Presença polínica em amostras de mel de Apis mellifera do município de Santa Helena, região oeste do Paraná, Brasil
Douglas Galhardo1, Fernanda Jacobus de Moraes2, Simone Cristina Camargo3, Diana Jessica Pereira4, Luanda Leal das Neves Carvalho5, Sandra Mara Stroher6, Regina Conceição Garcia7
1 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
2 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
3 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
4 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
5 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
6 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
7 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
RESUMO -
O presente estudo teve como objetivo analisar a presença polínica de 20 amostras de mel de Apis mellifera coletadas no município de Santa Helena-Paraná. As amostras foram diluídas em água e acetolizadas para a montagem e leitura das laminas, qualificando e quantificando os grãos de pólens presentes. Foram encontrados 71 tipos polínicos pertencentes a 24 famílias, com maior frequência polínica de Hovenia dulcis (Rhamnaceae), Eucalyptus sp. (Myrtaceae), Parapiptadenia rigida (Mimosaceae), Leucaena leucocephala (Mimosaceae) e Glycine max L. Merrill (Fabaceae). As famílias com maior número de tipos polínicos representados nas amostras de mel foram Asteraceae , Fabaceae e Mimosaceae. As amostras de mel do município de Santa Helena, pela maior presença do pólen de H. dulcis, P. rigida, Eucalypus sp., L. leucocephala e tipo Myrcia, caracterizam a produção do mel em áreas de preservação permanente reflorestadas, que compõem toda extensão do lago de Itaipu.
Palavras-chave: Melissopalinologia, produtos apícolas, origem botânica, identificação geográfica
Pollen presence in samples of honey from Apis mellifera from the couty of Santa Helena, West Paraná, Brazil
ABSTRACT - The present study had as objective to analyze the pollen presence of 20 samples of Apis mellifera honey collected in the county of Terra Roxa, located on the West Coast of the state of Paraná. The samples were diluted in water and then acetolized a set of sheets and readings, qualifying and quantifying the pollen grains. It was found 71 pollen types belonging to 24 families, with a higher pollen frequency of H. dulcis (Rhamnaceae), Eucalyptus sp. (Myrtaceae), Parapiptadenia rigida (Mimosaceae), L. leucocephala (Mimosaceae) and G. max L. Merrill (Fabaceae). The families with the highest number of pollen types represented in the honey samples were Asteraceae, Fabaceae and Mimosaceae. The honey samples from the country of Santa Helena due to the greater presence of pollen of H. dulcis, P. rigida, Eucalypus sp., L. leucocephala and Myrcia type, characterize honey production in reforested permanent preservation areas that compose all the.Itaipu lake.
Keywords: Melissopalinology, bee products, botanical origin, geographical identification
Introdução
A qualidade do mel depende de vários fatores, tais como: origem botânica do néctar coletado, espécie da abelha, condições ambientais e manejo pré e pós-colheita (FUJII et al., 2009).
Como a flora brasileira é bastante diversificada, em consequência da expansão territorial do país e da variabilidade climática existente, é possível produzir mel o ano todo de diferentes características e composições botanicas (MARCHINI et al., 2004).
Neste contexto, as características físico-químicas e palinológicas do mel paranaense são pouco conhecidas, principalmente na região Oeste, onde a flora apícola é bastante diversificada devido a programas de reflorestamento e áreas de preservação permanente próximas ao lago de Itaipu, tornando-se de relevada importância estudos abrangendo esta região. Nesse sentido, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, em parceria com a Cooperativa Agrofamiliar Solidária de Apicultores do Oeste do Paraná – COOFAMEL, vem realizando estudos de caracterização do mel desde 2006, o que levou essa organização a solicitar a Indicação por Procedência desse mel junto ao Instituto Nacional de Procedência Industrial – INPI, em dezembro de 2015.
