrass pasture, ryegrass pasture intercropped with red clover or ryegrass pasture intercropped with vetch. The records of feeding station were made in six grazing cycles (morning and afternoon). From these data the displacement and the number of steps between feeding stations were calculated. The experimental design was completely randomized, with repeated measures arrangement. On the first evaluation date, heifers on ryegrass plus vetch pasture performed a number of steps between stations 50% higher than the number of steps performed in other feeding systems. On the first and third evaluation date, heifers on ryegrass plus vetch performed 33 and 28% higher number of steps, respectively, than in the other grazing systems. The search for feeding sites is modified when ryegrass is intercropped with vetch.
Keywords: Lolium multiflorum Lam., steps between seasons, steps per minute, Trifolium pratense, Vicia sativa


Introdução

O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é a gramínea de ciclo hibernal com maior área cultivada no Rio Grande do Sul e pode ser utilizado de forma extreme ou consorciado com leguminosas como o trevo vermelho (Trifolium pratense L.) ou ervilhaca (Vícia sativa). Para compreender o comportamento ingestivo dos animais em pastejo quando o azevém é consorciado com leguminosas, o estudo dos seus padrões de deslocamento é importante, pois ajuda a explicar como ocorre a busca dos locais de alimentação para garantir o consumo diário adequado de forragem. As características de deslocamento entre estações alimentares denotam a condição do pasto (Carvalho e Moraes, 2005). Dessa forma, torna-se importante o entendimento das decisões de quando começar, qual a frequência e como a distribuição dos eventos de pastejo determinam os padrões diurnos de pastejo dos ruminantes (Gregorini, 2012). Esse trabalho foi realizado com o objetivo de estudar os padrões de deslocamento de novilhas de corte em pastagem de azevém extreme e consorciado com trevo vermelho ou ervilhaca.

Revisão Bibliográfica

O consórcio de gramíneas e leguminosas geralmente é vantajoso devido a vários fatores tais como: favorecimento do desenvolvimento da gramínea pelo aumento no aporte de nitrogênio (N) no sistema solo pela fixação biológica do N pela leguminosa, aumento da produção total de forragem, aumento do período de utilização da pastagem e aumento do valor nutritivo (Silva e Saliba, 2007). Conforme Carvalho et al. 2008, o deslocamento feito pelos ruminantes está diretamente ligado a oferta de forragem. Quando a oferta de forragem é baixa, os animais apresentam deslocamentos curtos e retilíneos, então o número de passos entre estações é pequeno, refletindo a pouca massa de bocado colhida no último bocado da estação anterior. Já em situações com abundância de forragem, o número de passos entre estações é alto, na medida em que o animal colhe uma massa de bocado elevada na estação anterior, que permite a ele caminhar entre estações por mais tempo enquanto mastiga. Então, o animal pode ser mais seletivo sem perder a eficiência no deslocamento, pois o animal procura a próxima estação mastigando o último bocado da estação anterior, otimizando o seu tempo (Carvalho e Moraes, 2005). Quanto maior a massa obtida no último bocado, mais tempo o animal tem para realizar o seu deslocamento, o que se reflete num maior número de passos na transição entre estações. Além disso, outra estratégia que os animais usam em condições de abundância de forragem é aumentar o ângulo de deslocamento (Carvalho e Moraes, 2005).

