PALATABILIDADE DE CARNE BOVINA, SUÍNA E FRANGO PARA CÃES ADULTOS

LIS LORENA MELÚCIO GUEDES1, Lizia Cordeiro de Carvalho2, Luana Kelly Lopes3, Cristina Maria Lima Sá-Fortes4, Mariana Aparecida Gomes Pereira5
1 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
3 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
4 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
5 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi determinar a preferência de carne bovina, de frango e suína por cães adultos. O teste foi realizado com 50 cães adultos, sendo 27 fêmeas e 23 machos. Foram desenvolvidos três diferentes biscoitos caseiros, a base de fubá e carne fresca, de lombo suíno, peito de frango e acém. Realizando teste de confronto entre três alimentos, avaliando a primeira escolha. Repetiu o teste para confirmação dos resultados e avaliou-se a diferença na aceitabilidade entre os sexos. No primeiro teste os biscoitos de bovino e frango foram os de maior preferência. No segundo teste foi identificado maior preferência entre os biscoitos de frango, carne bovina e suína respectivamente. Entre machos e fêmeas, no primeiro teste não houve diferença na preferência. No segundo teste a preferência pelos biscoitos de carne bovina se manteve entre os machos, diferentes nas fêmeas em que a escolha foi pela carne de frango. Conclui-se que a carne bovina e de frango foram as mais palatáveis.

Palavras-chave: palatabilidade, cães, fontes proteicas, análise sensorial

PALATABILITY OF BOVINE MEAT, SWINE AND CHICKEN FOR ADULT DOGS

ABSTRACT - The objective of this work was to determine the preference of beef, chicken and pork for adult dogs. The test was performed with 50 adult dogs, 27 females and 23 males. Three different homemade cookies were made, based on cornmeal and fresh meat, pork loin, chicken breast and even. Performing test of confrontation between three foods, evaluating the first choice. Repeated the test to confirm the results and evaluated the difference in acceptability between the sexes. In the first test the beef and chicken biscuits were the most preferred. In the second test, a higher preference was identified among chicken, beef and pork biscuits respectively. Between males and females, in the first test there was no great difference in preference. In the second test, the preference for beef biscuits was maintained among males, different in females than in chicken. It was concluded that the beef and chicken were the most palatable.
Keywords: palatability, dogs, protein sources, analysis sensory


Introdução

O mercado Pet Food nacional cresce em torno de 6% ao ano, contando atualmente com uma produção anual de alimentos industrializados para cães e gatos de 1,9 milhões de toneladas, dividida em mais de 300 marcas comerciais (PET FOOD BRASIL, 2014). A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais (ABINPET, 2015) mostra que o Brasil faturou R$ 18,0 bilhões, no mercado Pet em 2015, o que representa um aumento de 7,4% em relação a 2014, destes 67,3 são relacionados ao mercado Pet Food. A alimentação dos cães também passou por evolução visível nos últimos tempos. No mercado encontra-se uma elevada disponibilidade de produtos destinados à alimentação de animais de companhia, aumentando as variedades de escolha pelos proprietários, que procuram alimentos balanceados, que tenham elevada palatabilidade e qualidade dos ingredientes. Os principais conjuntos de fatores são as interações, inerentes ao animal, alimento e ambiente que promovem estímulo de inibição ou consumo do alimento é o que define a palatabilidade, mecanismo importante na produção de novos alimentos (FÉLIX, 2011). Esta pesquisa teve como objetivo determinar por meio de aceitação por parte dos animais biscoitos produzidos com diferentes carnes.

