REATIVIDADE DE POTROS EXPOSTOS A MÚSICA CLÁSSICA E ROCK EM BAIA
Laura Alves Brandi1, Amanda Heloisa Dicilio de Alcântara2, Camila Giunco3, Livia Vieira Costa Nicolau4, Mayra Oliveira Medeiros5, Tamires Romão Nunes6, Cristiane Gonçalves Titto7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
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RESUMO -
O objetivo do trabalho foi de comparar a reatividade de potros expostos a dois tipos de música, rock e clássica, em baia. Para isso, utilizou-se 11 potros, machos e fêmeas. Os animais foram conduzidos individualmente para baia, onde o estimulo era produzido. O primeiro teste foi a música clássica, e o segundo teste foi o rock. A reatividade do animal foi avaliada através da atribuição de escores a variáveis, considerando-se o efeito de sexo, escore e interação teste x variável e sexo x teste e também classificando a reatividade por escore composto. Não houve efeito (p>0,05) da interação de sexo e tipo de música para as variáveis analisadas. Houve efeito (p0,05) e houve maior reatividade na música clássica (p<0,05). A música estimula o animal a permanecer pouco reativo. A música clássica estimula maior reatividade dos potros de ambos os sexos.
Palavras-chave: audição, cavalos, comportamento, habituação
REACTIVITY OF FOALS EXPOSED TO CLASSIC AND ROCK MUSIC INSIDE THE STALL
ABSTRACT - The aim of this study was to compare the reactivity of foals exposed to two types of music, rock and classical, inside the stall. For this, 11 foals, males and females, were used. The animals were individually taken to the stall, where the stimulus was produced. The first test was with classical music, and the second test was with rock. The reactivity of the animal was evaluated through the assignment of scores to variables, considering the effect of sex, score and interaction of test and variable and sex and test, also classifying the reactivity by composite score. There was no effect (p> 0.05) of the interaction of sex and type of music for the variables analyzed. There was an effect (p <0.05) of the interaction of the type of music and scores on the Position of the Eyes. Considering the analysis of the composite score, there was no effect (p> 0.05) of sex and there was higher reactivity in the classical music test (p <0.05). Music stimulates the animal to remain unresponsive. Classical music stimulates greater reactivity of foals of both sexes.
Keywords: behavior, habituation, hearing, horses
Introdução
A reatividade é uma característica do animal que leva ele a reagir com a mesma tendência para uma variedade de eventos, e pode variar de acordo com as flutuações do animal ou fatores ambientais abióticos e bióticos (SANDI AND PINELO-NAVA, 2007). Cada cavalo tem seu jeito de reagir ao novo, por isso, um conhecimento e treinamento sobre a reatividade do equino pode auxiliar na investigação de como um cavalo poderá reagir a situações, ambientes e estímulos desconhecidos(CALVIELLO, 2013).
Equinos, por viverem em um ambiente onde sons são recorrentes, se deparam sempre com o desconhecido, causando assim, diferentes reatividades. A habituação se consiste na diminuição da reatividade do animal ao desconhecido depois de repetidas vezes, podendo assim, melhorar o desempenho do equino frente ao desconhecido e a segurança nos momentos de manejo(MCGREEVY, 2004).
O som pode proporcionar diversas reatividades do equino diante de tal, desde atenção, ansiedade ou até relaxamento. Os equinos muitas vezes podem criar relações positivas ou negativas ao som, como por exemplo, o momento da alimentação, associado o barulho do carrinho da ração, pode causar um aumento na produção de saliva; uma tonalidade baixa de voz pode ser associada a momentos calmos; ou então sons de carros podem ser associados ao estresse de um deslocamento a um local desconhecido(HILL, 2013).
O objetivo da presente pesquisa foi comparar a reatividade de potros expostos a dois tipos de música, o rock e o clássico.
