PROTOZOÁRIOS DO RUMEN DE OVINOS CONFINADOS RECEBENDO GRÃOS DE MILHO OU MILHETO, SEM VOLUMOSO

Luis Henrique Curcino Batista1, Ronaildo Fabiano Neto2, Rodrigo Alves Zanata3, Flávio Geraldo Ferreira Castro4, Antônio Roberto Oliveira Junior5, Marcelo Marcondes Godoy6, Flávia Oliveira Abrão Pessoa7
1 - Graduando do curso de Zootecnia do Instituto Federal Goiano, Campus Ceres
2 - Zootecnista formado pelo Instituto Federal Goiano, Campus Ceres
3 - Graduando do curso de Zootecnia do Instituto Federal Goiano, Campus Ceres
4 - Agro Cria Indústria e Comércio
5 - Zootecnista formado pelo Instituto Federal Goiano, Campus Ceres
6 - Docente do Instituto Federal Goiano, Campus Ceres
7 - Docente do Instituto Federal Goiano, Campus Ceres

RESUMO -

Objetivou-se com o presente trabalho caracterizar a população de protozoários ruminais de ovinos confinados recebendo apenas concentrado composto por milho ou milheto moído ou inteiro misturados a um pélete proteico. Foram amostrados 24 ovinos da raça Santa Inês em um Delineamento Inteiramente ao Acaso com quatro tratamentos, os quais consistiram: GI milho: 85% de grão de milho inteiro e 15% do ENGORDIN 38® na dieta; GM milho: 85% de grão de milho moído e 15% do ENGORDIN 38®; GI milheto: 85% de grão de milheto inteiro e 15% do ENGORDIN 32® e; GM milheto: 85% de grão de milheto moído e 15% do ENGORDIN 32®. Os fluidos ruminais dos animais foram coletados após abate e utilizados para posterior quantificação da população de protozoários. Foram observadas diferenças estatísticas p (<0,05) entre os tratamentos, sendo as dietas compostas por milho inteiro e moído menor que as dietas compostas por milheto. Ovinos confinados recebendo dieta composta por grãos de milho inteiro ou moído, sem volumoso, apresentam efeito defaunatório sobre a população de protozoários. Ovinos recebendo grãos de milheto apresentam população de protozoários dentro da faixa considerada normal.

Palavras-chave: Alto Grão, ciliados, dieta, ruminantes, confinamento

PROTOZOA OF THE RUMEN OF CONFINED SHEEP RECEIVING CORN GRAINS OR MILLET, WITHOUT FORAGE

ABSTRACT - The objective of this work was to characterize the population of ruminal protozoa of confined sheep receiving only concentrate composed of corn or millet milled or whole mixed with a protein pellet. Twenty-four Santa Inês sheep were sampled in a completely randomized design with four treatments, consisting of: GI maize: 85% whole corn grain and 15% ENGORDIN 38® in the diet; GM maize: 85% ground corn grain and 15% ENGORDIN 38®; GI millet: 85% whole millet grain and 15% ENGORDIN 32® and; GM millet: 85% milled millet grain and 15% ENGORDIN 32®. The ruminal fluids of the animals were collected after slaughter and used for further quantification of the protozoan population. Statistical differences were observed p (<0.05) between the treatments, being the diets composed of whole and ground corn lower than the diets composed of millet. Confected sheep receiving a diet composed of whole or ground corn grains, without forage, present a defaunatory effect on the protozoan population. Ovines receiving millet grains present a population of protozoa within the range considered normal.
Keywords: High Grain, ciliates, diet, ruminants, confinement


Introdução

Grandes confinamentos instalados no Brasil, tem nos últimos anos optado pelo uso de grãos como principal fonte de energia. As tradicionais dietas com alta proporção de volumoso tem dado lugar a dietas com altas proporções de concentrado e vários são os fatores que favorecem essa substituição, como maior densidade energética da ração, facilidade no transporte e na estocagem, melhor mistura das dietas, valor nutricional mais previsível nos grãos do que nas forragem dentre outros (PERON, 2012). Visando maximizar a produtividade dos rebanhos, o tipo da dieta oferecida aos ruminantes vem sendo alterada com a inclusão cada vez mais de concentrado, deixando de ser constituída apenas por forrageiras. Entretanto, essa prática pode causar alterações em todo o ecossistema ruminal, incluindo-se a população de protozoários. Assim, o tipo de dieta influencia diretamente a concentração e composição da população de protozoários ciliados no rúmen (RUSSEL & RYCHLIK, 2001). O maior número de protozoários é relacionado com dietas mais digestíveis, onde possuem papel fundamental na modulação da taxa de fermentação ruminal, favorecendo o equilíbrio no ecossistema ruminal e evitando disfunções metabólicas (KOZLOSKI,2002). Porém, estudos têm demonstrado uma redução no número de protozoários a partir de uso excessivo de concentrado na dieta (DAYANI et al., 2007). Nesse contexto o objetivo com esse trabalho foi caracterizar a população de protozoários ruminais de ovinos confinados recebendo apenas concentrado composto por milho ou milheto moído ou inteiro sem volumoso.

