Produtividade de coelhos de corte (Oryctolagus cuniculus) em gaiolas enriquecidas do desmame ao abate (1)

ALINE BOSAK DOS SANTOS1, CAROLINE FATURI BACIN2, LAMÁRE DAMBRÓS BONAZZA3, ÉVERTON AUGUSTO KOWALSKI4, WEDERSON LEANDRO FERREIRA5, EVANDRO FONTOURA CORRALES6
1 - INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA, CAMPUS ALEGRETE/RS
2 - INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA, CAMPUS ALEGRETE/RS
3 - INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA, CAMPUS ALEGRETE/RS
4 - INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA, CAMPUS ALEGRETE/RS
5 - INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA, CAMPUS ALEGRETE/RS

RESUMO -

Os coelhos destacam-se pela alta produtividade, precocidade reprodutiva e prolificidade, além do papel importante na alimentação humana. A cunicultura na fronteira oeste do RS configura atividade alternativa e rentável para o pequeno produtor. O bem estar vem sendo estudado visando avaliar alternativas nos sistemas de alojamento animal. Com isso objetivou-se avaliar o desempenho de coelhos submetidos a enriquecimento ambiental. Foram utilizados 36 coelhos da raça Nova Zelândia Branco, divididos em 4 animais/gaiola. Os tratamentos foram: Controle; Piso revestido de palha; Pedaço de madeira na gaiola, em gaiolas só de machos, só de fêmeas e gaiolas mistas, sob um DIC 9×4. Os resultados foram analisados com o software R, utilizando o teste F para aferir a significância dos tratamentos e o teste de Tukey para comparação das médias. O enriquecimento ambiental com piso em madeira influenciou positivamente no desempenho dos coelhos. Recomenda-se ainda utilizar o enriquecimento visando principalmente ao bem estar animal.

Palavras-chave: Cunicultura, carne de coelho, enriquecimento ambiental, agricultura familiar

Productivity of cut rabbits (Oryctolagus cuniculus) in enhanced cages from weaning to slaughter

ABSTRACT - Rabbits show high productivity, reproductive precocity and prolificity, as well as an important role in human nutrition. Their welfare has been studied aiming at alternative animal housing systems. It was aimed to assess rabbit performance subjected to environmental enhancement. 36 New Zealand white rabbits divided in 4 animals per cage. The treatments were: Control, Straw-covered floor and wood piece in the cage,in cages just males, just females and mixed cages, under completely randomized design 9 x4. The results were analyzed with the R software, using F tests to measure the treatments significance and the Tukey test to compare the averages. The environmental enhancement and the social groups did not influence in the rabbits performance, therefore it can be stated that the enhancement may be used aiming the animal welfare. The rabbit breeding at the RS west border is a profitable alternative activity for small producers.
Keywords: rabbit breeding, rabbit meat, environmental enrichment, familiar agriculture


Introdução

A criação de coelhos (Oryctolagus cuniculus) destaca-se pelo seu rápido crescimento, alta fertilidade, precocidade reprodutiva e prolificidade, podendo desempenhar um papel importante na alimentação humana, pois contribui significativamente para o aumento na oferta de carne de alta qualidade, com alto valor proteico e um baixo nível de gordura e colesterol. Nos últimos anos, a análise do bem estar na criação de coelhos tem merecido atenção e, portanto muitas pesquisas visam avaliar alternativas nos sistemas de alojamento dos animais (VERGA et al., 2007) a fim de atender a essa demanda. A interação entre fatores genéticos, nutricionais e principalmente ambientais é fundamental na determinação de uma eficiente produção de coelhos. O sexo dos coelhos não é, normalmente, um fator influente no desempenho produtivo dos animais em crescimento. Verga et al. (2007) afirmam que pedaços de madeira, feno ou alimento peletizado para atividades orais tem demonstrado benefício para coelhos em gaiolas individuais com restrição alimentar e sujeitos à manipulações estressantes. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho de coelhos de corte do desmame ao abate, submetidos a diferentes tipos de enriquecimento ambiental e com diferentes formações de grupos sociais.