Revisão Bibliográfica
O sentido da audição nos equinos é muito bem desenvolvido. O cavalo tem orelhas em forma de funil podendo mover em uníssono ou independentemente uns dos outros. Usando 10 músculos, as orelhas podem ser movidas em torno de um arco lateral de 180°, permitindo a localização precisa da fonte de som (BIRNIR B et al. 2001).
As diferenças de comportamento entre animais da mesma espécie são frequentemente atribuídas ao temperamento de cada indivíduo. Assim, dependendo do temperamento do cavalo, ele irá se adaptar com mais facilidade ou dificuldade aos desafios ambientais (CALVIELLO, 2013).
De acordo com PIOVESAN (1998) a reatividade aparece como aspecto do temperamento, definido como expressão comportamental dos animais durante qualquer manejo. Sendo assim, é importante que os profissionais saibam que existe a possibilidade de atuar através do manejo, promovendo o treinamento dos animais por meio do processo de habituação (LEINER e FENDT, 2011).
Segundo SILVA (2016), animais em confinamento tendem a gerar estresse de vários tipos, e estudos relatam o benefício da música para o animal com melhorias nas condições de bem-estar, por meio da diminuição da estereotipia e promovendo um maior relaxamento, sendo assim, diminuindo sua reatividade.
No entanto, de acordo com CALVIELLO (2013), estudos em equinos sobre a reatividade, relatam que quando o animal se encontra em situações desconhecidas, como um objeto novo ou um estimulo sonoro não habitual, pode gerar algum medo ou desconforto.
Materiais e Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo: protocolo número 2673240516.
O experimento foi realizado no Setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, utilizando-se 11 potros sem raça definida, seis machos e cinco fêmeas, com idade variando de 9 a 12 meses.
Os potros, pertencentes à mesma tropa, foram alojados a pasto e conduzidos diariamente para a lanchonete para alimentação em boxes individuais. Após esta, os animais foram retirados da tropa e conduzidos individualmente para uma das baias. Os animais foram posicionados no centro da baia, a guia de condução foi retirada e a porta foi fechada, iniciando-se o teste.
O mesmo observador treinado permaneceu no corredor central a uma distância de 1,5m da baia, com visibilidade total do seu interior. Durante os testes a baia permaneceu com a luz apagada, um rádio foi posicionado sobre o cocho, iniciando os estímulos sonoros. Para o primeiro teste de música clássica, foi utilizado a "Quinta Sinfonia I Movimento" de Beethoven, e para o segundo teste, o rock da banda Seether, "Because of Me", foi realizada observação por método visual contínuo (adaptação de CALVIELLO, 2013) (Tabela 1). O teste com a música clássica ocorreu por cinco dias consecutivos e em seguida foi realizado o teste com o rock por igual tempo.
Foi atribuído para cada animal uma classe resposta chamada de reatividade, conforme descrito por CALVIELLO (2013). Em paralelo foi realizada a determinação da reatividade por escore composto das variáveis Movimentação, Posição de Olhos, Posição de Orelhas, Posição dos Pés, Vocalização e Bufar, utilizando os conceitos da escala Likert, classificando os animais em cinco categorias: calmo (0-20%), pouco reativo (20-40%), reativo (40-60%), muito reativo (60-80%) e agressivo (80-100%).
Os dados foram analisados por variância com efeito fixo de sexo, escore e interação teste x variável e sexo x teste, com comparação múltipla por PDIFF a 5%, pelo programa de estatística SAS (2004).
Resultados e Discussão
Não houve efeito (p>0,05) da interação sexo e escores das variáveis, tipos de música,e variável para as variáveis: Entrada, Movimentação, Posição de Orelhas, Posição dos Pés, Vocalização, Bufar e Saída. Machos e fêmeas apresentam o mesmo comportamento frente aos dois tipos de música, entraram direto na baia (predominância de escore 1 para entrada), se movimentaram ao passo (predominância de escore 2 para movimento), não vocalizaram (predominância de escore 1) e não bufaram (predominância do escore 2) (Tabela 2), sugerindo que os animais permaneceram pouco reativos frente ao desafio das diferentes músicas.
