Perfil fermentativo de silagens de sorgo forrageiro [Sorghum bicolor (L.) Moench] aditivadas com ureia e inoculante microbiano

José Maria Cesar Neto1, Alberto Jefferson da Silva Macêdo2, Edson Mauro Santos3, Ana Caroline Pinho dos Santos4, Joyce Pereira Alves5, Maria Leonor Garcia Melo Lopes de Araújo6, Gleidson Giordano Pinto de Carvalho7, Yohana Rosaly Corrêa8
1 - Universidade Federal da Paraíba
2 - Universidade Federal da Paraíba
3 - Universidade Federal da Paraíba
4 - Universidade Federal da Bahia
5 - Universidade Federal da Paraíba
6 - Universidade Federal da Bahia
7 - Universidade Federal da Bahia
8 - Universidade Federal da Paraíba

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os efeitos da adição de ureia e, ou inoculante microbiano sobre o perfil fermentativo de silagens sorgo forrageiro. O experimento foi realizado no Laboratório de Forragicultura da Universidade Federal da Paraíba. Utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos representados pela silagem de sorgo sem aditivo, silagem de sorgo com inoculante, silagem de sorgo com ureia e silagem de sorgo com inoculante e ureia com três repetições por tratamento. Realizou-se a determinação de pH, nitrogênio amoniacal, ácidos orgânicos e etanol. A inclusão de ureia e, ou inoculante microbiano ocasionou efeito (P0,05) para nitrogênio amoniacal. E em relação as concentrações de ácidos orgânicos houve efeito (P<0,05) para todos os ácidos avaliados. Observou-se que o aditivo não promoveu melhoras no perfil fermentativo da silagem e que a ureia é eficiente no controle de fermentações secundárias.

Palavras-chave: ácidos orgânicos, aditivos, inoculante, qualidade, sorgo

Fermentation profile of forage sorghum silages [Sorghum bicolor (L.) Moench] additives with urea and microbial inoculant

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of the addition of urea and, or microbial inoculant on the fermentation profile of forage sorghum. The experiment was carried out at the Forage Laboratory of the Federal University of Paraíba. A completely randomized design was used, with four treatments represented by sorghum silage without additive, sorghum silage with inoculant, sorghum silage with urea and sorghum silage with inoculant and urea with three replicates per treatment. The pH, ammoniacal nitrogen, organic acids and ethanol were determined. The inclusion of urea and, or microbial inoculant had an effect (P <0.05) for pH values. There was no effect (P> 0.05) for ammoniacal nitrogen. And in relation to the concentrations of organic acids, there was an effect (P <0.05) for all evaluated acids. It was observed that the additive did not promote improvements in the fermentation profile of the silage and that urea is efficient in the control of secondary fermentations.
Keywords: additives, inoculant, organic acids, quality, sorghum


Introdução

A ensilagem apresenta-se como uma alternativa de conservação de forragem para alimentar os rebanhos, em que os açúcares solúveis da planta são convertidos em ácidos orgânicos, especialmente o ácido lático, o meio é acidificado conservando o material ensilado. O sorgo forrageiro pode ser destinado para produção de silagem ou forragem verde, segundo Ribas et al. (2010) apresenta-se como um excelente recurso forrageiro, especialmente em regiões de baixa disponibilidade de água, por apresentar elevado teor de matéria seca, alto teor de carboidratos solúveis dentre outras características. Os principais atributos de espécies forrageiras devem apresentar para a produção de silagem são teor de matéria seca, capacidade tampão, microflora epífita e a quantidade de carboidratos solúveis (SANTOS et al., 2006). Devido as várias particularidades que o sorgo forrageiro apresenta, busca-se por aditivos eficazes que promovam melhorias na qualidade da fermentação e diminua as perdas durante e após o processo fermentativo (MELO, 2015). Avaliar o pH, a concentração de nitrogênio amoniacal, as concentrações de ácidos orgânicos e etanol em silagens é indicado para verificar a qualidade da mesma, valores fora do padrão podem acarretar em perdas ao processo fermentativo em si como também no consumo e na saúde dos animais. Objetivou-se avaliar os efeitos da adição de ureia e, ou inoculante microbiano sobre o perfil fermentativo de silagens de sorgo forrageiro.

