Produção de gases “in vitro” de três cultivares de milheto sob doses de nitrogênio

Aldi Fernandes de Souza França1, Nelson Rafael da Silva2, Leonardo Guimarães de Oliveira3, Reginaldo Nassar Ferreira4, Emmanuel Arnhold5, Daniel Staciarini Correa6, Reginaldo Jacovetti7, Idelfonso Colares de Freitas8
1 - Universidade Federal de Goiás
2 - Instituto Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal de Goiás
4 - Universidade Federal de Goiás
5 - Universidade Federal de Goiás
6 - Universidade Federal de Goiás
7 - Universidade Federal de Goiás
8 - Instituto Federal do Tocantins

RESUMO -

O milheto é uma forrageira originária da África de ciclo curto, tolerante ao déficit hídrico, de rápido crescimento, boa capacidade de rebrota com potencial forrageiro, alto valor nutritivo, apreciada pelos ruminantes. Os tratamentos foram constituídos por quatro doses de adubação nitrogenada (0; 50; 100 e 200 Kg.ha-1 de nitrogênio), utilizando uréia como fonte de (N) aplicado em cobertura. Foram determinados os teores de PB, FDN, FDA, e MS das das cultivares. A produção de gases “in vitro” foi obtida usando a metodologia semi automática. Os valores da composição bromatológica das cultivares não foram influenciados pela adubação nitrogenada nem apresentou diferenças entre as cultivares. Não houve interação entre as doses de adubação nitrogenada e os parâmetros fermentativos da matéria seca da produção “in vitro” de gases das cultivares de milheto. A adubação nitrogenada não influencia os parâmetros de fermentação da planta de milheto.

Palavras-chave: adubação nitrogenada, fermentação, Pennisetum glaucum

In vitro gas production of three pearl millet cultivars under nitrogen fertilization levels

ABSTRACT - Pearl millet is a forage source from Africa with short cycle, tolerant to water deficit, fast growing, good regrowth potential with forage potential, high nutritional value, appreciated by ruminants. The treatments were composed of four nitrogen fertilization doses (0, 50, 100 and 200 Kg.ha-1 of nitrogen), using urea as a source of (N) applied in the cover. The contents of CP, NDF, ADF, and DM of the cultivars were determined. In vitro gas production was obtained using semi-automatic methodology. The values of the bromatological composition of the cultivars were not influenced by the nitrogen fertilization nor presented differences between the cultivars. There was no interaction between the nitrogen fertilization rates and the dry matter fermentation parameters of the in vitro production of millet cultivars. Nitrogen fertilization does not influence the fermentation parameters of the millet plant.
Keywords: fermentation, nitrogen fertilization, Pennisetum glaucum


Introdução

O milheto é uma forrageira originária da África de ciclo curto, tolerante ao déficit hídrico, de rápido crescimento, boa capacidade de rebrota com potencial forrageiro, alto valor nutritivo, apreciada pelos ruminantes, não possui fatores antinutricionais como o ácido cianídrico (PEREIRA et al., 1993). Como sistema de produção de ruminantes brasileiro é baseado principalmente na utilização de pastagens nativas ou cultivadas, anuais ou perenes, o milheto (Pennisetum glaucum (L). R. Br) é considerada uma das forrageiras que pode ser utilizada para esta finalidade. A composição química do milheto depende de variáveis como condições edafoclimáticas, época de semeadura, cultivar utilizado e estágio de maturação (SILVA et al., 1999) sendo seu valor nutritivo diretamente relacionado à sua composição química. O valor nutritivo e aspectos relacionados à extensão da digestão e a taxa de fermentação são de grande relevância na nutrição animal, uma vez que esses parâmetros estão diretamente envolvidos no controle do consumo voluntário (DJIKSTRA et al., 2005), que por sua vez, se relaciona intimamente com o desempenho animal e umas das técnicas utilizadas para a caracterização do padrão fermentativo das forrageiras é a produção “in vitro” de gases.  Diante do exposto o objetivo do presente estudo foi avaliar a produção “in vitro” de gás de três cultivares de milheto forrageiro sob quatro doses de adubação nitrogenada.

Revisão Bibliográfica

O milheto é uma gramínea forrageira anual de verão, ciclo vegetativo curto, muito útil para forrageamento de bovinos. É uma espécie cespitosa de porte ereto, e apresenta perfilhamento abundante. A prática tem revelado que só são bem-sucedidas as semeaduras realizadas a partir de outubro que corresponde ao início do período chuvoso. Sob essa condição, a forrageira germina bem e o crescimento de plantas ocorre com rapidez e compensa a semeadura antecipada assegurando alta produtividade de forragem em menor espaço de tempo. O milheto apresenta grande tolerância ao estresse hídrico, fato que se deve ao seu sistema radicular profundo que pode alcançar até 3,60 m de profundidade, além de sua alta eficiência na utilização da água para produção de massa seca, pois necessita de cerca 300 a 400 grama de água para produzir 1 grama de matéria seca. (GUIMARÃES JR, 2005). A produção de massa seca do milheto tende a aumentar com acréscimo das doses de nitrogênio. As respostas às adubações nitrogenadas são dependentes da forrageira, uma vez que a produtividade, o valor nutritivo e a persistência são características inerentes a cada espécie, sendo, estes, atributos dependentes da constituição genética, das condições edafoclimáticas e do manejo adotado (SILVA, 2010). A composição químico-bromatológica do milheto é variável de acordo com a fertilização aplicada e tem influência nos parâmetros da degradação ruminal, tornando-se importante o conhecimento da sua composição bromatológica. Os parâmetros de degradação tem influência direta no valor nutritivo dos alimentos e a sua determinação contribui, significativamente, para o e determinar o valor nutritivo dos alimentos para o atendimento dos requerimentos nutricionais dos animais (VAN SOEST, 1994).

