Perfil dos consumidores alegrenses quanto à carne de rã

Geyse de Oliveira Costa1, Sâmila Esteves Delprete2, Stefani Grace da Silva Moraes3, Letícia Mária Costa Fregulhia4, Allison Queiroz de Oliveira5, Higor Santos de Oliveira6, Lorena Vesfal Bulhões7, Shamara Silva Bulhões8
1 - Universidade Federal do Espírito Santo
2 - Universidade Federal do Espírito Santo
3 - Universidade Federal do Espírito Santo
4 - Universidade Federal do Espírito Santo
5 - Universidade Federal do Espírito Santo
6 - Instituto Federal do Espírito Santo
7 - Instituto Federal do Espírito Santo
8 - Instituto Federal do Espírito Santo

RESUMO -

A carne de rã apresenta elevado teor de proteínas aliado ao reduzido teor de lipídios, é rica em vitaminas e sais minerais, como cálcio ferro e potássio, e possui sabor próximo ao da carne de frango. Objetivou-se caracterizar o perfil dos consumidores alegrenses quanto à carne de rã. Foram aplicados questionários aos consumidores e aos gerentes dos três maiores supermercados da cidade. Dentre os 113 entrevistados, 66,37% já consumiram carne de rã, e destes, 86,67% gostam de carne de rã. O principal motivo relatado pelos 38 indivíduos que nunca consumiram carne de rã, é a aparência do animal 86,85% e o elevado preço 5,26%. Depreende-se que a maior parte consumidores adquirem carne de rã através da caça (78,67%), o que é um ato ilegal. Portanto, é necessário que seja feita a conscientização da população a respeito da caça.

Palavras-chave: consumo, preferências, Alegre

Alegre’s consumers profile in relation to frog meat

ABSTRACT - Frog (Rana sp) meat presents high protein levels allied to reduced levels of fat, it is also abundant in vitamins and minerals such as calcium and potassium, and the taste is similar to chicken meat. The objective of this study was to characterize the profile of Alegre’s consumers as regards frog meat. Questionnaires were applied to consumers and to three managers of the biggest supermarkets in the city. Among the 113 interviewed, 66.37% had already eaten frog meat and within this group, 86.67% appreciated it. The main reason reported by the 38 individuals who have never consumed this meat is the animal aspect (86.85%) and the high price (5,26%). To clarify, most of consumers acquire frog meat by hunting (78.67%), which is an illegal act. Therefore, it is necessary to raise population awareness regarding to hunting.
Keywords: consumption, preference, Alegre municipality


Introdução

A carne de rã apresenta elevado teor de proteínas aliado ao reduzido teor de lipídios, é rica em vitaminas e sais minerais, como cálcio ferro e potássio, e possui sabor próximo ao da carne de frango. A rã é responsável pela única carne produzida em cativeiro com reduzida taxa de gordura (3%) e é detentora dos 10 aminoácidos essenciais para o ser humano. Possui elevada digestibilidade, devido ao fato de ser formada por moléculas de cadeias curta, sendo usualmente prescrita para crianças com intolerância alimentar a proteínas de origem animal (LIMA et al., 1999). A partir de 2010, observou-se um forte crescimento na comercialização da carne de rã. Pode-se afirmar que a ranicultura brasileira tem agora uma oportunidade de desenvolvimento e de retomar sua posição de maior produtor internacional (RANÁRIO SANTA FÁTIMA, 2016). Atualmente o Brasil figura como um dos maiores produtores mundiais de rãs, ficando atrás somente de Taiwan (SNA, 2013). O município de Alegre está localizado no sul do Estado do Espírito Santo e apresenta o comércio como principal atividade econômicas na área urbana. Na área rural as principais atividades econômicas do município são a cafeicultura, a olericultura, a pecuária leiteira e o ecoturismo (PMA, 2013). Por meio da realização deste trabalho, objetivou-se caracterizar o perfil dos consumidores alegrenses quanto à carne de rã.

Revisão Bibliográfica

As rãs têm importância econômica por possuírem carne apreciada pelo homem desde a Grécia antiga, quando era utilizada em banquetes como fina iguaria. Com a conquista daquele país por Roma, o hábito de seu consumo foi difundido pelo império romano, chegando ao Brasil e países latinos através dos portugueses e espanhóis. Vale registrar que os americanos antes da chegada dos europeus já possuíam o hábito de consumi-la como alimento, utilizando a rã pimenta e a manteiga (FRAGOSO, 2012).

Em várias partes do mundo, anfíbios e répteis são capturados no meio ambiente e vendidos como alimento, como animais de estimação ou para a medicina popular. A magnitude desde comércio global é desconhecida, sabendo-se, apenas, que está ocorrendo um declínio da população destes animais (SCHLAEPFER, HOOVER, DODD, 2005).