Revisão Bibliográfica

Segundo Silva et al. (2010) devido a sazonalidade climática acentuada apresentada no Nordeste brasileiro, a disponibilidade de forragem, oscila entre os extremos de excesso e escassez. Segundo Ribas et al. (2010), para elevar a oferta de alimentos, a conservação de forragem na forma de silagem surge como uma alternativa eficaz para alimentar os rebanhos em períodos de escassez de alimentos. A planta de sorgo [Sorghum bicolor (L.) Moench] destaca-se por sua produtividade e digestibilidade, além de adaptar-se a variadas condições ambientais, tolerando mais ao déficit hídrico do que a maioria dos outros cereais (BUSO et al., 2011). Esta planta apresenta-se como uma das espécies alimentares mais versáteis e eficientes, apresentando elevada velocidade de maturação como também alta taxa fotossintética. Tendo em vista uma melhor conservação de forragem na forma de silagem, busca-se estabilizar rapidamente o pH da mesma, para que haja uma melhor preservação do material ensilado. Em que, uma adequada quantidade de açúcares prontamente fermentáveis faz necessário que esteja presente no material ensilado para que haja uma favorável acidificação e estabilização do pH (PEREIRA et al., 2008). O rápido abaixamento do pH, é um indicativo de uma boa silagem, assim como o baixo teor de nitrogênio amoniacal (NH3). É desejável que durante o processo fermentativo ocorra uma maior produção de ácido lático em relação aos demais ácidos acético, propiônico e butírico, pois o ácido lático possui propriedades nutricionais e de conservação mais elevadas quando comparado aos outros ácidos (Oliveira et al., 2014). Vários autores, como (NEUMANN et al., 2010), ressaltam a importância da quantificação das perdas na ensilagem e a necessidade da utilização de técnicas que visem sua redução. A adição de ureia no processo de ensilagem de forragens com alto teor de carboidratos solúveis é uma alternativa que visa o melhor controle do pH das silagens, uma vez que a ureia atua impedindo a redução rápida do pH e o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis como leveduras e fungos filamentosos, devido sua atividade antimicrobiana que a ureia possui. Além de seus atributos agronômicos, o sorgo apresenta características desejáveis à fermentação, tais como adequado teor de matéria seca, a quantidade de carboidratos solúveis e baixo conteúdo de substâncias tamponantes (SANTOS et al., 2006; FERNANDES et al., 2009).

Materiais e Métodos

O sorgo foi plantado e ensilado Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Petrolina-PE. A avaliação das silagens realizou-se no Laboratório de Forragicultura da Universidade Federal da Paraíba. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro tratamentos sem e com adição de ureia na ensilagem de sorgo com base na matéria seca (MS) e, ou inoculante microbiano (Lactobacillus buchneri) que foram: Silagem de Sorgo sem aditivo (SS sem aditivo), Silagem de Sorgo + Inoculante (SSI), Silagem de Sorgo + Ureia (SSU) e Silagem de Sorgo + Inoculante + Ureia (SSIU) e três repetições por tratamento. Um total de 12 silos foram confeccionados de material policloreto de vinila (PVC), com 15 cm de diâmetro e 40 cm de altura. A quantidade de forragem adicionada foi padronizada, obtendo uma densidade média de 500 kg de forragem/m3. Os silos foram abertos aos 110 dias após ensilagem. Para determinação de pH e nitrogênio amoniacal segundo Bolsen et al. (1992), utilizou-se 25 g de silagem em 100 ml de água destilada, permanecendo em repouso por uma hora para leitura do pH. Para nitrogênio amoniacal foram pesados 25 g de amostra foram adicionados 100 mL de solução de H2SO4 a 0,2 N. Após, a mistura foi filtrada, considerando o N-total da amostra. Para determinação dos ácidos orgânicos, utilizou-se 10 g de amostra da silagem com 90 ml de água destilada e filtrada, pelo método de Kung Jr & Ranjit (2001). Em 2 mL do filtrado, adicionou-se 1 mL de ácido metafosfórico a 20% e 0,2 mL de ácido fênico a 0,1%. Posteriormente, procedeu-se as análises dos ácidos orgânicos (lático, acético, propiônico e butírico). O teor de etanol foi medido em analisador bioquímico YSI 2700 Select®, provido de membrana com enzima imobilizada. Os dados foram submetidos à análise de variância. Posteriormente aplicou-se o teste Tukey. Sendo utilizado o software Statistical Analysis System – SAS (SAS, 2010), considerando como valores significativos de probabilidade inferiores a 5%.

