Potencial leiteiro de animais da raça Pantaneira na região do Alto-Pantanal do Mato Grosso do Sul

Níkolas Cáceres de Oliveira Brochado1, Rodrigo Carvalho Ferreira2, Mariane da Silva Chiodi3, Eduardo Dionísio Fernandes4, Vitória Soares5, Dirce Ferreira Luz6, Urbano Gomes Pinto de Abreu7, Marcus Vinicius Moraes de Oliveira8
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
6 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
7 - EMBRAPA PANTANAL
8 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

RESUMO -

Este trabalho objetivou determinar a persistência de lactação e a composição físico-química do leite de vacas da raça Pantaneira (Bos taurus taurus) em segunda ordem de parto. Os animais foram manejados em sistema de pastoreio rotacionado (Panicum maximum). A ordenha foi realizada mecanicamente duas vezes ao dia e a pesagem do leite efetuada diariamente. A análise da característica físico-química do leite foi efetuada pelo método da ultrassonografia e as curvas de lactação estimadas utilizando-se o parâmetro univariável. A produção média de leite foi de 5,34 kg/leite/dia e os teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais não gordurosos foram de 5,3, 3,7, 6,0 e 10,7%, respectivamente. A lactação das vacas em segunda ordem de parto encerrou-se naturalmente aos 180 dias e o pico de produção de leite foi atingido entre os 51 e 60° dias. Além disso, não houve diferença na composição físico-química do leite nos diferentes períodos da lactação.

Palavras-chave: Conservação, Curva de Lactação, Bovinos Naturalizados, Persistência Lactacional

Milk potential of Pantanal animals in the Upper Pantanal region of Mato Grosso do Sul

ABSTRACT - Due to the lack of scientific information about the dairy potential of this breed, this work aimed to determine the persistence of lactation and the physicochemical composition of the milk of cows in second order of delivery. The animals were managed in a pasture system rotated (Panicum maximum). The milking was performed mechanically twice a day and the milk weighed daily. The average milk yield was 5.34 kg / milk / day and the fat, protein, lactose and total non-fat solids contents were 5.3, 3.7, 6.0 and 10.7%, respectively. Lactation of second-order cows was naturally terminated at 180 days and the peak milk yield was reached between 51 and 60 days. In addition, there was no difference in the physical-chemical composition of the milk in the different periods of lactation.
Keywords: Conservation, Lactation Curve, Naturalized Cattle, Lactational Persistence


Introdução

Os bovinos da raça Pantaneira, chegaram a somar milhões de cabeças no passado. Todavia, hoje se encontram em vias da extinção. Neste contexto, informações a cerca da produção de leite da raça, faz-se necessário, e, sobretudo no que se diz respeito à curva de lactação e persistência lactacional da mesma. A curva de lactação, representação gráfica da variação da produção de leite diária de uma fêmea leiteira em função da duração da lactação, pode ser utilizada para estimar a produção de leite em qualquer período ou no transcorrer da lactação. Além disso, por meio desta estimativa, torna-se possível a identificação de animais com genética leiteira superior e, consequentemente contribuir para um futuro melhoramento genético da raça. Nesse sentido, devido à escassez de informações científicas sobre o potencial leiteiro desta raça, este trabalho objetivou determinar a persistência de lactação e a composição físico-química do leite de vacas em segunda ordem de parto.

 



