Perfil do consumidor de carne suína na cidade de Dom Pedrito – RS

Filipe Mello Dorneles1, Larissa Braganholo Vargas2, Arthur Fernandes Bettencourt3, Lilian Ribeiro Kratz4, Angélica Tarouco Machado5
1 - Universidade Federal do Pampa
2 - Universidade Federal do Pampa
3 - Universidade Federal do Pampa
4 - Universidade Federal do Pampa
5 - Universidade Federal do Pampa

RESUMO -

A carne suína possui reconhecido valor nutricional e sensorial, sendo, por isso, a carne mais consumida no mundo e a mais utilizada para a fabricação de derivados. Contudo, o consumo de carne suína no Brasil é menor que o de carne bovina e de frango e há pouco conhecimento da população sobre suas qualidades. Levando em consideração a necessidade de desmistificar alguns conceitos relacionados à carne suína para a população, o presente estudo teve como objetivo traçar o possível perfil do consumidor de carne suína e seus derivados na cidade de Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul. Foram aplicados questionários do tipo survey contendo 21 perguntas de múltipla escolha sobre o hábito de consumo e preferências dos consumidores, para um total de 93 pessoas selecionadas aleatoriamente. Após a análise dos questionários observou-se que 66% dos entrevistados afirmam comprar carne suína, sendo que 44% dos consumidores, optam pelo pernil suíno. Do total dos consumidores questionados, 46% afirmaram consumir mensalmente a carne suína. Quando questionados sobre o consumo de derivados suínos, 88% relataram consumir. Acerca dos benefícios da carne suína para a saúde, 51% dos entrevistados afirmaram possuir algum tipo de conhecimento sobre o assunto. No entanto, a falta de conhecimento dos consumidores chamou a atenção durante a pesquisa, pois muitos entrevistados demonstraram desconhecer que determinados produtos sejam feitos com carne suína, mostrando-se surpresos ao serem informados do fato.

Palavras-chave: carne suína, comportamento do consumidor, consumo, derivados

Consumer profile of pork in the city of Dom Pedrito - RS

ABSTRACT - Pork has recognized nutritional and sensorial value, being therefore the most consumed meat in the world and one more used for a manufacture of derivatives. However, the consumption of pork in Brazil is lower than that of beef and chicken, and there is little knowledge of the population about its qualities. Taking into account the need to demystify some concepts related to pork for a population, the present study aimed to bring the possible profile of the consumer of pork and its derivatives in the city of Dom Pedrito, in Rio Grande do Sul. On the type of survey 21 multiple-choice questions on consumer consumption and consumer preferences, for a total of 93 randomly selected people. After an analysis of the questionnaires, it was observed that 66% of the interviewees affirmed to buy pork, and 44% of the consumers, opt for the pig shank. Of the total consumer questionnaires, 46% reported consuming pork on a monthly basis. When questioned about the consumption of pork products, 88% reported consuming. About the health benefits of pork, 51% of the respondents said they had some kind of knowledge about the subject. However, a lack of consumer knowledge drew attention during a survey, the respondents demonstrated that they were unaware that certain products are made with pork, being surprised to be informed of the fact.
Keywords: pork, consumer behavior, consumption, derivatives


