PASTEJO X RUMINAÇÃO DE VACAS F1 HXZ NA FASE DE LACTAÇÃO

JÉSSICA DUARTE RAMOS FONSECA1, KÁTIA CRISTIANE BORGES PEREIRA2, CINARA DA CUNHA SIQUEIRA CARVALHO3, JOSÉ REINALDO MENDES RUAS4, GUSTAVO CHAMON DE CASTRO MENEZES5, ANNA LUÍSA DE OLIVEIRA CASTRO6, MARIA DULCINÉIA DA COSTA7, JANAINA TAYNA SILVA8
1 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
2 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
3 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
4 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
5 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
6 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
7 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES
8 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS- UNIMONTES

RESUMO -

Avaliou-se o efeito do ambiente climático sobre a frequência de pastejo de vacas F1 HxZ, em lactação durante o verão, criadas na Fazenda Experimental da EPAMIG, município de Felixlândia (MG). O ambiente climático foi caracterizado com base no Índice de Temperatura do Globo Negro e Umidade. As frequências de pastejo ocorreram com observações a cada 30 minutos durante 15 dias e divididas em 4 períodos: manhã: 9h às 12h, tarde: 13h às 18h, noite: 19h às 00h, e madrugada: 1h às 5h. Para análise dos grupos genéticos, utilizou-se o DIC, no esquema fatorial de 5 grupos genéticos e 20 horários. Houve diferença estatística significativa entre os períodos estudados, com maior porcentagem de animais em pastejo no período da tarde (56,5%) quando o valor médio de ITGU foi 80. Houve maior porcentagem de animais em ruminação durante a madrugada (42,2%) quando se verificou os menores valores médios de ITGU (68,9). Animais F1 não alteram o comportamento de pastejo devido aos altos valores de ITGU.

Palavras-chave: ambiência, bovinos leiteiros, etologia, heterose

PASTEJO X RUMINATION OF F1 HXZ COWS IN THE LACTATION PHASE

ABSTRACT - The effect of the climatic environment on the frequency of grazing of F1 HxZ cows during summer was evaluated at the Experimental Farm of EPAMIG, Felixlândia, MG. The climate environment was characterized based on the Black Globe Temperature and Humidity Index. The grazing frequencies occurred with observations every 30 minutes for 15 days and divided into 4 periods: morning: 9am to 12am., afternoon: 1pm. to 6pm., night: 7am to 1pm., and dawn: 1pm to 5pm. For the analysis of the genetic groups, the DIC was used in the factorial scheme of 5 genetic groups and 20 schedules. There was a statistically significant difference between the studied periods, with a higher percentage of grazing animals in the afternoon (56.5%) when the mean ITGU value was 80. There was a higher percentage of animals during rumination at dawn (42.2%) when the lowest mean values of ITGU (68.9) were found. F1 animals do not alter grazing behavior due to high ITGU values
Keywords: Ambience, dairy cattle, ethology, heterosis


Introdução

Animais expostos ao ar livre têm, na radiação solar, o principal responsável pelo acréscimo do calor corporal interno, e durante o dia, quase todo o calor absorvido provém da radiação solar, direta ou indireta, constituindo um dos principais causadores de estresse térmico (BAÊTA e SOUZA, 2010). Diante dessa situação, os animais tendem a diminuir o pastejo e o exercício durante o dia, além de apresentarem redução na ingestão de alimentos e aumento na ingestão de água (ROSSAROLLA, 2007). Os principais componentes do comportamento de bovinos compreendem o tempo de  pastejo, a ruminação e o ócio, sendo que o tempo destinado a cada uma dessas atividades depende das características do pasto, das condições climáticas e das exigências nutricionais do animal (ZANINE et al., 2007). A avaliação do comportamento de vacas mestiças a pasto visa a estudar a dinâmica do comportamento de pastejo noturno e diurno destes animais, verificando as diferenças e semelhanças com os animais puros, além de permitir o uso de técnicas zootécnicas em períodos desfavoráveis ao consumo de nutrientes, de forma a minimizar os efeitos ambientais, garantir a produção animal em alto nível. Sendo assim, objetivou-se com este trabalho, caracterizar o efeito do ambiente climático, por meio da análise do Índice de Temperatura de Globo Negro e Umidade, sobre a frequência de pastejo de vacas F1 Holândes X Zebu, em lactação durante o verão.