Este estudo teve como objetivo caracterizar a presença polínica em 20 amostras de mel de
Apis mellifera africanizada, coletadas entre outubro de 2008 a março de 2009, em parceria com produtores filiados à COOFAMEL, do município de Santa Helena, Costa Oeste do Paraná - Sul do Brasil.
Revisão Bibliográfica
A quantidade de mel produzida apresenta uma variação entre plantas, juntamente com os fatores da concentração de néctar, proporções de carboidratos, além da quantidade de flores na área e o número de dias em que as flores secretam néctar. Os mel pode ser classificado, para fins de comercialização, de acordo com sua origem botânica e procedimento de obtenção (MARCHINI et al, 2004).
Os métodos para a análise qualitativa e quantitativa de pólen em mel é bem conhecida e descrita por (Louveaux et al. 1978). Os métodos permitem defenior o perfil botânico (unifloral e multifloral) e a origem geográfica do mel. A melissoplainologia pode ser feita pela tecnica de pólen a fresco ou pólen acetolisado, ambos os métodos são eficazes, porém o método a fresco e mais rápido, no entanto menos preciso (D’ALBORE, 1997).
O levantamento palinológico quantitativo e qualitativo de uma amostra de mel, obtido pela análise polínica, constitui o seu espectro polínico, esse espectro diz respeito às plantas produtoras de néctar, às não produtoras, e quais floradas as abelhas visitan e ainda a falsificações, contaminações e misturas do mel (BARTH, 1989).
A coleta e a identificação taxonômica de espécies que compõem a fauna e a flora de uma determinada região são importantes para o conhecimento dos recursos naturais nela disponíveis, possibilitando a obtenção de informações básicas para estudos mais amplos sobre as características ecológicas de um determinado habitat ou ecossistema (MARCHINI et al., 2001).
Materiais e Métodos
Foram colhidas 20 amostras de mel de apicultores do município de Santa Helena (24° 51′ 36″ S, 54° 19′ 58″ W) , fornecidas pela COOFAMEL. As analises polínicas foram realizadas no laboratório de análise de alimentos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Candido Rondon, de acordo com a metodologia adaptada por Louveaux (1978), descrita a seguir: 10 g mel de cada amostra para foram submetidos à Acetólise, (ERDTMAN, 1952) que consiste no tratamento químico dos grãos de pólen, eliminando a intina (membrana interna do grão), o citoplasma e as substâncias aderentes aos grãos, fossilizando-os artificialmente, restando a exina (membrana externa) mais transparente e própria para estudo de seus detalhes. Foi realizada uma análise qualitativa, com identificação dos pólens encontrados, com base em laminário de referência e imagens da literatura especializada, bem como análises quantitativas, por meio da contagem de 300 grãos de pólen por amostra. Depois de determinada a presença polínica em cada amostra, foi avaliada a interação entre grãos de pólen e amostras, por meio de uma rede bipartida, projetada com a utilização do pacote Bipartite do software R Project versão 3.2.2 (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2015) e calculado o índice de riqueza de espécies (S)
, analisado pelo programa estatístico
Paleontological Statistics PAST, versão 1.35b.
Resultados e Discussão
Nas 20 amostras de mel analisadas, observou-se a presença de 71 tipos polínicos e dois não identificados, pertencentes a 24 famílias. Os tipos polínicos de maior presença fooram
H. dulcis (Rhamnaceae),
Eucalyptus sp. (Myrtaceae),
P. rigida (Mimosaceae),
L. leucocephala (Mimosaceae) e
G. max L. Merrill (Fabaceae), como observa-se na Tabela 1. As famílias com maior número de tipos polínicos representados nas amostras de mel foram Asteraceae (nove), Fabaceae (nove) e Mimosaceae (oito).
A tabela de presença polínica apresenta a média percentual dos tipos polínicos mais representativos em relação ao número total das amostras, no entanto, não expressa a real importância dos tipos polínicos em cada amostra. assim o índice de riqueza de espécies (
S) das espécies polínicas encontradas, apresentou uma variação de 6 a 20 tipos polínicos. Apesar de ter encontrado 71 tipos polínicos, apenas uma parte dessas espécies expressa significativa importância na constituição do mel.
