Produção da massa seca do capim-paiaguás submetido a doses de nitrogênio em sistema de integração lavoura pecuária

Pedro Henrique Gomes1, Stephanie Vicente de Bessa2, Lucas Matheus Rodrigues3, Arthur Gabriel Teodoro4, Isabel Rodrigues de Rezende5, Fellipe Menezes Neves6, Clarice Backes7, Alessandro José Marques Santos8
1 - Universidade Estadual de Goiás
2 - Universidade Estadual de Goiás
3 - Universidade Estadual de Goiás
4 - Universidade Estadual de Goiás
5 - Universidade Estadual de Goiás
6 - Universidade Estadual de Goiás
7 - Universidade Estadual de Goiás
8 - Universidade Estadual de Goiás

RESUMO -

Objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito da aplicação de doses de nitrogênio na produção de massa seca do capim-paiaguás consorciado com milho e com feijão guandu. O experimento foi conduzido a campo na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Goiás, Câmpus São Luís de Montes Belos/GO. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 4, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos por dois sistemas de consórcio simultâneos (milho + capim-paiaguás e milho + capim-paiaguás + feijão guandu) e quatro doses de N aplicadas em cobertura (0, 80, 160 e 240 kg ha-1). Foi avaliada a massa seca da parte aérea do capim-paiaguás no momento da colheita do milho e aproximadamente 35 dias após. O feijão guandu no sistema reduziu a produtividade do capim-paiaguás. Houve aumento linear da massa seca em função das doses de N.

Palavras-chave: Uroclhoa brizantha, consórcio, adubação

Production of dry mass of paiaguás subject of nitrogen doses in system of Crop-Livestock Integration

ABSTRACT - The objective of this subject was evaluate the effect of nitrogen doses in production of dry mass of paiaguás intercropped with corn and with guandu beans. The experiment was executed in the field, on the School Farm of University of Goiás, Campus São Luis de Montes Belos/GO. The experimental design used was the casualised blocks in factorial schema 2 x 4, with four repetitions. The treatments was constituted by two systems of simultaneous intercrop (corn + paiaguás and corn + paiaguás + guandu beans) and four doses of N applied in coverage (0, 80, 160, 240 kg ha -1). Was be measured the dry mass yield of paiaguás at the moment of corn harvesting and 35 days later. The guandu beans in the system reduced the production of paiagás. There was an increase linearly of dry mass in function of nitrogen doses.
Keywords: Uroclhoa brizantha, consortium, fertilizing.


Introdução

O nitrogênio limita a produção do milho e da forragem, a escassez e seu excesso prejudica a produção e o fertilizante incorpora os custos envolvidos, o consórcio com leguminosas proporciona o aproveitamento do N atmosférico pelas forrageiras e assim redução do investimento em fertilizantes (AMADO et al., 2000).

 

Dessa forma objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito da aplicação de doses de nitrogênio na produção de massa seca do capim-paiaguás consorciado com milho e com feijão guandu.



Revisão Bibliográfica

Estima-se que no estado de Goiás cerca de 27% da área de pastagem esteja em estado de degradação (ANDRADE et al., 2013). Visto que a bovinocultura de corte é amplamente praticada a pasto e essa contribuí ativamente para o PIB brasileiro e na geração de empregos, a ineficiência em sua utilização compromete a sobrevivência da atividade (GALINARI, 2014).

Sistemas de consorcio e/ou sucessão contribuem para maximização do uso da área, produtividade, lucros e também contribuir para recuperação do solo e pastagem que é uma das tecnologias propostas pelo Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) executado pelo MAPA (Ministério da agricultura pecuária e abastecimento) (SENARMS, 2016).

A integração entre o milho, capim e leguminosa proporciona o ganho com o grão, cobertura para o solo, adubação residual do milho para forragem, fixação biológica de nitrogênio e assim redução dos custos com fertilizantes além de funcionar como banco de proteína para os animais que poderão usufruir da pastagem na safrinha (OLIVEIRA et al., 2010).

 

Sistemas consorciados tem seu manejo mais complexo comparado a solteiros, visto o número de componentes envolvidos a competição entre si por água, luz, nutrientes e seleção pelos animais (BARCELLOS, 2008).



Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido a campo na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Goiás, Câmpus São Luís de Montes Belos/GO. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho distrófico e apresentava as seguintes características: pH (CaCl2) de 5,1; 30 g dm-3 de M.O.; 4 mg dm-3 de P (resina); 32; 1,3; 32 e 6 mmolc dm-3 de H++Al+3, K, Ca e Mg, respectivamente; saturação por bases (V) de 55%.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 4, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos por dois sistemas de consórcio simultâneos (milho + capim-paiaguás e milho + capim-paiaguás + feijão guandu) e quatro doses de N aplicadas em cobertura (0, 80, 160 e 240 kg ha-1). Foi utilizada a cultura do milho híbrido simples da Agroeste, a espécie forrageira capim-paiaguás {Urochloa brizantha (Hochst. ex A. Rich.), e a leguminosa  Feijão Guandu cv BRS Mandarim.

O preparo do solo foi feito de forma convencional com duas gradagens e incorporação do calcário, seguindo a recomendação em função dos resultados da análise de solo. A quantidade de calcário adicionada foi de 1,2 t ha-1, visando elevar a saturação por bases a 70%. A adubação de semeadura foi realizada utilizando-se o formulado 5-25-15, na quantidade de 400 kg ha-1, fornecendo dessa forma 20 kg ha-1 de N, 100 kg ha-1 de P2O5 e 60 kg ha-1 de K2O.

A semeadura da cultura do milho em consórcio com Urochloa brizantha foi realizada no dia 23 de novembro, por meio de semeadora, na densidade de 5 sementes por metro de sulco e, espaçamento de 0,70 m entrelinhas, correspondendo aproximadamente 70.000 sementes ha-1. No caso da forrageira, foi adotada a quantidade de 12 kg ha-1 de sementes, considerando o valor cultural. As sementes das forrageiras foram misturadas ao adubo e acondicionadas no compartimento de fertilizante da semeadora. Dessa forma o capim foi semeado na mesma linha do milho a uma profundidade de aproximadamente 6 cm, com o objetivo de retardar a germinação para que não ocorra competição com a cultura do milho. O feijão guandu foi semeado manualmente na entrelinha do milho (respeitando os respectivos tratamentos), adicionando-se 10 sementes por metro linear.

A adubação nitrogenada, dos respectivos tratamentos, foi parcelada em duas épocas: quando as plantas apresentavam de 4 a 6 folhas e de 8 a 10 folhas. Para a adubação nitrogenada em cobertura foram utilizados o sulfato de amônio (para fornecer 30 kg ha-1 de S) e o restante na forma de ureia. Foi aplicado em cobertura também mais 60 kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio.

No momento da colheita do milho a planta forrageira foi cortada com tesoura de aço à altura de 20 cm da superfície do solo em um metro útil da parcela. Após 35 dias após a colheita foi realizado novo corte com o auxílio de um quadrado de 1 x 1 m. Em seguida o material foi pesado (massa fresca) e apenas uma amostra foi acondicionada em sacos de papel e secas em estufa de circulação e renovação de ar forçada por 72 horas na temperatura de 65 °C. Após esse período foi determinada a massa seca da amostra e por regra de três foi obtida a massa seca total coletada na parcela.

 

Os resultados foram avaliados pela análise de variância utilizando o programa Sisvar 4.2. Para as doses de nitrogênio foi utilizada a regressão e a comparação dos consórcios pelo teste de média.



Resultados e Discussão

Para a massa seca da forrageira, determinada no momento da colheita do milho, houve influência das doses de N e dos consórcios realizados, não ocorrendo a interação entre as fontes de variação (Tabela 1). Quando comparado os consórcios verifica-se que o feijão guandu no sistema reduziu a quantidade do capim-paiaguás em função da maior competição entre plantas por água, luz e nutrientes. No segundo corte houve interação entre as fontes de variação onde verifica-se que em todas as doses de N aplicadas, a maior massa seca da parte aérea da forrageira também foi obtida no sistema sem o feijão guandu.

Neres et al. (2012) ao testarem o consórcio entre dos capins Tifton 85 e Piatã com o feijão-guandu cv. Super N observaram que o feijão comprometeu o desenvolvimento do componente forrageiro com ênfase para o cv. Tifton 85. Rosa et al. (2004) realizaram uma análise de crescimento da braquiária cv. Marandu em consórcio com leguminosas e em plantio solteiro, evidenciaram que a competição entre esses componentes compromete o desenvolvimento e produtividade da forrageira.

 

Tabela 1. Produção de massa seca do capim-paiaguás consorciado com milho e feijão guandu, submetidos a doses de N em cobertura.

