PARÂMETROS SANGUÍNEOS E MORFOMETRIA DE CAPRINOS SAANEN EM FUNÇÃO DO SEXO

Erica Beatriz Schultz1, Gilberto de Lima Macedo Junior2, Carina Gonçalves de Paula3, Wendell Fernando Guimaraes da Cruz4, Marina Elizabeth Barbosa Andrade5, Luciano Fernandes Sousa6, Simone Pedro da Silva7, Karla Alves Oliveira8
1 - Universidade Federal de Viçosa
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Autonoma
4 - Universidade Federal de Lavras
5 - Universidade Estadual Paulista
6 - Universidade Federal do Tocantins
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se com esse estudo avaliar o consumo, eficiência alimentar, o perfil metabólico proteico, energético, hepático e mineral e a morfometria de caprinos macho e fêmea da raça Saanen na fase de recria em diferentes períodos. Seis machos e seis fêmeas com peso médio inicial de 12 kg e 14 kg respectivamente, foram alojados em baias coletivas. O delineamento utilizado foi o inteiramente ao acaso com parcelas subdividida, a diferença entre sexo na parcela e nas subparcelas os períodos. As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%. A classe sexual afetou os valores colesterol, lipoproteína de ala densidade (HDL) e albumina, sendo os valores nas fêmeas superiores aos machos. Os valores na interação sexo e período foram maiores nas fêmeas para largura de peito aos 15 e 30 dias, para lipoproteína de baixa densidade (LDL) aos 45 dias e para ureia aos 45 e 90 dias. Para os machos os valores de gama glutamil transferase (GGT) foram maiores em 0 e 15 dias. A classe sexual demonstrou que caprinos em recria não apresentaram diferenças para as medidas biométricas e as concentrações hepáticas e minerais. As diferenças ocorreram para os teores de albumina e HDL. Oscilações ocorreram para largura de peito, LDL e GGT nos períodos avaliados.

Palavras-chave: Capra hircus. Proteico. Energético. Hepático. Biometria.

PARAMETERS OF BLOOD AND MORPHOMETRY OF THE SAANEN GOATS IN SEX ROLE

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the intake, feed efficiency, protein metabolic profile, energetic, liver, mineral and morphometry of male and female Saanen goats in the growing phase at different times. Six males and six females with initial average weight of 12 kg and 14 kg respectively, were housed in collective pens. The design was entirely randomized with subdivided plots, the difference between sex in the plot and subplots periods. The treatment means were compared by 5% Tukey test. The sexual class affected cholesterol, high density lipoprotein (HDL) and albumin, and the amounts in females upper to males. The values in the interaction sex and period were higher in females for breast width at 15 and 30 days, to 45 days for low density lipoprotein (LDL) and urea at 45 and 90 days. For males gamma glutamyl transferase (GGT) values were higher at 0 and 15 days. The sexual class showed that in growing goats did not differ for biometric measurements and liver and mineral concentrations. The differences occurred for albumin levels and HDL. Fluctuations occurred for breast width, LDL and GGT in periods.
Keywords: Capra hircus. Hepatic. Protein. Energy. Biometrics.


