Parâmetros séricos e ruminais de bovinos recebendo dieta sem volumoso com inclusão de extrato de algas Lithothanium calcareum.

Magner José Evangelista Filho1, João Gabriel Martins Gondim Peixoto2, Reginaldo Nassar Ferreira3, Leonardo Guimarães de Oliveira4
1 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
2 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
3 - Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás
4 - Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás

RESUMO -

Prevenir e amenizar a acidose ruminal favorece a obtenção de melhores resultados zootécnicos, com isso objetivou-se neste trabalho avaliar os valores de pH e degradabilidade in situ, e os parâmetros séricos de bovinos recebendo dieta sem volumoso sob regime de confinamento suplementados com extrato de algas Lithothanium calcareum, com inclusão de óleos essenciais ou monensina sódica. Os animais foram alimentados com dieta sem volumoso, com 13,6% de PB, 74,1% de NDT e 15,5% de FDN fisicamente efetivo, ad libitum. A adição de extrato de algas em conjunto dos óleos essenciais controlou a queda do pH (P0,05). Alterações da bioquímica sérica dos animais foram evidenciadas nos parâmetros de glicose e fosfatase alcalina mas dentro de um padrão de normalidade. Os valores de Lactato permaneceram a maioria do tempo acima do valor normal para animais adultos. A adição de extrato de algas auxilia no controle do pH ruminal.

Palavras-chave: consumo, ionóforos, monensina, parâmetros bioquímicos, parâmetros séricos bioquímicos.

Blood and ruminal parameters of cattle feed with forage free diets with inclusion of Lithothanium calcareum algae extract.

ABSTRACT - Preventing and ameliorating ruminal acidosis favors better performance results. The objective of this study was to evaluate pH values and in situ degradability, and the serum parameters of bovine animals receiving a non-voluminous diet under confinement conditions supplemented with algae extract Lithothanium calcareum, with essential oils or monensin sodium. The animals were fed a non-bulking diet with 13.6% crude protein, 74.1% total digestible nutrients and 15.5% physically effective NDF, ad libitum. The addition of algae extract with the essential oils controlled the pH decrease (P <0.05) without altering the parameters of ruminal degradation of the feed (P> 0.05). Changes in the serum biochemistry were evidenced in glucose and alkaline phosphatase parameters but within a standard of normality. Lactate values remained most of the time above normal for adult animals. The addition of algae extract helps to control the ruminal pH.
Keywords: biochemical parameters, consumption, ionophores, monensin, serum biochemical parameters.


Introdução

O extrato de algas Lithothanium calcareum é obtido pelo processo de moagem do extrato retirado de camadas do solo oceânico. É composto principalmente de carbonato de cálcio em três diferentes tipos, calcita (65%), aragonita (23%) e vaterita (12%) e possuem capacidade tamponante do pH, tendo uma liberação lenta destes compostos em pH ácido (Cruywagen et al., 2015). O controle do pH ruminal visa melhorar a eficiência do metabolismo energético, reduzindo a incidência de acidose em ruminantes. Este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da inclusão do extrato de algas Lithothanium calcareum e a inclusão de óleos essenciais ou monensina sódica sobre o perfil bioquímico sérico, o pH ruminal e os parâmetros da degradabilidade ruminal.

Revisão Bibliográfica

A espécie de alga marinha Lithothanium calcareum, faz parte de uma família de algas calcáreas que depositam compostos de cálcio em sua estrutura, e quando morrem permanece esta estrutura rica em cálcio e outros minerais (Nascimento, Freire and Miola, 2010). Em estudo realizado por Montañez-Valdez et al. (2012) evidenciaram efeito positivo no tamponamento do líquido ruminal utilizando 0,5% de inclusão de extrato de algas na dieta de novilhas da raça holandez recebendo dietas com alta inclusão de concentrado, sem contudo afetar a taxa e a extenção da digestibilidade da FDN da dieta. Cruywagen et al. (2015) evidenciaram efeito positivo no controle do pH ruminal de vacas leiteiras suplementadas com 90g do extrato de algas. Além do comtrole no pH ruminal, evidenciaram maior produção leiteira e eficiência alimentar destes animais.

Materiais e Métodos

Utilizou-se 4 bovinos adultos mestiços e com média de peso de 520 kg, dotados de cânula ruminal e alimentados com dieta total à base de casca de soja, milho, farelo de soja, uréia e premix mineral e vitamínico (Suplemento Nutrição Animal, Hidrolândia – Goiás). A composição da ração total experimental foi: 13,6% PB, 74,1% NDT, 3,05% EE e 15,5% FDNfe. Os tratamentos foram: Controle – alimentação com ração total à vontade; Litho, – alimentação com ração total à vontade com a inclusão de 0,7% de extrato de algas Lithothanium calcareum; Litho Bio – alimentação com ração total à vontade com a inclusão de 0,7% de extrato de algas Lithothanium calcareum e 0,03% do produto à base de óleos essenciais Biophytus e, Litho M – alimentação com ração total à vontade com a inclusão de 0,7% de extrato de algas Lithothanium calcareum e 0,015% de Monensina sódica. Os animais foram adaptados à dieta experimental 6 dias antes das coletas. Para aferição do pH ruminal utilizou-se um potenciômetro digital PH-009 (III) (ATC), coletando em 3 pontos no rúmen nos tempos 0, 3, 6, 12, 18 e 24 horas após a alimentação. Para a determinação da degradabilidade ruminal in situ, a dieta foi incubada utilizando saquinhos de tecido não tecido (TNT) com 2g da dieta, seguindo metodologia proposta por Ørskov et al. (1980), nos tempos 0, 3, 6, 12, 18, 24 e 48 horas, em seguida imersos em água fria para paralisar o processo de degradação e depois lavados em água corrente. Os saquinhos ficaram 72 horas em estufa de ventilação forçada (AOAC, 2000). Para análise sérica bioquímica coletou-se amostras de sangue por meio de punção da veia sacral nos tempos 0, 3, 6, 12, 18 e 24 horas após a alimentação. Por meio de Kit’s comerciais Labtest®, analisou-se os parâmetros de Glicose, Lactato e Fosfatase Alcalina. Foi utilizado o delineamento experimental do quadrado latino 4x4, sendo cada animal a unidade experimental, e os dados submetidos ao teste de Shapiro-Wilk e as médias comparadas pelo teste de T (P<0,05).