Resultados e Discussão

Houve efeito (P<0,05) sobre os valores de pH e dos ácidos orgânicos avaliados (Tabela 1). As silagens controle e aditivadas com inoculante permaneceram com valores de pH semelhantes. O maior valor de pH apresentado (4,21) pela silagem aditivada com ureia pode ser explicado pela ação tamponante deste aditivo. Os resultados obtidos no presente estudo estão ligeiramente abaixo da faixa recomendada por McDonald (1991), que é entre 3,8 a 4,2. Para a variável nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3), não houve efeito (P>0,05) entre os tratamentos (Tabela 1). Na classificação quanto ao teor N-NH3, considera-se a silagem como muito boa quando os valores forem inferiores a 10%. Os resultados obtidos ficaram na média de 5% sendo considerados permissíveis. Resultados similares foram observados por Oliveira et al. (2010) ao avaliarem silagem de sorgo com diferentes aditivos. Houve efeito (P<0,05) para as concentrações de ácido lático (AL), esses resultados demonstram que conforme se adicionava os aditivos em separado ou em conjunto o AL tendeu a diminuir sua concentração na massa ensilada. O conteúdo de AL apresentou valores elevados, enquanto as silagens controle tiveram maior concentração e as silagens com inoculante, menor concentração, isso se justifica pelo fato das silagens inoculadas com Lactobacillus buchneri que é uma bactéria heterofermentativa, ser capaz de converter carboidratos solúveis e AL em diferentes compostos como AL, AA e 1,2 propanodiol (SCHMIDT & KUNG JUNIOR, 2010). Para as concentrações de ácido acético (AA) houve efeito (P<0,05), esses resultados demonstram que as silagens aditivadas com inoculante microbiano possuíram os maiores valores de AA e as silagens sem aditivo ou com ureia apresentaram menores valores de AA, variando de 7,63 e 6,93 (g/kg MS) respectivamente. A justificativa se dá pelo fato da bactéria láctica Lactobacillus buchneri ser capaz de converter AL e AA, e também em outros ácidos. Houve efeito (P<0,05) para as concentrações de ácido butírico (AB), demonstrando que as silagens controle e aditivadas apresentaram elevadas concentrações deste ácido, exceto para as silagens aditivadas com ureia. Para as concentrações de ácido propiônico (AP) houve efeito (P<0,05), as silagens que foram aditivadas só com inoculante ou só com ureia apresentaram menores concentrações deste ácido quando comparado com as silagens controle e as silagens aditivadas em conjunto por ambos os aditivos. Ávila et al. (2009) avaliando os efeitos de uma estirpe própria da cana inoculada em silagens de cana, verificaram que as silagens inoculadas com Lactobacillus buchneri apresentaram maiores concentrações de ácido propiônico quando comparadas as silagens controle. Em relação as concentrações de etanol (ET) houve efeito (P<0,05), as silagens aditivadas apresentaram menores concentrações deste ácido em comparação a silagem controle exceto para as silagens aditivadas em conjunto por inoculante e ureia.