Revisão Bibliográfica

O rúmen atua como uma câmara fermentadora, possibilitando a manutenção de padrões de fermentação benéficos ao hospedeiro, mantendo condições que promovam o crescimento de bactérias, fungos e protozoários, favorecendo assim o processo fermentativo. Essas condições incluem: manutenção da temperatura (aproximadamente 39°C), do pH ruminal (entre 5,5 a 7,0), anaerobiose, manutenção dos padrões de motilidade características do segmento ruminorreticular e a presença de microrganismos (FURLAN et al., 2011). Os protozoários ruminais são microrganismos unicelulares, anaeróbios, não patogênicos, com grande diversidade em tamanho variando de 20 a 200 μm, sendo cerca de 10 a 100 vezes maior do que as bactérias (Dehority, 1993). Esses microrganismos exercem efeitos tamponantes sobre o pH ruminal, provavelmente pela capacidade de engolfar o amido, que seria fermentado imediatamente pelas bactérias (DAYANI et al., 2007). Em ruminantes, a quantidade e composição da dieta são variáveis externas que podem alterar as características de fermentação ruminal tais como o pH e a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) (CALSAMIGLIA et al., 2010), assim como o perfil da população de microrganismos ruminais (TAJIMA et al., 2001). Dietas com alta proporção de grãos podem reduzir ou eliminar completamente as populações de protozoários ciliados, e essa redução ou eliminação pode ser atribuída á queda do pH ruminal e a rápida taxa de passagem, quando os níveis de concentrado na ração foram aumentados (NAGAJARA; TOWNE; BEHARKA, 1992). Os protozoários ruminais podem contribuir com 40 a 50% da biomassa e da atividade enzimática no rúmen. E a presença no rúmen está relacionada com a digestibilidade da dieta, uma vez que dietas mais digestíveis elevam a presença de protozoários no rúmen, as quais possuem papel fundamental na modulação da taxa de fermentação ruminal, favorecendo o equilíbrio no ecossistema ruminal e evitando disfunções metabólicas (LIMA et al., 2012).

Materiais e Métodos

Foram amostrados em um Delineamento Inteiramente ao Acaso (DIC)  28 borregos da raça Santa Inês confinados sem volumoso (forragem) em baias coletivas cobertas (4 x 3 m) e distribuídos, aleatoriamente, nos seguintes tratamentos: GI milho: 85% de grão de milho inteiro e 15% do ENGORDIN 38® (Concentrado peletizado protéico, mineral e vitamínico) na dieta; GM milho: 85% de grão de milho moído e 15% do ENGORDIN 38®; GI milheto: 85% de grão de milheto inteiro e 15% do ENGORDIN 32® (Concentrado peletizado protéico, mineral e vitamínico) e; GM milheto: 85% de grão de milheto moído e 15% do ENGORDIN 32®. Os ovinos foram vermifugados e apresentavam peso vivo inicial de aproximadamente 20 kg. Os animais tiveram um período de adaptação de 14 dias com a substituição gradativa da silagem de milho pela mistura de grãos e núcleo de acordo com o respectivo tratamento. O confinamento teve duração de 84 dias. Todos os procedimentos foram submetidos e aprovados pelo comitê de ética em experimentação animal, sob número 019/2013. Os fluidos ruminais foram obtidos no abate. De acordo com metodologia descrita por Almeida et al. (2012), após jejum de 18 h, os ovinos foram insensibilizados entre as orelhas através de eletronarcose com eletrodo, antes da sangria, através de dispositivo próprio para esta finalidade no setor de Agro Indústria do IF Goiano – Campus Ceres. As amostras foram obtidas imediatamente após o abate, por incisão do saco ventral do rúmen e coleta de aproximadamente 15 mℓ de fluido, com auxílio de pipetas estéreis. Posteriormente amostras de 1 mℓ do fluido ruminal de cada animal foram diluídas em 9 mℓ de solução de formaldeído a 10% para conservação das estruturas morfológicas dos protozoários (DEHORITY, 1993). Para a quantificação dos protozoários foram realizadas diluições decimais em tubos, contendo 9 mℓ de solução salina e, posteriormente, foram contados protozoários pequenos, médios e grandes em câmara de Sedgewick Rafter, em microscópio óptico. Foi medido também o pH do fluido ruminal ao abate. A variável resposta medida foi comparada entre os tratamentos pelo teste não paramétrico de Kruskall-wallis.  Os dados foram processados pelo pacote estatístico ASSITAT, considerando o nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão

As concentrações de protozoários pequenos, médios, grandes e total avaliados neste estudo, encontram-se dispostos na tabela 1. As dietas a base de grãos de milho nas condições de dieta avaliada apresentou um efeito defaunatório sobre os protozoários ruminais, resultando em zero protozoários por mililitro de conteúdo ruminal. Números diferentes da população protozoárica (p < 0,05) foram observados nas ditas a base de milheto nas quais os números de ciliados situou-se entre 104 a 106 protozoários/mL. De acordo com Kamra (2005) a população de protozoários do conteúdo ruminal de animais alimentados com diferentes tipos de dieta varia em concentração, entre 104 e 106 protozoários/mL de conteúdo ruminal. Valores semelhantes aos encontrados em nosso trabalho para as dietas compostas por milheto inteiro e moído. Os valores médio do pH do fluido ruminal dos ovinos foram 5,16; 6,16; 5,49; 6,23, para os tratamentos (GI milho, GM milho, GI milheto, GM milheto) respectivamente. Dijkstra (1994) mencionou que, em bovinos confinados, com consumo de concentrado ad libitum, a concentração de protozoários ciliados ruminais é reduzida ou completamente eliminada. O autor citou, entre as causas de degeneração e lise de protozoários, as dietas com altos níveis de carboidratos fermentescíveis, pela inabilidade desses microrganismos em controlar o excesso de engolfamento dos substratos solúveis e a consequente fermentação ácida intracelular. Isso poderia justificar o efeito defaunatório observado nas dietas a base de grãos de milho. Não tendo o mesmo efeito na dietas a base de grãos de milheto, provavelmente devido a um menor consumo e uma menor digestão ruminal na dieta de grãos de milheto inteiro, visto que foi observado considerável quantidade de grãos nas fezes dos animais nesse tratamento. Nagajara; Towne; Beharka, (1992) avaliando bovinos submetidos a uma dieta alto grão observou redução ou eliminar completamente das populações de protozoários ciliados, e essa redução ou eliminação pôde ser atribuída á queda do pH ruminal e a rápida taxa de passagem, quando os níveis de concentrado na ração foram aumentados.

Conclusões

Ovinos confinados recebendo dieta composta por grãos de milho inteiro ou moído, sem volumoso, apresentam efeito defaunatório sobre a população de protozoários ruminais. Ovinos alimentados com milheto em dietas de alto grão apresentam concentração de protozoários ruminais dentro dos parâmetros de normalidade.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALMEIDA, E.M., M.M. GODOY, A.R. OLIVEIRA JÚNIOR, A.S. MACHADO, R.M. SOUSA, and S.R. CARDOSO NETO. 2012. Peso de abate e biometria de carcaça de borregas Santa Inês confinadas com o uso de grão de milho inteiro ou moído. In: XXII Congresso Brasileiro de Zootecnia. Anais… CD ROM CALSAMIGLIA, S.; FERRET, A.; REYNOLDS, C. K.; KRISTENSEN, N. B.; VAN VUUREN, A. M. Strategies for optimizing nitrogen use by ruminants. Animal, Cambridge, v. 4, n. 7, p. 1184 - 1196, 2010. DAYANI O., GHORBANI G.R.& ALIKHANI M. Effects of dietary whole cottonseed and crude protein level on rumen protozoal population and fermentation parameters. Small Ruminant Research. (69): 36-45, 2007. DEHORITY, B. A. Laboratory manual for classification and morphology of rumen ciliate protozoa. Boca Raton: CRC Press, 1993. 325p. DIJKSTRA, J. Simulation of the dynamics of protozoa in the rumen. British Journal of Nutrition., 72(5):679-699, 1994. FURLAN, R. L.; MACARI, M.; FARIA FILHO, D. E. Anatomia e fisiologia do trato gastrintestinal. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. (Eds.). Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: FUNEP, p. 1-21, 2011. KAMRA, D. N. Rumen Microbial Ecosystem. Current Science, v. 89, p. 125- 135, 2005. KOZLOSKI G.V. Bioquímica dos ruminantes. Santa Maria: UFSM, 140p, 2002. LIMA, M. E.; VENDRAMIN, L.; HOFFMANN, D. A. C.; LISBOA, F. P.; GALLINA, T.; RABASSA, V. R.; SCHWEGLER, E.; CORRÊA, M. N. Alterações na população de protozoários ruminais, quantificados a partir da adaptação da técnica de Dehority, de ovinos submetidos a uma dieta de confinamento. Acta Scientiae Veterinariae, v. 40, n. 1, p. 1-6, 2012. NAGARAJA, T. G.; TOWNE, G.; BEHARKA, A. A. Moderation of ruminal fermentation by ciliated protozoa in cattle fed a High-Grain diet. Applied Environmental Microbiology, Washington, v. 58, n. 8, p. 2410 - 2414, 1992. PERON, H.J.M. Inclusão de grão de milheto em dietas de alto concentrado para ovinos em confinamento. 48 f. Dissertação(Mestrado)- Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinárias e Zootecnia, 2012. RUSSEL, J. B.; RYCHLIK, J. L. Factors that alter rumen microbial ecology. Science, v.292, p.1119-1122, 2001. TAJIMA, K.; AMINOV, R. I.; NAGAMINE, T.; MATSUI, H.; NAKAMURA, M.; BENNO, Y. Diet-dependent shifts in the bacterial population of the rumen revealed with realtime PCR. Applied Environmental Microbiology, Washington, v. 67, n. 6 p. 2766 - 2774, 2001.