Percepção dos consumidores quanto a relação entre qualidade de produtos cárneos e bem-estar animal

Vande Roberto Avalhaes Filho1, Dalton Mendes de Oliveira2, Loraine Saldanha Escobar3, Cleiton José Piazzon4, Aline Correia Furtado5, Hugo Pereira Flores6, Letícia Scarelli Rodrigues da Cunha7, Marcos Gregory Dias dos Reis8
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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RESUMO -

Atualmente, divulga-se muito o bem-estar associado a qualidade de carnes, entretanto, é um tema pouco conhecido. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o nível de conhecimento dos consumidores de produtos cárneos sobre o bem-estar dos animais de produção. Para isso, foi desenvolvido e aplicado um questionário com questões de respostas simples. Foram entrevistados 381 pessoas, escolhidos de forma aleatória na comunidade de Aquidauana-MS. Para a escolha do produto, o bem-estar não está em relevância em nenhum dos graus de importância para a comunidade. Pequena parte dos entrevistados alega ter interesse em saber os métodos de criação e abate dos animais que consomem. Quanto ao conhecimento sobre o tema bem-estar animal, a maioria diz conhecer ou alguma vez ouviu falar. Apenas 23% da população tem conhecimento das leis que asseguram o bem-estar animal. O bem-estar animal não é um atributo importante para o consumidor, não sendo importante no momento da compra de produtos cárneos.

Palavras-chave: Comportamento consumidor, produção animal, produtos de origem animal.

Consumer perception of the relationship between quality of meat products and animal welfare

ABSTRACT - Nowadays, the well-being associated with meat quality is widely publicized, however, it is a little known theme. Thus, the objective of this work was to evaluate the level of knowledge of consumers of meat products on the welfare of production animals. For this, a questionnaire was developed and applied with questions of simple answers. We interviewed 381 people, chosen randomly in the community of Aquidauana-MS. For product choice, well-being is not relevant to any degree of importance to the community. A small number of respondents claimed to be interested in the methods of rearing and slaughtering the animals they consume. As far as knowledge about animal welfare is concerned, most say know or ever hear speak. Only 23% of the population is aware of laws that ensure animal welfare. Animal welfare is not an important attribute for the consumer and is not important when buying meat products.
Keywords: Consumer behavior, animal production, animal products.


Introdução

No Brasil, pesquisas sobre bem-estar animal são recentes, porém, com avanços notáveis ganharam visibilidade devido às exigências dos países importadores de produtos de origem animal, principalmente os da União Europeia, que são os precursores do reconhecimento dessas questões. O desenvolvimento da ciência do bem-estar animal visa proporcionar aos animais qualidade de vida e respeito a satisfação de suas necessidades comportamentais, fisiológicas, bioquímicas e mentais (CAZELLI, 2012). A partir desse ponto, produtores e consumidores começaram a ter mais interesse pelo tema e, cada vez mais, as mídias divulgam sobre o assunto, ressaltando a melhoria da qualidade dos produtos oriundos deste tipo de criação e a valorização deste no mercado. De acordo com Oliveira et al. (2008), carnes oriundas de animais criados em bem-estar desde o nascimento até o abate, sem dúvida alguma, apresentarão melhores atributos. Portanto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a percepção e o conhecimento de consumidores quanto a relação entre bem-estar animal e a qualidade dos produtos de origem animal.



Revisão Bibliográfica

O bem-estar animal tem forte presença nos códigos morais e nos pilares éticos de vários países e um tratamento apropriado aos animais não é mais visto como algo que possa ser deixado para a livre escolha de pecuaristas individuais (SINGER, 2002; MOLENTO, 2005). Além disso, há uma crescente preocupação da sociedade contemporânea quanto ao bem-estar animal, onde o consumidor tem reduzido a aceitação por produtos em que por trás do seu fornecimento existe algum tipo de sofrimento animal. À medida que a sociedade reconhece o sofrimento animal como um fator relevante, o bem-estar animal promoverá destacado valor econômico aos sistemas de produção (MOLENTO, 2005), o que exigirá mudanças no manejo e do ambiente. Essas mudanças serão possíveis, a partir da demanda dos consumidores, pois a eficiência da cadeia produtiva não está associada somente à produção com custos baixos ou grande grau de produtividade, mas ao atendimento das necessidades do consumidor, que dita o dinamismo das cadeias de produção (PELINSKI et al., 2005). A falta de informação sobre a percepção da comunidade, com relação aos animais utilizados na produção, é uma barreira para o crescimento do bem-estar animal no Brasil. Portanto, é de extrema importância ter conhecimento da percepção e da atitude da sociedade em relação ao tema.



Materiais e Métodos

A pesquisa foi realizada no município de Aquidauana, estado de Mato Grosso do Sul, a aproximadamente 130 km da capital, Campo Grande. De acordo com o Censo Demográfico de 2010, a população estimada para o ano de 2016 foi de 47.323 habitantes (IBGE, 2010). Foram aplicados 381 questionários em supermercados e açougues, localizados em diferentes pontos da cidade para avaliar o conhecimento da comunidade sobre o bem-estar dos animais de produção, assim como, métodos de insensibilização. Para atender o objetivo proposto, foi desenvolvido um questionário com questões de respostas objetivas e simples que continha questões como: Qual o elemento utilizado na decisão da compra? Tem interesse em saber quais os métodos de criação e abate desses animais? Conhece ou já ouviu falar sobre bem-estar animal? Tem conhecimento das leis que asseguram o bem-estar animal? Além disso, continha uma questão a qual o consumidor deveria definir a qualidade da carne de forma espontânea? Já, para a avaliação dos fatores relevantes na escolha do produto, foram atribuídos 5 graus de importância, sendo classificados de grau 1 o atributo em que o consumidor mais leva em consideração no momento da compra, em grau 2 de menor importância, e assim sucessivamente até a avaliação de grau 5 que é o menor grau de importância. Foi levado em consideração o bem-estar em âmbito geral, independente da espécie animal. Todos os dados foram tabulados em tabela excel e os resultados apresentados em percentual, sem estratificação da população.



