Presença polínica em amostras de mel de Apis melliferas do município de Terra Roxa, região Oeste do Paraná, Brasil

Douglas Galhardo1, Fernanda Jacobus de Moraes2, Simone Cristina Camargo3, Diana Jessica Pereira4, Luanda Leal das Neves Carvalho5, Sandra Mara Stroher6, Regina Conceição Garcia7
1 - Universidade estadual do Oeste do Paraná
2 - Universidade estadual do Oeste do Paraná
3 - Universidade estadual do Oeste do Paraná
4 - Universidade estadual do Oeste do Paraná
5 - Universidade estadual do Oeste do Paraná
6 - Universidade estadual do Oeste do Paraná
7 - Universidade estadual do Oeste do Paraná

RESUMO -

O presente estudo teve como objetivo analisar a frequência polínica de 20 amostras de mel de Apis mellifera coletadas no município de Terra Roxa, localizado na região Oeste do estado do Paraná, Brasil. As amostras foram diluídas em água e acetolizadas para a montagem e leitura das laminas, qualificando e quantificando os grãos de pólens presentes. Foram encontrados 64 tipos polínicos, pertencentes a 29 famílias, com maior frequência polínica de Glycine max L. Merrill, Mimosa scabrella Benth, Eucalyptus sp, Mimosa caesalpiniifolia Benth, Mikania verrucosa Benth, Leucaena leucocephala e Hovenia dulcis. Caracterizando as áreas apícolas predominantemente agrícolas

Palavras-chave: Melissopalinologia, produtos apícolas, origem botânica, identificação geográfica

Pollen presence in samples of honey from Apis mellifera from the county of Terra Roxa, West Paraná, Brazil

ABSTRACT - The present study had the objective of analyzing a pollen frequency of 20 samples of Apis mellifera honey collected in the county of Terra Roxa, located in the western region of the state of Paraná, Brazil. As samples were diluted in water and then acetolized a set of sheets and readings, qualifying and quantifying the pollen grains. Sixty - six pollen types belonging to 29 families were found, with the highest pollen frequency of Glycine max L. Merrill, Mimosa scabrella Benth, Eucalyptus sp, Mimosa caesalpiniifolia Benth, Mikania verrucosa Benth, Leucaena leucocephala and Hovenia dulcis. Featuring predominantly agricultural beekeeper areas
Keywords: Melissopalinology, bee products, botanical origin, geographical identification


Introdução

Para muitos insetos, em especial as abelhas, o pólen é a principal fonte de alimento não líquido, sendo este, por sua vez, o gameta masculino de plantas floríferas.  O contém a maioria, se não todos, os nutrientes essenciais, constituindo a principal fonte de proteínas e lipídios para a nutrição das abelhas. Ao coletarem o néctar das flores, as abelhas involuntariamente incorporam grãos de pólen, que regurgitados com o néctar nos alvéolos melíferos, aparecerão no mel, constituindo importante indicador para sua origem botânica e geográfica (BARTH, 1989). Algumas pesquisas têm analisado botanicamente amostras de mel de municípios da região Oeste do Paraná, visando a caracterização do produto. Com base na tradição de apicultura nessa região e, principalmente pela qualidade do produto, comprovada ao longo dos últimos dez anos por meio de análises físico-químicas e polínicas, realizadas pela Universidade Estadual do Oeste do paraná, campus de Marechal Cândido Rondon, a Cooperativa  Agrofamiliar Solidária de Apicultores do Oeste do Paraná – COOFAMEL, solicitou junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, no dia 15 de dezembro de 2015, a Indicação de Procedência desse mel. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo caracterizar a presença polínica em 20 amostras de mel de Apis mellifera africanizada, coletadas entre outubro de 2008 a março de 2009, em parceria com produtores filiados à COOFAMEL, do município de Terra Roxa, - Paraná, Brasil.

Revisão Bibliográfica

O mel da região oeste do Paraná, principalmente municípios lindeiros ao Rio Paraná, na altura da Bacia 3, vem apresentado características únicas na sua constituição, devido ao reflorestamento empregado após o alagamento para construção da hidroelétrica de Itaipu. O município de santa Helena, foi um dos municípios que teve grande área territorial alagada, hoje apresenta grade extensão deste reflorestamento que vem sendo utilizado por apicultores na região para a produção de mel. Para tal analisar origem botânica do mel se aplica a técnica de melissopalinologia que é a ciência que estuda o pólen contido no mel, em um sentido mais amplo inclui o estudo da origem do grão de pólen. Ao analisar os pólens contido no mel é possível determinara a área de origem geográfica e quais plantas que foram visitas por aquelas abelhas. A melissopalinologia é utilizada para termina a procedência de um determinado mel, características de uma determinada região ou período do ano e floradas especificas (COFFEY et al,1997). A técnica também é utilizada para detectar fraudes e comercialização ilegal de mel com denominação de origem que apresenta sabor, colocaração e características que agrega valor diferenciado ao produto.

