REATIVIDADE DE POTROS À PRIMEIRA TOSA
Mayra Oliveira Medeiros1, Amanda Heloisa Dicilio de Alcântara2, Camila Giunco3, Laura Alves Brandi4, Lívia Vieira Costa Nicolau5, Tamires Romão Nunes6, Cristiane Gonçalves Titto7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
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RESUMO -
Com o objetivo de avaliar a reatividade de potros à primeira tosa, onze potros, machos e fêmeas, foram utilizados. Os animais foram retirados da tropa e conduzidos individualmente para o tronco de contenção, onde a tosa ocorreu primeiro pelo lado esquerdo em seguido do lado direito do animal. As avaliações foram realizadas por método visual contínuo. Não houve efeito de sexo (p>0,05), porém houve efeito (p0,05) para Posição no Tronco, Vocalização e Batidas dos Cascos. Através da análise do escore composto, os animais foram classificados como agressivos do lado esquerdo e muito reativos do lado direto. Os animais apresentaram alta reatividade à sessão de tosa da crina. Fêmeas e machos apresentaram mesmo comportamento. A reatividade do animal diminui na segunda apresentação dele ao procedimento.
Palavras-chave: cavalos, comportamento, manejo
FOALS REACTIVITY TO THE FIRST MANE TRIMMING
ABSTRACT - In order to evaluate the reactivity of foals to the first mane trimming, eleven foals, males and females, were used. The animals were removed from the group and taken individually to the horse stock, where the trimming occurred first on the left side followed by the right side of the animal. The evaluations were performed by continuous visual method. There was no effect (p> 0.05) of sex, but there was an effect (p <0.05) of the variables Ears Position (ears facing forward/backwards, 99,94%) and Eyes Position (wide eyes, 85,97%). There was no effect (p> 0.05) of the trimming on Position in the Stock, Vocalization and Beating of the Hooves. Through the analysis of the composite score, the animals were classified as aggressive on the left side and very reactive on the right side. The animals showed high reactivity to the mane trimming session. Females and males exhibited the same behavior. The animal's reactivity decreases at its second presentation to the procedure.
Keywords: behavior, handling, horses
Introdução
O cavalo, como animal gregário e neofóbico, sempre busca a proteção do bando e evita o contato com estímulos e situações desconhecidas, a mesmo que seja extremamente necessário, como numa situação de luta e fuga. Por ser uma presa natural, a sua primeira escolha sempre é a fuga, e só quando se sente incapaz de tal, recorre à luta (MCCALL, 2006).
Após a domesticação da sua espécie para uso em trabalho, esporte e lazer, o cavalo começou a conviver com humanos mais intensamente, o que lhe proporcionou uma gama de novas situações. No manejo diário desses animais, lhe são apresentados diversos locais e objetos inicialmente desconhecidos, que podem provocar reações negativas do animal, mas que com o passar do tempo se tornam habituais a eles (BORSTEL, 2012)..
Sendo assim, a apresentação de diferentes objetos e locais aos cavalos quando ainda jovens proporciona a sua habituação, com diminuição da reatividade, e melhor maneabilidade durante a vida (LANSADE, 2004).
Dentre alguns manejos diários relacionados à higiene do animal, destaca-se o banho, escovação e tosa, sendo esta última essencial por permitir que o calor do corpo seja dissipado, o que impede que o cavalo fique muito suado após sessões de trabalho. A tosa da crina está principalmente ligada ao fato de impedir que os fios se embaracem ou fiquem presos em alguma cerca, além do principal fator estético.
O objetivo deste trabalho foi de avaliar a reatividade de potros, machos e fêmeas, à primeira seção de tosa realizada no tronco de contenção.
Revisão Bibliográfica
Uma avaliação correta da personalidade dos cavalos é de grande importância, por possivelmente evitar acidentes severos para tanto o homem quando o animal, comumente relacionados a reações de medo, surpresa e ansiedade (BORSTEL, 2012).
O melhor momento para se iniciar o manejo do cavalo é o período logo após a desmama, pelo animal ser de mais receptivo ao manejo e a novas experiências, além dos efeitos futuros de melhora de manejo perdurarem por até 18 meses (LANSADE, 2004).
Por outro lado, o manejo muito precoce do animal, durante as primeiras duas semanas de vida, parece não surtir muito efeito na sua reatividade futura, como evidenciado por LANSADE (2005).
GLEERUP (2015), em uma pesquisa sobre a expressão facial de dor dos equinos, relatou a presença de movimentação assimétrica e posicionamento para trás das orelhas, além da exposição da esclera com a contração dos músculos oculares durante a indução de um procedimento doloroso ao animal.
Em geral, a resposta natural e imediata dos cavalos a estímulos de medo é a fuga, além disso, testes de reatividade são capazes de quantificar a intensidade da resposta de luta ou fuga de um animal (MCCALL, 2006).
Materiais e Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo: protocolo número 2673240516.
O experimento foi realizado no setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, utilizando-se 11 potros sem raça definida, sendo seis machos e cinco fêmeas, com idades idade variando entre 11 a 14 meses.