Observando-se a (Figura 1), rede bipartida de interação entre amostras e grãos de pólen, pode-se visualizar as presenças polínicas das amostras, expressando mais claramente a preferências de algumas espécies de plantas pelas abelhas.
Realizando estudo de levantamento de flora apícola, CAMARGO et al., (2014) encontraram, em apiários do município de Santa Helena (PR) grande abundância das espécies
H. dulcis e
L. leucocephala, embora a espécie
P. rigida tenha sido encontrada maior número de indivíduos. As duas primeiras plantas (exóticas) fizeram parte do reflorestamento realizado por ocasião da criação do Lago de Itaipu, e a última (nativa) tem sido distribuídapelo programa Cultivando Água Boa, proposto pela ITAIPU-Binacional, que visa à reposição da mata ciliar das margens do lago.
Figura 1. Rede bipartida de presença polínica identificado nas amostras de mel. Em cada retângulo em preto representa a espécies de plantas (direita) e amostras de méis (esquerda) do município de Terra Roxa e as linhas entre as colunas indica o número de observações e a largura de cada retângulo indica a frequência polínica nas amostras e em cada espécie
SEKINE et al.(2013) identificou 80 tipos polínicos distribuídos em 31 famílias, com maior representatividade das famílias Asteraceae, Fabaceae, Euphobiaceae, Sapindaceae, Mimosaceae e Myrtaceae, em um estudo nos municípios de Ubiratã e Nova Aurora, ambos na região Oeste do Paraná, também observando a presença das espécies mais importantes aqui encontradas, porém, em menor frequência. Camargo et al. (2014), estudando o uso e ocupação do solo ao redor de 30 apiários do município de Santa Helena, verificou a predominância de áreas de matas. Tambem verificou alta produtividade das colmeias, apesar da alta concentração de colmeias por área, o que indica, tanto a importância apícola dessas plantas como da alta variedade de plantas, maiores que no município de Marechal Cândido Rondon, área predominantemente agrícola.
Conclusões
Os grãos de pólen predominantes nas amostras de mel do município de Santa Helena indicam que os apiários estão localizados próximos de áreas de reflorestamento, devido às espécies presentes e à diversidade de tipos polínicos encontrados e menor quantidade de pólen de
G. max L. Merrill. Os grãos de pólen encontrados nas amostras de mel são de espécies que possuem período de floração variando entre agosto e abril, coincidindo com a época de produção e colheita do mel estudado.
Gráficos e Tabelas
Referências
Referências
D’ALBORE, Giancarlo Ricciardelli. Methods for the Characterization of the Botanical and Geographical Origin of Some Bee Products and for Their Quality Control. In:
Bee Products. Springer US, 1997. p. 253-262.
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ERDTMAN, Gunnar. Morfologia do pólen e taxonomia vegetal.
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DA SILVA DE FREITAS, Alex et al. A melissopalynological analysis of Apis mellifera L. loads of dried bee pollen in the southern Brazilian macro-region.
Grana, v. 54, n. 4, p. 305-312, 2015.
FUJII, I.A.; RODRIGUES, P.R.M.; FERREIRA, M. do N. et al. Caracterização físico-química do mel de guaranazeiro (
Paullinia cupana var. sorbilis) em Alta Floresta, Mato Grosso.
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LOUVEAUX, J.; MAURIZIO, Anna; VORWOHL, G. Methods of melissopalynology.
Bee world, v. 59, n. 4, p. 139-157, 1978.
SEKINE, Elizabete S. et al. Melliferous flora and pollen characterization of honey samples of Apis mellifera L., 1758 in apiaries in the counties of Ubiratã and Nova Aurora, PR.
Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 85, n. 1, p. 307-326, 2013.