PRODUÇÃO DE TREVO ENCARNADO (Trifolium incarnatum L.) SOB MANEJOS DA DESFOLHA

Lisandre de Oliveira1, Cássio Tomazi2, Jordana Schiavo3, Francisco Borghetti4, Stefani Macari5, Linessa Daiane Ruaro6
1 - Ufpel
2 - Unijuí
3 - Unijuí
4 - Unijuí
5 - Ufpel
6 - Unijuí

RESUMO -

No Rio Grande do Sul a utilização de pastagens hibernais é de grande importância para a produção de bovinos de corte e de leite. O objetivo desse trabalho foi avaliar a produção de forragem e de sementes do trevo encarnado (Trifolium incarnatum L.), como alternativa de forrageamento. O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados, com três tratamentos e duas repetições. Os tratamentos foram 1 corte, “N” cortes e sem cortes, com os objetivos de mimetizar uma utilização de duplo propósito, utilização como forrageira ou produção de sementes, respectivamente. O trevo encarnado apresentou produção semelhante as espécies mais implantadas no estado, como o trevo vesiculoso e a aveia preta. Os melhores resultados de produção de matéria seca são encontrados quando o trevo encarnado é submetido a maiores regimes de desfolha. O trevo encarnado não produziu sementes em nosso experimento, não justificando a sua não utilização ou sub-utilização.

Palavras-chave: forragem, leguminosa, sementes

Production of Italian Clover (Trifolium Incarnatum L.) under defoliation management.

ABSTRACT - In a state of Rio Grande do Sul, the use of winter pastures is of great importance for the production of beef and milk cattle. The objective of this work was to evaluate the forage and seed production of the Italian clover (Trifolium incarnatum L.) as an alternative foraging. The experimental design was randomized blocks, with three treatments and two replicates. The treatments were 1-cut, "N" cut and uncut, with the objectives of mimicking a dual purpose use, forage use or seed production, respectively. The Italian clover presented similar production to the most implanted species in the state, such as vesicular clover and black oats. The best results of dry matter production are found when the Italian clover is submitted to higher defoliation regimes. The Italian clover did not produce seeds in our experiment, not justifying its non-use or underutilization.
Keywords: forage, legume, seeds


Introdução

A Região Noroeste do Rio Grande do Sul vem se constituindo como um importante polo de produção leiteira, sendo hoje responsável por aproximadamente 16% do leite produzido no Estado. A base alimentar da criação destes animais são as pastagens de gramíneas, que possuem alto potencial produtivo, porém, em comparação com as leguminosas, perdem na qualidade nutricional, pois leguminosas apresentam, em geral, maior digestibilidade e teores de proteína bruta. O Trevo encarnado (Trifolium incarnatum L.) que é uma espécie exótica de origem europeia, utilizada na forma de pastagem, feno e adubação verde em diversos locais do mundo, devido a sua boa capacidade de adaptação aos diferentes tipos de solo e clima, sendo uma opção para os sistemas de produção de leite na Região Noroeste. No entanto, pouquíssimos trabalhos com esta espécie foram realizados no Brasil. Em busca nos Periódicos Capes com o termo “Trifolium incarnatum e “Brasil” apenas 5 artigos foram  localizados e nenhum deles trata da produção e qualidade nutricional. A hipótese do trabalho é que se desconhece o potencial produtivo e a adaptação do trevo encarnado na Região Noroeste do Rio Grande do Sul e esta poderia ser uma alternativa de forrageamento sustentável e de qualidade para o rebanho leiteiro. Portanto esse trabalho tem como principal objetivo, avaliar a produção de forragem do Trifolium incarnatum, sob dois regimes de cortes, bem como a qualidade nutricional e a produção e qualidade de sementes.  