Massa seca da forrageira na colheita do milho

Doses de N

Consórcio

Média

M + C

M + C + G

 

------------------------------------kg ha-1-------------------------------

0

268

158

213

80

335

239

287

160

333

256

295

240

374

314

344

Média

328 a

242 b

-

CV%

19,98

Massa seca da forrageira no segundo corte

Doses de N

Consórcio

Média

M + C

M + C + G

 

------------------------------------kg ha-1-------------------------------

0

2463 a

1716 b

2089

80

2493 a

1956 b

2225

160

3621 a

2097 b

2859

240

3319 a

2302 b

2811

Média

2974

2018

-

CV%

10,22

Letras iguais na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

A massa seca da parte aérea ajustou-se as doses de N de forma linear, onde a máxima produtividade foi obtida com a maior dose aplicada (Figura 1). O efeito linear da massa seca em função das doses de N indica que a forrageira responderia a doses maiores que as que foram aplicadas. No segundo corte também foi observado efeito linear crescente das doses de N tanto para o sistema milho + capim como para o milho + capim + guandu (Figura 2). Esse efeito linear demonstra que até esta época não ocorreu um aproveitamento expressivo do N atmosférico pelas forrageiras a ponto.

 Observa-se também maior produção do componente forrageiro após a colheita do milho (BATISTA et al., 2011; JAKELAITIS, 2005).

 

Figura 1. Massa seca da parte aérea do capim-paiaguás, submetidos a doses de N em cobertura.

 

Figura 2. Massa seca da parte aérea do capom-paiaguás consorciado com milho e feijão guandu, submetidos a doses de N em cobertura.

 

Batista et al (2011) após testarem o acúmulo de matéria seca das espécies forrageiras Urochloa brizantha cv Marandu, U. decumbens cv. Bazilisk, U. ruziziensis cv. Comum e Panicum maximum cv. Tanzânia  em consórcio com milho submetidos a diferentes doses de nitrogênio, observaram resposta linear do cv. Marandu as doses de nitrogênio utilizadas de 0, 30, 60 e 90 kg de N ha-1. Já Bravin e Oliveira (2014) observando o consórcio de milho com Urochloa brizantha cv. Xaraés submetidos a diferentes doses de nitrogênio (0, 50, 100, 150 e 200 kg ha-1) não notaram resposta do capim até a dose testada.



Conclusões

A introdução do feijão guandu no sistema reduziu a produtividade do capim-paiaguás.

 

Houve aumento linear da massa seca em função das doses de N.



Gráficos e Tabelas




Referências

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ROSA, S. R. A; CASTRO, T. A. P.; OLIVEIRA, I. P. Análise de crescimento em braquiária nos sistemas de plantio solteiro e consórcio com leguminosas. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, 2004, v. 05, n. 01, p. 9 - 17.

 

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JAKELAITIS, A.; SILVA, A. A.; FERREIRA, L. R. Efeitos do nitrogênio sobre o milho cultivado em consórcio com Brachiaria brizantha. Acta Scientiarum Agronomy, Maringá, 2005, v. 27, n. 01, p. 39 - 46.

 

ANDRADE, R. G.; LEIVAS, J. F.; GARÇON, E. A. M.; SILVA, G. B. S.; GOMES, D.; VICENTE, L. E.; BOLFE, E. L.; VICTORIA, D. C. Indicativo de degradação de pastagens a partir de dados Spot Vegetation. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,16, 2013, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: INPE, 2013. p. 6917 - 6922.

 

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SENARMS. Tag: recuperação de pastagem: Recuperação de pastagens degradadas aumenta produtividade em até quatro vezes. 17 jun. 2016. Disponível em: <http://www.senar.org.br/abcsenar/tag/recuperacao-de-pastagem/>. Acesso em: 13 dez. 2016.

 

OLIVEIRA, P.; KLUTHCOUSKI, J.; FAVARIN, J. L.; SANTOS, D. C. Sistema Santa Brígida - Tecnologia Embrapa: Consorciação de Milho com Leguminosas. dez. 2010. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/33775/1/circ-88.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2016.

 

BARCELLOS, A. O.; RAMOS, A. K. B.; VILELA, L.; MARTHA JUNIOR, G. B. Sustentabilidade da produção animal baseada em pastagens consorciadas e no emprego de leguminosas exclusivas, na forma de banco de proteína, nos trópicos brasileiros. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, 2008, v. 37, n. suplemento especial, p. 51 - 67.

 

 

AMADO, T. J. C.; MIELNICZUK, J.; FERNANDES, S. B. V. Leguminosas e adubação mineral como fontes de nitrogênio para o milho em sistemas de preparo do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, 2000, v. 24, p. 179 - 189.