Resultados e Discussão

Para os consumidores, observou-se dentro dos parâmetros de grau 1 que a aparência do produto é o fator que mais influencia na escolha do produto, de acordo com 49% dos entrevistados (Figura 1). No entanto, nota-se que a população pouco se preocupa com o bem-estar animal sendo considerada de grau 1 por apenas 13% dos entrevistados, e não está em relevância em nenhum dos três primeiros graus de importância. Ao contrário, nos graus de importância 4 e 5 o bem-estar animal é a segunda opção mais votada, o que não é uma vantagem dentro da escala utilizada nesse trabalho em relação a preferências. Isso demonstra que o consumidor ou não está preocupado com os fatores pré-abate ou não tem conhecimento do mesmo sobre a qualidade dos produtos cárneos que são expostos nas gôndolas de supermercado. Para a comunidade de Aquidauana, a qualidade da carne é definida pela aparência (56%), seguida por cor (13,5%) e maciez (6,5%) (Figura 2). Entretanto, apenas 3% definem e associam qualidade de carne ao bem-estar dos animais de produção. Resultados semelhantes foram obtidos em um estudo realizado por Acebrón & Dopico (2000), procurando descobrir como os consumidores formam expectativas sobre a qualidade da carne bovina. Segundo os autores, os consumidores inferem sobre a qualidade da carne bovina baseados em sinais intrínsecos (cor, frescor, gordura visual) e extrínsecos (preço, promoção, designação de origem e apresentação) de qualidade, dessa forma, não levam em consideração o bem-estar. Quando questionados sobre o interesse em saber os métodos de criação e abate dos animais que dão origem ao produto que consomem, 32% da população alega que tem interesse e já buscaram saber esta informação, enquanto 35% tem interesse, entretanto nunca buscaram saber, e 33% não tem interesse e nunca buscaram saber esta informação. Isso evidencia a carência de informações quanto a esta questão, e confirmam os estudos realizados por Hotzel & Filho (2004), onde constataram que grande parte do público não tem conhecimento de como são criados os animais que geram os produtos oferecidos no varejo. Em relação ao conhecimento da população sobre o bem-estar animal, se conhece ou já ouvir falar sobre o tema, nota-se que a maior parte da comunidade tem esse conhecimento (57%), que segundo Amaral et al. (2015) está associado a alta divulgação pela mídia. Quanto ao conhecimento da população sobre leis que asseguram o bem-estar animal, de acordo com os dados obtidos observou-se que a maioria dos entrevistados não possui conhecimento sobre essas leis (77%). Entretanto, existem leis e princípios que o regem, visando reduzir ao mínimo qualquer dor, sofrimento ou estresse imposto aos animais. No Brasil, o primeiro decreto que estabeleceu medidas de proteção aos animais foi o Decreto Nº 24.645, de 10 de Julho de 1934. Atualmente, existem leis estaduais de proteção animal e projetos de lei, como a PL 215/2007, que institui o Código Federal de Bem-Estar Animal.



Conclusões

O bem-estar animal não é um atributo importante para o consumidor, e isso pode ser explicado em partes pela falta de informação da comunidade. Com isso, torna-se fundamental a divulgação de informações claras e confiáveis a respeito do bem-estar animal e o verdadeiro impacto desse atributo na qualidade da carne.



Gráficos e Tabelas




Referências

ACEBRÓN, L. B.; DOPICO, D. C.; The importance of intrinsic and extrinsic cues to expected and experienced quality: an empirical application for beef. Food Quality and Preference,n.11, 2000, p.229-238. AMARAL, V. M. et al. Percepção dos consumidores sobre o bem estar dos animais de produção no município de Itinga do Maranhão-MA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 2015, Fortaleza. Anais... Maranhão: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 2015. CAZELLI, L. O bem estar animal e seu efeito na qualidade da carne bovina. Disponível em: http://sites.beefpoint.com.br/mypoint/o-bem-estar-animal-e-seu-efeito-na-qualidade-da-carne-bovina/. Acesso em: 21 Mar. 2017. HOTZEL, M. J.; FILHO, L. C. P. M. Bem-estar animal na agricultura do século XXI. Revista de Etiologia, v.6, n.1 p.03-15, 2004. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=500110&search=mato-grosso-do-sul|aquidauana|infograficos:-informacoes-completas>. Acesso em: 10 março 2016. MOLENTO, C.F.M. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos –Revisão. Archives of Veterinary Science v.10, n.1, p.1-11, 2005. OLIVEIRA, C. B.; BORTOLI, E. C.; BARCELLOS, J. O. J. Diferenciação por qualidade da carne bovina: a ótica do bemestar animal. Ciência Rural, v.38, n.7, p.2092-2096, 2008. PELINSKI, A.; SILVA, D. R. da; SHIKIDA, P. F. A. A dinâmica de uma pequena propriedade dentro de uma análise de filière. Organizações Rurais & Agroindustriais, v.7, n.3, p.271-281, 2005.