Introdução

A carne suína é considerada uma das mais importantes proteínas animais do mundo, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2006). Em números, o Brasil é o quarto maior produtor mundial, tendo alcançado uma produção de 3.344 mil toneladas em 2014 (ABPA, 2014) e o quinto maior consumidor em termos absolutos (2,7 % do total), conforme dados do USDA, Bradesco (2016). Em relação aos maiores consumidores per capita da carne suína, o maior número concentra-se na China (50,1%), União europeia (19%) e EUA (8,7%) (USDA, Bradesco, 2016). Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA, 2016), o país produziu em 2015 cerca de 3,643 toneladas enquanto que o consumo girou em torno de 15,1 kg por habitante brasileiro. Entre as razões para o consumo, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, Jones (1998) apud Irgang (2008), destaca a relação com o fato de ser uma excelente fonte de proteína, ferro, potássio e vitaminas do complexo B e, além disso, a gordura suína é considerada fonte nutricional rica em energia, sendo ainda um substrato de alto valor para a preparação de alimentos e por conferir alta qualidade organoléptica ao produto, tornando-o único para consumo. Parafraseando Cal (2006), a suinocultura tem enfrentado transformações em busca de melhorias na produção de suínos, no manejo e genética, além de aplicar cada vez mais o bem-estar animal, buscando resultar em um produto final de excelência. À procura destas melhorias, a redução da gordura total da carcaça foi de cerca de 30%, e o teor de colesterol caiu mais de 10%. No que se refere à percepção e ao consumo da carne suína, identifica-se que, apesar dos tantos avanços tecnológicos em sua produção, conceitos cediços ainda influenciam negativamente o consumidor, fazendo com que este, acredite que a carne suína e seus derivados são ricos em gordura, com elevado teor de colesterol e potencialmente perigosos à saúde (FARIA; FERREIRA; GARCIA, 2006). Posto que marketing pode ser definido como sendo uma estratégia empresarial de otimização de lucros por meio da adequação da produção e oferta de mercadorias ou serviços às necessidades e preferências dos consumidores (Kotler, 2007), conforme Faria; Ferreira; Garcia (2006), esta percepção acerca dos produtos suínos tende a mudar, desde que ocorram investimentos em marketing, informando assim, aos consumidores os benefícios que os produtos oferecem, seguindo o pressuposto de que preço não se enquadra como um fator limitante para o consumo e sim a origem e qualidade dos produtos. Para Cavalcante Neto (2003), a caracterização e a avaliação do mercado consumidor da carne suína e seus derivados facilitarão o desenvolvimento dos sistemas de produção, processamento e comercialização na suinocultura, a fim de atender às expectativas desses consumidores, com ênfase na segurança, qualidade e preço dos produtos. A problemática que envolve o consumo da carne suína compreende principalmente o preconceito frente à saúde, devido às doenças relacionadas ao “porco”, à falta de praticidade dos cortes, que são em geral volumosos e inadequados ao preparo rápido, necessário para acompanhar o dinamismo da vida urbana, e também ao preço elevado do produto. Desse modo, este estudo objetiva traçar o perfil do consumidor de carne suína e seus derivados no município de Dom Pedrito, localizado na região da Campanha no Rio Grande do Sul. Além disso, busca-se aferir as principais características do aceite e/ou rejeição da carne suína.

