Panorama retrospectivo da Cisticercose e Fasciolose, em bovinos abatidos sob inspeção Estadual no estado do Rio Grande do Sul no período de setembro de 2013 a julho de 2014

sonia Mara Lamb1, Luciana Renata Lamb2, Mariela Valerio da Luz3, Luciana Dalla Rosa4, Ludmila Noskolski Salazar5
1 - Universidade Federal de Santa Maria
2 - Universidade de Cruz Alta
3 - Universidade de Cruz Alta
4 - Universidade de Cruz Alta
5 - Universidade de Cruz Alta

RESUMO -

Atualmente a consolidação do Brasil no cenário exportador de carnes foi questionado quanto a qualidade e segurança alimentar oferecida aos seus clientes. Esta situação, serviu para mostrarmos a importância do trabalho dos fiscais que fiscalizam e retiram as carnes e seus subprodutos que não estão aptas a serem consumidas. Neste trabalho mostramos a situação do estado do Rio Grande do Sul em relação a presença de lesões compatíveis com as características de cisticercose e fasciolose no período de setembro de 2013 a julho de 2014, e quais os destinos das carcaças acometidas.

Palavras-chave: Inspeção post-mortem; Segurança Alimentar; Zoonoses Parasitárias

Retrospective view of Cysticercosis and Fasciolosis in cattle slaughtered under State inspection in the state of Rio Grande do Sul from September 2013 to July 2014

ABSTRACT - Currently the consolidation of Brazil in the meat export scenario was questioned as to the quality and food safety offered to its customers. This situation served to show the importance of the work of the inspectors who inspect and remove the meats and their by-products that are not fit to be consumed. In this work we show the state of Rio Grande do Sul in relation to the presence of lesions compatible with the characteristics of cysticercosis and fasciolosis in the period from September 2013 to July 2014, and the destinies of the carcasses affected.
Keywords: Post-mortem inspection; Food Safety; Parasitic Zoonoses


Introdução

A contribuição do setor pecuário para a economia brasileira é de suma importância visto que no acumulado do último ano de 2016 a atividade contribuiu com 1,82% PIB brasileiro segundo dados divulgados pela Cepea (2016), sendo uma das atividades que alavanca e auxilia na estabilidade macroeconômica do país. O Brasil está consolidado no cenário exportador de produtos de origem animal, devido ao seu reconhecimento, comprometimento e potencial produtivo em extensões de terra e de programas de autocontrole e de qualidade dos produtos produzidos e ofertados aos consumidores. Este ano, o protagonismo do Brasil em relação a qualidade da carne foi questionado e demonstrou-se assim a importância dos cuidados com às condições higiênicas e sanitárias de obtenção, processamento e conservação dos produtos cárneos e às possibilidades de contaminação por substâncias químicas estranhas. Liberando, desta forma, um alimento seguro, uma vez que os alimentos de origem animal são responsáveis pela maioria dos surtos alimentares, e a carne crua torna-se um veículo de contaminação, quando sua ingestão seja feita crua ou mal passada (BICA, 2015). Desta forma, o objetivo deste estudo foi realizar um levantamento retrospectivo quanto a situação dos animais abatidos no estado do Rio Grande do Sul, no período de setembro de 2013 a julho de 2014 em estabelecimentos sobre inspeção estadual, analisando os casos de condenações de carcaças por cisticercose e fasciolose bovina.

