Perdas de silagens de seis gramíneas de clima tropical no município de Parintins-AM

João Pedro Cidade Almeida1, Rodrigo Rener dos Santos Martins2, Alef Soares Nunes3, Avelino Paiva da Cruz Neto4, Larissa Salgado da Cunha5, Kleber Reis Rocha6, Wendel Gloria dos Santos7, Tarick Freitas Leite Campos8
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar as perdas de matéria seca e sua recuperação, e perdas de efluentes de silagens de capim-Anão, capim-Napier, capim-Comum, capim-Canarana, capim-Colonião e capim-Mombaça. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com três repetições. Utilizaram-se silos experimentais de tubos de PVC de 50 cm de comprimento e 10 cm de diâmetro com fundo de madeira e capacidade de 4L. Os silos foram selados e permaneceram fechados por 38 dias. Os silos foram pesados duas vezes por semana durante todo o período de armazenagem. Houve efeito (P<0,01) entre as silagens de capim a essas três variáveis estudadas. A maior perda de MS foi verificada nas silagen de capim-Comum e capim-Anão, e o menor valor na silagem de capim-Canarana, capim-Colonião e capim-Mombaça. As perdas por efluentes foram baixas em comparação às encontradas na literatura. Capim-Canarana, capim-Colonião e capim-Mombaça foram que sofreram menores perdas.

Palavras-chave: efluentes, perdas de matéria seca, recuperação de matéria seca

Losses evaluation of six grasses silages of the city of Parintins-AM

ABSTRACT - The objective was to evaluate the losses of dry matter and its recovery, and losses of effluent from dwarf grass, Napier grass, Common grass, Canarana grass, Colonium grass and Mombaça grass. A completely randomized design with three replications. Experimental silos of PVC tubes 50 cm long and 10 cm in diameter with a wooden bottom and 4L capacity were used. The silos were sealed and remained closed for 38 days. The silos were weighed twice a week for the entire storage period. There was an effect (P <0.01) between grass silages on these three studied variables. The highest loss of DM was observed in the silages of Common grass and Dwarf grass, and the lowest value in the Canarana grass, Colonium grass and Mombasa grass silage. Effluent losses were low compared to those found in the literature. Canarana grass, Colonium grass and Mombaça grass suffered the lower losses.
Keywords: Effluents, dry matter losses, dry matter recovery


Introdução

No processo de ensilagem, a escolha da forrageira é um dos principais pontos a serem considerados para obtenção de silagem de boa qualidade. Em virtude dos teores de açúcares solúveis pré-existentes no material, dos cuidados na ensilagem, do grau de maturidade da forragem, da quantidade de forragem produzida, e outras. Dentre as forrageiras disponíveis no município de Parintins-Am para esta finalidade são predominantemente as do gênero Brachiaria, Pennisetum, Panicum e até mesmo capins de várzea como a Echinochloa. Segundo McDonald (1991), plantas ensiladas com elevada umidade, como as de capim, produzem grande quantidade de efluentes, que carreiam nutrientes altamente digestíveis, açúcares, ácidos orgânicos; gases, tais como CO2, etanol, ácido acético e amônia; que culminam em perdas principalmente de matéria seca. Mesmo sabendo que silagem de capim é de baixa qualidade, existe pouca informação disponível a respeito das perdas na fermentação do material ensilado. Dessa forma, estudar as perdas das silagens, bem como sua quantificação pode auxiliar o técnico em melhores estimativas e a realizar o melhor manejo da silagem. Com isso objetivou-se avaliar as perdas de matéria seca e sua recuperação, e perdas de efluentes de silagens de capim-Anão, capim-Napier, capim-Comum, capim-Canarana, capim-Colonião e capim-Mombaça.

Revisão Bibliográfica

O uso de silagens de gramíneas tropicais tem se tornado muito comum na produção de ruminantes no Brasil, como forma de utilização do excedente da produção forrageira do período chuvoso do ano para minimizar o problema de escassez de alimento no período seco (Bernadino et al., 2005). Gramíneas apresentam melhor valor nutricional quando jovens, porém apresentam altos teores de umidade, alto poder tampão e baixas concentrações de carboidratos solúveis, o que resultam em uma silagem de baixa qualidade (Ávila et al., 2009), devido alto teor de umidade e ocasiona perdas de 48,9% da MS (McDonald, 1991). A ensilagem de capim está sujeita a perdas por gases e efluentes, que estão associadas ao teor de umidade. Bactérias do gênero Clostridium são favorecidas em ambientes muito úmidos, com elevado pH e alta temperatura, elevando as perdas por gases, pois produzem CO2 e ácido butírico, em vez de ácido lático. Além disto, o elevado poder tampão das silagens de capim favorecem o crescimento de enterobactérias, que são produtoras de gases, tais como CO2, além de etanol, ácido acético e amônia (Zanine et al., 2006). No Amazonas, poucos trabalhos de pesquisa foram realizados visando à quantificação das perdas absolutas que ocorrem na ensilagem e, na maior parte, esses não representam a real situação do produtor, pois a maioria das pesquisas foi conduzida utilizando-se de silos laboratoriais (comparando efeitos de tratamentos), em condições que não refletem a realidade do processo (Neumann et al., 2007). Em especial, não se dispõe de dados sistematicamente produzidos sobre as perdas que ocorrem durante a “ensilagem” e “desensilagem” do material, as quais, segundo McDonald et al. (1991) e Bolsen et al. (1996), podem acrescentar até 20% de perdas no processo.