Revisão Bibliográfica

Normalmente os biscoitos, mesmo com valor nutricional não são alimentos completos, sendo eles de origem animal (farinha de carne e ossos, farinha de vísceras, gordura estabilizada de frango, proteína isolada de suíno, etc) e de origem vegetal (farelo de trigo, glúten de milho, proteína texturizada de soja, óleos vegetais, etc). É necessário ofertar ao animal um alimento completo, além dos biscoitos, podendo ser adicionado algum alimento funcional, que traga benefícios aos animais (TREVIZAN, 2010). A alimentação dos cães também passou por evolução visível nos últimos tempos. Com a introdução de alimento completo específico na dieta dos animais, que contribuíram para a expansão no mercado. A nutrição vem sendo a área de grande investimento por parte das indústrias, na criação de alimentos que atendem às exigências dos animais e traga maior comodidade ao proprietário. Os cães são animais carnívoros, adaptando-se bem a alimentos concentrados e de elevada digestibilidade, como os demais carnívoros.  Apresentam segundo Mohrman (1979), hábitos também onívoros, sendo considerados carnívoros não estritos, por alimentarem de frutos, bagos e tecidos vegetais. Os cães são extremamente exigentes na quantidade e qualidade das proteínas que são utilizadas nas suas dietas (CAMILO et al., 2014). Segundo Case et al. (2000), para que tenha eficiência na utilização da proteína do alimento, alguns fatores são essenciais como teor de proteína, digestibilidade e sua composição ou perfil em aminoácidos essenciais biodisponíveis. O ingrediente preferido nas formulações de alimentos para animais de companhia são as carnes frescas, mas na prática esses ingredientes nem sempre são utilizados (ALDRICH, 2009). O sucesso ou fracasso de um alimento para cães está ligado fundamentalmente com a sua palatabilidade. Os animais não são capazes de demonstrar preferências diretamente, a preferência é mensurada por base de mensuração subjetiva, onde dois ou mais alimentos podem ser selecionados (ARAUJO; MILGRAM, 2004). Por isto, tem-se a necessidade de avaliações especificas, para determinar a palatabilidade do produto (TOBIE; FORGES, 2013). Sendo a análise sensorial uma importante ferramenta para caracterizar o sabor do produto e destacar preferências (CALLEJON, 2014). A análise sensorial é utilizada para medir, analisar e interpretar reações às características dos alimentos e materiais como são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, sabor, tato e audição (ABNT, 1993).

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerias - UFMG, na cidade de Montes Claros-MG. No período de agosto a outubro de 2015. Todas as análises realizadas foram avaliadas apenas por um pesquisador. Foram utilizados 50 cães adultos de 13 diferentes raças, sendo 27 fêmeas e 23 machos, saudáveis, vacinados e vermifugados. Os animais utilizados eram de voluntários discentes e docentes do instituto, após a leitura e compreensão do termo de consentimento livre e esclarecido. Desenvolveu-se três deferentes tipos de biscoito caseiro, a base de fubá e carne fresca, de lombo suíno, peito de frango e acém bovino. Após cozimento para melhor digestão pelo animal, a massa foi moldada e levada ao forno à 100 ºC, por 40 minutos. Para caracterização nutricional dos biscoitos foram realizadas as análises bromatólogicas para determinação de proteína bruta, extrato etéreo, matéria mineral e umidade, segundo metodologia descrita por Silva e Queiroz (2003), descritos na Tabela 1. Utilizou-se o método por modelos padrão de confronte entre dois produtos (AAFCO, 1999), adaptado para três alimentos, onde serão disponibilizados ao mesmo tempo, os três diferentes biscoitos, em comedouros separados. O experimento foi realizado no habitat natural nos animais e os biscoitos fornecidos pelo proprietário para que nenhum fator externo afetasse a caracterização da escolha pelo cão. O teste foi repetido para confirmação dos resultados. Foi comparada a escolha em relação macho x fêmea. Ao final das observações os comportamentos de escolha de todos os biscoitos foram quantificados e a frequência de ocorrência total das observações foi calculada. Para o cálculo de frequência foi utilizada a fórmula: FO = O x 100 / T; onde FO é a frequência de ocorrência a ser calculada, O é o número de ocorrência de escolha por cada biscoito e, T é o total de observações de todos os animais.

Resultados e Discussão

Com o primeiro teste, foi visto maior preferência pelos biscoitos de carne bovina e de frango, respectivamente, como pode ser visto na tabela 2. Apenas 5% dos cães desprezaram todos os biscoitos. A preferência pelos biscoitos de carne bovina foi devido ao maior teor de gordura presente na carne, em relação às demais, aumentando a palatabilidade, pela maior maciez e suculência da carne, como foi visto também por Zanatta (2013), Saad e Saad (2004) e Houpt e Smith (1981). No segundo teste, as preferências dos animais foram pelos biscoitos de frango, carne bovina e carne suína, respectivamente, e pode ser visto também uma maior percentagem de animais que desprezaram os biscoitos. Confirmando com o avaliado por Carvalho (2006), onde testaram diferentes rações com proporções de proteína bruta diferentes, e foi apresentado maior palatabilidade pela dieta com maior teor de proteína. Os cães podem fazer ajuste no consumo de proteína e energia, como é visto em outras espécies animais. Consumindo uma dieta balanceada, em trajetória das dietas, pode-se ver a maior ingestão do alimento com maior teor de energia e outro com maior teor de proteína, como foi visto nos resultados. Contudo, pode pensar em produzir alimentos, com gordura animal bovina como palatabilizante e proteína animal de frango como fonte proteica. Estimulando o olfato, o que preferiram em primeira escolha foi o biscoito de carne bovina e proporcionando mais paladar, com a utilização de proteína de frango, que teve maior fixação entre os biscoitos. Em relação à preferência entre machos e fêmeas, no primeiro teste não houve diferenças acentuadas, diferente do que foi observado no segundo teste, onde mais de 50% dos machos preferiram carne bovina e mais de 50% das fêmeas preferiram carne de frango. Mostrando maior sensibilidade aos odores as fêmeas que os machos, pela maior capacidade de detecção ao maior teor proteico contido no alimento.

