Períodos de ocupação e descanso em capim-massai submetido a estratégias de lotação intermitente pastejado por ovinos de corte

JOELMA DA SILVA SOUZA1, GELSON DOS SANTOS DIFANTE2, JOÃO VIRGÍNIO EMERENCIANO NETO3, ANTÔNIO LEANDRO CHAVES GURGEL4, MARCONE GERALDO COSTA5, JOEDERSON LUIZ SANTOS DANTAS6, FRANCISCA FERNANDA DA SILVA ROBERTO7, NATHÁLIA RAFAELA FIDELIS CAMPOS8
1 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
3 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
4 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
5 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
6 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
7 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
8 - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os períodos de ocupação e descanso em pastos de capim-massai submetidos a estratégias de pastejo intermitente por ovinos. Os tratamentos constituíram de dois níveis de interceptação de luz e duas alturas de pós-pastejo: 90/15; 95/15; 90/25 e 95/25. O delineamento foi inteiramente casualizado. Os períodos de ocupação e descanso foram variáveis em função das metas de pré e pós-pastejo. O período de ocupação dos piquetes não diferiu entre as combinações de frequência e intensidade de pastejo, com média de 11 dias. O período de descanso foi maior nos pastos manejados a 95/15 e menor naqueles manejados a 90/25. Os menores períodos de descanso foram obtidos na combinação 90/25. Não houve efeito de ciclo para período de ocupação e período de descanso, com médias de 11 e de 54,8 dias, respectivamente. A combinação 90/25 cm de altura de pós-pastejo, foram encontrados os menores valores para período de descanso, possibilitando o uso mais eficiente da pastagem.

Palavras-chave: Ciclo de pastejo, forragem, ovinocultura, Panicum maximum.

Periods of occupation and rest in Masai grass subjected to intermittent stocking strategies grazed by sheep

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the periods of occupation and rest in pastures of Masai grass submitted to strategies of intermittent grazing by sheep. The treatments consisted of two levels of light interception and two post-grazing heights: 90/15; 95/15; 90/25 and 95/25. The design was completely randomized. The periods of occupation and rest were variable according to the pre and post grazing goals. The period of occupation of did not differ between the combinations of frequency and grazing intensity, with an average of 11 days. The rest period was higher in pastures managed at 95/15 and lower in those management at 90/25. The shortest rest periods were obtained in the 90/25 combination. There was no cycle effect for period of occupation and rest period, with averages of 11 and 54.8 days, respectively. The combination of 90/25 cm was found to be the lowest values for rest period, allowing more efficient use of pasture.
Keywords: Forage, Grazing cycle, Panicum maximum, Sheep farming.


Introdução

No Brasil a pecuária é baseada em sistemas de produção em pasto, porém o manejo inadequado dos sistemas de produção torna-se a principal causa da degradação das pastagens, o que provoca prejuízos econômicos e ambientais. Pastos com períodos de descanso fixos facilitam o manejo do pastejo intermitente, porém podem comprometer ganhos em eficiência do sistema e resultar em dosséis de estrutura variável ao longo do tempo, que afetam o padrão de consumo de forragem e o desempenho animal (Pedreira et al., 2009), uma vez que, dependendo do ano e das condições de crescimento, estes períodos podem ser demaseadamente curtos, levando a perdas de produção da forragem, ou muito longo que pode resultar em perda de quantidade qualidade, levando o pasto para estagios de degradação. Sendo mais indicado o uso de períodos de descanso e ocupação variáveis, por permitir maior controle da estrutura do pasto evitando o acúmulo excessivo de colmo e matéria morto, possibilitando ao animal selecionar melhor a dieta, refletindo assim no despenho (Euclides et al., 2014). Objetivou-se com este estudo avaliar os períodos de ocupação e descanso em pasto de capim-massai submetidos a estratégias de pastejo intermitente com combinações de IL no pré-pastejo e alturas no pós-pastejo.