Materiais e Métodos

Foram colhidas 20 amostras de mel de apicultores do município de Terra Roxa (24° 9′ 25″ S, 54° 5′ 49″ W), fornecidas pela COOFAMEL. As analises polínicas foram realizadas no laboratório de análise de alimentos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Candido Rondon, de acordo com a metodologia adaptada por Louveaux (1978), descrita a seguir:  10 g mel de cada amostra para foram submetidos à Acetólise, (ERDTMAN, 1952) que consiste no tratamento químico dos grãos de pólen, eliminando a intina (membrana interna do grão), o citoplasma e as substâncias aderentes aos grãos, fossilizando-os artificialmente, restando a exina (membrana externa) mais transparente e própria para estudo de seus detalhes. Foi realizada uma análise qualitativa, com identificação dos pólens encontrados, com base em laminário de referência e imagens da literatura especializada, bem como análises quantitativas, por meio da contagem de 300 grãos de pólen por amostra. Depois de determinada a presença polínica em cada amostra, foi avaliada a interação entre grãos de pólen e amostras, por meio de uma rede bipartida, projetada com a utilização do pacote Bipartite do software R Project versão 3.2.2 (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2015) e calculado o índice de riqueza de espécies (S), analisado pelo programa estatístico Paleontological Statistics PAST, versão 1.35b.

Resultados e Discussão

Nas 20 amostras de mel, um total de 64 tipos polínicos foram encontrados, pertencentes a 29 famílias vegetais e quatro tipos polínicos não identificados. Os tipos polínicos mais frequentes nas amostras foram: G. max L. Merrill (Fabaceae), M. scabrella Benth. (Mimosaceae), Eucalyptus sp. (Myrtaceae), Mikania sp. (Asteraceae), Mimosa caesalpiniifolia Benth. (Mimosaceae), Leucaena leucocephala (Mimosaceae) e Hovenia dulcis (Rhamnaceae), como observa-se na Tabela 1. As famílias com maiores números de tipos polínicos representados nas amostras de mel foram Mimosaceae (sete), Asteraceae (seis) e Fabaceae (cinco), indicando a média percentual dos tipos polínicos mais representativos em relação ao número total das amostras, porém, não expressa a importância do tipo polínico em cada amostra. Assim o índice de riqueza de espécies (S) das espécies polínicas encontradas, apresentou uma variação de 3 a 18 tipos polínicos. Apesar de ter encontrado 64 tipos polínicos, apenas uma parte dessas espécies são de grande importância para a nutrição das abelhas. Observando a (Figura 1), da rede bipartida de interação das plantas e amostras, pode-se visualizar as frequências polínicas das amostras, demostrando a importância de algumas espécies na constituição do mel. Além disso, a alta variabilidade de espécies presentes no mel indica a importância de todas essas plantas visitadas para a alimentação das abelhas e da manutenção da biodiversidade para a sobrevivência das colônias. Os resultados encontrados para o município indicam que a produção de mel está concentrada em áreas  agrícolas, devido ao número mais expressivo de pólen de G. max L. Merrill e Eucalyptus sp, CAMARGO et al. (2014), estudando o uso e ocupação do solo ao redor de apiários de Marechal Cândido Rondon e Santa Helena, verificaram a predominância de área agrícola e de área de mata, respectivamente, que margeia o lago de Itaipu. Figura 1. Rede bipartida de presença polínica identificada nas amostras de mel.   Cada retângulo em preto representa as espécies de plantas (direita) e amostras de méis (esquerda) do município de Terra Roxa; a largura de cada retângulo indica a presença polínica de cada espécie nas amostras e a presença de cada espécie e as linhas entre as colunas indicam o número de observações. O mel produzido no município caracteriza a apicultura localizada em áreas agrícolas e como complementação de renda para famílias, cuja atividade principal está baseada no cultivo de grãos. Considerando-se que (CAMARGO et al, 2014) verificaram que as áreas de mata apresentaram uma maior produtividade de mel em comparação às áreas agrícolas nessa região, mesmo com uma maior concentração de colmeias por área, e que neste trabalho foi confirmada a grande variabilidade de tipos polínicos no mel, sugestão seria o plantio de várias espécies florísticas, possibilitando a coleta do néctar pela abelha em diferentes épocas do ano, e mais uma safra de mel ao ano.

Conclusões

A técnica de melissopalinologia determinou o espectro polínico das amostras de mel do município de Terra Roxa, confirmando a identidade das fontes florais utilizadas pelas abelhas, caracterizando  a apicultura  do município predominantemente  realizada em áreas de agricultura, porém também indicando a importância da flora diversificada na elaboração do mel.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARTH, Ortrud Monika. O pólen no mel brasileiro. Instituto Oswaldo Cruz, 1989. CAMARGO, Simone C. et al. Implementation of a geographic information system (GIS) for the planning of beekeeping in the west region of Paraná. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 86, n. 2, p. 955-971, 2014. CHIARI, W.C.; TOLEDO, V.A.A.; ALVES, E.M. et al. Pollination of Soybean (Glycine max L. Merril) by Honeybees (Apis mellifera L.).  Brazilian Archives of Biology and Technology. Journal, v.48, n.1, p.31-36, 2005. Coffey, Mary Frances, and John Breen.  Seasonal variation in pollen and nectar sources of honey bees in Ireland. Journal of Apicultural Research, v. 36, n. 2, p. 63-76, 1997. ERDTMAN, Gunnar. Pollen morphology and plant taxonomy. GFF, v. 74, n. 4, p. 526-527, 1952. LOUVEAUX, J.; MAURIZIO, A.; VORWOHL, G. Methods of melissopalinology. Bee World, Bucks, v.59, n.4, p.139-157, 1978. SEKINE, Elizabete S. et al. Melliferous flora and pollen characterization of honey samples of Apis mellifera L., 1758 in apiaries in the counties of Ubiratã and Nova Aurora, PR. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 85, n. 1, p. 307-326, 2013.