Perfil lipídico do leite de vacas alimentadas com casca de banana

Lucas Gabriel Cardoso1, Marco Túlio Parrela de Melo2, Paulo Roberto Silveira Pimentel3, Vicente Ribeiro Rocha Júnior4, Natanael Mendes Costa5, Wagner Souza Alves6, Joyce Cipriana Pacheco Ramos7, Diego Lucas Soares de Jesus8
1 - Estudantes de graduação em Zootecnia- UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista FAPEMIG/CNPq/UNIMONTES.
2 - Mestre em Zootecnia - UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista da CAPES.
3 - Mestre em Zootecnia - UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista da CAPES.
4 - Professor do Departamento de Ciências Agrárias - UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista de Produtividade do CNPq
5 - Estudantes de graduação em Zootecnia- UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista FAPEMIG/CNPq/UNIMONTES.
6 - Estudantes de graduação em Zootecnia- UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista FAPEMIG/CNPq/UNIMONTES.
7 - Estudantes de graduação em Zootecnia- UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista FAPEMIG/CNPq/UNIMONTES.
8 - Estudantes de graduação em Zootecnia- UNIMONTES, Janaúba/MG, Brasil. Bolsista FAPEMIG/CNPq/UNIMONTES.

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os níveis de casca de banana seca ao sol na dieta de vacas F1 Holandês x Zebu sobre o perfil de ácidos graxos do leite. Os tratamentos foram constituídos de 0, 15, 30, 45 e 60% de substituição da silagem de sorgo pela casca de banana. O delineamento experimental foi em dois quadrados latinos 5 x 5 simultâneos. As amostras de leite foram analisadas quanto ao perfil de ácidos graxos por cromatografia gasosa. Observou-se efeito quadrático para o somatório de ácidos graxos poli-insaturados do leite, com valor máximo no nível de 23,54% de substituição. Houve efeito linear decrescente para os ácidos graxos C15:0 iso e C16:0 iso. Os ácidos graxos heneicosanóico, linoléico, linoléico conjugado e araquidônico apresentaram efeito quadrático. A substituição de até 60% da silagem de sorgo por casca de banana na dieta de vacas em lactação pode ser alternativa para produção e processamento do leite, uma vez que melhora o valor nutricional da fração lipídica do leite e aumenta os teores de ácido linoléico conjugado.

Palavras-chave: ácido linoléico conjugado, qualidade do leite, subprodutos

Lipid profile of milk of cows fed with banana peel

ABSTRACT - This study aimed to evaluate the inclusion levels of dry banana peel in the sun in the diet of F1 Holstein x Zebu cows on the profile of fatty acids of milk. The diets were composed of 0, 15, 30, 45 and 60% replacement of sorghum silage by banana peel. The experimental design was Latin squares, simultaneous, 5 x 5. Samples of milk and cheese were analyzed for fatty acid composition by gas chromatography. Quadratic effect for the sum of milk polyunsaturated fatty acids, with the maximum level of 23,54% replacement. There was a decreasing linear effect for C15:0 iso fatty acids and C16: 0 iso. The heneicosanoico fatty acids, linoleic, conjugated linoleic and arachidonic presented quadratic effect. Replacement of up to 60% of the sorghum silage of a banana peel in the diet of cows can be an alternative to milk production and processing, maintaining quality, and improve the nutritional value of the lipid fraction of the milk with increased conjugated linoleic acid concentration.
Keywords: conjugated linoleic acid, milk quality, by-products


Introdução

A casca de banana apresenta um teor de gorduras que varia de 2 a 10,9% de extrato etéreo (Mahopatra et al., 2010), com mais de 40% dos ácidos graxos totais sendo representados pelos ácidos graxos poli-insaturados, linoléico e α-linolênico, que têm efeito benéfico sobre os lipídeos sanguíneos (Emaga et al., 2007). A modificação do perfil lipídico da gordura do leite, por meio de manipulação da dieta de vacas, é praticada há bastante tempo com o intuito de aumentar o equilíbrio entre os teores ácidos graxos saturados e insaturados (Lanier e Corl, 2015). Objetivou-se por meio deste trabalho avaliar os níveis da casca de banana seca ao sol em substituição à silagem de sorgo na dieta de vacas F1 Holandês x Zebu sobre o perfil de ácidos graxos do leite.