Conclusões

Diferentes carnes modificam a palatabilidade de biscoitos para cães. A carne bovina e de frango foram as mais palatáveis, sendo a bovina a mais escolhida no primeiro teste e a de frango no segundo teste. Porém, para melhores conclusões tem-se a necessidade de mais teste para avaliar a preferência dos cães.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABINPET - Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de estimação, 2015. www.abinpet.org.br Acesso 30/03/2016.   ALDRICH, G. [2009]. USA poultry meal: quality issues and concerns in pet foods. Topeka: Pet Food & Ingredient Technology. Disponível em:<http://www.petfoodindustry.com/uploadedFiles/Petfood_Industry/Petfood_Industry_Articles/ 0811PETeditQuality.pdf>. Acesso em: 15/05/2015. ARAUJO, J. A. MILGRAM, N. W. A novel congnative palatability assessement protocol for dogs. Journal of Animal Science, p. 2200-2206, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Análise sensorial dos alimentos e bebidas – Terminologia – NBR 12806, 1993. ASSOCIATION OD AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS INCORPORATED, Official Publication: [S.i.:s.n.], p. 122-124, p.145-147, 1999. CALLEJON, L. Direcionadores de palatabilidade em cães. Informe técnico, São Paulo- SP, p. 16-20, 2014. CAMILO, M. SAKAMOTO, M. I. GOMES, M. O. S. Nutrição de cães em diferentes fases da vida. Boletim Técnico, produção animal UNICASTELO. Descalvado, SP, p. 5, v. 10, 2014. CARVALHO, Y. M. Efeitos dos níveis de proteína na palatabilidade para cães adultos de diferentes tamanhos. Dissertação-USP, Pirassununga, p. 41, 2006   CASE, L. P. et al. Canine and feline nutrition: a resource for companion animal professionals. 2. Ed. St. Louis: Mosby, p. 71-73, 105-107, 174-178, 2000.   FÉLIX, A.P.; OLIVEIRA, S.G.; MAIORKA, A. Fatores que interferem no consumo de alimentos em cães e gatos. In: Sérgio L. Vieira. (Org.). Consumo e preferência alimentar dos animais domésticos. 1 ed. Londrina: Phytobiotics, v.1, p. 162-199, 2011. HOUPT, K.A.; SMITH, S.L. Taste preferences and their relation to obesity in dogs and cats. The Canadian Veterinary Journal. v.22, p.77-81, 1981. Disponível em <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1789883/ pdf/canvetj00293-0009.pdf>. Acesso em: 15/11/2015. MOHRMAN, R. K. Alimentação de cães: nutrição e criação de cães e gatos. São Paulo: Purina Alimentos S. A., Cap. 2, p.N-2. 1979. PET FOOD BRASIL. Palatabilizantes, ingredientes essencial ao Pet Food. São Paulo, ed. 28, 2014 SAAD, F.M.O.B.; SAAD, C.E.P. História evolutiva na alimentação e controle de consumo dos cães e gatos. In: Apostila. Curso de Pós-Graduação “Latu Sensu” (Especialização) a Distância em Nutrição e Alimentação de Cães e Gato. Universidade Federal de Lavras - UFLA, FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão. Lavras – MG. Lavras: UFLA/ FAEPE, 44p, 2004. TOBIE, C. FORGES, C. L. Garantindo uma mensuração confiável da palatabilidade. Trabalho técnico SPF, São Paulo-SP. p. 10-11, 2013 TREVIZAN, L. Biscoitos para cães e gatos. Revista PET FOOD Brasil, ed. 10, p. 36-37, 2010. ZANATTA, C. P. Determinação de protocolo para avaliação da preferência alimentar em cães. Dissertação-UFPR, Curitiba p. 35-45, 2013