Parâmetros hematológicos e hormonais de ovinos criados em ambiente com e sem sombrite e suplementados com diferentes níveis de proteína

Dyjoan Whenys Dias Assunção1, Rachel de Sousa Lima Pulcherio2, Janaina Januário da Silva3, Fabiana Gomes da Costa4, Marinaldo Divino Ribeiro5, Roberta Martin Gomes Silva Borges6, Genésio de Cássio Souza Cássio Souza Cruz7, Henrique Perez Leal8
1 - Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia de Mato Grosso
2 - Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia de Mato Grosso
3 - Universidade Federal do Mato Grosso
4 - Universidade Federal do Mato Grosso
5 - Universidade Federal do Mato Grosso
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RESUMO -

Objetivou-se verificar se a presença ou ausência de sombrite afetam as respostas hematológicas e hormonais e se o nível de proteína no suplemento melhora o desempenho de ovinos. O estudo foi conduzido no IFMT Campus São Vicente, de março a maio de 2016. Foram utilizados 20 animais Santa Inês x Dorper, em pastejo contínuo, distribuídos em quatro tratamentos: T1: Radiação solar direta + 15% de PB no suplemento; T2: Sombrite + 15% de PB no suplemento; T3: Radiação solar direta + 25% de PB no suplemento; T4: Sombrite + 25% de PB no suplemento. As médias de temperatura do bulbo seco e úmido e globo negro foram respectivamente, 28,31°C; 23,57°C e 52,02°C pela manhã e 32,94°C; 20,89°C e 50,51°C a tarde, estando acima da zona de conforto térmico para a espécie. Não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos, evidenciando que os animais deste experimento estavam adaptados ao clima, porém, a utilização de sombreamento ocasionou um aumento de 20% no ganho de peso.

Palavras-chave: bem-estar, cortisol, estresse calórico, hemograma, ovinocultura.

Haemathological and hormonal parameters of sheep raised with and without artificial shadow and supplemented with different protein levels

ABSTRACT - The objective was to verify if the presence or absence of artificial shade affects the haemathological and hormonal responses and if the protein level in supplement increases the performance of sheep. The study was conducted at the IFMT Campus São Vicente, from March to May 2016. Twenty animals Santa Inês x Dorper were used in continuous grazing, distributed in four treatments: T1: Direct solar radiation + 15% CP in the supplement; T2: Artificial shade + 15% CP in supplement; T3: Direct solar radiation + 25% CP in supplement; T4: Artifitial shade + 25% PB in the supplement. The temperature averages of the dry, wet bulb and black globe were, respectively, 28.31 °C; 23.57 °C and 52.02 °C (morning) and 32.94 °C; 20.89 °C and 50.51 °C (afternoon), being above the zone of thermal comfort for the species. There was no difference (P>0.05) between the treatments, showing that the animals of this experiment were adapted to the weather, however, the use of shading increased 20% in weight gain.
Keywords: welfare, cortisol, heat stress, hemogram, sheep production.


Introdução

A ovinocultura em Mato Grosso tem tido uma considerável expansão, porém, o clima quente é um ponto desfavorável à produtividade. Starling et al. (2005), associam o baixo desempenho dos rebanhos nas regiões tropicais à alta temperatura, alta umidade relativa do ar e radiação solar intensa, que causam estresse calórico durante quase todo o ano, diminuindo a produção (Roberto et al., 2010). Altas temperaturas podem interferir no consumo de alimentos, no ganho de peso, nas taxas reprodutivas e na produção (Souza Junior et al., 2008) e a concentração e a qualidade da proteína bruta (PB) na dieta podem modificar o consumo de alimentos pelos ruminantes (Roseler et al., 1993). Assim, como os animais consomem menos alimento nos períodods mais quentes, o aumento da quantidade de proteína dietética pode compensar a baixa ingestão, mantendo a produtividade do rebanho. O estresse provocado pelo calor pode alterar a concentração dos elementos constituintes do sangue como, por exemplo, a concentração plasmática de cortisol e do hemograma (Starling et al, 2005; Ferreira et al., 2009; Roberto et al., 2010), sendo uma ferramenta importante para a avaliação do grau de estresse térmico do animal (Ferreira et al., 2009; Roberto et. al. 2010). Diante do exposto, objetivou-se avaliar se e a presença ou ausência de sombrite afetam as respostas hematológicas e hormonais e se diferentes níveis de proteína bruta na dieta melhoram o desempenho de borregos.