Revisão Bibliográfica

O pastejo compreende a distribuição e magnitude do tempo dedicado à apreensão da forragem, envolvendo as etapas de procura e seleção da porção a ser ingerida, corte da pastagem, manipulação na boca, mastigação, até a deglutição (PEREIRA et al., 2005). Em geral, os bovinos apresentam um comportamento típico com dois grandes picos de pastejo, um logo ao amanhecer e outro ao entardecer, havendo uma tendência de eliminação do tempo de pastejo noturno como estratégia de evitar a predação, comportamento este atribuído à sua herança evolutiva (RUTTER et al., 2002). No entanto, os ruminantes adaptam-se às diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar determinado nível de consumo, compatível com suas exigências nutricionais (FIGUEIREDO et al., 2013). Segundo Pires et al. (2006), uma vaca em lactação necessita de 10h de pastejo diário para consumir o suficiente para produzir 12 litros de leite/dia. Mas, esse tempo é reduzido quando a temperatura máxima excede 27ºC. Portanto, o que se observa nos meses mais quentes do ano é, além da redução da atividade de alimentação, uma inversão dos hábitos alimentares. Em temperatura ambiente superior a 32ºC, os animais interrompem o pastejo, entre a ordenha da manhã e a da tarde, e passam a utilizar apenas 7h e 30 mim por dia para pastejar, no período entre o entardecer e a ordenha da manhã seguinte, comparado com 10h de pastejo em dias de clima frio. Em períodos subsequentes à ingestão de alimento, ocorre a ruminação, que consiste na regurgitação, mastigação e deglutição do bolo alimentar. Animais adultos ocupam cerca de 8h por dia na realização desta atividade com variações entre 4 e 9 h, divididas entre 15 e 20 períodos (VAN SOEST, 1994). Damasceno et al. (1999), em estudo com vacas Holandesas, verificaram que há uma preferência dos animais em ruminar deitados, principalmente, nos períodos fora das horas mais quentes do dia. Desta forma, em períodos mais quentes do ano, as vacas leiteiras de alta produção utilizam mecanismos, tais como: redução no tempo de alimentação e ruminação e aumento no tempo de ócio, provavelmente, tentando diminuir a produção de calor metabólico excedente, bem como o aumento do tempo em pé para auxiliar na dissipação do calor, na tentativa de manter a homeotermia (PIRES & CAMPOS, 2003).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Empresa de Pesquisa e Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), em Felixlândia (MG). Foram avaliadas 34 vacas F1 em lactação, com 100% de heterose, sendo: oito vacas Holandês (50%) x Nelore (50%); dez Holandês (50%) x Gir (50%); dez Holandês (50%) x Nelore (25%) x Gir (50%); seis Holandês (50%) x Guzerá (25%) x Nelore (25%). Os animais foram divididos em dois grupos em ambientes distintos (sem sombreamento e com sombreamento natural) em piquetes rotacionados de Urochloa brizantha, com suplementação de sal mineral e água à vontade, e, no período da ordenha pela manhã e à tarde, recebiam ração farelada comercial. As medições das variáveis ambientais (temperatura de bulbo seco, umidade relativa do ar e temperatura do globo negro) teve início às 07:00h e término às 16:00h. Os equipamentos foram instalados nos piquetes em que estavam os animais. Com os dados coletados, foi calculado o Índice de Temperatura de Globo e Umidade (ITGU), proposto por Buffington et al. (1981), obtido com a seguinte expressão. ITGU = Tgn + 0,36 x Tpo + 41,5   (eq. 1) Onde: Tpo = Temperatura do ponto de orvalho (°C) e Tgn = Temperatura do globo negro (°C) Para a avaliação da percentagem de animais em pastejo e ruminação, os mesmos passaram por um período de adaptação de sete dias. Após esse período, foram realizadas observações no período diurno e noturno, a cada 30 minutos durante 15 dias. Os horários de coleta foram agrupados em quatro períodos: manhã: 09:00h às 12:00h, tarde: 13:00h às 18:00h, noite: 19:00h às 00:00h e madrugada: 01:00h às 05:00h. Para os grupos genéticos, utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, no esquema fatorial 5 x 20, (5 grupos geneticos e 20 horários). E a análise de variância ANOVA para os horários e períodos. Não houve efeito dos grupos sendo este eliminado do modelo estatistico. As médias dos horários foram comparadas pelo teste de Scook Knott (P<0,05) e os períodos pelo teste SNK “Student-Newman-Keuls” (P<0,05).

