PARTIÇÃO DE ENERGIA DE SILAGENS DE CAPIM-TIFTON 85 COLHIDAS EM DIFERENTES ESTÁDIOS DE REBROTA

WILSON GONÇALVES DE FARIA JÚNIOR1, JULIANA CRISTINA NOGUEIRA COLODO2, WILMA GONÇALVES DE FARIA3, LÚCIO CARLOS GONÇALVES4, LÉVISON DA COSTA CIPRIANO5, EDSON ALENCAR CONCEIÇÃO DE SOUSA6, BRUNA MARTINS MOTA7, EDNA CONCEIÇÃO DE SOUSA8
1 - Universidade Federal de Roraima
2 - Universidade Federal de Roraima
3 - Instituto Federal de Roraima - Campus Amajari
4 - Universidade Federal de Minas Gerais
5 - Universidade Federal de Roraima
6 - Universidade Federal de Roraima
7 - Universidade Federal de Roraima
8 - Escola Agrotécnica da Universidade Federal de Roraima

RESUMO -

Determinou-se as partição da energia em ovinos alimentados com silagens de capim-tifton 85 produzidas aos 27, 45, 56, 74 e 90 dias de rebrota. Foi utilizando o sistema de calorimetria indireta de circuito aberto. Observou-se ingestões médias de energia bruta (EB), digestível, metabolizável e liquida de 299,7; 146,3; 126,3 e 81,9 kcal/kg PV0,75/dia, respectivamente. Houve efeito significativo da maturidade da forrageira para a partição da energia, embora não tenham sido identificadas diferenças nas perdas de energia na urina, metano e incremento calórico, com médias de 2,43; 4,35 e 14,66% da EB. As perdas de energia nas fezes foram inferiores para os animais alimentados com silagens produzidas aos 45 dias de rebrota. Para os parâmetros avaliados neste estudo indica-se a ensilagem de capim-tifton 85 entre 45 e 90 dias de rebrota. As perdas energéticas, em especial aquelas relacionadas a produção de metano, não foram influenciadas pelo estádio de maturação.

Palavras-chave: balanço energético, forragem, nutrição, qualidade, ruminante.

ENERGY PARTITION OF TIFTON 85 BERMUDASGRASS SILAGES HARVESTED AT DIFFERENT REGROWTH STAGES

ABSTRACT - Intakes and energy losses were determined in sheep fed Tifton 85 silage at 27, 45, 56, 74 and 90 days of regrowth. It was used the open circuit indirect calorimetry system. Intakes of gross (GE), digestible, metabolizable and net energy of 299.7; 146.3; 126.3 and 81.9 kcal kg/BW0.75/day were observed, respectively. There was a significant effect of forage maturity on energy partition, although no differences in energy losses were observed in urine, methane and caloric increment, with a mean of 2.43; 4.35 and 14.66% of GE. Fecal energy losses were lower for animals fed silages produced at 45 days of regrowth. For the parameters evaluated in this study, it is indicated the silage of Tifton 85 grass between 45 and 90 days of regrowth. Energy losses, especially those related to methane production, were not influenced by maturation stage.
Keywords: energy balance, forage, nutrition, quality, ruminant.


Introdução

O capim-titfton 85 (Cynodon spp.) é amplamente utilizado nos sistemas de produção de ruminantes no Brasil. Por outro lado, a estacionalidade de produção, exige alternativas de utilização do excedente de produção, sendo a produção de silagem uma alternativa para equilibrar a oferta de volumoso de qualidade ao longo do ano. Entretanto a viabilidade econômica do uso da silagem depende do equilíbrio entre a produção e qualidade nutricional da massa ensilada. O consumo de energia pelos animais é determinante no desempenho animal e este parâmetro pode ser influenciado pelo estádio de maturação da forrageira (Ribeiro et al., 2015). O objetivo com este estudo foi determinar a ingestão e as perdas de energia em ovinos alimentados com silagens de capim-tifton 85 produzidas com diferentes estádios de maturação.

