Pesquisa de Salmonella Schwarzengrund em órgãos de frangos de corte inoculados experimentalmente via câmara de ar nos ovos embrionados e via ração em pintos de um dia

Samantha Verdi Figueira1, Ana Maria de Souza Almeida2, Gisele Mendanha Nascimento3, Angélica Ribeiro Araújo Leonídio4, Thiago Dias Matias5, Dunya Mara Cardoso Moraes6, Maria Auxiliadora Andrade7
1 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
2 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
3 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
4 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
5 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
6 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
7 - Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás

RESUMO -

Com este estudo objetivou-se investigar a capacidade invasiva e a persistência da Salmonella Schwarzengrund em órgãos de pintos de corte inoculados ainda embriões na câmara de ar e na ração de pintos de um dia simulando as vias de transmissão vertical e horizontal. Para isso, foram incubados 200 ovos férteis e distribuídos em quatro tratamentos: Tratamento 1 (controle via ração) pintos não inoculados enquanto embriões e não inoculados com ração. Tratamento 2 (contaminado via ração) pintos não inoculados enquanto embriões, mas inoculados com ração contaminada até o sétimo dia. Tratamento 3 (controle câmara de ar) pintos inoculados apenas com solução salina na câmara de ar enquanto embriões. Tratamento 4 (contaminado câmara de ar) pintos oriundos da inoculação do patógeno na câmara de ar. Salmonella Schwarzengrund foi capaz de colonizar o intestino e determinar quadro septicêmico independente da via de inoculação, constatando sua capacidade invasiva e de colonização dos órgãos das aves.

Palavras-chave: Avicultura industrial, Bacteriologia, Salmonelose

Research of Salmonella Schwarzengrund on organs of broiler chickens inoculated experimentally by air space in embryonated eggs and by feed in day-old chicks

ABSTRACT - The objective of this study was to investigate the invasive capacity and persistence of Salmonella Schwarzengrund in organs of chicks inoculated still embryos in the air space and in the day-old chicks feed simulating the vertical and horizontal transmission routes. For this, 200 fertile eggs were incubated and distributed in four treatments: Treatment 1 (control feed) chicks not inoculated as embryos and not inoculated with feed. Treatment 2 (contaminated feed) chicks not inoculated as embryos, but inoculated with contaminated feed until the seventh day. Treatment 3 (control air space) chicks inoculated only with saline in the air space while embryos. Treatment 4 (contaminated air space) chicks from the inoculation of the pathogen in the air space. Salmonella Schwarzengrund was able to colonize the intestine and to determine septicemia independent of the route of inoculation, noting its invasive capacity and colonization of the organs of the birds.
Keywords: Industrial poultry, Bacteriology, Salmonellosis


Introdução

Salmonella sp. é considerada o agente bacteriano de maior ocorrência nas doenças veiculadas por alimentos em todo o mundo (BORSOI et al., 2011). Com as aves e os produtos de origem avícola frequentemente relacionados aos surtos de toxinfecção alimentar (CDC, 2010). Sendo assim, um importante patógeno para a Saúde Pública e para a Avicultura. Para a Saúde Pública, Salmonella Schwarzengrund, embora ainda menos frequente que outros sorovares, apresenta comprovada potencialidade de causar toxinfecção alimentar em humanos e com o agravo de potencial multiresistência a antimicrobianos (VUGIA et al., 2004). Para a Avicultura Industrial, Salmonella Schwarzengrund foi isolado em diferentes etapas da cadeia avícola, como: conteúdo cecal e amostras fecais de frangos de corte (SASAKI et al., 2012) e em carcaça de frango (BONI et al., 2011). Na região central do Brasil, foi isolada de ovos comerciais e ração (MORAES, 2014) e de carcaças de frangos (MOREIRA et al., 2008). A circulação do sorovar somada à ausência de dados clínicos e de transmissão na literatura consultada propôs-se este trabalho para investigar a capacidade invasiva e a persistência da Salmonella Schwarzengrund em órgãos de frangos de corte simulando a via de transmissão vertical e horizontal.

