Parâmetros fermentativos de ovinos confinados recebendo extrato de plantas como aditivo

Bruna Kuhn Gomes1, Laion Antunes Stella2, Ênio Rosa Prates3
1 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os extratos de plantas como aditivos moduladores da fermentação ruminal e suas alterações nos parâmetros fermentativos para ovinos confinados recebendo dieta com alto teor de concentrado. Foram utilizados 16 ovinos machos Ile de France, castrados, cinco meses de idade e peso vivo médio inicial de 21,68 + 2,00 kg. Os tratamentos aplicados foram: T1- Controle (CON), T2- Óleo de Borragem (BOR), T3- Óleo de Cártamo (CAR.) e T4- Óleo de Gergelim (GER). Foram analisados os parâmetros fermentativos: pH ruminal, N-NH3, Ácido Graxo Volátil (AGV), Acetato, Propianato, Butirato e relação acetato:proprionato. Os parâmetros ruminais dos ovinos recebendo extratos de plantas em uma dieta com alto teor de concentrado não foram alterados. Os óleos não foram capazes de reduzir a relação acetato:propionato (A:P), visando um aumento na quantidade de propianato (P=0,57). Os extratos de plantas não alteram os parâmetros fermentativos dos animais.

Palavras-chave: Alimento alternativo, Nutrição, Ruminantes

Fermentative parameters of confined sheep receiving plant extract as additive

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the plant extract as modulatory additives of ruminal fermentation and their alterations in the fermentative parameters for confined sheep receiving a high concentrate diet. Sixteen castrated Ile de France male sheep five months of age and initial mean live weight of 21.68 ± 2.00 kg. The treatments applied were: T1- Control (CON), T2- Borage oil (BOR), T3- Cartamo oil (CAR) and T4- Sesame oil (GER). The fermentation parameters were analyzed: ruminal pH, N-NH3, Volatile Fatty Acid (AGV), Acetate, Propyanate and Butyrate. The rumen parameters of ovine plants receiving plant extracts from a diet with a high concentrate content were not altered (Table 1). The oils were not able to reduce the acetate: propionate ratio (A: P), aiming for an increase in the amount of propionate (P = 0.57). Plant extracts did not alter the fermentation parameters of the animals.
Keywords: Alternative food, Nutrition, Ruminants


Introdução

Segundo o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que trata das projeções de longo prazo para produção e demanda mundial de carne, o comércio mundial de carne deve crescer 22% até 2023. Além disso o relatório aponta o Brasil como o principal exportador de carne bovina no período. A crescente preocupação com o ambiente e com a qualidade de vida levou ao surgimento da sustentabilidade agrícola. Esse novo paradigma transmite a ideia de que o desenvolvimento e o crescimento da agricultura e pecuária devem atender às necessidades desta e das próximas gerações (Santos et al., 2004). Dentro desse enfoque, estão as excessivas emissões globais de gases de efeito estufa como o metano, dióxido de carbono e compostos nitrogenados pelos ruminantes. Assim, os ganhos em produtividade devem estar relacionados à qualidade da matéria-prima, ao aumento da eficiência e redução do impacto ambiental. A utilização de extratos vegetais na alimentação tanto humana quanto animal estão associados com o conhecimento sobre os efeitos curativos de plantas no tratamento de doenças. Os fotoquímicos, como óleos essenciais, possuem compostos vegetais específicos que podem auxiliar na promoção do bem-estar, da saúde dos animais domésticos, além de poder auxiliar na diminuição dos impactos ambientais pela diminuição da produção de gases de efeito estufa dos ruminantes. A fermentação entérica de alimentos é conhecida como a principal fonte de metano antropogênico e, portanto, como um grande contribuinte para o aquecimento global (Hristov et al., 2013). Com isso, objetivou-se avaliar os extratos de plantas como aditivos moduladores da fermentação ruminal e suas alterações nos parâmetros fermentativos para ovinos confinados recebendo dieta com alto teor de concentrado.