Revisão Bibliográfica

O Brasil é o principal consumidor de banana do mundo e ocupa o quarto lugar na produção mundial, atrás da Índia, China e Filipinas (FAO, 2014). Este fruto caracteriza-se por ser um alimento de alta perecibilidade e sua utilização como doce apresenta-se como uma alternativa para seu aproveitamento. Com a produção de polpas para doces e outros derivados, sobra-se uma grande disponibilidade de cascas que apresentam teores de nutrientes superiores em relação às suas respectivas partes comestíveis, além de serem ricas fontes de fibras. Em geral, as culturas agrícolas produzem uma quantidade de sobras muito maior do que a parte utilizada para fins alimentícios ou industriais. A quantidade de resíduos gerados a partir da cultura da banana é abundante, para cada tonelada de fruto são geradas dez toneladas de resíduos (SOUZA, 2008). Para a indústria e órgão competentes, a geração de grande quantidade de resíduos se torna um problema, em função dos danos ambientais, já que estes resíduos não tem mercado definido para sua comercialização. Com isso o aproveitamento desses resíduos se torna uma alternativa para minimizar impactos ambientais. A casca de banana é fonte de carboidratos, principalmente a pectina (10 a 21%), carboidrato altamente fermentável no rúmen (MOHAPATRA et al., 2010). Gorduras com bom perfil de ácidos graxos, com teor de extrato etéreo variando de 2 a 10,9% (MOHAPATRA et al., 2010), constituído principalmente de ácido linoléico e α-linolênico, responsáveis por aumentar o níveis de HDL no sangue, prevenindo doenças cardiovasculares, além deste ser precursor do ácido linoléico conjugado (CLA) no rúmen. Fonte de galocatequina, composto flavonóide, que possui ação anti-inflamatória, antimicrobiana, antioxidante, o que pode ajudar na saúde da glândula mamária da vaca em lactação. Apresenta ainda taninos em sua composição, os quais interferem de maneira positiva na biohidrogenação ruminal do ácido linoléico dietético, aumentando a concentração de ácido vaccênico no rúmen e, portanto, o conteúdo de ácido linoléico conjugado (CLA) (TORAL et al., 2011). Considera-se também, que os taninos podem favorecer a eficiência de utilização do nitrogênio dietético, tendo em vista que podem reduzir a degradabilidade ruminal das proteínas dietéticas.  