Revisão Bibliográfica

Por milhares de anos os homens caçaram coelhos pela carne e por sua pele. Hoje, a maior parte dos coelhos usados para produção são criados pelo homem e utilizado para o fornecimento de alimento e para aproveitamento da pele. Mais recentemente, a conscientização e regulamentação relativas ao bem-estar animal cresceram e passou a ser importante que o animal possa expressar seu comportamento natural, satisfazendo suas necessidades etológicas (EFSA, 2005). Para Hoy e Verga (2006) uma criação em conformidade com o bem estar significa: mínimo de mortalidade no plantel, animais livres de ferimentos, com boa saúde, que possam expressar seu comportamento espécie-específico e que tenham condições para o desenvolvimento de acordo com a idade e sexo. A avaliação de bem-estar deve considerar as variáveis fisiológicas, as comportamentais e as patológicas. Peso vivo, conversão alimentar e fertilidade, ou seja, características de desempenho, podem ser usadas como critérios de bem estar. Um baixo desempenho é um indicador de uma criação deficiente, seja por ambiente ou manejo inadequados. A produção de coelhos é influenciada por elementos ambientais (Princz et al., 2008). Por causa disso, os animais acabam sendo expostos a muitos fatores estressantes, tais como: viver em áreas limitadas nas gaiolas, com ambiente monótono e em alta densidade, o que favorece a ocorrência de comportamentos estereotipados. Baseando-se no comportamento gregário dos coelhos silvestres, os coelhos de laboratório e os das criações comerciais, tanto em fase reprodutiva como em fase de crescimento, deveriam ser criados em grupos (Barros, 2011). A qualidade de vida dos animais criados em grupos é significativamente melhorada quando comparada à de um animal alojado sozinho em uma gaiola. Porém, agrupar os animais pode gerar um grande problema quando chega à época da maturidade sexual e o aparecimento do comportamento agressivo. Além disso, pensando no comportamento do coelho selvagem, observa-se adicionalmente ao comportamento gregário, o hábito de vida subterrâneo, onde é necessário escavar para construir as tocas, atividade essa que demanda muita energia e horas envolvidas. Sendo assim, proporcionar ambiente que permita atividades do tipo escavar, interagir com outros, alterar o piso da gaiola de criação através de revestimento com substratos diversos podem contribuir para o bem estar dos coelhos de produção.