Revisão Bibliográfica

A utilização de antibióticos na alimentação animal recebe repressão social devido as suspeitas de deixar resíduos na carne. Com isso, a utilização de aditivos naturais com funções semelhantes a dos antibióticos seria uma alternativa na dieta de ruminantes, como os extratos vegetais (Vendramini et al., 2016). Existe um grande número de extratos vegetais com atividade antibiótica que mantém a população microbiana ruminal ativa, sua atividade na estrutura da parede celular bacteriana atua alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática por íons hidrogênio, sódio e potássio. Pesquisas, utilizando os compostos químicos provenientes de extratos vegetais, isolados ou mesmo em sinergia, ou até a utilização de extratos vegetais na nutrição e manejo dos ruminantes, tornaram-se importantes nos últimos anos, apesar dos trabalhos ainda não apresentarem dados conclusivos (CONEGLIAN, 2009). Em ruminantes, grande parte dos trabalhos investiga a ação dos extratos vegetais, no metabolismo do animal, principalmente a ação desses no ambiente ruminal. Nestas condições, verificam se resultados semelhantes à utilização de ionóforos quanto aos produtos resultantes do processo fermentativo e as proporções populacionais de bactérias e protozoários no ambiente ruminal (CONEGLIAN, 2009). Esses produtos parecem exercer atividade antimicrobiana sobre bactérias gram negativas e gram positivas e estudos indicam que os extratos vegetais modificam a concentração de ácidos graxos voláteis (EVANS & MARTIN, 2000). As pesquisas com compostos secundários de plantas in vitro foram bem aprofundas pela ciência nos últimos anos, trazendo resultados satisfatórios em relação aos gases de efeito estufa. Porém, poucos trabalhos avaliaram in vivo o potencial de extratos de plantas como moduladores da metanogênese em ruminantes.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no laboratório de ruminantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O experimento foi realizado de 7 de maio até 6 de julho de 2016, em dois períodos experimentais de 23 dias cada, sendo os 14 dias inicias  para adaptação dos animais aos tratamentos. Foram usados 16 ovinos machos Ile de France, castrados, cinco meses de idade e peso vivo médio inicial de 21,68 + 2,00 kg. Os animais foram alocados em baias individuais, suspensas do chão e dispunham de comedouros separados para o fornecimento de alimento e água. Os animais foram divididos em 4 tratamentos: T1- Controle (CON), T2- Óleo de Borragem (BOR, Borago officialis), T3- Óleo de Cártamo (CAR, Carthamus tinctorius L.) e T4- Óleo de Gergelim (GER, Sesamum indicum L.). Para os animais dos tratamentos que ganhavam óleo eram administrados 1 ml por dia de seu correspondente óleo. A dieta foi fornecida em duas refeições diárias, individuais sendo composta por: 58% de milho grão inteiro, 10,9% de farelo de soja, 30% de feno de alfafa, 1% de sal mineral e 0,1% de calcário. A oferta permitia no mínimo 5% de sobras. O sal e a água eram fornecidos ad libitum e a dieta foi formulada de modo a promover um ganho de 200g diário para cordeiros machos. As amostras de fluído ruminal foram coletadas 3 horas após a alimentação da manhã de todos os animais, a cada 2 semanas. As amostras de líquido ruminal foram obtidas usando uma sonda oroesofágica, filtradas, e determinado o pH. As amostras foram divididas em duas alíquotas, acidificadas e congeladas para a determinação de N-NH3 e AGV. A concentração de N-NH3 foi obtida pela destilação com óxido de magnésio, utilizando-se ácido bórico como solução receptora e ácido clorídrico 0,01N na titulação. As concentrações dos AGV – ácido acético (C2), ácido propiônico (C3) e ácido butírico (C4) foram determinadas por cromatografia líquida de alta performance (HPLC) em cromatógrafo (Shimadzu® modelo 14-B) equipado com detector UV, pré-coluna e coluna (Aminex HPX-87H, BioRad®). O ácido sulfúrico foi utilizado como eluente na concentração de 0,01 molar, em uma taxa de fluxo de 0,6 mL/mim e em temperatura de operação de 50ºC. A detecção do comprimento de onda foi ajustada a 210 nm. As concentrações dos AGV foram calculadas a partir de curvas de calibração usando padrões (Sigma®, grau analítico) nas concentrações de 0,1 a 2,5 g/L.