Os potros, da mesma tropa, alojados a pasto, foram conduzidos diariamente pela manhã para serem alimentados na lanchonete do referido setor. Após a alimentação, os animais foram retirados da tropa e conduzidos individualmente para o tronco de contenção. Após a entrada do potro, as portas dianteira e traseira foram fechadas, iniciando a tosa. A tosa da crina foi realizada com um aparelho elétrico de tosa, cortando toda a crina rente ao pescoço, da cernelha em direção às orelhas. A tosa foi feita em dois tempos: primeiro pelo lado esquerdo do animal e em seguida pelo seu lado direito, para observação da reatividade do animal em ambos os lados.
As avaliações comportamentais dos animais foram realizadas por um observador treinado, utilizando método visual contínuo, desde o momento que o potro entrou no tronco até o término da tosa, e medidas através da aplicação de escores a cinco variáveis comportamentais (Tabela 1).
Para análise dos dados foi atribuído para a cada animal uma classe de resposta chamada de reatividade, conforme descrito por CALVIELLO (2013). Em paralelo foi realizada a determinação da reatividade por escore composto de todas as variáveis analisadas, utilizando os conceitos da escala Likert, sendo que o animal com menor pontuação foi considerado o mais calmo. Este escore classifica os animais em cinco categorias: calmo (0-20%), pouco reativo (20-40%), reativo (40-60%), muito reativo (60-80%) e agressivo (80-100%).Os dados foram analisados por teste de variância com efeito fixo de sexo, escore e tempos, com comparação múltipla por PDIFF a 5% (SAS, 2004).
Resultados e Discussão
Ao se analisar o escore composto (Tabela 2), houve efeito (p<0,05) de lado da tosa, sendo que os animais apresentaram maior reatividade do lado esquerdo (100%) caindo para 73% do lado direito. Segundo a classificação, os animais passaram de agressivos para muito reativos, demonstrando queda da reatividade entre os lados, provavelmente por se habituarem ao som e movimentação do aparelho.
Analisando a frequência de ocorrência dos escores das variáveis analisadas (Tabela 3), observou-se efeito (p<0,05) do escore para a variável Posição de Olhos, com maior frequência média total do escore 3 (85,97%). Houve efeito do lado do animal manejado, com frequências mais altas do escore 3 em ambos os lados, porém o escore 2 aumentou sua frequência significativamente (p<0,05) do primeiro (8,97%) para o segundo (21,56%) lado do manejo.
As frequências dos escores da variável Posição de Orelhas acompanharam o mesmo padrão, com predominância (aproximadamente 100%) do escore 2 nas frequências médias totais. No primeiro lado do manejo, as frequências médias se mantiveram equilibradas entre os escores 2 e 3, porém no segundo lado (direito), houve predominância de 100% do escore 2, mostrando que os animais ficaram menos nervosos após o primeiro contato com o procedimento, mas continuaram atentos.
As frequências observadas nessas duas variáveis sugerem que os animais estavam assustados com a situação, mantendo seus olhos arregalados e orelhas para trás, dados que corroboram com os obtidos por GLEERUP (2015).
Para a variável Vocalização, não houve efeito significativo (p>0,05), machos e fêmeas apresentaram frequência média de 100% para o escore 1. A ausência de vocalização pode estar relacionada com a habituação dos animais em saírem da tropa e a presença de uma pessoa de confiança perto do cavalo no momento da tosa.
Não houve efeito da tosa (p>0,05) para Posição no Tronco e Batidas dos Cascos, porém percebeu-se a predominância do escore 2 (36,81%) e 3 (25,10%) para Posição do Tronco e do escore 1 para Batidas dos Cascos (99,91%), demonstrando o nervosismo dos animais com a situação e a constante movimentação em busca de uma fuga da situação, conforme descrito previamente por MCCALL (2006).
Não houve efeito (p>0,05) de sexo sobre nenhuma das variáveis analisadas. Fêmeas e machos tiveram a mesma reatividade durante o teste, corroborando com WOLFF et al. (1997).
O som e a vibração da tosadeira podem ter influenciado na resposta, uma que a audição do cavalo é melhor que a humana em discriminar sons muito agudos, e a sensibilidade de sua pele varia de acordo com a densidade de receptores, os mecanorreceptores que respondem à vibração, em certa área, além de ser comum os receptores se tornarem menos responsivos se o estímulo for repetido em intervalos frequentes. MCGREEVY (2004), o que justifica a diferença de reatividade entre os lados do animal.
Conclusões
Os animais apresentaram alta reatividade à sessão de tosa da crina. Fêmeas e machos apresentaram mesmo comportamento. A reatividade do animal diminui na segundo apresentação dele ao procedimento.
Gráficos e Tabelas
Referências
BORSTEL, U. K. et al.
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CALVIELLO, R.F.
Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013.
GLEERUP, K. B. et al.
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LANSADE, L. et al.
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LANSADE, L.; BOUISSOU, M. F.; ERHARD, H. W.
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