Revisão Bibliográfica

Dentro do plano de controle sanitário do rebanho devem ser contempladas medidas preventivas para as doenças que causam prejuízos econômicos ou para a saúde publica, entre essas, a fasciolose e a cisticercose. Portanto, ressalta-se a importância dos serviços prestados nos matadouros/frigoríficos, pelo fiscal com a inspeção post mortem nas carcaças abatidas (TESSELE et al., 2013), sejam eles de esfera municipal (SIM), estadual (SIE/DIPOA) ou federal (SIF); onde todos tem o dever de garantir a entrega de um produto seguro aos consumidores. A cisticercose bovina é uma enfermidade de distribuição cosmopolita de caráter zoonótico, causada pela forma larval da Taenia saginata. Sua prevalência é maior em regiões onde a população apresenta baixo nível socioeconômico (QUEIROZ et al., 2000). A ocorrência da teníase no homem, hospedeiro definitivo, está diretamente associada aos hábitos alimentares e aos princípios de higiene. A cisticercose nos bovinos, hospedeiros intermediários, por sua vez, tem origem nas condições inadequadas de manejo e, sobretudo, na contaminação ambiental provocada pelo próprio homem, ao liberar ovos nas fezes (FERREIRA, 2008). Tanto bovinos como humanos podem ser acometidos pelos Cysticercus, quando ingerem os ovos da T. saginata. Nos animais são encontrados na maior parte nos chamados sítios de predileção, tais como músculo masseter, coração, língua e pilares do diafragma. O período de sobrevida dos cistos nos animais pode ser de semanas a anos e após sua morte apresentam aspecto calcificado (GIOVANNINI et al., 2014). A fasciolose bovina, por sua vez, é ocasionada pela presença do trematódeo Fasciola hepatica no fígado e vesícula biliar destes animais. Esta parasitose altera o desenvolvimento do animal, causando queda de produção, qualidade do leite, reprodução e chegando a ocasionar em alguns casos a morte de animais, afetando desde o produtor até aos rendimentos dos abatedouros, devido ao descarte e condenação de fígados e carcaças de animais (SILVA et al. 2008). No Rio Grande do Sul, a permanência dos casos de F. hepatica se dá pelas características geográficas e climáticas do estado, juntamente com o consorcio de pastejo em áreas alagadas, principalmente em restevas das lavouras de arroz que contribuem para a manutenção do hospedeiro intermediário (CARNEIRO, 2010). O homem se infecta quando consome, de forma acidental, vegetais contaminados com a forma infectante (FERREIRA, 2008).

Materiais e Métodos

Neste presente estudo foi realizado uma análise retrospectiva de abates de bovinos referente ao período de setembro de 2013 a julho de 2014, com dados oriundos de levantamento técnicos disponibilizados pela Divisão de Inspeção de Produtos de Origem animal – DISPOA da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação - RS. Obtendo-se assim levantamento dos números totais de bovinos (machos e fêmeas) abatidos, carcaças condenadas com detecções de lesões características de Cisticercose e Fasciolose e quanto aos destino/tratamento das carcaças condenadas. Utilizando de forma descritiva e quantitativa com avaliação estatísticas dos dados analisados, onde estes foram dispostos em planilhas e seus resultados em tabelas e, utilizando o Software Microsoft Office Excel®2013, para melhor interpretação.