Revisão Bibliográfica

O gênero Salmonella se divide em duas espécies: Salmonella bongori e enterica. A espécie enterica se subdivide em seis subespécies e até o momento já foram identificados 2.659 sorovares (JEANJEAN et al. 2014). Para as aves existem dois sorovares específicos que são: Salmonella enterica sorovar Pullorum e Salmonella enterica sorovar Gallinarum, que causam pulorose e tifo aviário, respectivamente. Quaisquer outros sorovares encontrados nas aves são chamados de paratíficos e afetam tanto os animais quanto os homens, sendo chamados também de zoonóticos, portanto relevantes para a Saúde Pública. O paratifo aviário apresenta variada patogenicidade de acordo com as características do sorovar, susceptibilidade do hospedeiro e dose infectante (SILVA, 2013). Na cadeia avícola Salmonella sp. pode ser introduzida de diferentes formas, sendo que as principais fontes de contaminação decorrem da transmissão vertical por aquisição de pintos infectados pelas matrizes. E da transmissão horizontal que pode ocorrer por contaminação cruzada no incubatório e também por contaminação ambiental nos galpões de criação, com muitas fontes potencias, entre elas as rações e suas matérias primas, principalmente de origem animal, podem apresentar altas taxas de contaminação por Salmonella sp. (SILVA & DUARTE, 2002). Para a avicultura é fundamental buscar medidas que evite o risco de contaminação dos seus produtos, principalmente por patógenos causadores de toxinfecção alimentar em humanos, como Salmonella sp. Uma dessas medidas é conhecer a patogenia, as possíveis fontes de infecção e as vias de transmissão dos diferentes sorovares, como ferramenta de monitoramento epidemiológico e programas de controle eficientes. Com o intuito de assegurar a importância alimentar dos produtos de origem aviária, por fornecer alimentos de alto valor nutritivo, de qualidade e relativo baixo custo.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Núcleo Experimental de Doença de Aves, EVZ/UFG, com número de protocolo registro CEUA/UFG 23/14 pela Comissão de Ética no Uso de Animais da UFG. Foram incubados 200 ovos férteis de frangos de corte da linhagem Cobb e distribuídos inteiramente ao acaso em três incubadoras. Os ovos embrionados da incubadora 1, não receberam tratamento enquanto embriões, apenas após a eclosão e foram divididos em dois tratamentos. Tratamento 1: (controle da ração) constituído de 30 pintos oriundos receberam ração sem inoculação do patógeno. Tratamento 2: (contaminado via ração) 30 pintos receberam ração com 5,3 x 10 4/0,1mL/g de Salmonella Schwarzengrund por grama de ração até o sétimo dia de vida. Os ovos embrionados da incubadora 2, foram inoculados com 0,2 mL de solução salina tamponada esterilizada 0,85% via câmara de ar, da qual foram retirados 30 pintos constituindo o Tratamento 3 (controle da câmara de ar) e ovos da incubadora 3, foram inoculados com 1,5 x 104 UFC/0,2mL de Salmonella Schwarzengrund na câmara de ar, com a retirada de 30 pintos constituindo o Tratamento 4 (contaminado via câmara de ar). Cada tratamento foi constituído de seis repetições, com cinco aves, totalizando 30 aves por tratamento. Com 10 e 25 dias de idade foi realizada necropsia em uma ave por parcela, os órgãos foram processados para pesquisa de Salmonella, de acordo com a metodologia descrita por GEORGIA POULTRY LABORATORY (1997), com modificações. Os dados qualitativos de presença ou ausência de Salmonella nos órgãos, por bacteriologia convencional, observação da presença ou ausência de lesões macroscópicas e doença clínica, foram avaliados por teste descritivo, de Kruskal-Wallis, utilizando o software R.

Resultados e Discussão

Para a pesquisa de Salmonella nos órgãos (Tabela 2), os tratamentos controles permaneceram negativos e por isso foram retirados da Tabela. Entre os tratamentos contaminados (T2 e T4), Salmonella Schwarzengrund foi capaz de invadir os órgãos das aves nas duas idades pesquisadas, mas não houve diferença estatística para os isolados do coração, baço e fígado. Para os isolados de ceco e tonsila cecal, nas duas necropsias, houve diferença (P<0,05) com maior isolamento bacteriano no tratamento contaminado pela ração (T2).   TABELA 2 – Frequência (%) dos órgãos positivos para Salmonella das aves com 10 e 25 dias de idade.
Tratamento 10 Dias 25 Dias
  Coração Baço Fígado Ceco Coração Baço Fígado Ceco
T2 (contaminado ração) 16,6 (1/6) 0 (0/6) 0 (0/6) 83,3a (5/6) 0 (0/6) 33,3 (2/6) 16,6 (1/6) 83,3a (5/6)
T4 (contaminado câmara de ar)   16,6 (1/6) 33,3 (2/6) 33,3 (2/6) 16,6b (1/6) 16,6 (1/6) 33,3 (2/6) 16,6 (1/6) 16,6b (1/6)
Valor de P (X2) 0,554 0,099 0,099 0,002 0,392 0,204 0,554 0,002
1 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pele teste de Kruskal Wallis a 5% de probabilidade.
  Observa-se que no tratamento T2 com 10 dias, o patógeno foi isolado no coração e no ceco, com maior frequência no ceco e tonsilas cecais. Com 25 dias pode ser detectado no baço, fígado e ceco, ainda este com maior isolamento. No tratamento T4, desde a primeira necropsia a bactéria foi isolada em todos os órgãos. A colonização intestinal e a presença do patógeno em órgãos nos dois tratamentos, nas duas datas, nos possibilitam inferir que a Salmonella Schwarzengrund colonizou o intestino e invadiu o epitélio com disseminação para outros órgãos sem determinar mortalidade. Este resultado evidencia a capacidade invasiva e de persistência da Salmonella Schwarzengrund e corrobora com pesquisadores que trabalharam com outros sorovares paratíficos como HE et al., (2010) e ROCHA, et al. (2013). Não houve diferença estatística com relação ao isolamento nas diferentes idades pesquisadas, o que difere de DESMIDT et al. (1997) que a frequência da colonização intestinal e a capacidade invasiva em órgãos é maior em pintos recém eclodidos do que em aves mais velhas. Porém o aumento da contaminação ambiental pela excreção de Salmonella pelas aves infectadas possibilitou a reinfecção (KABIR, 2010). No tratamento inoculado via câmara de ar a colonização intestinal foi acompanhada por maior disseminação, comprovada pelo isolamento da bactéria em todos os órgãos pesquisados, isso provavelmente se antecede da qualidade inferior dos pintos oriundos desse tratamento quando comparados aos pintos inoculados na ração.

Conclusões

Salmonella Schwarzengrund possui a capacidade de colonizar o intestino e invadir o epitélio disseminando e persistindo em órgãos de aves inoculadas pela câmara de ar, e em pintos de um dia pela via ração contaminada, enfatizando a importância de medidas de controle do sorovar tanto na via de transmissão vertical quanto na horizontal.


Referências

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