Resultados e Discussão

Os parâmetros ruminais dos ovinos recebendo extratos de plantas em uma dieta com alto teor de concentrado não foram alterados (tabela 1). Os óleos não foram capazes de reduzir a relação acetato:propionato (A:P), visando um aumento na quantidade de propionato (P=0,57). Houve uma tendência de redução do butirato nos tratamentos que recebiam extratos (P=0,08). O pH ruminal está diretamente relacionado com os produtos finais da fermentação, assim como a taxa de crescimento dos microrganismos ruminais, podendo variar de 5,5 a 7,2 com valores mais baixos observados logo após a alimentação dos animais com dietas ricas em concentrados devido sua rápida fermentação (Hoover & Stokes, 1991). Neste estudo não houve diferença no pH ruminal (P>0,05) entre os extratos de plantas, porém o pH ruminal se manteve dentro dos padrões fisiológicos da espécie. Não houve diferença significativa (P>0,05) no parâmetro nitrogênio amoniacal (N-NH3). A determinação da concentração de N-NH3 é uma ferramenta para avaliar o balanceamento energético e proteico da dieta. Segundo Satter & Slyter (1974) os níveis mínimos ideais de nitrogênio no líquido ruminal para a máxima fermentação microbiana seriam 5 mg/dL. Concentrações menores que essa limitariam a atividade de bactérias celulolíticas no rúmen acarretando em uma diminuição da síntese microbiana. A concentração de Ácidos Graxos Voláteis (AGV) também não foi alterado significativamente, diferente do encontrado por Chaves et al. (2008) utilizando carvacrol e cinamaldeído na dieta de ovinos foram capazes de aumentar o teor de AGV (P<0,01), principalmente proprionato. Sahraei et al. (2014) ao adicionarem diferentes níveis de óleo de alecrim na dieta de ovinos encontraram efeito positivo na fermentação ruminal, porém em uma baixa dosagem o óleo apresentou efeitos adversos na fermentação ruminal.

Conclusões

Os extratos de plantas não alteram os parâmetros fermentativos dos animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

CHAVES, A.V. et al. Effects of carvacrol and cinnamaldehyde on intake, rumen fermentation, growth performance, and carcass characteristics of growing lambs Animal Feed Science and Technology, v.145, p.396–408, 2008. CONEGLIAN, S. M. Uso de Óleos Essenciais de Mamona e Caju em dietas de Bovinos. 2009. 100f. Tese (Doutorado em Zootecnia). Universidade Estadual de Maringá, Maringá. 2009. EVANS, J.D.; MARTIN, S.A. Effects of thymol on ruminal microorganisms. Current Microbiology, v.41, p.336–340, 2000. HRISTOV, A. N et al. Mitigation of methane and nitrous oxide emission from animal operations: I. A review of enteric methane mitigation options. Journal of animal science, v.91, p.5045-5069, 2013. HOOVER, W. H. & STOKES, S. R. Balancing carbohydrates and proteins for optimum rumen microbial yield. Journal Dairy Science, v. 74, n.10, p. 3630-3644, 1991. SAHRAEI, M.; PIRMOHAMMADI, R.; PAYVASTEGAN, S. The effect of rosemary (Rosmarinus officinalis L.) essential oil on digestibility, ruminal fermentation and blood metabolites of Ghezel sheep fed barley-based diets. Spanish Journal of Agricultural Research, v.12, p.448-454, 2014. SANTOS, E.D.G. et al. Consumo, digestibilidade e parâmetros ruminais em tourinhos limousin-nelore, suplementados durante a seca em pastagem diferida de Brachiaria decumbens stapf. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.3, p.704-713, 2004. SATTER, L.D. & SLYTER, L.L. Effect of ammonia concentration on rumen microbial production in vitro. British Journal of Nutrition, v.32, n.2, p.199-208, 1974 VENDRAMINI, T.H.A. et al. Effects of a blend of essential oils, chitosan or monensin on nutrient intake and digestibility of lactating dairy cows. Animal Feed Science and Technology. 214, 12-21, 2016.