Produtividade de azevém submetido a diferentes regimes de corte

Pâmela Peres Farias1, Alexsandro Bahr Kröning2, Fabrício Roll Munsberg3, Tierri Nunes Pozada4, Joice Rodal Gruppelli5, Luiza Padilha Nunes6, Rodrigo Chesini7, Otoniel Geter Lauz Ferreira8
1 - PPGZ/FAEM/UFPEL
2 - PPGZ/FAEM/UFPEL
3 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
4 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
5 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
6 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
7 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
8 - DZ/FAEM/UFPEL

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi avaliar o potencial produtivo do azevém (Lolium multiflorum) em três intensidades de desfolha, comparando ao manejo utilizado em uma propriedade particular. O experimento foi implementado em pastagem de azevém estabelecida por ressemeadura natural no município de Cerrito – RS. Os tratamentos corresponderam a simulação do manejo da propriedade e três níveis de rebaixamento (25%, 50% e 75%) a partir da altura pré-determinada de 26cm. Melhor desempenho produtivo, com maior número de cortes, massa de forragem, porcentagem de folhas e taxa de acúmulo foi obtido utilizando-se o manejo de 25% de rebaixamento da pastagem. O manejo utilizado na propriedade teve desempenho semelhante aquele obtido nos rebaixamentos de 50 e 75% de rebaixamento.

Palavras-chave: desfolha, Lolium multiflorum, massa de forragem, taxa de acúmulo

Productivity of Ryegrass subjected to different cutting regimes

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the productive potential of ryegrass (Lolium multiflorum) in three defoliation intensities and compare it to the management used in a particular property. The experiment was implemented in ryegrass pasture established by natural reseeding in the county of Cerrito - RS. The treatments corresponded to the simulation of the property management and three levels of demotions (25%, 50% and 75%) from the pre-determined height of 26cm. Better productive performance, with greater number of cuts, forage mass, leaf percentage and accumulation rate was obtained using 25% pasture demotions management. The management used in the property had similar performance to that obtained in the 50 and 75% relegation demotions.
Keywords: accumulation rate, defoliation, Lolium multiflorum, forage mass


Introdução

O azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) é a forrageira mais utilizada nas regiões de clima temperado do país, principalmente no Rio Grande do Sul. É uma espécie que, dependendo da cultivar utilizada, possui implantação lenta, porém permite utilização mais prolongada do que outras gramíneas utilizadas no período hibernal. Uma estratégia viável para acelerar o estabelecimento da pastagem no ciclo conseguinte é o diferimento da área no final do ciclo do azevém para a produção de sementes e ressemeadura natural. O azevém produz sementes no final da primavera e, após a maturação fisiológica, quando não são colhidas, caem ao solo e permanecem em dormência até o final do verão (SILVEIRA, 2013), vindo a germinar quando as condições climáticas forem favoráveis. Essa característica permite que o estabelecimento da pastagem ocorra mais cedo em comparação e semeadura convencional.  No entanto, a intensidade e a frequência com que a desfolha é realizada influencia a produtividade, de modo que cortes intensos e frequentes diminuem o potencial fotossintetizante das plantas reduzindo a produção de forragem. Desta forma, o objetivo do trabalho foi avaliar o potencial produtivo do azevém (Lolium multiflorum) em três intensidades de desfolha em comparação ao manejo utilizado em uma propriedade particular.