Revisão Bibliográfica

Produção de suínos no Brasil De acordo com informações apresentadas pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos, a produção da proteína animal oriunda da suinocultura, no país, ocupa posição de destaque no panorama mundial, onde é o quarto maior produtor, e também, o quarto maior exportador de carne suína. A proteína brasileira ultrapassa fronteiras de mais de 70 países, sendo reconhecida como produto de qualidade por exigentes mercados internacionais, além disso, a cadeia produtiva nacional é competitiva diante dos concorrentes no mercado de suínos (FERREIRA et al., 2014). Dados de 2015, pertinentes à produção e abate de suínos no Brasil revelam números que apontam a região Sul do país como detentora de uma maior fatia da produção da proteína, representando um percentual de 69,56% do abate de suínos, sendo que o estado de Santa Catarina atinge uma margem de 27,4%. (ABPA, 2016). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelou em seu relatório “Estatística da Produção Pecuária” que, no quarto trimestre de 2016, foram abatidas 10,81 milhões de cabeças de suínos, número este que traduz aumentos de 0,8% comparado ao trimestre anterior e de 5,8% na comparação com o mesmo período de 2015. Além disso, foi possível aferir que o resultado é recorde desde que se iniciou a pesquisa no ano de 1997 (IBGE, 2017). A produção brasileira de carne suína no ano de 2015 atingiu uma média de 3,6 milhões de toneladas, volume 4,9% superior ao registrado no mesmo período do ano de 2014, que atingiu o valor de 3,4 milhões de toneladas. O consumo per capita no país chegou em 2015, pela primeira vez na história, a 15 quilos, índice 2,7% superior em relação ao registrado em 2014. Para o ano de 2016, o setor de suínos prevê um crescimento de 2% a 3% na produção nacional (ABPA, 2015; ABPA, 2016).  Criação de suínos O desenvolvimento da suinocultura se integra em um importante fator de crescimento econômico nacional, desdobrando-se em implicações que multiplicam renda e emprego em todos os setores englobados pela cadeia produtiva, isto se dá pelo fato de intensificar a demanda de insumos agropecuários e a expansão da comercialização e industrialização da produção (CARVALHO; VIANA, 2011). Ademais, o crescimento da suinocultura tem relação direta com o desenvolvimento e melhorias dos sistemas de produção de suínos, que, segundo Miele e Waquil (2007), tal crescimento ocorreu nas principais regiões produtoras e se concentrou nos alojamentos ligados às integrações ou às cooperativas. Por outro lado, estima-se que o rebanho de subsistência venha decrescendo anualmente, perdendo espaço na suinocultura brasileira. Concernente a produção de suínos, Nicolaiewsky et al. (1998) apud Anunciato (2015) afirmam que dentro da suinocultura encontramos sistemas de produção de suínos, também chamados de “granjas de suínos”, compostos por um conjunto inter-relacionado de componentes ou variáveis organizadas que tem como objetivo básico a produção de suínos. De acordo com Carvalho e Viana (2011), o produtor fica responsável pelo gerenciamento do sistema produtivo, este composto por animais, edificações, equipamentos, alimentação e meio-ambiente, e deve levar em consideração todos estes fatores ao administrar a produção em uma granja. Ainda, o produtor deve considerar o tamanho da granja, e quais os métodos e tipos de criação a serem utilizadas. Os sistemas de produção de suínos dividem-se em: sistema de criação ao ar livre (SISCAL), sistema de criação misto ou semiconfinado e sistema de criação confinado. E ainda se subdividindo de acordo com a finalidade, que seria dividido em: produção de ciclo completo, produção de leitões desmamados, produção de terminados, produção de reprodutores tradicional, produção de reprodutores em granja núcleo e produção de reprodutores em granja multiplicadora (DALLACOSTA et al., 2002; SOBESTIANSKY et al., 1998; AMARAL et al., 2006). Caracterização do município de Dom Pedrito De acordo com dados disponibilizados pelo