Revisão Bibliográfica

O Estado de Mato Grosso do Sul possui grande potencial para a produção leiteira em sistema de pastejo, devido à topografia plana, clima favorável e disponibilidade de grãos e subprodutos para alimentação do rebanho. Porém a atividade ainda é incipiente, principalmente nos municípios Pantaneiros, onde 70% do leite produzido são provenientes de rebanhos não especializados de aptidão mista, carne-leite, e conduzida principalmente de maneira extensiva (FIGUERÓ, 2008). Nesse contexto, o bovino Pantaneiro (Bos taurus taurus) pode-se tornar uma opção interessante, devido a sua menor exigência nutricional, em função do seu pequeno tamanho corporal, e da maior resistência contra ecto e endoparasitas (MAZZA et al., 1994). Altamente adaptado a condições ambientais da região e capaz de sobreviver em situações hostis de criação, os bovinos da raça Pantaneira, chegaram a somar milhões de cabeças no passado (MARQUES JÚNIOR et al., 2012). Todavia, hoje se encontram em vias da extinção, com menos de 500 indivíduos puros (DANI E OLIVEIRA, 2013). Segundo Egito et al. (2002) este grupo genético teve pequena interferência do homem e foi moldado pelas condições ambientais inóspitas do Pantanal, gerando animais altamente resistentes a temperaturas elevadas, condições de seca e alagamento intermitentes e aptos a sobreviver com pastagens de baixo nível nutricional e a precárias condições sanitárias. Neste contexto, informações a cerca da produção de leite da raca, faz-se necessário, e, sobretudo no que se diz respeito à curva de lactação e persistência lactacional da mesma. A curva de lactação, representação gráfica da variação da produção de leite diária de uma fêmea leiteira em função da duração da lactação, pode ser utilizada para estimar a produção de leite em qualquer período ou no transcorrer da lactação (RODRIGUEZ et al., 2012). Além disso, por meio desta estimativa, torna-se possível a identificação de animais com genética leiteira superior e, consequentemente contribuir para um futuro melhoramento genético da raça.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros de Aquidauana (NUBOPAN) pertencente à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul / Unidade Universitária de Aquidauana (UEMS/UUA), localizada no Município de Aquidauana/MS, região do Alto Pantanal Sul-Mato-Grossense. Foram utilizadas 6 vacas da raça Pantaneira com 4,5 anos de idade, peso corpóreo médio de 419,52±3kg e na segunda ordem de lactação. As vacas foram pesadas a cada 14 dias, para determinação do peso durante a curva de lactação. Os animais foram manejados em sistema de pastoreio rotacionado em capim-mombaça (Panicum maximum), suplementados individualmente com concentrado (3,8 kg/dia), ofertado em duas porções equitativas logo após as ordenhas. A coleta de dados iniciou-se logo após o parto das vacas e durou até o encerramento natural da lactogênese. A mungidura foi realizada por meio de ordenhadeira mecânica duas vezes por dia, às 5:00 e 17:00 horas, sem a presença do bezerro e a pesagem do leite efetuada diariamente. Para facilitar a ejeção do leite, foi realizada aplicação de 0,3 ml de ocitocina na veia mamária, utilizando-se agulha hipodérmica com 2,5 mm de diâmetro. Após a ordenha, os bezerros foram colocados com suas respectivas mães por um período equivalente a 30 minutos, para que pudessem consumir o leite residual, sendo o leite ingerido estimado através de pesagens do bezerro antes e após a amamentação. Posteriormente, os bezerros receberam uma suplementação com leite integral em mamadeira, a fim de suprir suas exigências correspondentes a 10% do peso corpóreo. A composição físico-química do leite foi aferida a cada 14 dias, sendo as amostras de leite colocadas em recipientes plásticos esterilizados e refrigerados a 4ºC. Em seguida foi realizada análise pelo método da ultrassonografia (LANARA, 1981), determinando-se os teores de proteína, gordura, lactose, extrato seco desengordurado e pH. A avaliação de mastite sub-clínica, através do procedimento Califórnia Mastite Teste (CMT), foi realizada semanalmente, porém não foi observada a necessidade de tratamento em nenhum animal. As curvas de lactação individuais foram inicialmente estimadas utilizando-se o parâmetro univariável e, em seguida realizou-se uma analise de identidade de modelos de regressão linear com decomposição polinomial, conforme Regazzi (1996). Nos estudos de regressão, foram testados os modelos linear, quadrático e cúbico. Para as demais variáveis, foi realizada ANOVA, e quando necessário foi realizado o Teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa estatístico R.