Comercialmente no Brasil é criada a rã-touro gigante (Lithobates catesbeianus) em cativeiro. Possui origem norte-americana e foi introduzida em nosso país em 1935, após ser escolhida pelos criadores devido às suas características zootécnicas, como: rusticidade, precocidade e prolificidade. Outras espécies de rãs (nativas do Brasil, como a rã-pimenta, rã-manteiga ou paulistinha) também podem ser criadas em cativeiro, porém, até o momento, comparativamente à rã-touro, apresentam menor desempenho produtivo e maiores dificuldades técnicas e burocráticas (FERREIRA, 2006).

No Brasil, o consumo da carne de rã é maior na região sudeste, principalmente nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Este fato ocorre provavelmente, pela estrutura dos restaurantes, delicatessens e supermercados que propiciam o escoamento da produção juntamente com o poder aquisitivo da classe média alta, que possui desejo de consumo de outras fontes de proteína não convencionais (MOURA, 2003).

Praticamente, toda a produção brasileira – cerca de 400 ton./ ano – é absorvida pelo mercado interno. Contudo, de acordo com Ferreira (2006), se o Brasil se preparar, terá condições de conquistar grande espaço no mercado externo. No mercado interno, os produtos da ranicultura são a carne de rã fresca e/ou congelada, em carcaça inteira ou em partes, principalmente as coxas. Os demais produtos, como o dorso inteiro ou desossado e o dorso em pedaços são pouco explorados (MELLO; PESSANHA, 2006).

 



Materiais e Métodos

A pesquisa foi realizada no município de Alegre, região sul do Estado do Espírito Santo, por meio da aplicação de questionários no decorrer do mês de novembro de 2016. O levantamento de dados foi realizado em duas etapas, ambas utilizando-se questionários como ferramenta. A primeira etapa refere-se à entrevista de 113 indivíduos que foram abordados aleatoriamente em diferentes bairros, com o objetivo de analisar o perfil dos consumidores quanto à carne de rã. Na segunta etapa foram realizadas entrevistas com os gerentes dos três maiores supermercados da cidade, a fim de constatar a forma de comercialização da carne de rã no município. Realizou-se a caracterização da população amostral de consumidores quanto ao sexo, idade, renda familiar em salários mínimos e quantidade de habitantes na moradia. Posteriormente, foram avaliados o apreço ou não pela carne de rã, a frequência de consumo, modo de adquirimento da carne de rã, facilidade ou dificuldade em se ter acesso à carne de rã e o que mais é apreciado na carne de rã. Aos gerentes dos supermercados as indagações realizadas foram se vendiam carne de rã, se não, o motivo de não venderem, se o produto apresenta boa aceitação pelos consumidores, forma como o produto é vendido e preço. As informações obtidas foram tabuladas e posteriormente avaliadas por meio de análise percentual, utilizando o programa computacional MS Excel® para este fim.

Resultados e Discussão

Dentre os 113 entrevistados, de idade 15 a 70 anos, 41 (36,3%) são do sexo masculino e 72 (63,7%) do sexo feminino. Em relação à escolaridade, 3 (2,65%) são analfabetos, 24 (21,24%) possuem ensino fundamental incompleto, 16 (14,16%) possuem ensino fundamental completo, 5 (4,42%) possuem ensino médio incompleto, 32 (28,33%) possuem ensino médio completo, 17 (15,04%) possuem ensino superior incompleto e 16 (14,16%) possuem ensino superior completo. 64 (56,64%) dos entrevistados possuem renda familiar de 1 a 2 salários mínimos, 33 (29,20%) de 3 a 4 salários mínimos, 10 (8,85%) de 5 a 6 salários mínimos e 6 (5,31%) maior que 7 salários mínimos e 16 (14,16%) moram sozinhos, 27 (23,89%) moram com mais uma pessoa, 28 (24,78%) moram com mais duas pessoas, 28 (24,78%) moram com mais 3 pessoas, 10 (8,85%) moram com mais quatro pessoas e 4 (3,54%) moram com mais cinco pessoas. Das 113 pessoas entrevistadas, 75 (66,37%) já consumiram carne de rã e 38 (33,63%) ainda não a consumiram, sendo que dos que já consumiram 65 (86,67%) gostam de carne de rã e 10 (13,33%) não gostam. Dos 38 indivíduos que ainda não consumiram, 33 (86,85%) disseram ser devido à aparência do animal, 2 (5,26%) devido ao elevado preço da carne de rã e 3 (7,89%) não responderam. A frequência de consumo de 72 (96%) dos 75 é rara e 3 (4%) consomem mensalmente. Salviano et al. (2007) em pesquisa a respeito do consumo de carne de rã relataram que 57% dos entrevistados já a consumiu, valor relativamente próximo ao encontrado neste trabalho (66,37%). Também relataram que 65% dos entrevistados consomem raramente, valor abaixo do encontrado neste trabalho, que foi de 96%. O baixo nível de consumo da carne é devido principalmente ao elevado preço de venda do produto, ao desconhecimento de suas virtudes e à discriminação quanto a aparência de sapo na sua apresentação (WEICHERT et al., 2007), o que corrobora com os resultados encontrados, pois dos 38 indivíduos que não consumiram carne de rã, 86,85% atribuem o não consumo à aparência do animal e 5,26% ao elevado preço. No que concerne o modo de aquisição 59 (78,67%) adquirem por meio da caça, 10 (13,33%) compram em supermercado e 6 (8%) compram diretamente do criador de rã. Quanto à facilidade ou não no momento da aquisição, 54 (72%) julgam ser difícil ter acesso à carne de rã para compra e 21 (28%) não observam dificuldade. O quesito mais apreciado pelos consumidores alegrenses é o sabor, relatado por 58 (77,33%) dos consumidores, 11 (14,67%) consideram um alimento saudável e 6 (8%) apreciam a textura. No tocante à comercialização de carne de rã em Alegre, somente um (33,33%) dos três maiores supermercados da cidade vendem e a única forma de comercializando é em pacotes com 500g a R$30,00. Os gerentes dos supermercados que não comercializam o produto relataram que não há demanda por parte da população. Um dos motivos para tal, provavelmente é que a maior parte dos consumidores alegrenses de carne de rã caçam o animal. Assim como Salviano et al. (2007) relataram, os dados obtidos demonstram a grande aceitação do produto e a carência do mesmo no mercado, como também pouca divulgação.