IBGE (2017), o município de Dom Pedrito, localizado na região sudoeste do estado do Rio Grande do Sul, possui população total de 38,898 habitantes, sendo 19,107 homens e 19,791 mulheres. O município possui uma área de 5.190.238 km², sendo considerado um dos cinco maiores municípios do estado em extensão territorial, além disso, outro dado é de que o PIB anual do município é de R$ 24.472,77. Grande parte da área do município é destinada às atividades agropecuárias, sendo a produção de arroz uma das principais atividades agrícolas de Dom Pedrito. O município é o quinto maior produtor do estado, e esse cultivo destaca-se em função da localização privilegiada pela existência do rio Santa Maria e suas várzeas. Outra atividade que movimenta o mercado local é a pecuária de corte, recebendo destaque na pecuária através do melhoramento genético (BARRETO, 2011; MORONI; DAVID, 2011). De acordo com dados da ABPA (2015) o comércio per capita de carne suína no Brasil é inferior ao das carnes de frango e boi, sendo que no ano de 2015 foram comercializados 13 mil toneladas de carne de frango e 10,26 mil toneladas de carne bovina enquanto que somente 3,52 mil toneladas de carne suína foram comercializadas. A quantidade de carne suína consumida no Brasil também é inferior ao consumo nos principais países produtores e consumidores no mundo inteiro. Quanto ao consumo de carnes no município estudado, segundo Jorge (2001) a bovina é a mais consumida, enquanto que, em sua análise, a proteína de fonte animal suína é uma opção alternativa, sendo semanalmente consumida num percentual de 40% comparados com as carnes de frango, de ovinos e de peixe (carnes alternativas). Perfil do consumidor e o panorama do consumo de carne suína no Brasil Ferguson (1994), em relação à teoria do comportamento do consumidor, relata que o consumidor organiza suas compras de modo a aumentar a satisfação que está sujeita à sua renda monetária limitada. A maneira como o consumidor ordena suas aquisições dentre as possibilidades descreve suas preferências. Estas preferências ordenam a demanda no mercado que estão aliadas ao preço do produto, preço de bens que podem vir a ser substituídos e a renda do consumidor. Segundo Porto (2004), o consumidor final é um importante agente para as cadeias produtivas, isto se dá pelo fato de sua atuação ser crucial para as organizações que possuem a pretensão de ser ou continuar sendo competitivas no mercado, além de atuarem para a formação de estratégias empresariais sustentáveis a longo prazo. Em relação ao mercado, atualmente, a carne suína é a carne animal mais consumida no mundo, perfazendo 39%, ou seja, quase metade da oferta total (SALES et al., 2013). No entanto, no Brasil, conforme Sarcinelli (2007) e Dias (2011) apud Kirinus et al. (2016), apesar de toda a quantidade e qualidade da carne suína brasileira, ainda existem inúmeras restrições por parte da população em relação ao consumo desta proteína, principalmente pela desinformação e ¨mitos¨ culturais dos processos produtivos e ambientais deste produto, resultando em um consumo baixo. Ao contrário do perfil mundial, no Brasil, o consumo de carne suína é menor em comparação as carnes bovinas e de frango. O brasileiro, ao todo, consome em média 80 quilos de carne, sendo destes, somente cerca de 11 a 14 quilos de carne suína, dos quais a maior parte é consumida na forma de produtos derivados. Além disso, Miele & Santos (2005) apud Raimundo e Zen (2010, p. 5) apresentam que, “o segmento agroindustrial da carne suína opta por ofertar apenas 30% do total produzido como carne fresca no mercado, já que dessa forma é possível obter maior retorno do capital empregado com a venda de produtos com algum grau de industrialização”. Os autores destacam a notoriedade das estratégias realizadas dentro da agroindústria, visando à inovação dos produtos processados e dos alimentos prontos, porém, a busca por este grau de inovação não se estende a produção de carne “in natura”, resultando em menor valorização do produto.