Introdução

Nos últimos anos, a caprinocultura tem demonstrado uma satisfatória evolução na criação e comercialização dos produtos advindos da atividade, porém ainda são escassos os estudos nacionais relacionados à bioquímica sérica (Silva, Fagliari e Cesco, 2004) e as medidas corporais biométricas em caprinos macho e fêmea Saanen na fase de recria. A maioria dos estudos se refere ao período neonatal e ao período de lactação das fêmeas. A raça caprina Saanen geralmente apresenta uma menor cobertura muscular em relação às raças produtoras de carne (Costa et al., 2008). Contudo, quando manejadas adequadamente, podem atingir ganhos de peso satisfatórios e boa conformação de carcaça (Pereira Filho et al., 2005). Nessa raça, cabritos machos são geralmente descartados ao nascer por não apresentarem carcaça satisfatória que justifique o custo de criação para comercialização. Entretanto, com o aumento da procura por alimentos com características saudáveis, principalmente com baixo teor de gordura, a carne caprina tem ganhado mercado ultimamente (Menezes et al., 2007). As medidas biométricas permitem comparações entre tipos raciais, pesos e idades ao abate, sistemas de alimentação e correlações com outras medidas ou com os tecidos constituintes da carcaça, possibilitando estimar suas características (Silva e Pires, 2000). A mensuração dessas variáveis, podem ser obtidas por meio das medidas morfológicas in vivo (Pinheiro et al., 2007) ou pelas medidas na carcaça. A utilização do perfil metabólico sanguíneo dos caprinos é de suma importância para monitoramento das principais vias bioquímicas, energética, proteicas, hepáticas e minerais e para entendimento do status nutricional do rebanho (NRC, 2007), além da funcionalidade de órgãos vitais, para a produção de leite e/ou carne.

Pesquisas no intuito de se conhecer a potencialidade de desempenho de caprinos para ganho de peso, desenvolvimento corporal, eficiência alimentar e perfil bioquímico possibilitam a intensificação da atividade caprinocultura, que ainda apresenta baixos índices de exploração no país, quando comparada à bovinocultura.  Objetivou-se com esse estudo avaliar o consumo, eficiência alimentar, o perfil metabólico proteico, energético, hepático e mineral e a morfometria de caprinos macho e fêmea da raça Saanen na fase de recria em diferentes períodos.



Revisão Bibliográfica

O processo de crescimento seja ele celular, fetal, tecidual acontece de forma complexa e dinâmica. Quando consideramos os animais de produção, é possível quantificar o crescimento especifico de músculos, glândula mamária, gordura e outras características de carcaça, permitindo aperfeiçoar o sistema e o retorno financeiro (Lawrence et al., 2012). O desempenho animal está atrelado ao potencial genético e aos fatores ambientais, assim a diversidade se propaga através de raças especializadas em produção de carne ou leite e adaptação á diferentes faixas de temperatura e disponibilidade de alimento. Dentre as características de importância no crescimento tecidual de animais de mesma condição genética e ambiental a classe sexual é um fator relevante. Em estudo realizado com bovinos sabe-se que o sexo exerce influência sobre as taxas de crescimento e consumo dos animais. As fêmeas são de maturidade mais precoce e apresentam deposição de gordura mais