Resultados e Discussão

O pH do líquido ruminal não apresentou diferença estatística nos tempos (Tabela 1). Apesar de não apresentar diferença de pH entre os tratamentos a diferença entre as leituras apresentaram diferenças estatísticas (P<0,05). A adição de óleos essenciais ou monensina sódica é efetivo no controle da queda do pH (Figura 1). Em trabalho realizado com vacas leiteiras, a adição do extrato de algas de Lithothanium calcareum foi efetivo no controle do pH (Cruywagen et al., 2015). Os valores de Lactato, Glicose e Fosfatase Alcalina dos quatro tratamentos testados. Para Lactato e Glicose os tratamentos apresentaram diferenças estatísticas somente no período de 24 horas após a alimentação, permanecendo sem diferenças estatísticas durante o período de maior efeito dos aditivos. Para fosfatase alcalina, os animais iniciaram no tempo 0 e ao final no tempo 24 com valores estatísticos diferentes, entretanto esta diferença não foi observada nos tempos 3, 6, 12 e 18. Embora tenha sido observada diferença nos tempos 0 e 24 para a enzima fosfatase alcalina, nenhum dos tratamentos ultrapassou os valores de referência de 490 UI/L, indicando que os animais não estavam sofrendo problemas hepáticos, mesmo com pH ruminal baixo e nível de lactato acima dos valores de normalidade. Os níveis de Lactato estão acima dos valores de normalidade para bovinos adultos devido à grande produção de ácido lático na fermentação ruminal, corroborando com o resultado encontrado de baixo nível de pH ruminal e a grande proporção de fração solúvel das dietas fornecidas. Achados semelhantes foram relatados por Barrêto Junior et al. (2008) em bovinos alimentados com polpa cítrica, observando a elevação aguda dos valores de lactato sérico. De acordo com os valores apresentados de lactato, pode provavelmente ser utilizado como um indicativo de baixo pH ruminal. Apesar do controle na queda do pH ruminal, os aditivos não influenciaram os parâmetros de degradação da matéria seca da dieta (Tabela 2) (P>0,05). Tabela 2 - Parâmetros de degradação ruminal das dietas experimentais.
Parâmetros Controle Litho Litho Bio Litho M CV (%)
Fração solúvel (%) 23,24 23,33 23,25 22,81 7,9
Fração degradável (%) 50,36 57,13 43,26 57,37 21,9
Taxa de degradação (%/h) 3,02 3,12 3,63 2,80 59,4
Degradab. Efetiva (k=2%) (%) 52,57 53,39 50,09 52,79 3,9
Degradab. Efetiva (k=5%) (%) 41,25 41,54 40,59 40,82 9,5
Degradab. Efetiva (k=8%) (%) 36,34 36,53 36,10 35,80 11,2
Fração indegradável (%) 26,40 19,53 33,50 19,82 39,0


Conclusões

A adição dos aditivos Monensina e óleos essenciais ao extrato de algas Lithothanium calcareum se apresentaram efetivos no controle do pH ruminal.

Gráficos e Tabelas




Referências

AOAC (2000) ‘Official Methods of Analysis of AOAC International’, Association of Official Analysis Chemists International, p. Method ce 2-66. doi: 10.3109/15563657608988149. Barrêto Junior, R. A., Minervino, A. H. H., Mazzocca Rodrigues Lopes, F. A., Antonelli, A. C., Sucupira, M. C. A., Mori, C. S. and Ortolani, E. L. (2008) ‘Avaliação do potencial da polpa cítrica em provocar acidose láctica ruminal aguda em bovinos’, Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, 45(6), pp. 421–428. Available at: http://www.scopus.com/inward/record.url?eid=2-s2.0-76649135260&partnerID=tZOtx3y1. Cruywagen, C. W., Taylor, S., Beya, M. M. and Calitz, T. (2015) ‘The effect of buffering dairy cow diets with limestone , calcareous marine algae , or sodium bicarbonate on ruminal pH profiles , production responses , and rumen fermentation’, Journal of Dairy Science. American Dairy Science Association, 98, pp. 1–9. doi: 10.3168/jds.2014-8875. Montañez-Valdez, O. D., Pinos-Rodríguez, J. M., Rojo-Rubio, R., Salinas-Chavira, J., Martíneztinajero, J. J., Salem, A. Z. M. and Avellaneda-Cevallos, J. H. (2012) ‘Effect of a calcified-seaweed extract as rumen buffer on ruminal disappearance and fermentation in steers’, Indian Journal of Animal Sciences, 82(4), pp. 430–432. Nascimento, F. S., Freire, G. S. S. and Miola, B. (2010) ‘Geochemistry of marine sediments of the Brazilian northeastern continental shelf’, Brazilian Journal of Oceanography, 58(SPEC. ISSUE 2), pp. 1–11. doi: 10.1590/S1679-87592010000600002. Ørskov, E. R., Hovell, F. D. D. and Mould, F. (1980) ‘The use of the nylon bag technique for the evaluation of feedsuffs.’, Trop Anim Prod, 5, pp. 195–213.