Materiais e Métodos

Etapas de levantamento de dados A pesquisa realizada foi de origem exploratória e descritiva. De acordo com Gil (1991), a pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, tendo como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. O procedimento técnico utilizado foi o levantamento (Survey) que propõe a interrogação direta de pessoas (LACERDA et al., 2007). No que tange à abordagem do problema de pesquisa, o estudo caracteriza-se pela natureza quali-quantitativa, ou seja, método misto. Este tipo de abordagem tem a peculiaridade de tratar os dados recolhidos quantitativa e qualitativamente ao mesmo tempo. Sendo assim, na abordagem quantitativa, o conhecimento é objetivo e quantificável. [...] num estudo quantitativo o pesquisador conduz seu trabalho a partir de um plano estabelecido a priori, com hipóteses claramente especificadas e variáveis operacionalmente definidas. Preocupa-se com a mediação objetiva e a quantificação dos resultados. Busca a precisão, evitando distorções na etapa de análise e interpretação dos dados, garantindo assim uma margem de segurança em relação às inferências obtidas (GODOY, 1995, p.58). Já na abordagem qualitativa, Godoy (1995) explica que a pesquisa é feita de forma direta com o ambiente e a situação a ser estudada: Os estudos denominados qualitativos têm como preocupação fundamental o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural. Nessa abordagem valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada (GODOY, 1995, p. 62). Como citado, a metodologia utilizada envolverá a abordagem quantitativa e qualitativa, pois os métodos quantitativos permitem explorar os dados e informações, mas para que os resultados sejam adequadamente interpretados, uma abordagem qualitativa pode ser muito bem adequada para este propósito, pois favorece o pesquisador na descrição da complexidade do problema da pesquisa possibilitando compreender os processos dinâmicos vividos por grupos sociais e entender as particularidades dos indivíduos em suas escolhas e relações. A escolha de ambas as abordagens, justifica-se em razão da problemática da pesquisa e dos objetivos traçados. Objeto de pesquisa A seleção da amostra foi feita por conveniência, entre os clientes de um supermercado do município e um açougue de Dom Pedrito, Rio Grande do Sul, e ainda com pessoas que circulavam pelas vias públicas, tendo sido abordadas aleatoriamente em ambos os momentos da pesquisa. Após aceitarem participar do estudo, foram apresentadas as perguntas. Segundo Malhotra (2012, p. 275), a técnica de amostragem por conveniência “é uma técnica de amostragem não probabilística que procura obter uma amostra de elementos convenientes. A seleção das unidades amostrais é deixada a cargo do entrevistador”. Técnica de coleta de dados A elaboração dos questionários, após revisão bibliográfica, ocorreu entre os meses de agosto e novembro de 2016. Após a elaboração dos questionários, aplicaram-se os mesmos entre os dias 1 de novembro a 10 de novembro de 2016, na cidade gaúcha de Dom Pedrito, totalizando 10 dias de trabalho. Os questionários foram aplicados sempre no período da tarde, durante alguns dias da semana escolhidos aleatoriamente e de acordo com disponibilidade de tempo dos pesquisadores. Foram preenchidos na primeira aplicação 35 questionários e na segunda, 58. O questionário era constituído de 21 perguntas fechadas de múltipla escolha. A elaboração do questionário ocorreu através de pesquisa em diversos materiais científicos, sendo que as perguntas foram elaboradas e escolhidas a fim de que pudessem caracterizar o possível perfil do consumidor de carne suína no município de Dom Pedrito. Os questionários continham imagens de cinco cortes cárneos suínos, sendo eles lombo, costela, pernil, paleta e bisteca. Estas foram mostradas ao público alvo para que fosse feita a identificação de determinados cortes cárneos. O aplicador lia a questão e marcava a opção escolhida, sendo permitida somente uma alternativa por questão. Após o encerramento da etapa de aplicação de questionários e coleta de dados, todos os dados foram tabulados usando o programa de computador MS Excel 2010 para a análise das frequências e elaboração dos gráficos. A partir das respostas obtidas nos questionários foi conduzida uma análise dos indicadores dos principais produtos. Os dados coletados foram aferidos, tabulados e interpretados. Depois, fez-se a discussão dos resultados da pesquisa, com base na análise e interpretação dos mesmos a fim de identificar e quantificar as respostas obtidas em cada questão.