cedo que os machos (Paulino, Valadares Filho e Detmann, 2009). Animais não-castrados tendem a apresentar superioridade na taxa de crescimento quando comparados aos machos castrados ou fêmeas, dentro de um mesmo grupo, devido ao efeito anabólico do hormônio masculino testosterona sobre a proteína corporal (Fletcher, Lobley e Connell, 1986). Para quantificar diferenças de ganho técnicas são utilizadas, a pesagem é a mais usual tanto em técnicas experimentais quanto a campo (Lawrence et al., 2012). Outras técnicas de mensuração têm sido utilizadas como medidas corporais por exemplo circunferência torácica, altura de posterior e anterior e outras que expressão o crescimento ao longo do tempo. O rebanho caprino apesar da estabilidade no número de cabeças no país nos últimos anos dez anos, apresentam potencial para aumento no consumo da carne, leite e seus derivados. Segundo Yáñez et al. (2004) as mensurações do animal in vivo permitem predizer características da carcaça podendo influenciar no preço de venda do produto, modificando a percepção visual do consumidor e favorecendo o consumo de carne caprina. A nutrição determina o aporte de nutrientes líquido para diferentes estágios fisiológicos, dentro deste contexto deve ser considerado que caprinos classificados como selecionadores intermediários diferenciam o seu hábito alimentar dos demais ruminantes domésticos, como bovinos e ovinos (Silva et al., 2009). Tal diferença pode refletir nos resultados das fases de crescimento em caprinos, se submetidos a diferentes planos nutricionais ou de diferentes classes sexuais. Outra questão importante de adotar estratégias nutricionais para animais em crescimento é utilizar de ferramentas eficientes que atendam às exigências, para reduzir as taxas de mortalidade, melhorar a eficiência reprodutiva, antecipação na idade ao primeiro parto, nas taxas de ganho de peso e idade ao abate (Moreira et al., 2008). Na tentativa de compreender como o fluxo de nutrientes pode modificar a forma de crescimento dos animais, principalmente trabalhando com ruminantes quando comparados à monogástricos, é possível observar algumas particularidades. A principal é o processo fermentativo através da microbiota ruminal, com a produção de ácido graxos voláteis diferentes produtos são gerados para digestão e metabolismo. No trabalho apresentado por González (2000) foi observado à necessidade de rebanhos de leiteiros obterem um correto balanço nutricional, tendo em vista as doenças metabólicas geradas por um desequilíbrio entre os ingredientes que ingressam no organismo animal, sendo estes glicídios, proteínas, minerais e agua. Muitas destas doenças são de difícil percepção e atuam limitando a produção provocando impactos econômicos gerais. Para detectar tais problemas o uso de perfis metabólicos, permitiu estabelecer por meio de análises sanguíneas como triglicerídeos, albumina, ureia e outras diversas variáveis coletadas de grupos representativos de um rebanho, e seu grau de adequação nas principais vias metabólicas relacionadas com energia, proteínas e minerais, bem como a funcionalidade de órgãos vitais como o fígado. Diante destes estudos é possível entender a aplicação de análises tanto biométricas quanto de parâmetros metabólicos e relaciona-los ao crescimento e potencial produtivo da caprinocultura.