Resultados e Discussão

A persistência lactacional das vacas Pantaneiras foi de 180 dias, ou seja, de 6 meses, quando ocorreu o encerramento natural da lactogênese. Notoriamente, este período em condições naturais, é suficiente para que a mãe alimente adequadamente a sua cria. Haja vista que a partir da terceira semana de vida os bezerros começam a ingerir alimentos sólidos, levando a transformação do sistema fisiológico-digestivo do neonato num ruminante funcional (SILVA e CAMPOS, 1986), e como consequência natural ocorre a redução da ingestão de leite concomitantemente com a diminuição da lactopoese materna. A produção média de leite foi de 5,34 kg/leite/dia e os teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais não gordurosos foram de 5,3, 3,7, 6,0 e 10,7%, respectivamente. A lactação das vacas em segunda ordem de parto encerrou-se naturalmente aos 180 dias e o pico de produção de leite foi atingido entre os 51 e 60° dias. Além disso, não houve diferença na composição físico-química do leite nos diferentes períodos da lactação. A produção média de leite, em 180 dias, das vacas Pantaneiras foi de 5,34 kg/animal/dia. Ajustando-se a produção de leite dessas vacas para 150 dias, verifica-se uma produtividade média de 6,40 kg/animal/dia, sendo este valor semelhante aos resultados encontrados por Biazolli (2014) e Lopes (2014), onde encontraram em 150 dias de lactação, uma produtividade média de 6,27 kg/dia/vaca e 6,82 kg/vaca/dia, respectivamente para vacas Pantaneiras primíparas. Nesse sentido, infere-se que não houve uma evolução na lactopoese desse animais, sendo que Biazolli (2014) e Lopes (2014) utilizaram os mesmo animais ainda novilhas, e os animais utilizados neste ensaio eram de segunda cria. Ressalta-se que ao se corrigir a produção de leite para 3,5% gordura, conforme sugerido por Evans et al. (1993) verifica-se uma produtividade média, em 180 dias de lactação, de 6,44 kg/animal/dia. Haja vista que esta é a primeira vez que a produção de leite, de vacas Pantaneiras de segunda ordem de lactação, é aferida de maneira científica e, até o momento dentro do rebanho de bovinos Pantaneiros, não há nenhuma linhagem selecionada para a produção de leite. Os resultados obtidos neste ensaio são de grande importância técnica, pois auxiliarão na identificação das vacas mais produtivas e com maior a aptidão leiteira, facilitando assim, os programas de seleção e melhoramento genético (REBOUÇAS et al., 2008) e a própria conservação da espécie (LOPES, 2014). As curvas de lactação completa por animal podem ser visualizadas no Figura 1. Verifica-se assim, que houve uma ampla variação entre as vacas, com o animal mais leiteiro produzindo 1.256,5 litros durante toda a lactação, sendo este valor 56,7% superior ao leite produzido pela vaca menos produtiva. A composição físico-química do leite de vacas da raça Pantaneira indicam teores médios de 5,30% de gordura, 3,71% de proteína, 6,04% de lactose e 10,68% de extrato seco desengordurado (Tabela 1). Não houve diferença significativa na composição físico-química do leite entre os períodos de produção de leite (p>0,05). Sendo estes valores, com exceção da gordura, próximos aos relatados por Lopes (2014) de 4,20, 3,79, 6,23 e 10,81%, respectivamente; e por Biazolli (2014) de 4,26, 3,82, 6,23 e 10,84%, respectivamente, que trabalharam com vacas primíparas da raça Pantaneira. No entanto, foi superior aos dados relatados por Silva Junior (2013) em bovinos da raça Girolando, com 4,1, 3,4, 5,7 e 9,8%, respectivamente; por Reis et al. (2007), em vacas mestiças Holandês/Gir, que encontraram 3,81, 2,91, 4,37 e 8,18, respectivamente; e por Botaro et al. (2011), ao avaliarem o leite de animais das raças Holandesa (3,53% de gordura, 4,42% de lactose e 8,48% de ESD), Jersey (3,97% de gordura, 4,30% de lactose e 8,57% de ESD) e Girolando (3,45% de gordura, 4,45% de lactose e 8,51% de ESD).

Conclusões

A lactação das vacas em segunda ordem de parto encerrou-se naturalmente aos 180 dias e o pico de produção de leite foi atingido entre os 51 e 60° dias. Além disso, não houve diferença na composição físico-química do leite nos diferentes períodos da lactação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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