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no Laboratório de Solos da Universidade Federal do Amazonas-UFAM, localizado no Município de Parintins-AM, no período de junho a setembro de 2016. Coletaram-se seis gramíneas de diferentes espécies em área experimental da EMBRAPA no mesmo município, a Brachiaria humidicola cv. Comum, capim-canarana (Echinochloa polystachia), Pennisetum purpureum cv. Anão e Napier, e Panicum maximum cv. Colonião e Mombaça. As gramíneas foram colhidas 60 dias após corte de uniformização da parte aérea. Após o corte, as gramíneas foram trituradas em partículas de 2 cm de comprimento. Utilizaram-se como silos experimentais tubos de PVC de 50 cm de comprimento por 10 cm de diâmetro com fundo de madeira e capacidade de 4L. A compactação foi realizada com auxílio de soquetes de madeira, com acomodação de camadas de aproximadamente 5 cm de espessura, obtendo-se uma massa específica entre 550 e 600 kg de matéria verde/m3. Os silos foram selados e permaneceram fechados por 38 dias. Os silos foram pesados duas vezes por semana durante todo o período de armazenagem. As variáveis avaliadas foram perda e recuperação da matéria seca (MS) e perdas por efluentes. A perda de MS (PMS), recuperação de MS (RMS), e perda por efluentes (PE), durante o período de ensilagem, foram calculada pela diferença entre o peso da MS inicial e final nos silos, conforme descrito por Jobim et al. (2007) e Balieiro Neto et al. (2009). O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com três repetições. Primeiramente foi realizado o teste F em seguida as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa Assistat 7.7 beta.

Resultados e Discussão

Na Figura 1 observam-se os valores médios percentuais das perdas de MS (A), recuperação de MS (B), e perdas por efluentes (C) das silagens de capim-Anão, capim-Napier, capim-Comum, capim-Canarana, capim-Colonião e capim-Mombaça. Houve efeito (P<0,01) entre as silagens de capim a essas três variáveis estudadas. Pode-se deduzir que as silagens tiveram fermentação diferenciadas, resultando no efeito entre as perdas, em virtude da composição bromatológica, e principalmente, devido ao teor de umidade dos capins no momento do enchimento dos silos. Figura 1 – Valores médios da perda (A), recuperação de matéria seca (B), e perda de efluentes de seis gramíneas de clima tropical conservado por 38 dias. Barras seguidas de mesma letra não diferem-se pelo teste de Tukey. **(P<0,01), Coeficiente de variação (CV%). A maior perda de MS foi verificada na silagem de capim-Comum (14,7%) e o menor valor na silagem de capim-Mombaça (0,18%) (Figura 1A). Para esta variável, segundo teste de Tukey, foi verificada a formação de três grupos dos capins. O primeiro com as maiores perdas de MS (capim-Anão, e capim-Comum), o segundo intermediário (capim-Anão, capim-Napier, e capim-Colonião), e o terceiro com as menores perdas (capim-Canarana, capim-Colonião, e capim-Mombaça). Este resultado em parte foi de acordo com o esperado, exceto o capim-Canarana no grupo de menor perda de MS, em virtude de ser uma gramínea de várzea e o teor de umidade elevado. Para a recuperação de MS foi verificada efeito (P<0,01) entre os capins, sendo muito superior ao encontrado na literatura. A recuperação da MS tem alta correlação com a perda por gases (98,4%) (Pedroso et al., 2005), variável não analisada no estudo. De acordo com McDonald et al. (1991), a fermentação por leveduras gera perdas de 48,9% de MS e de 0,2% de energia, portanto, a recuperação da MS nas silagens de capim-Comum possivelmente ocorreu pela perda por gases oriundos do efluente que lixiviou até o fundo do silo. A produção de efluente pelas silagens (Figura 1C), foi baixa em comparação aos resultados observados na literatura que variam de 5 a 2%. Alguns fatos podem estar relacionados a essa produção de efluentes, o primeiro relacionado a picagem do material, pois, apesar de não ter sido quantificado o tamanho das partículas, visualmente observou-se uniformidade nos tamanhos de partículas em 2 cm. Outra explicação seria o processo de ensilagem em silos experimentais de PVC, pois os bastões de madeira utilizados na compactação da forragem apresentavam diâmetro menor ao dos silos, o que propiciou compactação sobre deferentes pontos na superfície do silo, permitindo movimentação da forragem, e melhor acomodação da massa. Essa forma de compactação pode ter provocado menor dilaceramento das partículas ensiladas e diminuído a produção de efluente.

Conclusões

As perdas e recuperação de matéria seca e perdas por efluentes foram influenciadas pela espécie de capim ensilada. Capim-Canarana, capim-Colonião e capim-Mombaça foram que sofreram menores perdas.

Gráficos e Tabelas




Referências

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