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado na Fazenda experimental Capim Branco no setor de Caprinos e Ovinos da Universidade Federal de Uberlândia, MG, no período de novembro a fevereiro de 2012. Doze caprinos da raça Saanen, sendo seis machos inteiros e seis fêmeas com peso médio inicial de 12 kg e 14 kg respectivamente, foram alojados em baias coletivas (baias cimentadas, com bebedouro, saleiro, comedouro e maravalha como cama), vacinados e vermifugados 15 dias antes do início do experimento. A dieta foi fornecida às 8 e 16 h, com ajustes diários para permitir média de 10% de sobra. A ração foi balanceada para atender as necessidades dos animais, seguindo as recomendações do NRC (2007) para ganhos diários de 150 gramas. Água e suplementação mineral foram fornecidos à vontade. As análises de matéria seca, proteína bruta, nutrientes digestíveis totais, fibra em detergente neutro, cálcio e fósforo foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da UFU, segundo Silva e Queiroz (2002). Diariamente, foram realizadas pesagens das quantidades do volumoso fornecido e das sobras de alimento para determinação do consumo e da eficiência alimentar. Nos períodos de 0, 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias realizou-se medidas in vivo com os animais em pé sobre uma superfície plana, antes da primeira alimentação do dia. Determinou-se a altura do anterior (AA): distância entre a região da cernelha e a extremidade distal do membro anterior; altura de posterior (AP): distância entre a tuberosidade sacra e a extremidade distal do membro posterior; circunferência torácica (CT): circunferência tomando-se como base o esterno e a cernelha, passando a fita métrica por trás da paleta; circunferência do barril (CB): circunferência da porção ventral, entre a décima e a décima primeira vértebra; largura de peito (LP): distância entre as faces laterais das articulações escápulo-umerais; comprimento corporal (CC): distância entre a articulação cérvico-torácica e a base da cauda e perímetro escrotal (PE): perímetro tomando-se como base a porção de maior diâmetro do escroto. Para os cálculos de peso vivo (PV), os animais foram pesados em jejum de 12 horas. O consumo médio semanal (CMS) foi feito pela subtração do ofertado pelas sobras em cada dia da semana na baia dos caprinos machos e das fêmeas. Com esse valor, somou-se os sete dias e dividiu pela quantidade de animais da baia, para se obter o consumo médio por animal. A eficiência de consumo (EC) foi feita pelo consumo de matéria seca dividido pelo ganho de peso em cada mesmo período. Para a determinação das concentrações séricas dos metabólitos proteicos (ureia, ácido úrico, albumina, creatinina, proteínas totais, globulina e relação albumina/globulina- A/G), energéticos (colesterol, triglicerídeos, lipoproteína de alta densidade-HDL, lipoproteína de baixa densidade-LDL, lipoproteína de muito baixa densidade-VLDL e relação LDL/HDL), hepáticos (fosfatase alcalina-FA, transaminase glutâmica oxalacética-TGO e gama glutamil transferase-GGT) e minerais (cálcio-Ca, fósforo-P e magnésio-Mg) foram realizadas coleta de sangue por venopunção da jugular, em tubo Vacutainer® com gel separador para obtenção de soro. Essas foram feitas às 8:00 horas da manhã, com os animais em jejum, nos períodos de 0, 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias. Após cada coleta, o sangue foi centrifugado, pipetado e armazenado em microtubos Eppendorf® e imediatamente congelado, para posterior análise. Todas as análises foram processadas em analisador automático (Cobas Integra, Roche Diagnostics - Basel, Switzerland), utilizando kits comerciais específicos Lab Test. Os tratamentos consistiram na diferença sexual (macho e fêmea). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso com parcelas subdividida, a diferença entre sexo na parcela e nas subparcelas os períodos. As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. As médias entre os períodos foram comparadas com análise de regressão. As médias de consumo e eficiência alimentar (EA) calculados a partir consumo matéria seca (CMS) / ganho de peso(GP) foram apresentadas de forma descritiva.