Revisão Bibliográfica

O trevo encarnado é uma espécie anual hibernal de origem sul europeia, utilizada como feno e adubação verde em diversos países dessa região, tais como Itália, Espanha e Alemanha desde meados do séc. XVIII. Também é utilizada como pastagem em outras regiões do mundo devido sua boa adaptação a diferentes tipos de solo e clima. O trevo encarnado é uma espécie adaptada a vários tipos de solos, mas tem um melhor desenvolvimento em solos argilosos, férteis e bem drenados com pH próximo a 6,0 (NRCS, 2013).  Segundo Demanet e Garcia , apud Escobar (2006) é uma espécie com amplas possibilidades de utilização, sendo as principais, pastejo, corte para ensilagem ou fenação e ainda a produção de sementes. A produtividade de matéria seca do trevo encarnado varia de acordo com o local implantando, pois obteve altas produtividades em locais de baixa precipitação, porém quando exposto a ambientes com maiores índices pluviométricos, outros trevos mais utilizados como exemplo o trevo vesiculoso, conseguem produzir maiores volumes (NSW, 2007). A produção de matéria seca pode atingir 7,9 ton.ha-1 (WVu, 2008), mas a média atingida varia de 2,5 a 5 ton.ha-1 de MS, Fernandes (2001).

Materiais e Métodos

Este trabalho foi desenvolvido na área experimental do IRDeR (Instituto Regional de Desenvolvimento Rural) no município de Augusto Pestana - RS. O solo da unidade experimental se caracteriza como Latossolo Vermelho Distroférrico Típico (Unidade de Mapeamento Santo Ângelo), apresentando um perfil profundo, bem drenado, coloração vermelho escuro, com altos teores de argila e predominância de argilominerais 1:1 e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio. Em uma área de 50 m2 que possuía como cultura antecessora a soja, foi semeada a lanço com trevo encarnado (Trifolium incarnatum cv. Dixie) no dia 16 de julho de 2014, à razão de 23 kg.ha-1 de sementes comerciais (peso antes da inoculação/peletização) (20 kg.ha-1 de SPV) (P:99,74%; G:86,25%; sementes duras: 3,25%), sendo essas inoculadas com Rhizobium específico e peletizadas com calcário filler. Foram propostos três tratamentos, com base nas distintas formas de utilização:(FORRAGEM) ‘n’ cortes, visando principalmente a produção de forragem; (DUPLO PROPÓSITO) ‘1’ corte, visando a produção de forragem e semente;(SEMENTES) sem corte, visando principalmente à produção de sementes.Para as coletas foi utilizado um quadro de medidas 0,5 x 0,5 m e tesoura de poda, sendo que as plantas foram amostradas na altura mínima de 10 centímetros do solo, simulando o pastejo animal. Foram realizadas duas amostras aleatórias por tratamento. O delineamento experimental adotado foi blocos casualizados, com 3 repetições. A unidade experimental (UE) foi formada por parcelas de 1,66 x 3,33 m, delimitadas após a semeadura da pastagem, sendo que os blocos foram definidos conforme a declividade do terreno. Os dados foram analisados utilizando o programa estatístico SAS (2001) utilizando análise de variância e comparação de médias.

Resultados e Discussão

A Figura 1 demonstra o efeito do uso da pastagem na produção expressas em kg de MS.ha-1. A produtividade total de MS de folhas para o tratamento “N” cortes (2284 kg MS.ha-1), foi semelhante ao trevo vermelho (Trifolium pratense L.) com 2586 kg MS.ha-1 segundo, Peres et al., (2001). Primeiramente, visualiza-se que quanto maior o número de cortes, maior a produção de forragem, pois o tratamento “N” cortes, que recebeu 3 cortes, possui a maior produção de MS acumulada, seguido do tratamento 1 corte e por último o tratamento sem cortes, que recebeu apenas o corte final. Esta maior produção, do tratamento “N” cortes, é esperada visto que o corte estimula o perfilhamento e a produção de novo material já que houve remoção de material vegetal (DEMANET et al., 1989). Estes diferentes tratamentos, como mencionado anteriormente, visaram mimetizar três formas de utilização diferentes da pastagem. O experimento foi oficialmente encerrado no dia 03 de dezembro, e até este momento nenhum dos tratamentos possuía capacidade produtiva de sementes, pois em avaliações visuais dos distintos tratamentos, a maioria das inflorescências possuíam flores com evidente abortamento e consequentemente não produziriam sementes viáveis. Dessa forma podemos afirmar que a não utilização da pastagem, causaria prejuízo ao produtor, pois ele deixaria de aproveitar até 4237 kg MS.ha-1 de forragem de ótima qualidade e até 908 kg de PB.ha-1, de modo que a qualidade de forragem tem decréscimos significativos do inicio da floração até o final produtivo (NSW, 2008). Esta produção de forragem se equivale a muitas aveias encontradas no mercado, com valores muito próximos, com trabalhos apontando produtividade de aveia preta (Avena strigosa Schreb.) variando de 3427 a 6803 kg MS.ha-1, (GOMES E REIS, 1999), de mesmo modo a produtividade do trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum Savi) de 1866 a 4641 kg de MS.ha.-1 (GOMES E REIS, 1999; BARRADAS et al., 2001), e do trevo vermelho (Trifolium pratense L.) com 3321 kg MS.ha-1 (PERES et al., 2010), assim utilizando os benefícios extras de uma leguminosa, pois o trevo, além de produzir forrageira de alta qualidade também realiza fixação biológica de nitrogênio no solo, melhorando a qualidade do solo aumentando os níveis de matéria orgânica e ação biológica do solo (PERIN et al. 2003). Não há uma resposta clara sobre o fator que levou a não produção de sementes pelo trevo, no entanto as possíveis hipóteses para isso são de que o atraso na semeadura e os altos índices pluviométricos ocorridos em praticamente todo período no qual o experimento foi implantado, interferiram diretamente na não produção de sementes.