Materiais e Métodos

Os tratamentos foram constituídos por quatro doses de adubação nitrogenada (0; 50; 100 e 200 Kg.ha-1 de nitrogênio), utilizando uréia como fonte de (N) aplicado em cobertura. O corte foi realizado aos 87 dias após a germinação, de forma manual, a 0,15 m do nível do solo, com utilização de tesoura de aço, quando as plantas apresentaram-se com média de 27% de matéria seca (MS). A forragem foi triturada em partículas de aproximadamente 2,0 cm, sendo retirada uma amostra, seca em estufa de ventilação forçada à temperatura de 55ºC, durante 72 h e posteriormente moída em moinho tipo Willey, em peneira de 1mm, para análises laboratoriais. Foram determinados os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), segundo metodologia descrita por SILVA & QUEIROZ (2002). Fibra em detergente neutro (FDN), segundo metodologia descrita pelo INCT-CA F- 002/1 e fibra em detergente ácido (FDA), INCT-CA F-004/1 (DETMANN, et al., 2012). A produção de gases “in vitro” foi obtida usando a metodologia proposta por MAURÍCIO et al. (1999). O inóculo ruminal foi obtido de três bovinos da raça Nelore com peso médio de 280 Kg e idade média de 26 meses, providos de cânula ruminal. A dieta dos animais foi à base de silagem de milho, fornecida duas vezes ao dia. O modelo Logístico bicompartimental (SCHOFIELD et al., 1994) foi o modelo que melhor se ajustou aos dados para estimar os padrões da fermentação microbiana, adotado como base os valores de AIC. Para as avaliações da produção de gases e digestibilidade o delineamento experimental foi blocos casualizado (DBC) em esquema fatorial 3 x 4 (três cultivares e quatro doses de nitrogênio), com quatro repetições por amostra. Os resultados foram ajustados ao modelo e os modelos foram comparados utilizando o teste para verificar a igualdade parâmetros e identidade de modelos de regressão não linear (REGAZZI, 2003), com o auxílio do programa estatístico R (R Core Team, 2013) a 5% de significância.

Resultados e Discussão

Os valores da composição bromatológica das cultivares não foram influenciados pela adubação nitrogenada nem apresentou diferenças entre as cultivares (P>0,05) (Tabela 1). Os valores médios de proteína bruta apresentados são próximos aos encontrados GUIMARAES JR et al. (2008) para cultura do milheto, ficando acima do mínimo de 7% preconizado para a mínima fermentação ruminal (MEHREZ & ORSKOV, 1978). Os teores de FDNcp encontrados neste estudo corroboram com o teor médio encontrado por PINHO et al. (2013) trabalhando com cultivares de milheto aos 42 dias pós semeadura. Os valores de FDAcp não variaram de acordo com as doses de N aplicadas e também entre os cultivares (P>0,05) e apresentaram valores médios de 34,14%. GUIMARÃES JÚNIOR et al. (2005), trabalhando com três diferentes genótipos de milheto encontraram valores médios de 42,5% de FDAcp. O conteúdo de FDAcp e lignina, está relacionado inversamente com o potencial de degradação da forrageira, influenciando a disponibilidade de energia e nutrientes para o ruminante. Não houve interação entre as doses de adubação nitrogenada e os parâmetros fermentativos da matéria seca da produção “in vitro” de gases das cultivares de milheto (Tabela 2). O cultivar ADR 7020 apresentou valores de tempo de colonização superiores ao cultivar ADR 500 na adubação de 100 Kg de N.ha-1, e possivelmente sendo esta variável uma medida estimada por modelos matemáticos não apresentou reflexo na taxa de produção de gás das frações solúvel e insolúvel. GUIMARÃES JR et al. (2005), relataram valores de tempo de colonização médio de 2,25h de cultivares de milheto, valor inferiores ao do presente estudo provavelmente por serem estimados por modelos estatísticos diferentes baseando-se em prerrogativas diferentes (MELLO et al., 2008). O cultivar LABH 70732 sem adubação nitrogenada produziu maior volume de gás pela fermentação do material insolúvel comparado com o cultivar ADR 7020, mas sob adubação de 100 Kg de N.ha-1 o cultivar LABH 70732 produziu maior volume de gás pela fermentação do material insolúvel do que o cultivar LABH 70732 (P<0,05). GUIMARAES JR et al. (2005) em seu estudo não verificou efeito significativo na produção de gases das silagens dos cultivares de milheto, sendo em média 148,7 mL de gases g.MS-1. O ponto que define entre a produção de gás pela fração solúvel e a fração insolúvel é o ponto de inflexão da curva de regressão não linear, definido por princípios e pressuposições de cada modelo de regressão, portanto o tempo em que isso ocorre é variável e pode não ser o mesmo para todas as curvas, portanto a comparação é feita sobre os valores absolutos de produção de gases da fração solúvel (SCHOFIELD et al. 1994).

Conclusões

A adubação nitrogenada não influencia os parâmetros de fermentação da planta de milheto.

Gráficos e Tabelas




Referências

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