Revisão Bibliográfica

O azevém anual é a planta forrageira de inverno mais utilizada no Rio Grande do Sul, assim como na maior parte das regiões temperadas e subtropicais do globo, destacando-se entre as forrageiras mais difundidas no mundo (BRESOLIN, 2007). É uma forrageira que se destaca pela sua produção e qualidade de forragem. A produção é função direta do manejo realizado. Neste sentido, Kröning et al. (2014) avaliando a produtividade de cultivares de azevém em solo hidromórfico, observou rendimento de forragem de 5091 kg/ha para a cultivar INIA Camaro, 4734 kg/ha para a cultivar Pronto, 4443 kg/ha para a cultivar KLM 138 e 4124 kg/ha para a cultivar BRS Ponteio, em quatro cortes de avaliação. Outro ponto importante a ser ressaltado no azevém é sua taxa de acúmulo de massa de forragem, que possibilita maior frequência nos cortes/pastejo que outras espécies hibernais. Elejalde et al. (2005), utilizando azevém em manejo contínuo com massa de forragem de 1900, 1500 e 1100 kg/ha, observaram taxa média de 49,9; 57,1 e 52,8 kg/ha/dia, respectivamente. Os autores encontraram em três períodos de avaliação do azevém a taxa de acúmulo de 52,8 kg/ha/dia no período de 17/07 a 14/08, 23,9 kg/ha/dia no período de 15/08 a 11/09 e 82,9 kg/ha/dia no período de 12/09 a 12/10. Esses resultados demostram que o azevém possui elevado potencial produtivo, e que as massas de forragem em que a pastagem foi manejada não influenciaram a taxa de acúmulo diário. A massa de forragem do azevém além de elevada possui grande proporção de folhas. Sendo assim, o azevém possui alta qualidade, tendo em vista que que as folhas são os componentes mais nutritivos das plantas. Kröning et al. (2014), avaliando diferentes cultivares de azevém, encontraram percentual de folhas acima de 80% para as cultivares KLM138 (86,2%), INIA Titan (87,2%), Conquent (92,2%) e Banquet II (81,7%), o que proporciona alta digestibilidade às cultivares testadas. O azevém é uma espécie forrageira que alia critérios quantitativos (elevada massa de forragem e taxa de acúmulo) com critérios qualitativos (grande produção de folhas com alta concentração de nutrientes) possibilitando altos níveis de produção animal.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no inverno de 2015 em uma propriedade particular do município de Cerrito - RS, em uma área de pastagem de azevém anual (Lolium multiflorum) cv. LE 284. A pastagem, implantada no outono de 2010, foi manejada sob pastejo rotativo de vacas de leite no inverno e pousio no verão, se perpetuando nos anos subsequentes através de ressemeadura natural. No final do verão de 2015 foi realizada uma adubação com 150 kg/ha de MAP. No perfilhamento do azevém e após cada corte foi aplicado 100 kg/ha de ureia, conforme a recomendação de Varella et al. (2011). Para a avaliação da pastagem foram demarcadas 16 parcelas de 6m2 na parte central da área, sendo a mesma isolada do restante da pastagem por meio de cerca elétrica. A área experimental foi uniformizada no dia 15/05 com rebaixamento a 5 cm. Os tratamentos corresponderam a simulação do manejo da propriedade (parcela testemunha era cortada baseando-se nas alturas de entrada e saída de um piquete referência, que era pastejado sempre que o produtor o considerava apto) e, três níveis de rebaixamento (25%, 50% e 75% da altura pré-pastejo) sempre que a parcela atingia 26cm de altura. No final da primavera, em função do alongamento dos entrenós, a altura de rebaixamento foi elevada em 2 cm a fim de evitar o corte dos meristemas. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições. A altura média do dossel foi obtida utilizando-se o prato ascendente em 10 pontos na parcela. A massa de forragem foi amostrada em quadro de 50x50cm. As frações folhas e colmos foram obtidas através da coleta de amostra em quadro de 400cm2. Todas as amostras de forragem foram secas em estufa a temperatura de 55°C até peso constante. A taxa de acúmulo foi obtida pela diferença da massa de forragem em duas amostragens consecutivas dividida pelo intervalo de dias entre os cortes. Os dados foram submetidos a análise de variância e comparados pelo teste de Tukey (P<0,05).