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES localizada no município de Janaúba, no Norte de Minas Gerais. Foram utilizadas 10 vacas F1 Holandês x Zebu com 70 ± 11 dias de lactação ao início do experimento. O delineamento experimental adotado foram dois quadrados latino 5 X 5, composto, cada um, de cinco animais, cinco tratamentos e cinco períodos experimentais. Foram utilizadas cinco dietas experimentais, sendo: dieta convencional com silagem de sorgo sem a inclusão da casca de banana seca ao sol (controle); dieta com inclusão da casca de banana seca ao sol em substituição de 15, 30, 45 e 60% da silagem de sorgo. A substituição da silagem de sorgo pela casca de banana foi feita com base na matéria seca. O experimento teve duração de 80 dias, dividido em quatro períodos de 16 dias, os primeiros 12 dias de cada período foram reservados para adaptação dos animais às dietas e os quatro últimos dias para coleta de dados e amostras. As cascas foram previamente desidratas por exposição ao sol por 12 ± 3 dias. Após o processo de desidratação as cascas foram desintegradas em picadeira estacionaria a fim de obter partículas de 3 a 4 centímetros. As sobras do cocho foram pesadas e registradas diariamente. O fornecimento das dietas foi ajustado de acordo com as sobras, mantendo a relação volumoso : concentrado com base na matéria seca (MS) de 70 : 30, de forma que as sobras representassem 5 % da quantidade de matéria seca fornecida. A proporção dos ingredientes utilizados nas dietas e a composição química das mesmas encontram-se na tabela 1. As vacas foram mantidas em baias individuais e ordenhadas com ordenhadeira mecânica duas vezes ao dia, às 8h e às 15h. A composição química dos alimentos e sobras foram determinados conforme procedimentos descritos por Detmann et al. (2012). Amostras de leite de cada animal foram coletadas duas vezes ao dia, nos últimos quatro dias de cada período, sendo feito um pool das amostras do leite da ordenha da manhã e da tarde, proporcionalmente à quantidade produzida de manhã e à tarde. Amostras de leite, foram encaminhadas ao Laboratório de Nutrição e Crescimento Animal da ESALQ/Piracicaba para determinação do perfil de ácidos graxos por cromatografia gasosa. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, quando significativas, as médias dos tratamentos foram submetidas ao teste de Dunnett e analise de regressão ao nível de 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Não houve efeito das dietas sobre o somatório dos ácidos graxos saturados (AGS) e monoinsaturados (AGMI) do leite (Tabela 2). Houve efeito linear decrescente para os ácidos graxos C15:0 iso e C16:0 isso. Esses ácidos graxos são oriundos, principalmente, dos microorganismos ruminais que os sintetizam após mudanças na biossíntese dos lipídios da dieta. Nesse sentido, esses ácidos graxos podem ser indicativos de mudanças na população da microbiota ruminal (Vlaeminck et al., 2006). Houve efeito quadrático para o somatório de ácidos graxos poli-insaturados (Tab.2). O ponto de máxima concentração destes ácidos graxos no leite foi obtido com o nível de 23,54% de casca de banana, não tendo sido observado diferença entre os tratamentos e a testemunha (0% de casca). Houve feito quadrático para o ácido linoléico (C18:2 cis9cis12) no leite, e o ponto máximo de sua concentração no leite foi com o nível de 19,63% de substituição de silagem de sorgo por casca de banana. O ácido linoléico conjugado CLA (C18:2 cis9trans11) encontrado no leite, teve efeito quadrático pela inclusão de casca de banana na dieta, tendo alcançado valor máximo na substituição de 35,64% da silagem de sorgo por casca de banana.

Conclusões

A substituição de até 60% da silagem de sorgo por casca de banana seca ao sol na dieta de vacas F1 Holandês x Zebu diminui os teores de ácidos graxos de cadeia ímpar e ramificada (C15:0iso e C16:0iso) e aumenta os teores dos ácidos graxos polinsaturados totais, ácido linoléico, CLA (C18:2cis9trans11) e ácido araquidônico no leite.

Gráficos e Tabelas




Referências

EMAGA, T, H. ; ANDRIANAIVO, R.H. ; WATHELET, B. et al. Effects of the stage of maturation and varieties on the chemical composition of banana and plaintais peels. Food Chem., s.l., v.103, p. 590-600, 2007. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS-FAO. Produção brasileira de frutas. 2014. Roma. LANIER, J.S.; CORL, B.A. Challenges in enriching milk fat with polyunsaturated fatty acids. J. Anim. Sci. and Biotechnology, v.6, n.26, 2015. MAHOPATRA, D.; MISHRA, S.; SUTAR, N.; Banana and its by-product utilization: an overview. J. Sci. Ind. Research, New Delhi, v.69. p.323-329, 2010. Mahopatra, D., Mishra, S. & Sutar, N. (2010). Banana and its by-product utilization: an overview. Journal of Scientific & Industrial Research, 69, 323-329. SOUZA, A. T. de. Aspectos econômicos da cultura da banana. 2008. Disponível em: <http://cepa.epagri.sc.gov.br/agorindicadores/opiniao/analise_banana.htm>. Acesso em: 12 maio 2014. TORAL, P, G. et al. Tannins as feed additives to modulate ruminal biohydrogenation: Effects on animal performance, milk fatty acid composition and ruminal fermentation in dairy ewes fed a diet containing sunflower oil. Animal Feed Science and Technology, v.164, p.199–206, 2011. VLAEMINCK, B.; FIEVEZ, V.; TAMMINGA, S. et al. Milk odd- and branched-chain fatty acids in relation to the rumen fermentation pattern. J. Dairy Sci., v.89, p.3954-3964, 2006.





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