Resultados e Discussão

De acordo com Buffington et al. (1981) valores de ITGU até 74 caracterizam o ambiente como de conforto térmico, no presente trabalho somente no período da noite e madrugada o ambiente apresentou valores considerados ideais para bovinos (Figura 1). Com relação à frequência de pastejo verifica-se na Figura 1 e Tabela 1, que houve diferença estatística significativa (P<0,05) entre os períodos estudados, com maior porcentagem de animais em pastejo no período da tarde (56,5%), em horários subsequentes, o consumo de forragem decresceu. O período da manhã aparece com a segunda maior porcentagem de animais em pastejo (44,4%), verificando consumo elevado também em horário pós ordenha. Esses resultados são semelhantes ao estudo de Rossarola (2007) que, avaliando comportamento de vacas Holandesas, verificou resultado similar de pastejo após a ordenha da manhã (09:00 horas) e nas primeiras horas da tarde (13:00 às 15:00 horas). Zanine et al. (2007) também relatam a intensificação do pastejo após o amanhecer, quando os animais retornam da ordenha, coincidindo com os resultados encontrados no presente trabalho. Desta forma, a maior resistência dos animais em experimento corrobora com estudos de Ferreira et al. (1996), que ressaltam as características desejáveis dos animais mestiços, como a rusticidade, capacidade produtiva e adaptação às limitações encontradas no meio, representando uma boa alternativa na busca da rentabilidade do processo produtivo. Houve maior porcentagem de animais em ruminação durante a madrugada (42,2%). De acordo com Miranda et al. (1999) e Fischer et al. (2002), a maior porção de animais em ruminação no período da noite, se deve a temperatura ambiental que é mais amena, assim há maior liberação do incremento calórico proveniente da dieta. Como verificado neste trabalho, nos períodos da noite e madrugada, a ruminação foi intensa, quando os valores de ITGU estavam dentro da faixa de conforto. Os menores valores de ruminação observados no período da manhã (26,9%) e tarde (18,9%) não estão relacionados com estresse térmico, e sim a ocorrência de pastejo e outras atividades relacionadas à etologia dos animais.

Conclusões

Os animais F1 não alteraram o comportamento de pastejo devido aos altos valores de ITGU. Houve maior frequência de ruminação e ócio no período da madrugada, demonstrando um comportamento natural dos bovinos.

Gráficos e Tabelas




Referências

BAÊTA,F. C.; SOUZA, C. F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. 2.Ed. Viçosa: EDUFV, 2010, 269p FERREIRA, M. A.; CASTRO, A. C. G.; CAMPOS, J. M. S. Sistemas de aleitamento de bezerros 1: desempenho das vacas. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa-MG, v. 25, n. 4, p. 723-728, 1996. FIGUEIREDO, M. R. P. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com diferentes fontes de fibra. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 65, n. 2, p. 485-489, 2013. FISCHER, V. et al. Padrões da distribuição nictemeral do comportamento ingestivo de vacas leiteiras, ao inicio e ao final da lactação, alimentadas com dieta à base de silagem de milho. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa-MG, v. 31, n. 5, p. 2129-2138, 2002. MIRANDA, L. F. et al. Comportamento ingestivo de novilhas leiteiras alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa-MG, v. 28, n. 3, p. 614-620, 1999. PEREIRA, L. M. R. et al. Comportamento ingestivo diurno de novilhas jersey em pastejo recebendo diferentes suplementos. Revista Brasileira de Agrociência, Pelotas, v. 11, n. 4, p. 453-459, 2005. PIRES, M. de F. A. et al. Comportamento alimentar de vacas holandesas em sistemas de pastagens ou em confinamento. 2. ed. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2006. Boletim Técnico, 50. PIRES, M. F. A.; CAMPOS, A. T. Relação dos dados climáticos com desempenho animal. In: RESENDE, H.; CAMPOS, A. T.; PIRES, M. F. A. (Eds.). Dados climáticos e sua utilização na atividade leiteira. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2003. p. 103-114. ROSSAROLLA, G. Comportamento de vacas leiteiras da raça holandesa, em pastagem de milheto com e sem sombra. 2007. 46 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)-Universidade Federal de Santa Maria, 2007. RUTTER, S. M. et al. Ingestive behaviour of heifers grazing monocultures of ryegrass or white clover. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 76, n. 1, p. 1-9, 2002. VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. New York: Cornell University Press, 1994.