Resultados e Discussão

Gênero e faixa etária dos entrevistados As primeiras perguntas do questionário visavam caracterizar os entrevistados por meio de características referentes à idade e ao sexo. A partir da amostra utilizada neste trabalho, que foi constituída por 67 mulheres (72% dos entrevistados) e 26 homens (28% dos entrevistados), apresentaram-se as seguintes frequências de idades: 37% de 18 a 25 anos, 17% de 26 a 35 anos, 22% de 36 a 45 anos e 24% com mais de 45 anos. Cortes mais consumidos Após a apresentação das imagens dos cortes aos entrevistados, estes manifestaram seu conhecimento a respeito dos diferentes cortes de carne suína.  Das 93 pessoas entrevistadas, 29% afirmaram conhecer o pernil suíno, 22% reconheceram a bisteca, 21% identificaram a costela, 16% o lombo e 12% a paleta suína (Figura 1). Estes dados concordam com os apresentados por Raimundo e Zen (2010), que, de acordo com os dados coletados em entrevistas em um Supermercado de Jundiaí, o pernil é, de fato, o corte suíno mais conhecido pelos consumidores. Além disso, Santos et al. (2011) relatam que, no município de Aquidauana, em torno de 70% da população avaliada afirmou conhecer os cortes de carne suína in natura e 30% desconhecer. Dentre a parte da população de Aquidauana que se disse conhecedora, os cortes mais conhecidos foram o pernil (56,3%), a costela (53,8%), paleta (29,2%) e cabeça (28,1%). Consumo de carne suína Quando questionado aos entrevistados se eles faziam consumo de carne suína, 66% afirmaram consumir e 44% disseram não fazer o consumo desta proteína animal (Figura 2). Cortes comprados com maior frequência Dos entrevistados que afirmaram comprar a carne, 35% optam por comprar o pernil suíno, 20% a bisteca, 20% a costela suína (Figura 3). Estes dados divergem dos encontrados por Bezerra et al. (2007) que relataram em seu estudo que a bisteca é o corte comercial de maior preferência entre os consumidores, com 52,35%; seguido da costela, com 27,52%; e do pernil, com 6,71%. Já no Distrito Federal, o corte mais consumido é, segundo Murata et al. (2002), o pernil; a costela aparece em segundo lugar, seguida da bisteca, que é o corte preferido na microrregião de João Pessoa, segundo Cavalcante Neto (2003). Observa-se que três cortes são citados nos três trabalhos, ocupando sempre as três primeiras colocações, embora, dependendo da região, em posições diferentes, sendo eles o pernil, a bisteca e a costela suína. Frequência de consumo Com relação à frequência de consumo, constatou-se que 27 dos entrevistados consumiam mensalmente carne suína, 18 semanalmente, 8 quinzenalmente e 4 diariamente, enquanto que as demais opções não foram citadas (Figura 4). Isso vem a concordar com Raimundo e Zen (2010), que constataram que grande parte dos consumidores da cidade de Botucatu declararam consumir a carne suína apenas quinzenalmente, mensalmente ou apenas em ocasiões especiais. Motivo de consumo O motivo de realizar a compra e o consumo da carne suína mais recorrente entre os respondentes foi o sabor, com 45% das respostas, seguido do preço, com 21%, facilidade de preparo com 18%, o fato de ter menor teor de gordura, com 13% e a opção “outros motivos” foi citada por 3% dos entrevistados. (Figura 5). Estes dados discordam do analisado por Bezerra (2007), que avaliou que na microrregião de Campina Grande, 39,5% dos entrevistados disseram preferir um determinado tipo de carne em virtude do preço, 28,5% do sabor, 22,75% justificaram a aparência e 9,25% alegaram o seu valor nutritivo. Segundo Cavalcante Neto (2003), o principal motivo, na microrregião de João Pessoa, que leva o indivíduo a preferir uma determinada carne a outra segue a seguinte ordem: hábito, sabor, preço, valor nutritivo, praticidade, sanidade e outros motivos. Mais uma vez, nota-se uma divergência de opiniões, visto que, neste estudo, o sabor foi o principal motivo, ao passo que, na microrregião de João Pessoa, isso apareceu somente na terceira colocação. Quando questionados sobre a satisfação com os cortes existentes no comércio, 63% dos entrevistados alegaram que os cortes são satisfatórios para eles e 31% responderam que os cortes existentes não são satisfatórios. Já 51% dos respondentes afirmaram que se existissem outros cortes suínos no mercado, fariam consumo, enquanto que 26% não fariam consumo de novos cortes e 23% talvez fizessem o consumo, o que vem a concordar com Bezerra (2007), que diz que novos cortes comerciais de carne suína, como a picanha e o filé mignon, despertam a atenção de 94,25% dos entrevistados. Derivados No presente estudo se questionou ainda se os entrevistados consumiam derivados de carne suína, vindo a ser observado que 88% faziam consumo de algum tipo de derivado e 22% não consumiam nada de derivados suínos. Nesta pesquisa, o presunto foi o derivado mais consumido (27% dos entrevistados), seguido por mortadela (24%), bacon (21%), calabresa (12%), salame (11%) e salsicha (5%). Estes dados divergem dos apresentados por Santos et al. (2011), revelando que acerca do consumo de embutidos ou outros derivados da carne suína, os produtos processados de carne suína preferidos pela população são: mortadela (51,3%), presunto (50,6%), linguiça calabresa (48,8%) e bacon (45,0%). Isto aponta que na cidade de Aquidauna o derivado mais consumido é a mortadela enquanto que os consumidores entrevistados de Dom Pedrito preferiram o presunto. Onde compram a carne Dos entrevistados que dizem comprar carne suína, 79% afirmam comprar carne suína em mercados, 11% em açougues e 10% direto de produtores. Já, referente ao lugar de obtenção de produtos suínos, o presente estudo concorda com diversos autores, como Murata et al. (2002) e Cavalcante Neto (2003), que relatam que os entrevistados costumam obter seus produtos (carne suína e/ou industrializados) no supermercado (40,75%), na feira (37,00%) e diretamente do produtor (22,25). Varga (2015) verificou também que o local de preferência na aquisição da carne suína foi o mercado com 74,8%, seguida pelo açougue com 15,3% e a boutique de carne com 1,5%. No entanto Raimundo e Zen (2010) relatam que alguns consumidores afirmam optar pela compra no supermercado apenas esporadicamente, pois, no geral, preferem o açougue pela maior variedade de carnes, por confiarem no estabelecimento, e também por acreditarem que a carne seja mais fresca. Motivo de escolha do fornecedor Os entrevistados relataram que compram em um determinado estabelecimento comercial por diversos motivos, por fatores como: preço (52%), qualidade (20%), apresentação (15%) e higiene do local (13%). O resultado obtido quanto à escolha do fornecedor se distancia do encontrado por Varga (2015) que relata que a qualidade foi o critério mais relevante (41%), seguido pelo corte (28,7%) e em terceiro lugar o preço (18%). Há divergência também do encontrado por Heinen (2013), que observou que o preço é considerado um dos aspectos de menor importância no momento da compra pelos consumidores, demonstrando que muitas vezes o consumidor procura outras informações referentes ao produto que ultrapassam a questão do preço. Conhecimento dos benefícios da carne suína para a saúde Diante de quem relatou não consumir a carne suína, 56% dos respondentes relataram não consumir porque não apreciam a carne, 25% das pessoas responderam que não consomem por motivos de saúde, 13% dos respondentes afirmaram não saberem preparar a carne suína e, 6% dos entrevistados alegaram não consumir por motivos religiosos. Durante a pesquisa, não foi encontrado nenhum vegetariano. Quando questionados se possuíam algum conhecimento sobre os benefícios da carne suína para a saúde, 51% dos entrevistados afirmaram conhecer algum benefício e 49% afirmaram total desconhecimento. A maioria dos entrevistados que afirmaram não ter conhecimento sobre os benefícios da carne, diz não consumir devido ao alto teor de gordura e por ser considerada prejudicial à saúde. Na última parte da pesquisa, os entrevistados foram questionados sobre o grau de conhecimento a respeito do lombo suíno apresentar menor teor de gordura que a coxa de frango e a alcatra bovina. Dos entrevistados, 60% revelaram possuir este conhecimento e 40% indicaram não possuir conhecimento sobre este fato. Das pessoas que afirmaram saber desta informação, a grande maioria relatou que esse fato não influenciava no seu consumo de carne suína.

Conclusões

O perfil do consumidor de carne suína é pouco conhecido na maioria das regiões do Brasil, podendo ser este um dos fatores que contribui para que a comercialização de carne suína não tenha acréscimos significativos ao longo dos anos. Levando em consideração os pontos avaliados na pesquisa, foi possível concluir que a frequência de consumo de carne suína se mostrou alta no município, embora tenha sido relatado por grande número dos entrevistados que a carne suína é uma segunda opção de compra, tendo como primeira opção a carne bovina. Mas fica claro que o não consumo está relacionado à falta de conhecimento dos consumidores sobre a qualidade nutricional da carne e os benefícios a saúde que são relacionadas a ela, sendo observado que a falta de informação dos consumidores ainda é uma das maiores barreiras enfrentadas pela suinocultura atual. O consumo de derivados e produtos feitos com derivados de carne suína mostrou-se apreciado pela grande maioria dos entrevistados. No entanto, a falta de conhecimento dos consumidores chamou a atenção durante a pesquisa, pois muitos entrevistados indicaram desconhecer que determinados produtos sejam feitos com carne suína, mostrando-se surpresos ao serem informados do fato. Isso ocorreu com a mortadela, o presunto e a salsicha.

Gráficos e Tabelas




Referências

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