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no Instituto Federal Farroupilha, campus Alegrete, de setembro de 2015 a abril de 2016. Foram utilizados 36 coelhos da raça Nova Zelândia Branco,18 machos e 18 fêmeas, divididos em 9 gaiolas de arame galvanizado (0,7 x 0,4 x 0,6 m), contendo 4 animais em cada uma, sendo divididos em 3 grupos sociais: gaiolas com 4 machos, gaiolas com 4 fêmeas e gaiolas mistas (2 machos e 2 fêmeas). Os tratamentos foram: CONTROLE: gaiolas sem enriquecimento; PALHA: gaiolas com piso revestido de palha; MADEIRA: gaiolas com pedaço de madeira, isso para cada grupo social. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com 9 tratamentos e 4 repetições cada. Os animais experimentais foram desmamados aos 30 dias de vida, pesados no início do experimento e depois semanalmente. Foi avaliado o desempenho dos animais através de medidas de ganho de peso e rendimentos. Os animais foram abatidos com 90 dias de idade, sendo pesados antes do abate. Após o abate foi realizada a pesagem da carcaça quente e após 24 horas, foi feita a pesagem da carcaça resfriada. Os resultados foram analisados com o software R, utilizando o teste F para aferir a significância dos tratamentos e, se necessário, o teste de Tukey para comparação das respectivas médias, com nível de significância, em ambos os testes, de 5%. Somente serão apresentados os resultados em que o teste F for significativo a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos quanto ao ganho de peso vivo no período e peso vivo pré-abate são apresentados na Tabela 1. Praticamente não houve variação entre os enriquecimentos e os grupos sociais. O GPV médio dos animais no período variou de 1,8 a 2,2 kg. O sexo até a idade de abate estudada não influencia no desempenho dos coelhos, o que pode ser explicado em função do não alcance da puberdade desses animais até os 120 dias de vida, logo não há efeito hormonal específico que possa alterar o desempenho produtivo, determinando respostas semelhantes entre os sexos. Santos et al. (2016) observaram resultado semelhante quanto à ausência de efeito sexual sobre o desempenho de coelhos, com duas idades de abate em ambos os sexos. Entretanto, esses mesmos autores obtiveram desempenho inferior aos observados no presente estudo, obtendo GPV médio no período de 0,4 e 0,5 kg para ambos os sexos, em duas idades de abate diferentes, respectivamente. De forma semelhante, Zucca et al. (2008) afirmam que o enriquecimento não influenciou no desempenho dos animais quando estudaram o efeito deste e do tamanho do grupo em coelhos em crescimento. Entretanto, outros autores observaram que animais mantidos em ambientes enriquecidos apresentaram maior rendimento de carcaça e maior porcentagem de peso no corte dianteiro. Mesmo assim, observa-se na Tabela 1 que os animais apresentaram PV pré-abate dentro da faixa desejada para tal idade e espécie, com média geral de 2,71 kg independentemente do sexo, resultados inclusive melhores aos observados por Santos et al. (2016), de aproximadamente 2,36 e 2,44 kg para machos e fêmeas, respectivamente. Apesar disso, não houve diferenças no que diz respeito ao PV pré-abate de acordo com o tipo de ambiente e grupo social estudado. Os resultados quanto ao peso de carcaça quente e peso de carcaça resfriada são apresentados na Tabela 2. Efeito muito semelhante às características já discutidas foi encontrado para os parâmetros PCQ e PCR. Devido ao maior PV pré-abate, o tratamento madeira-fêmeas foi novamente superior aos demais, apresentando carcaças com 1,7 kg, valor esse estimulante quanto ao potencial e exploração da carne de coelho. Novamente superou-se os resultados de Santos et al. (2016) para animais de mesma idade, os quais obtiveram PCQ de 1,18 e 1,19 kg para machos e fêmeas, respectivamente. Pouca perda de peso observou-se nas carcaças resfriadas, o que demonstra baixo efeito de estresse durante o período de crescimento dos animais. As diferenças encontradas no desempenho e características de carcaça entre autores podem estar relacionadas a fatores de manejo, densidade de alojamento, material genético e até mesmo da ração.

Conclusões

De um modo geral, destaca-se que o uso do enriquecimento não prejudicou o desempenho dos animais. O enriquecimento ambiental com piso em madeira influenciou positivamente no desempenho dos coelhos. Recomenda-se ainda utilizar o enriquecimento visando principalmente ao bem estar animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARROS, T.F.M. Desempenho e comportamento de coelhos em crescimento em gaiolas enriquecidas. Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 2011. 65p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, 2011. EFSA (European Food and Safety Authority). The impact of the current housing and husbandry systems on the health and welfare of farmed domestic rabbits. EFSA Journal, v.267, p.37-43, 2005.. HOY, S. e VERGA, M. Welfare indicators. In: COST and ILVO. Recent Advances in Rabbit Sciences, Belgium, p.71-74, 2006 PRINCZ, Z. et. al. Effect of gnawing sticks on the welfare of growing rabbits. In: WORLD RABBIT CONGRESS, 9, ETHOLOGY AND WELFARE, 2008, Verona, Proceedings…, Verona, 2008, p.1221- 1224. R CORE TEAM. R: a language and environment for statistical computing. Vienna: R Foundation for Statistical Computing. 2015. Disponível em: <http://www.R-project.org/>. Acesso em: 15 jan. 2016. SANTOS, A. B. et al. 2016. Desempenho produtivo de coelhos de corte machos e fêmeas em diferentes idades de abate. Anais: XXVI Congresso Brasileiro De Zootecnia. ZOOTEC 2016, Santa Maria, 2016. VERGA, M. et al. 2007. Effects of husbandry and management systems on physiology and behavior of farmed and laboratory rabbits. Hormonal and Behaviour, 52, 122-129. ZUCCA, D., et al. 2008. Effects of environmental enrichment and group size on behaviour and prodution in fattening rabbits, In: Proceedings of the 9th World Rabbit Congress,Verona, Italia, p.1281-1286.