Conclusões

Com base nos dados coletados é possível perceber que dentre os 113 entrevistados, 75 (66,37%) já consumiram carne de rã, e destes, 65 (86,67%) gostam de carne de rã. Estes dados demonstram que há demanda pela carne de rã no município de Alegre – ES, pois 57,52% dos entrevistados gostam e consomem o produto. O principal motivo relatado pelos 38 indivíduos que nunca consumiram carne de rã é a aparência do animal (86,85%) e o elevado preço (5,26%). Depreende-se que a maior parte consumidores adquirem carne de rã através da caça (78,67%), o que é um ato ilegal. Portanto, além da adoção de estratégias que visem mitigar o entrave entre oferta e demanda, é necessário que seja feita a conscientização da população a respeito da caça.


Referências

FERREIRA, C. M. Ranicultura. Disponível em: <http://www.aquicultura.br/informacoes_tecnicas.htm>. Acesso em: 12 março 2017. FRAGOSO, S. P. Avaliação de características físico-químicas da carne de rã-touro (Lithobates catesbeianus) liofilizada de pigmentação normal e albina. 2012. 87f. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Agroalimentar, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. LIMA, S. L.; CRUZ, T. A.; MOURA, O. M. Ranicultura: análise da cadeia produtiva. Viçosa, MG: Folha de Viçosa, 1999. 172 p. MELLO, S. C. R. P.; PESSANHA, L. S. Avaliação bacteriológica e físicoquímica da polpa de dorso de rã obtida por separação mecânica. Brazilian Journal of Food Technology, v. 9, n. 1, p. 39-48, jan./mar. 2006 MOURA, O. M. A rã e o uso potencial de seus derivados na indústria de alimentos. 2003. Panorama da Aquicultura, v. 13, n. 80, p. 27-31. PMA – Prefeitura Municipal de Alegre. 2013. Características econômicas. Disponível em <http://alegre.es.gov.br/site/index.php/a-cidade/historia/caracteristicas-economicas>. Acesso: 10 dez. 2016. RANÁRIO SANTA FÁTIMA. 2016. Carne de rã - além do alto valor nutricional, o mercado está em alta. Disponível em: <www.ranarionovafatima.com.br/2016/11/carne-de-ra-alem-do-alto-valor.html>. Acesso em: 10 dez. 2016. SALVIANO, A. T. M.; BATISTA, E. S.; MOREIRA, R. T. Perfil do consumidor da carne de rã (Rana catesbeiana) e produtos derivados. In: JORNADA NACIONAL DA AGROINDÚSTRIA, 2., 2007, Bananeiras. Trabalhos publicados. 2007. Disponível em: http://www.seminagro.com.br/ trabalhos_publicados/2jornada/02ciencia_e_tecnologia_de_alimentos/ 39cta.pdf. Acesso em: 12 dez. 2016. SECRETARIA NACIONAL DA AGRICULTURA – SNA. 2013. Brasil é o Segundo na produção mundial de rãs. Disponível em: <http://sna.agr.br/brasil-e-segundo-na-producao-mundial-de-ras/>. Acesso em: 11 dez. 2016. SCHLAEPFER, M. A.; HOOVER, C.; DODD, K. Challenges in evaluating the impact of the trade in amphibians and reptiles on wild populations. 2005. Bioscience, v. 55, n. 3. Estados Unidos da América. WEICHERT, M. A.; MELLO, S. R. P.; ESPINDOLA, L. M. O consumo de tilápias e rãs nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Panorama da Aquicultura, Rio de Janeiro, v. 17, n. 102, p. 37-41, jul./ago. 2007.