Resultados e Discussão

Não houve diferença significativa entre macho e fêmea para as características de altura do anterior, altura do posterior, circunferência torácica, comprimento corporal, circunferência do barril e perímetro escrotal (Tabela 1). As medidas biométricas permitem conhecer o desenvolvimento das diferentes partes que compõem o exterior dos animais e predizer o peso vivo e as características da carcaça (Menezes et al., 2007). Cunha et al. (2004) trabalhando com cabritos Saanen e mestiços Boer x Saanen verificaram que a diferença entre sexo foi superior apenas para atingir o peso final, os machos obtiveram o peso médio final superior às fêmeas. Já Medeiros et al. (2005) observaram que os machos foram mais pesados que as fêmeas nas três etapas avaliadas. Os machos foram 5,8%, 10,5% e 12,0% mais pesados do que as fêmeas ao nascer, na desmama e ao abate, respectivamente. Em relação aos períodos, apenas as medidas de comprimento corporal e circunferência do barril apresentaram diferença estatística aos 75 e 90 dias sendo as medidas superiores aos períodos de 0 e 15 dias. Com o avanço da idade certas características corporais tendem a se estabilizar, porém características como o comprimento corporal e comprimento de barril, continuam a acompanhar o ganho de peso dos animais. Infere-se que quanto maior a medida de circunferência do barril maior será a capacidade de consumo e armazenamento do alimento. Implicando em possíveis elevações nas taxas de ganho. Menezes et al. (2007) realizando medidas biométricas em caprinos de diferentes raças e em diferentes períodos obteve incremento nas medidas de comprimento corporal e nas demais características avaliadas durante os períodos de estudo.  Yáñez et al. (2004), trabalhando com cabritos Saanen com peso médio de 20 kg, encontraram valores de altura do anterior, altura do posterior, circunferência torácica e comprimento corporal de 59,9, 56,9, 61,5 e 55,8, respectivamente, semelhantes ao deste trabalho. Em relação às medidas de largura de peito, ocorreu diferença nos períodos de 15 e 30 dias, sendo as medidas das fêmeas superiores as dos machos (Tabela 1). De modo geral percebe-se que a diferença entre sexos tende a desaparecer com o aumento da idade.  Yáñez et al. (2004) trabalhando com cabritos inteiros Saanen obtiveram valores 14,9 ± 1,4 cm para largura de peito, com animais aos 16,2 ± 1,25kg, valores semelhantes aos obtidos nesse trabalho no período de 30 dias para os machos, com peso de 14,80 kg. Menezes et al. (2007) em pesquisa com diferentes grupos raciais de elevado porte e de alto potencial de crescimento em sistema de confinamento obtiveram valores médios para largura de peito de 26,6 cm (macho) e 25,0 cm (fêmea) com animais de 14,63 kg, valores esses superiores aos encontrados nesse trabalho, provavelmente pela menor cobertura muscular das raças leiteiras quando comparadas as raças produtoras de carne. No presente estudo tanto os machos quanto as fêmeas apresentaram crescimento linear da largura do peito em função do período experimental. Em valores numéricos os machos (início período experimental 3,07 e final período experimental 9,19 CMS/GP); apresentaram melhor eficiência do alimento consumido sobre o ganho de peso quando comparados às fêmeas (início período experimental 3,61 e final período experimental 6,01 CMS/GP). Ou seja, os machos consumiram menos alimento (Figura 2) e obtiveram maior ganho de peso, vale ressaltar que esses iniciaram o experimento com 12 kg e terminaram praticamente com o mesmo peso das fêmeas que no início pesavam 14 kg. Hachimoto et al. (2007) trabalhando com cabritos machos e fêmeas (Boer x Saanen), observaram maior ingestão de matéria seca para as fêmeas. Houve diferença entre sexo para o colesterol e o HDL (Tabela 2), sendo os valores para as fêmeas superiores aos dos machos. Tais efeitos são atribuídos ao acúmulo de gordura mais precoce nas fêmeas em relação aos machos, que ocorre devido aos fatores hormonais e reprodutivos (Paulino et al. 2009). Uribe-Velásquez, Oba e Brasil (1998) encontraram valores de colesterol e HDL de 86,87mg/dL e 40,02 mg/dL, para HDL em cabras Alpinas, superiores ao desse estudo. Gressler et al. (2015) pesquisando a influência de cinco diferentes dietas de curto prazo sobre ganho de peso e perfil bioquímico 70 ovelhas mestiças Santa Inês encontraram valores de HDL que variaram de 34,93±6,39 mg/dl, valores que se encontram dentro da normalidade segundo Ghoreishi et al. (2007). Em relação aos metabolitos energéticos nos diferentes períodos, não houve diferença estatística. Os animais estavam na puberdade, fase em que se inicia a produção dos hormônios sexuais, que têm como precursores as fontes energéticas, o uso dessas fontes energéticas faz com que os níveis dos metabolitos energéticos variem pouco. Os valores de LDL (Tabela 2) foram superiores