Resultados e Discussão

O período de utilização da pastagem variou de 84 a 114 dias, sendo que o tratamento 75% de rebaixamento foi o que proporcionou maior tempo de utilização da pastagem (114 dias). O menor período de utilização, 84 dias, foi encontrado no manejo da propriedade. O tratamento de 25% de rebaixamento proporcionou 5 cortes, dois cortes a mais que os demais (Tabela 1). Fato que decorre da maior taxa de acúmulo também verificada nesse tratamento. Ou seja, menor remoção de área foliar faz com que o rebrote ocorra de forma mais rápida, possibilitando um novo corte em menor intervalo de tempo. A massa de forragem colhida foi mais elevada no tratamento 25% de rebaixamento (Tabela 1). O valor deste tratamento se deve ao fato de terem sido realizados maior número de cortes, o que proporciona, apesar da menor massa de forragem por corte, maior rendimento no somatório destes. As massas de forragem encontradas no presente trabalho, com exceção do tratamento 25% de rebaixamento, estão na mesma faixa das encontradas por Kröning et al. (2014), que obtiveram valores entre 5091kg/ha para INIA Camaro e 2576 kg/ha para Banquet II. O porcentual de folhas foi maior nos tratamentos onde a pastagem foi rebaixada 25% e no manejo da propriedade (Tabela 1). Menor rebaixamento da pastagem faz com que a porção colhida apresente maior proporção de folhas, e assim, elevada qualidade. A proporção de folhas na massa de forragem colhida no manejo da propriedade manteve-se intermediária entre o tratamento de 25% e os tratamentos 50 e 75% de rebaixamento. Resultado que provavelmente é proveniente da flutuação nas alturas de entrada e saída utilizadas pelo produtor no decorrer dos ciclos de pastejo (Tabela 1). As alturas pré corte foram maiores nos tratamentos de 25%, 50% e 75% de rebaixamento, em relação a altura média utilizada no manejo da propriedade. Convém enfatizar que a altura de entrada dos três primeiros tratamentos era fixa, 26 cm, enquanto no manejo da propriedade a mesma variava conforme a decisão do produtor.

Conclusões

Melhor desempenho produtivo, com maior número de cortes, massa de forragem, porcentagem de folhas e taxa de acúmulo foi obtido utilizando-se o manejo de 25% de rebaixamento da pastagem.   O manejo utilizado na propriedade teve desempenho semelhante aquele obtido nos rebaixamentos de 50 e 75% de rebaixamento.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRESOLIN, A. P. S. 2007. Avaliação de populações de azevém quanto à tolerância no alumínio tóxico e estimativa de tamanho de amostra para estudos de diversidade genética com marcadores AFLP. 76 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2007. ELEJALDE, D. A. G. ROCHA, M. G. PIRES, C.C. ROMAN, J MACARI, S. PÖTER, L. KLOSS, M. G. OLIVEIRA NETO, R. A. WAGNER, A. L. BOHRZ, R. I. 2005. Perdas de Forragem e taxa de acúmulo em pastagem de azevém. In: 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. A produção animal e o foco no agronegócio, Goiânia - GO   KRÖNING, A. B. PEDRA, W. U. COSTA, O. A. D. BRONDANI, W. C. COELHO, R. A. T. FERREIRA. O. G. L. 2014. Produtividade de azevém em terras baixas do Litoral Sul do Rio Grande do Sul. Cadernos de Agroecologia, Pelotas, v. 9, n. 2.   SILVEIRA, D. BONETTI, L. P. MONTEIRO, V. B. BRESSA, V. MARTINS, D. 2013. Produção forrageira de azevém com ressemeadura natural em resposta a doses de adubação nitrogenada em cobertura. In: XVIII seminário Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão. Cruz Alta.   VARELLA, A. C. CARASSAI, I. J. BALDISSERA, T. C. NABINGER, C. LUSTOSA. S. B. C. MORAES, A. RADIN, B. ALMEIDA, V. P. 2011. Produção total de matéria seca e de nitrogênio em pastagem de azevém anual em resposta à aplicação de fertilizante nitrogenado de solo em diferentes locais do sul do Brasil. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento / Embrapa Pecuária Sul; No. 36 Bagé.