Revisão Bibliográfica

O sucesso em sistemas em pasto é em grande parte do manejo do pasto e do pastejo. A frequência e a intensidade de desfolhação, juntamente com os fatores abióticos, modificam o acúmulo de biomassa. Após uma desfolhação as plantas respondem com estratégias que priorizam a recuperação e manutenção do equilíbrio dinâmico do processo de acúmulo de forragem, mobilizando todos os recursos a fim de maximizar o crescimento após a desfolheação, recuperando a capacidade fotossintética (Sbrissia et al., 2007). Pastagens manejadas com dias fixos de descanso facilitam o planejamento do pastejo intermitente, porém restringe as possibilidades de ganhos em eficiência do sistema, pois não gera um padrão uniforme de respostas fisiológicas de plantas e estruturas do dossel. Em regime de lotação intermitente, sugere-se que o manejo do pastejo seja feito observando alturas de entrada e saída para cada forrageira, evitando o acúmulo excessivo de componentes indesejáveis, como colmo e material morto (Pedreira et al., 2009). Quando compararam períodos fixos e variáveis de ocupação e descanso Euclides et al., (2014), constataram um melhor ganho de peso e ganho de peso por hectare no sistema que foi adotado períodos variáveis de ocupação e descanso, devido a melhor qualidade da forragem. O início do período de rebrotação é marcado pelo acúmulo quase que exclusivo de folhas, porém quando o dossel atinge um nível de interceptação de aproximadamente 95% da luz incidente começa a acumular de maneira significativa no dossel os componentes colmo e material morto (Pedreira et al., 2009), este ponto deve ser limite máximo do período de rebrotação, devendo ser interrompido pela desfolhação ou pelo corte (Cutrim Junior et al., 2011). Ao avaliar processo de acúmulo de forragem durante a rebrotarão no capim-Mombaça, Carnevali et al. (2006) observaram que aos 92 cm de altura o nível de interceptação de luz pelo dossel foi de 95%, e que até este ponto o acúmulo de lâminas foliares foi o processo predominante, e a partir dai aumentaram os processos de acúmulo de colmo e senescência. Emerenciano Neto et al., (2013), obtiveram medias de 13,7 e 51,6 para período de ocupação e período de descanso respectivamente, para a cultivar Massai.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na área do Grupo de Estudos em Forragicultura (GEFOR), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, campus Macaíba-RN. O período experimental foi de janeiro a outubro de 2015. A área experimental composta por Panicum maximum cv. Massai de 0,96 ha, dividida em quatro módulos iguais de 0,24ha, subdivididos em seis piquetes de 0,04 ha. Os pastos de capim-massai foram pastejados por 20 ovinos testes, cinco por tratamento, machos castrados com peso inicial de 15±4,1 kg, utilizou-se fêmeas para ajuste da taxa de lotação, ambos sem padrão racial definido (SPRD). Os animais foram mantidos no pasto durante o dia das 7 às 16 horas, com acesso livre a água e sal mineral. Os animais foram suplementados correspondente a 1% do peso vivo. Os pastos de Massai foram manejados sob lotação intermitente com uma combinação de duas metas de interceptação de luz (IL) no pré-pastejo e duas alturas de pós-pastejo (%/cm): 90/15, 95/15, 90/25 e 95/25. Os períodos de ocupação e de descanso dos piquetes foram variáveis em função das metas de pré e pós-pastejo. A IL e a altura do pasto foram medidas semanalmente, a altura do pasto foi medida com uma régua graduada em centímetros, em 40 pontos aleatórios por piquete e para as avaliações de IL utilizou-se o aparelho analisador de dossel – AccuPAR Linear, com o qual foram realizadas leituras em 15 pontos aleatórios dentro dos piquetes. O período de descanso dos piquetes foi determinado pelo tempo necessário para que o dossel alcançasse as metas de 90% e 95% de IL. O tempo de ocupação foi ajustado pela taxa de lotação para que o dossel do piquete seguinte atingisse as metas de altura de pré e pós-pastejo estipuladas pelos tratamentos. O delineamento adotado foi inteiramente ao acaso em parcela subdividida, sendo a parcela os manejos e a subparcela os ciclos de pastejo. Os dados foram submetidos à análise de variância e o efeito dos manejos e dos ciclos verificado pelo teste de Tukey a 5% de significância.

Resultados e Discussão

A interação entre os manejos e os ciclos não foi significativa para nenhuma das variáveis avaliadas. O período de ocupação dos piquetes não diferiu entre as combinações de frequência e intensidade de pastejo (P=0,1300), com média de 11 dias, este período pode ser considerado alto, pois em ocupações superiores a cinco dias, os ovinos colhem preferencialmente as lâminas foliares da rebrotação, por serem animais seletivos (Emerenciano Neto et al., 2013), o que pode interferir negativamente na estrutura do pasto. O período de descanso foi maior nos pastos manejados a 95/15 (P=0,0204) (Figura 1). A média de 68 dias de descanso observada nos piquetes manejados com a combinação 95/15 foi considerada elevada, pois, períodos de descanso longos comprometem as características estruturais do dossel, relação folha/colmo e o valor nutricional da forrageira (Alexandrino et al., 2005). Os menores períodos de descanso foram obtidos na combinação 90/25, nessa combinação os pastos atingem a meta de entrada mais rápido quando comparado as demais combinações, nesse, os animais rebaixam o pasto na meta de saída mais rápido até 25 cm de pós pastejo em detrimento aos 15cm, o que refletiu em maior número de ciclos de pastejo em relação as demais combinações avaliadas, fato que demonstra maior ganho na eficiência do sistema de produção para esse manejo. Contudo, deve-se ressaltar que o critério de manejo a ser adotado no sistema intermitente para a produção animal é dependente do objetivo do pecuarista em obter maior desempenho animal ou maior produção por área (Difante et al., 2010). Não houve efeito de ciclo para período de ocupação (P=0.0305) e período de descanso (P=0.8203), com médias de 11 e de 54,8 dias, respectivamente (Figura 2), o possibilitando até três ciclos de pastejo durante o período experimental. Com o passar dos dias no período de ocupação ocorre uma diminuição do valor nutritivo da forragem disponível, resultado da remoção de lâminas foliares, quando o animal tende a diminuir a massa e a taxa de bocado. Para compensar a ingestão de forragem ocorre a elevação no tempo de pastejo (Difante et al., 2009). Porem esse processo é limitado, devido o animal desprender parte do seu tempo com outras atividades inerentes ao seu comportamento.

Conclusões

Os diferentes manejos adotados permitiram períodos de descanso longos que podem comprometer as características estruturais do dossel. A combinação 90% de IL e 25 cm de altura de pós-pastejo possibilitou os menores períodos de descanso, o que resultou em maior número de ciclos de pastejo e uso mais eficiente da pastagem.

Gráficos e Tabelas




Referências

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