Revisão Bibliográfica

Ribeiro et al. (2015) avaliaram a partição de energia em ovinos deslanados alimentados com silagens de capim-andropogon (Andropogon gayanus) colhido em diferentes idades de rebrota (56, 84 e112 dias). Esses autores encontraram ingestão de energia bruta (EB) de 242,2 Kcal/kg PV0,75/dia, sem diferença entre as silagens. Por outro lado, o aumento da idade de rebrota das plantas na confecção das silagens reduziu linearmente a ingestão de energia digestível (150 - 104,2 Kcal/kg PV0,75/dia), metabolizável (131,2 - 91,5 Kcal/kg PV0,75/dia) e consequentemente a retenção de energia (37,2 - 0,0 Kcal/kg PV0,75/dia). Já as perdas de energia nas fezes aumentaram (43,1-56,8 % EB) enquanto as perdas na urina (2,4-1,6 % EB) reduziram linearmente com o avanço na maturidade da forrageira, mas as perdas com incremento calórico e metano (38,5 e 3,4 % EB, respectivamente) não foram alteradas com o momento de colheita. Machado et al. (2015) determinaram o consumo de energia em ovinos alimentados com diferentes cultivares de sorgo (BRS 610, BR 700 e BRS 655) ensilados em diferentes estádios de maturação (leitoso, farináceo e duro). Esses autores observaram diferenças entre os híbridos para a partição de energia, mas não descreveram efeito do estádio de maturação. As ingestões de energia bruta, digestível, metabolizável e liquida variaram de 193 a 248; 100 a 138; 89 a 125 e 48 a 96 Kcal/kg PV0,75/dia, respectivamente. Com relação as perdas de energia, os autores não observaram efeito do estádio de maturação da planta ou híbridos, exceto para perda de urina entre os híbridos.  As perdas médias de energia nas fezes, urina, metano e incremento calórico foram de 47,7; 1,4; 4,6 e 14,3 % EB. As respostas quanto a partição e perdas de energia podem variar entre as forrageiras e cultivares, assim como entre diferentes estádios de maturação da forrageira (Machado et al., 2015; Ribeiro et al., 2015), possivelmente influenciado pelas particularidades nutricionais da planta sendo necessário obter resultados sob diferentes condições.

Materiais e Métodos

O capim-tifton 85 foi cultivado na Fazenda Santa Helena (Bom Despacho, MG). A forragem foi colhida e ensilada em tambores de 200 L aos 27, 45, 56, 74 e 90 dias de rebrota. Foram utilizados vinte e cinco carneiros adultos machos deslanados, sem raça definida, com peso médio de 46,5 Kg. O ensaio com os animais e as análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da Escola de Veterinária da UFMG. O período de adaptação dos animais a silagem e as gaiolas metabólicas foram de 21 dias e 5 dias de pesagem e coleta de amostras da silagem oferecida, sobras, fezes e urina. A digestibilidade da energia foi obtida pela relação entre a quantidade de energia bruta ingerida e a quantidade eliminada nas fezes. O consumo de energia digestível foi obtido pelo produto entre o consumo de energia bruta e a digestibilidade aparente da energia bruta das silagens. As amostras do oferecido, sobras e fezes foram pré-secas em estufa de ventilação forçada a 55oC durante 72 horas e moídas a 1 mm (moinho tipo Wiley). Nas amostras de oferecido, sobras, fezes e urina foram determinados os conteúdos de energia bruta por bomba calorimétrica. As perdas energéticas na forma de metano e incremento calórico foram determinadas utilizando o sistema de calorimétria indireta de circuito aberto para pequenos ruminantes da Escola de Veterinária da UFMG, permitindo a mensuração das trocas gasosas de cada animal por vez, durante 24 horas. Utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições por tratamento. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo procedimento PROC MIXED do SAS (P<0,05) e teste de médias utilizando-se o teste Tukey (P<0,05) (SAS, 2001). A escolha pelo teste de média em detrimento a análise de regressão foi fundamentada na inadequação dos modelos lineares em descrever as respostas.