Resultados e Discussão

O presente estudo retrospectivo apurou-se que durante o período de setembro de 2013 a julho de 2014, no Estado do Rio Grande do Sul foram enviados para abate em estabelecimentos com inspeção estadual o total de 3.766.045 bovinos, sendo 55,06% machos e 44,94% fêmeas, sendo abatidos no período de setembro a dezembro de 2013 um total de 1.206.901 bovinos, onde 668.281 são macho e 538.620 fêmeas, de janeiro a julho de 2014 foram abatidos 1.405.370 machos e 1.153.774 fêmeas. Passando-se pelo serviço de inspeção foram detectadas no total 12.209 carcaças com presença de lesões ocasionadas pelo Cysticercus bovis e 94.689 carcaças consideradas com lesões compatíveis para Fasciola hepatica. Para isto no período todo foram condenadas pelos serviços de inspeções 602.586 carcaças bovinas, os quais os casos de cisticercose e fasciolose representam 2,03% e 15,71% respectivamente, totalizando 17,74% equivalente as condenações das carcaças abatidas neste período, como demostra a Tabela 1. Já os demais 82,26% detém-se a outros tipos de condenações de carcaças. Quanto ao destino e ao tratamento que as carcaças condenadas receberam podem ser visualizadas na Tabela 2. Das carcaças condenadas por cisticercose 9,09% receberam tratamento a frio, e 0,62% tiveram condenação total devido à alta infecção por Cysticercus, entanto 1,38% das carcaças obtiveram outro tipo de tratamento/destino não especificado. Quanto ao destino das carcaças condenadas por fasciolose, 0,01% obtiveram tratamento por frio, 0,5% das amostras tiveram outro destino não especificado e 0,11% foram condenadas totalmente. A inspeção visa dar-se-á retirada de carcaças ou partes improprias devido a lesões compatíveis de zoonoses como a cisticercose e a fasciolose, entre outras que acarretem nas condenações que não são seguros ao consumo. Com base no Art. 176 do RIISPOA, dá-se o destino correto as carcaças ou partes com cisticercos, em com infecção intensa (um ou mais cistos vivos na mesma área) condenação total. Na rejeição parcial ocorre as infecções discretas, onde retira-se os cistos e porções circunvizinhas e nestes casos pode ser utilizado o tratamento frio: a carcaça é recolhida por 10 dias com temperatura sem oscilação de no máximo 1ºC, ou usa-se a salmoura por 21 dias. Quando há um cisto calcificado, este é retirado e a carcaça liberada para consumo. No caso de fasciolose, ocorre a condenação total do fígado com a presença do parasita. Deve-se salientar que após todos os procedimentos de tratamento, ocorre a reinspeção das peças para que haja a liberação para o consumo, caso contrário ocorre o descarte.

Conclusões

Perante aos resultados obtidos neste estudo, é possível verificar a alta incidência dos casos de fasciolose e cisticercose no rebanho gaúcho. Frente a isto, observa-se pontos como a falha no manejo parasitário bovino o qual acarreta em perdas econômicas para os frigoríficos e aos produtores devido a descontos pelas condenações; porem por outro lado verificamos a importância dos serviços de inspeções com os exames post-mortem onde retiram da mesa do consumidor uma carne que poderá trazer riscos à saúde.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRASIL. Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). Decreto nº 30.691 de 29 de mar de 1952, alterado pelo Decreto nº 1.255 de 25 de jun de 1962. Diário Oficial da União, 7 jul 1952. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/bem-estaranimal/arquivos/arquivos-legislacao/decreto-30691-de-1952.pdf>. Acessado em 10 mar. 2017. BICA, R. F. P.. Ocorrência de cisticercose, hidatidose e tuberculose em carcaças bovinas abatidas sob supervisão da Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, 2015. CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Relatório PIBAgro-Brasil. Novembro 2016. FERREIRA, C. M. Ocorrência de doenças a partir de achados de matança no estado do rio de janeiro, no período de 2002 a 2007. Trabalho apresentado ao curso de Especialização Latu sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal– Universidade Castela Branco –UCB. Rio de Janeiro 2008. TESSELE, B.; BRUM, J. S.; BARROS, C. S. L. Lesões parasitárias encontradas em bovinos abatidos para consumo humano. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 7, p. 873-889, 2013. QUEIROZ, R. P. V.; SANTOS, W. L. M.; BARBOSA, H. V.; SOUZA, R. M.; FILHO, A. M. P. S. A. Importância do diagnóstico da cisticercose bovina. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 11, n. 77, p. 12-15, 2000. GIOVANNINI, C. I.;. CARVALHO, T. S.; CABRAL, J. F.; BRASIL, R. B.; SANT, P. A. Aspectos Econômicos e Epidemiológicos da Cisticercose Bovina – Revisão de Literatura. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR, v. 2, n. 12, p. 6-12, 2014. CARNEIRO, M. B.. Estudo Epidemiológico da Fasciola hepatica em Ovinos, Caprinos e Bubalinos em Municípios da Região Sul do Espírito Santo. Dissertação de tese para o Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, 2010. RIO GRANDE DO SUL, Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI), Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Arquivo disponibilizado em meio digital, 2014. SILVA, E.R.V.; CAPOANI, R.Q.; RITZ, R.; SURIAN, C.R.S.; NEVES, M.F. Fasciolose hepatica. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Ano VI, n. 11, 2008.