 



Revisão Bibliográfica

A preocupação com conforto térmico e bem-estar animal estão cada vez maiores, buscando-se estratégias que visam melhorar o ambiente como o uso de sombreamento. Animais fora da zona de conforto térmico podem apresentar redução do consumo alimentar, perda de peso, crescimento retardado, problemas reprodutivos, entre outros (Souza Junior et al., 2008). Além do estresse térmico, o nível e a qualidade da proteína dietética podem alterar o consumo alimentar dos ruminantes, modificando tanto o mecanismo físico, como o fisiológico do rúmen (Roseler et al., 1993). Dessa forma, uma melhora nos teores de proteína na dieta propiciam aumento no consumo, melhora a conversão alimentar e o ganho de peso (Zundt et al., 2001). É importante quantificar o estresse calórico, bem como a forma apropriada para mensurar os limites fisiológicos da exposição dos animais ao estresse, com o objetivo de otimizar a resposta animal para que possa expressar seu potencial genético e apresentar uma melhor produção (Ferreira et al., 2009). O sistema sanguíneo é particularmente sensível às mudanças de temperatura, e se constitui em um importante indicador das respostas fisiológicas a agentes estressores. Alterações quantitativas e morfológicas nas células sangüíneas são associadas ao estresse calórico, traduzidas por variações nos valores do hematócrito, número de leucócitos circulantes, conteúdo de eritrócitos e teor de hemoglobina no eritrócito (Iriadan, 2007). Quanto maior a solicitação física do animal maior será o valor do hematócrito por causa da perda de líquidos através da forma evaporativa (Ferreira et al., 2009). O aumento da temperatura ambiente e do estresse calórico também elevam a secreção do hormônio cortisol, provocando uma série de efeitos no metabolismo do animal que alteram seu comportamento e bem-estar (Starling et al., 2005). Alguns autores demonstraram que, sob altas temperaturas, na fase aguda do estresse térmico, ocorrem elevação da concentração sanguínea de cortisol (Ferreira et al, 2009). Assim, os parâmetros sanguíneos têm sido utilizados mundialmente para avaliar o estado de saúde dos animais e também como indicadores de estresse calórico (Paes et  al., 2000), inclusive porque fatores como a idade, raça, sexo e estado fisiológico podem influenciar na concentração dos constituintes sanguíneos (Ferreira et al., 2009; McManus et al., 2009).

Materiais e Métodos

O estudo foi conduzido no setor de ovinocultura do IFMT Campus São Vicente, entre março e maio de 2016. Foram utilizados 20 animais Santa Inês X Dorper, não castrados, com peso médio de 22,8 kg, em piquetes com Brachiaria cv decumbens por 60 dias e distribuídos em quatro tratamentos: T1: Radiação solar direta + 15% de proteína bruta (PB) no suplemento; T2: Sombrite + 15% de (PB) no suplemento; T3: Radiação solar direta + 25% de PB no suplemento; T4: Sombrite + 25% de PB no suplemento. O sombrite utilizado era uma tela com 80% de proteção do sol, posicionado no meio dos piquetes, medindo de 3x5m e altura de 1,5m do solo. O suplemento era composto por milho moído, farelo de soja, ureia e mistura mineral, sendo fornecido no período da manhã na quantia de 1% do peso corporal dos animais. Os animais foram pesados em jejum no início e no final do experimento para avaliação do desempenho. No ambiente foi calculado o índice de umidade e temperatura (ITU) (Marai et al., 2007) através da equação: ITU T °C – [(0,31 – 0,31.UR) (T °C – 14,4)]; (T°C = bulbo seco e UR% = umidade relativa do ar). As coletas foram feitas diariamente às 10 e às 14 horas, através do Psicrómetro. Foi obtida uma amostra de sangue no primeiro dia do experimento e outra no último de cada animal, por venopunção da jugular, sendo colocadas em um tubo seco e outro com EDTA e enviadas sob refrigeração até um laboratório comercial (Cedivet®) para análise. O hematócrito foi obtido por microcentrifugação capilar de sangue. Os outros valores do hemograma foram obtidos por citometria de fluxo. As concentrações séricas de cortisol foram dosadas por imunoensaio quimioluminescente. O delineamento foi o inteiramente casualisado (DIC), em esquema fatorial 2 x 2 (níveis de PB e com ou sem sombrite). Os resultados foram submetidos à análise de variância, com o procedimento PROC GLM (SAS, 2001) nos exames de sangue e para o ganho de peso utilizou-se o software R. As médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5%.