Resultados e Discussão

A ingestão de energia bruta (EB) pelos ovinos não diferiu (P>0,05) entre as silagens de capim-tifton 85 com valores médios de 299,72 kcal/kg PV0,75. Isto ocorreu devido a semelhante ingestão de matéria seca (59,04 g MS/kg PV0,75) e conteúdo de energia bruta das silagens (4,88 Mcal/ kg MS). As silagens produzidas aos 45 e 90 dias de rebrota proporcionaram ingestões de energia digestível (Tabela 1) semelhantes entre si (P>0,05) e superiores (P>0,05) aquelas observadas nas idades de 27 e 74 dias, as quais não diferiram entre si (P>0,05). A ingestão de energia metabolizável diferiu significativamente (P<0,05) apenas entre as silagens produzidas aos 27 e 45 dias, já as silagens produzidas a partir dos 56 dias de rebrota apresentaram valores intermediários e semelhantes entre si (P>0,05). A ingestão de energia liquida proporcionados pelas silagens produzidas aos 27 dias foram inferiores (P<0,05) aqueles observados nas silagens obtidas a partir de 45 dias de rebrota, os quais foram semelhantes entre si (P>0,05). As perdas de energia nas fezes (EF) foram semelhantes entre os tratamentos com média de 153,43 kcal/kg PV0,75, embora a digestibilidade da matéria seca tenha variado (0,441 a 0,558 kg/kg MS). Assim, as propriedades inerentes a cada nutriente influenciaram no aproveitamento da energia do alimento durante o trânsito pelo trato gastrointestinal. Por outro lado, quando as perdas fecais foram avaliadas em proporção a energia bruta ingerida (Tabela 1) observaram-se menores (P<0,05) perdas energéticas para as silagens produzidas aos 45 dias de rebrota. Já as perdas de energia na urina (médias de 7,07 kcal/PV0,75 e 2,43% EB), em metano (médias de 12,95 kcal/PV0,75 e 4,35% EB) e incremento calórico (médias de 44,35 kcal/kg PV0,75 e 14,66% EB) foram semelhantes (P>0,05) entre os animais, independentemente da idade de colheita. Já Gomes et al. (2012) avaliando dietas com feno de capim-tifton 85 e ricas em grãos (70% MS) encontrou perdas médias como metano de 4,8% EB ingerida. A partição da energia das silagens indicou retenção negativa de energia para a silagem produzida aos 27 dias (incapazes de atender as exigências de mantença em energia) e retenções positivas e semelhantes entre si (P>0,05) para as demais idades. Entretanto, a retenção de energia foi baixa e quando utilizadas como único alimento permitiu apenas a manutenção do peso dos animais em confinamento. Ribeiro et al. (2015) observaram menores ingestões de energia digestível e metabolizável comparados a este estudo e encontraram reduções lineares com o avanço do estádio de maturação. As perdas de energia encontradas neste estudo para fezes e urina foram próximas aquelas relatadas por esses autores, enquanto as perdas em metano foram superiores (4,4 vs 3,4 % EB), embora a perda como incremento calórico tenha sido inferior (14,7 vs 38,5% EB).

Conclusões

Para os parâmetros avaliados neste estudo indica-se a ensilagem de capim-tifton 85 entre 45 e 90 dias de rebrota. Essas silagens como único alimento garante consumos de energia metabolizável e liquida para mantença do animal, sendo necessário suplementações para ganhos de peso. As perdas energéticas, em especial aquelas relacionadas a produção de metano, não foram influenciadas pelo estádio de maturação.

Gráficos e Tabelas




Referências

GOMES, S.P.;  Tamanho de partícula do volumoso e freqüência de alimentação sobre o metabolismo energético e protéico em ovinos, considerando dietas com elevada participação de concentrado. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.13, n.3, p. 732-744, 2012. MACHADO, F.S. et al. Energy partitioning and methane emission by sheep fed sorghum silages at different maturation stages. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.67, n.3, p.790-800, 2015. RIBEIRO JUNIOR, G.O. et al. Methane production and energy partitioning in sheep fed Andropogon gayanus grass ensiled at three regrowth stages. Canadian Journal of Animal Science, v. 95, p.103-110, 2015.