paras as fêmeas, comparadas aos machos a partir do período de 45 dias, devido provavelmente ao acúmulo mais precoce de gordura das fêmeas. Gressler et al. (2015) com o intuito de pesquisar a influência de cinco diferentes dietas de curto prazo sobre ganho de peso e perfil bioquímico 70 ovelhas mestiças Santa Inês encontraram valores de LDL que variaram de 14,71 a 45,21 mg/dL, inferiores aos encontrados nesse trabalho. Houve efeito da classe sexual somente sobre a concentração de albumina (Tabela 3), sendo que as fêmeas obtiveram valores superiores aos machos. Segundo González (2000) a albumina é a proteína circulante mais abundante, é metabolizada pelo fígado e representa ótimo indicativo da quantidade de proteína no animal. Essa proteína esterifica a maior parte dos lipídeos no organismo, é provável que as fêmeas apresentaram maior quantidade de lipídeos circulantes. O que seria normal por se tratar de fêmeas próximas a fase da puberdade. Yanaka et al. (2012), trabalhando com cabritos da raça Boer, com idade de 75 dias encontram valores de albumina de 2,89 g/dL, superior ao encontrado nesse estudo. Os valores de albumina encontrados por Birgel (1969) foram inferiores, ao desse trabalho de 2,49 g/dL em caprinos com até seis meses de idade. Os metabolitos proteicos (Tabela 3), não apresentaram diferenças nos períodos avaliados. Os metabolitos proteicos apresentaram os menores valores entre os períodos de 15, 30 e 45 dias, com aumento nos períodos de 60, 75 e 90 dias. O ácido úrico apresentou queda considerável aos 90 dias.  Gressler et al. (2015), também não encontraram diferença significativa para os metabolitos proteicos analisados entre grupos ou dias. No período 0 os valores de ureia para machos foram estatisticamente superiores ao valores para as fêmeas (Tabela 3). Já nos períodos de 45 e 90 dias as fêmeas apresentaram valores superiores aos machos. A maior concentração de ureia nesses animais, nos diferentes períodos avaliados, pode ter sido devido à falta de sincronização entre os esqueletos de carbono e nitrogênio para utilização, pelos microrganismos, durante sua síntese. Fato esse que corrobora com o maior consumo de alimento pelas fêmeas e com a menor eficiência de conversão em ganho de peso. Silva et al. (2010), trabalhando com inclusão de fontes lipídicas na dieta de cabras Saanen em lactação encontrou valores de 68 mg/dL de ureia no plasma sanguíneo, valor esse superior aos encontrados nesse estudo.  As concentrações de ureia apresentaram valores superiores aos citados por Kaneko, Harvey e Bruss (2008) de 21,4 a 42,8 mg/dL. Não houve diferença para os parâmetros minerais entre sexo e na interação sexo e período (Tabela 4). Os minerais são co-fatores importantes para a utilização da energia e proteína da dieta, influenciando assim na produtividade animal, sendo necessário o fornecimento em um nível adequado. Silva et al. (2010), trabalhando com a inclusão de fontes lipídicas na dieta de cabras Saanen aos 45 dias de lactação, com peso vivo de 35,0 kg, não encontraram diferenças nas concentrações séricas de Ca, P e Mg (6,51, 6,05, 1,91 mg/dL respectivamente) entre os animais com adicionais de lipídios e o grupo controle, evidenciando a capacidade do organismo em manter o equilíbrio desse elementos no ambiente sanguíneo. Em relação aos parâmetros hepáticos (Tabela 5), também não houve diferença estatística. Observa-se elevação nos níveis da FA entre sexo e período, com o aumento dos períodos de avaliação, mas seus valores são considerados normais segundo Kaneko, Harvey e Bruss (2008)  entre 93,0 e 386,0 U/L. A FA está diretamente relacionada ao processo de crescimento e mineralização dos ossos. É comum em animais jovens, como nesse experimento, na fase de crescimento ocorrer valores mais elevados de FA, por haver um maior desenvolvimento ósseo (Mundim et al., 2007). Os níveis de GGT entre sexo e nos diferentes períodos, foram superiores para os machos nos períodos 0 e 15 dias (Tabela 6). Embora a elevação da atividade de GGT indique disfunção hepática, os valores indicam que não houve transtornos hepáticos ao longo do experimento, pois não foi observado nenhuma lesão aguda, podendo elevar de forma imediata os níveis de GGT no sangue. Silva, Fagliari e Cesco (2004) trabalhando com caprinos Saanen, observaram valores de GGT estatisticamente superiores para os caprinos machos (54,10±28,05 U/L) em relação às fêmeas (46,34±23,41 U/L), valores esses semelhantes ao desse trabalho.

Conclusões

A classe sexual demonstrou que caprinos em recria não apresentaram diferenças para as medidas biométricas e as concentrações hepáticas e minerais. As diferenças ocorreram para os teores de albumina e HDL. Oscilações ocorreram para largura de peito, LDL e GGT nos períodos avaliados.

Gráficos e Tabelas




Referências

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