Conclusões

No presente trabalho observou-se que o aditivo não promoveu melhoras no perfil fermentativo da silagem. Entretanto com a utilização da ureia observou as menores quantidades de ácido butírico e propiônico, demonstrando que a ureia é eficiente no controle de fermentações secundárias.

Gráficos e Tabelas




Referências

ÁVILA, C.L.S.; PINTO, J.C.; FIGUEIREDO, H.C.P.; SCHWAN, R.F. Effects of an indigenous and a commercial Lactobacillus buchneri strain on quality of sugar cane silage. Blackwell Publishing Ltd. Grass and Forage Science, v. 64, 384-394, 2009. BOLSEN, K.K.; LIN, C.; BRENT, C.R.; FEYERHERM, A.M.; URBAN, J.E.; AIMUTIS, W.R.  Effects of silage additives on the microbial succession and fermentation process of alfafa and corn silages. Journal of Dairy Science, v. 75, p. 3066-3083, 1992. BUSO, W.H.D; MORGADO, H.S; SILVA, L.B; FRANÇA, A.F.S. Utilização do sorgo forrageiro na alimentação animal. PUBVET, Londrina, V. 5, N. 23, Ed. 170, Art. 1145, 2011. FERNANDES, F.E.P.; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V. et al. Ensilagem de sorgo forrageiro com adição de ureia em dois períodos de armazenamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 11, p. 2111-2115, 2009. KUNG Jr., L.; RANJIT, N.K. The effect of Lactobacillus buchneri and other additives on the fermentation and aerobic stability of barley silage. Journal of Dairy Science, v. 84, p. 1149-1155, 2001. McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S. The biochemistry of silage. Marlow:Chalcombe. 2. ed., p. 340, 1991. MELO, M.J.A.F. Utilização de aditivos na silagem de capim tanzânia. 2015. 52 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Zootecnia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2015. NEUMANN, M.; OLIBONI, R.; OLIVEIRA, R.M. et al. Aditivos químicos utilizados em silagens. Pesquisa aplicada & Agrotecnologia, v. 3, n. 2, 2010. OLIVEIRA, L.B.; PIRES, A.J.V.; CARVALHO, G.G.P. et al. Perdas e valor nutritivo de silagens de milho, sorgo-sudão, sorgo forrageiro e girassol. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, n. 1, p. 61-67, 2010. OLIVEIRA, P.S.; OLIVEIRA, J.S. Produção de silagem de milho para suplementação do rebanho leiteiro. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2014. 10 p. (Embrapa Gado de Leite. Comunicado Técnico, 74.). PEREIRA; R.G.A; TOWNSEND; C.R.; COSTA; N.L.; MAGALHÃES; J.A. Processos de ensilagem e plantas a ensilar; Porto Velho, RO: Embrapa Rondônia, 2008. 13 p. – (Documentos / Embrapa Rondonia, ISSN 0103-9865;124). RIBAS, M.N.; MACHADO, F.S. Produção de forragem utilizando híbridos de sorgo com capim Sudão (S. bicolor x S. sudanense). Embrapa Milho e Sorgo. Sistema de Produção, 2 ISSN 1679-012X Versão Eletrônica - 6ª edição, 2010. SANTOS, E.M.; ZANINE, A.M.; OLIVEIRA, J.S. Produção de silagens de gramíneas tropicais. Revista Electronica de Veterinária REDVET, v. VII, n. 07, p. 1-16, 2006. SAS, 2010. SAS® User’s guide: Statistics, Version 9.1 Edition. SAS Institute Inc., Cary NC, USA. SCHMIDT, R.J. & KUNG JUNIOR, L. The effects of Lactobacillus buchneri with or without a homolactic bacterium on the fermentation and aerobic stability of corn silages made at different locations. Journal of Dairy Science, v. 93, p. 1616-1624, 2010.