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria/RS. Os sistemas forrageiros foram: pastagem exclusiva de azevém (Lolium multiflorum Lam), pastagem de azevém consorciada com trevo vermelho (Trifolium pratense) ou ervilhaca (Vícia sativa). A semeadura foi realizada a lanço, utilizando-se 45 kg/ha de sementes de azevém e nos consórcios foram acrescentadas 50 e 10 kg/ha de sementes de ervilhaca ou trevo vermelho, respectivamente. Foram utilizadas 27 novilhas, com idade média inicial de oito meses e peso corporal de 143±5 kg. O método de pastejo foi o contínuo, com número variável de animais para manter a altura do dossel em 15±0,29 cm. A altura de dossel e massa de forragem (MF) foram avaliadas a cada 28 dias. A forragem proveniente dos cortes foi separada manualmente nos componentes botânicos e estruturais do pasto. Após a separação, esses componentes foram secos e foi calculada a participação percentual na MF.  Os registros visuais de estações alimentares foram feitos em seis ciclos de pastejo (manhã e tarde). A partir desses registros foram calculados a taxa de deslocamento (passos por minuto) e o número de passos entre estações. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo, três tratamentos e três repetições de área. Para as avaliações de padrões de deslocamento foram utilizadas nove repetições para cada tratamento e cada novilha foi considerada uma unidade experimental. Para comparar os tratamentos, as variáveis que apresentarem normalidade (Shapiro-Wilk), foram submetidas à análise de variância pelo procedimento Mixed do programa estatístico SAS®. As médias, quando verificadas diferenças, foram comparadas pelo procedimento lsmeans. A interação entre tratamentos e períodos de avaliação foi desdobrada quando significativa a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Não houve interação entre sistemas forrageiros × períodos de avaliação para altura do dossel (P=0,3711) e massa de forragem (P=0,5141). As novilhas foram mantidas em semelhante altura do dossel (14,7±0,3 cm; P= 0,3711) e massa de forragem (1621,6±71,6 kg/ha de MS; P=0,5141) em todos os sistemas forrageiros. Houve interação entre sistemas forrageiros × períodos de avaliação para a variável massa de leguminosa (P=0,0004). No primeiro e segundo período de avaliação a massa de ervilhaca foi 4,1 e 2,9 vezes maior, respectivamente, em relação a massa de trevo (73,1±33,7 kg/ha MS;  60,1±20,0 kg/ha MS, respectivamente). No terceiro período de avaliação, a massa de leguminosas foi semelhante (16,7±7,4 kg/ha MS) nos dois sistemas forrageiros. No quarto período de avaliação a massa de trevo foi 12,2 vezes superior à massa de ervilhaca (1,7±5,2 kg/ha MS). Houve interação entre sistemas forrageiros × períodos de avaliação para as variáveis passos entre estações alimentares (P=0,0147) e passos por minuto (P=0,0011; Tabela 1). Na primeira data de avaliação, as novilhas em pastejo em azevém mais ervilhaca realizaram número de passos entre estações alimentares 50% superior ao número de passos nos demais sistemas forrageiros (1,4 passo/estação). Conforme Carvalho et al. (2001), ruminantes têm preferência por leguminosas, porém a procura está ligada à presença percentual da leguminosa na biomassa. Dessa forma, a maior massa de ervilhaca no primeiro período de avaliação explica o maior número de passos entre estações alimentares nesse período para os animais que estavam em pastejo de azevém mais ervilhaca, caracterizando maior seletividade. Os animais caminham distâncias mais longas utilizando maior tempo para a procura de estações alimentares preferidas (Carvalho et al., 2008). Na segunda (1,8 passo/estações), terceira (2,0 passos/estações), quarta (1,9 passos/estações) e quinta (1,6 passos/estações) datas de avaliação, as novilhas realizaram semelhante número de passos entre estações alimentares nos diferentes sistemas forrageiros. Essa similaridade pode ser explicada pela altura do azevém em relação às leguminosas, o que faz com que a preferência dos animais por leguminosas diminua à medida que o azevém se torna mais alto que as leguminosas (Carvalho et al., 2001). Na primeira e terceira data de avaliação as novilhas em pastejo de azevém mais ervilhaca realizaram maior número de passos por minuto, 33 e 28%, respectivamente, do que as novilhas em azevém e azevém mais trevo (11,36 e 11,86 passos/min., respectivamente). Possivelmente, o maior tamanho de bocados foi  refletido  em maior número de passos por minuto. Pois, quanto mais massa for obtida no último bocado, mais tempo o animal tem para deslocamento (Carvalho e Moraes, 2005). Na segunda (11,9 passo/min), quarta (9,4 passo/min) e quinta (10,5 passo/min) avaliações, as novilhas realizaram semelhante número de passos por minuto nos diferentes sistemas forrageiros.

Conclusões

A busca por locais de alimentação é modificada por meio do uso de diferentes padrões de deslocamento quando as novilhas são mantidas emevém consorciado com ervilhaca.

Gráficos e Tabelas




Referências

CARVALHO, P. C. de F. et al. Importância da estrutura da pastagem na ingestão e seleção de dietas pelo animal em pastejo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001. p.853-871. CARVALHO, P. C. de F.; MORAES, A. Comportamento ingestivo de ruminantes: bases para o manejo sustentável do pasto. In: MANEJO SUSTENTÁVEL EM PASTAGEM, 1., 2005, Maringá. Anais... Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2005. p.1-20 CARVALHO, P. C. de F. et al. Características estruturais do pasto e o consumo de forragem: o quê pastar, quanto pastar e como se mover para encontrar o pasto. Manejo estratégico da pastagem, v. 4, n. 2008, p. 101-130, 2008. GREGORINI P., Diurnal grazing pattern: its physiological basis and strategic management. Animal Production Science, v. 52, n.7, p. 416-430, 2012. SILVA, J. J.; SALIBA, E. de O. S. Pastagens consorciadas: Uma alternativa para sistemas extensivos e orgânicos. Veterinária. e Zootecnia. v.14, n.l, jun., p. 8-18,2007.