Ao considera-se a posição dos olhos houve predominância do escore 2 (olhar atento) para ambos os sexos e foi observado maior escore (P<0,05) para a variável na música clássica do que no rock, porém quando analisou-se o escore dentro do tipo de música, observou-se que a música clássica apresentou predominância do escore do escore 3, olhar arregalado, sugerindo que os animais são mais reativos a música clássica do que ao rock.
Fallavgna et al (2016) citam que fisiologicamente, o som é ouvido por meio de ondas sonoras, vibrações conduzidas pelo ar, que são transformadas em impulso nervoso conduzidos até o cérebro. Este, por sua vez, faz a interpretação dos diferentes sons, possibilitando a experiência da emoção. O que por meio dos elementos que a constitui (ritmo, melodia e harmonia) expressa memórias, sonhos, vontades, alívio do estresse que o período de vivencia com a dor e o sofrimento causa.
Segundo LEINER e FENDT (2011), os cavalos escutam frequências de 55 Hz a 33,5 kHz, sendo mais sensíveis a sons na faixa de 1 a 16 kHz. Com o auxílio de um audiodosímetro, foi possível medir a frequência da música de cada teste, sendo 417Hz para música clássica e 260Hz para o rock, o que indica que a música clássica está mais próxima da faixa de sensibilidade auditiva dos equinos, provocando uma maior reatividade do que a música do rock, reiterando o resultado obtido no escore composto.
Para a variável Posição de Orelhas, não houve efeito da música (p>0,05), porém todos os potros, machos e fêmeas, apresentaram predominância do escore 3 (orelhas em movimentação frequente/murchadas), o que em conjunto com o posicionamento dos olhos, pode sugerir que o animal apresentava desconforto com a música e possível maior reatividade (Tabela 2).
Ao analisar-se o escore composto (Tabela 3) houve efeito (p<0,05) do tipo de música sobre esta variável, com maior reatividade para a música clássica quando comparada com o Rock, reiterando o resultado observado para o escore dos olhos.
Considerando o escore de reatividade proposto por CALVIELLO (2013), os animais do presente estudo apresentaram-se pouco reativos (escore entre 21 e 40%) para ambos os tipos de música.
A música clássica provocou maior reatividade dos animais independendo dos seus sexos, porém esta reatividade foi considerada pequena, o que indica que as músicas utilizadas nesta pesquisa não estimulam a reatividade dos potros.
Segundo Falavigna et al (2016) a música tem o poder de causar reações mentais, físicas e emocionais. Pode relaxar, excitar, transmitir sensações agradáveis e desagradáveis.
São escassos os trabalhos sobre a utilização da música para melhoria do bem estar dos cavalos, mas estudos na área humana são comuns e apresentam bons resultados (Falavigna et al., 2016).
Conclusões
A música estimula o animal a permanecer pouco reativo. A música clássica estimula maior reatividade dos potros de ambos os sexos.
Gráficos e Tabelas
Referências
BIRNIR, B. et al.
GABA concentration sets the conductance of delayed GABA A channels in outside-out patches from rat hippocampal neurons. Journal of Membrane Biology, v. 181, n. 3, p. 171-183, 2001.
CALVIELLO, R. F. et al.
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CALVIELLO, R. F.
Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013.
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LEINER, L.; FENDT, M.
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MCGREEVY, Paul et al.
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PIOVESAN, U.
Análise de fatores genéticos e ambientais na reatividade de quatro raças de bovinos de corte ao manejo. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, 1998.
SANDI, C.; PINELO-NAVA, M. T.
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STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM
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SILVA, F. R. S.
Efeito do enriquecimento sensorial auditivo (música) no bem-estar de matrizes suínas gestantes. Tese de Doutorado. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz, 2016.
HILL, C. Cómo Piensa Tu Caballo: Manual ilustrado para entender las necesi dades, el comportamiento y las habilidades del caballo. Ediones Tutor, S.A. 2013