Resultados e Discussão

As temperaturas médias do bulbo seco e úmido e globo negro foram respectivamente, 28,31 ºC; 23,57 ºC e 52,02 ºC pela manhã e 32, 94 ºC; 20,89 ºC e 50,51 ºC durante a tarde. A umidade relativa foi de 59,6% pela manhã e 37,76% de tarde. Acima 30 ºC, os animais ativam mecanismos termoregulatórios (Baêta e Souza, 1997). O índice de temperatura e umidade (ITU) dos períodos da manhã (77,35) e tarde (78,75) se encontraram acima da média considerada ideal para o bem-estar animal. Em ambientes com ITU acima de 79,5, os animais se tornariam hipertérmicos (Mendes, 2014). Os resultados dos exames realizados no experimento estão descritos nas tabelas 1. Não houve diferença estatística para as variáveis analisadas (p>0,05). A inclusão dos diferentes níveis de PB no suplemento e a presença ou não de sombra não interferiram nos parâmetros analisados (hemograma e cortisol). O exame de sangue é utilizado como indicador de estresse calórico (Paes et al., 2000) e, na fase aguda, ocorrem alterações hematológicas (Ferreira et al., 2009). Porém, Uribe-Velasques et al. (1998), verificaram que a concentração plasmática de cortisol em cabras submetidas ao estresse térmico não aumentou. Assim, observa-se a partir desses resultados que os animais deste experimento estavam adaptados ao clima, não evidenciando nenhuma alteração que indicasse o estresse térmico. A reação ao estresse térmico difere entre os animais, alterando os parâmetros fisiológicos (Roberto et al.,  2010). Alguns estudos em ovinos demonstraram que a raça afeta a tolerância ao calor, existindo grupos de animais com maior ou menor tolerância (McManus et al., 2009). Não houve efeito da interação (P>0,05) entre o uso de sombrite e a inclusão dos níveis de PB no suplemento para o ganho de peso total de borregos criados em sistema de pastejo (Tabela 2). Contudo, a utilização de sombreamento ocasionou um aumento de 20% no ganho de peso. De acordo com Souza et al. (2005) as alterações no ambiente natural são essenciais para melhorar o desempenho dos animais, onde a eficiência produtiva é maior quando estes se encontram em condições de conforto térmico e não precisam acionar os mecanismos termorreguladores. A manutenção dos ovinos em crescimento em condições de pastejo deve prever a suplementação estratégica como forma de melhorar o desempenho animal. Segundo Neiva et al. (2004), o tipo de dieta influencia a susceptibilidade dos animais aos efeitos climáticos mesmo no caso de animais deslanados de raças originarias de regiões tropicais como a Santa Inês e seus cruzamentos.

Conclusões

Conclui-se com este trabalho que o cruzamento Santa Inês x Dorper origina animais adaptados ao clima tropical e que a presença de sombrite melhorou em 20% o desempenho dos animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

Baeta, F. C. e Souza, C. F. 1997. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. UFV, Viçosa.

Ferreira, F.; Campos, W. E.; Carvalho, A. U.; Pires, M. F.; Martinez, M. L.; Silva, M. V. G. e Silva, P. F. 2009. Parâmetros clínicos, hematológicos, bioquímicos e hormonais de bovinos submetidos ao estresse calórico. Arq. Bras. Med. Vet. e Zoot., 61(4): 769-776.

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Uribe-Velasques, L. F.; Oba, E.; Brasil, L. H. D.; Wechsler, F. S. e Stachissini, A. V. M. 1998. Concentrações plasmáticas de cortisol, hormônios tiroídeanos, metabólitos lipídicos e temperatura corporal de cabras alpinas submetidas ao estresse térmico. Rev. Bra. Zoot. 27(6): 1123-1130.

 

Zundt, M.; Macedo, F. A. e Mexia, A. A. 2001. Digestibilidade total aparente in vivo de dietas contendo diferentes níveis protéicos em ovinos. In: 38ª Reunião anual da sociedade brasileira de zootecnia. SBZ, Piracicaba.