Conclusões

A utilização do trevo encarnado em pastagens, tem produtividade semelhante as espécies mais implantadas no estado, como o trevo vesiculoso e a aveia preta. Os melhores resultados de produção de matéria seca são encontrados quando o trevo encarnado é submetido a maiores regimes de desfolha. O trevo encarnado não produziu sementes em nosso experimento, não justificando a sua não utilização ou sub-utilização.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARRADAS, Carlos Antonio Almeida et al. Comportamento de adubos verdes de inverno na região serrana fluminense. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 36, n. 12, p. 1461-1468, 2001. DEMANET, R.; CONTRERAS, R.; GARCÍA, J. El trébol encarnado em el secano interior. 1989. IPA Carillanca (INIA) – Temuco, Chile. p. 25 ESCOBAR, J. E. R. efecto del estado fenologico de Trifolium incarnatum en el rendimiento y calidad de la pastura. 2006. TCC (Bacharelado em Agronomia) – Facultad de Ciencias Agropecuarias y Florestales – Universidad de La Frontera, Chile. FERNANDES, A. Trevo encarnado. 2001. DRAEDM – Braga, Portugal. Disponível em: < www.drapn.min-agricultura.pt/.../fichas.../ficha_tecnica_095_2001.pdf> . Acesso em: 12 junho 2016. GOMES , J.F.; REIS, J.C.L. Produção de Forrageiras Anuais de Estação Fria no Litoral Sul do Rio Grande do Sul. Rev. bras. zootec., v.28, n.4, p.668-674, 1999. New South Wales (NSW). Crimson Clover. 2007. DPI – Australia. Disponível em: < http://www.dpi.nsw.gov.au/agriculture/pastures/pastures-and-rangelands/speciesvarieties/factsheets/crimson-clover>. Acesso em : 12 junho 2016 Natural Recurses Conservation Service (NRCS). Crimson Clover Trifolium incarnatum L. 2013. USDA – EUA. Disponível em: < http://plants.usda.gov/plantguide/pdf/pg_trin3.pdf>. Acesso em: 12 junho 2016. PERES, É.R; CUNHA, R.P.; DUARTE, D.P.; MONTARDO, D.P.; Avaliação de produção e persistência de populações selecionadas de Trifolium pratense L. na Região da Campanha do RS. CONGREGA – URCAMP 2010, Alegrete – RS. PERIN, A.; SANTOS, R.H.S.; URQUIAGA, S.; GUERRA, J.G.M.; CECON, P.R.; Produção de fitomassa, acúmulo de nutrientes e fixação biológica de nitrogênio por adubos verdes em cultivo isolado e consorciado. Pesq. agropec. Bras. Brasília, v.39, n.1, p.35-40, jan.2004. West Virginia University (WVU). Using Crimson Clover to Supply Nitrogen to a Silage Corn Crop. 2008. EUA. Disponível em: <http://www.wvu.edu/~agexten/ageng/Using_Crimson_Clover_to_Supply_Nitrogen_to_a_Silage_Corn_Crop.pdf>. Acesso em: 12  junho 2016.