Relato de caso de morte por anaplasmose em bovino adulto em Unaí, Noroeste de Minas Gerais, Brasil
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RESUMO -
O estudo acompanhou um lote de nove bovinos onde um dos animais apresentou sintomatologia clínica, com curso agudo, de infestação por anaplasmose, e veio a óbito. Dois animais foram inicialmente diagnosticados com anaplasmose através do exame clinico, onde mostraram-se apáticos, anêmicos, ictéricos e sem apetite. Assim, optou por iniciar o tratamento terapêutico com três administrações de Oxytetracycline 20 mg/kg com intervalos de 48 horas e uma única dose de Dipropionato de imidocarb, 2,1 mg/kg. Os dois animais apresentaram recuperação rápida. Seis meses após o evento, outro animal apresentou o mesmo quadro clinico, sendo que, mesmo após o tratamento acima prescrito ele veio a óbito três dias após a observação dos sinais clínicos. Em animais adultos, sem imunidade adquirida a anaplasmose é uma doença grave, mesmo com o tratamento adequado, em casos clínicos avançado, o prognóstico é desfavorável.
Case report of death by anaplasmosis in adult cattle in Unaí, Northwest of Minas Gerais, Brazil
ABSTRACT - The study followed a batch of nine cattle where one of the animals had clinical symptoms, with an acute course of infestation by anaplasmosis, and died. Two animals were initially diagnosed with anaplasmosis through clinical examination, where they were apathetic, anemic, jaundiced and without appetite. Thus, he chose to start therapeutic treatment with three administrations of Oxytetracycline 20 mg / kg at 48-hour intervals and a single dose of Imidocarb Dipropionate, 2.1 mg / kg. Both animals showed rapid recovery. Six months after the event, another animal presented the same clinical picture, and even after the treatment prescribed above, he died three days after the observation of the clinical signs. In adult animals with no acquired immunity to anaplasmosis is a serious disease, even with appropriate treatment, in advanced clinical cases, the prognosis is unfavorableIntrodução
Anaplasma marginale é o mais prevalente patógeno transmitido por carrapatos no mundo, ocorrendo nos seis continentes e responsável por morbidade e mortalidade em bovinos (Vodotto et al., 1998). A anaplasmose é disseminada mundialmente em áreas tropicais, subtropicais e em algumas áreas de clima temperado, apresentando grande importância tanto em áreas de instabilidade enzoótica como nas áreas de estabilidade, devido à introdução de animais provenientes de áreas livres de vetores. Assim, a anaplasmose bovina é considerada enzoótica em quase todos os estados dos EUA, no México, América Central e América do Sul, bem como nas Ilhas Caribenhas, além da Ásia e África, com exceção de áreas desérticas e montanhosas (Kocan et al., 2010). Os sinais clínicos da anaplasmose podem incluir ainda febre, perda de peso, aborto e letargia, podendo ocorrer mortes em animais acima de dois anos de idade (Ristic, 1977). Os animais que sobrevivem à infecção aguda desenvolvem infecções persistentes, imunes ao longo da vida, não desenvolvendo doença quando exposto a nova infecção. No entanto, esses animais com baixo percentual de eritrócitos parasitados são capazes de infectar o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, atuando como fontes de infecção para o rebanho. A formulação de um adequado protocolo de diagnóstico e tratamento de animais com anaplasmose aguda depende da rapidez na detecção dos sinais clínicos e opção por uma terapia adequada. Por sua vez, o estabelecimento das classes de animais mais vulneráveis do rebanho pode representar um método mais adequado de controle e prevenção. Desta forma, o presente estudo relata o acompanhamento de um surto de anaplasmose bovina com obtido em animais adultos, Unaí, Minas Gerais, Brasil.Revisão Bibliográfica
A rickettsia intraeritrocitica Anaplasma marginale é transmitido por carrapatos ixodídeos infectados aos bovinos imunologicamente suscetíveis (PALMER, 1989). As riquétsias invadem eritrócitos maduros e se replicam intracelularmente por divisão binária. A infecção torna-se microscopicamente detectável quando a riquetsemia ultrapassa 107 organismos por mL de sangue. Sinais agudos da doença, caracterizados por anemia severa, ocorrem à medida que 10 a 70% do total de eritrócitos estão infectados (PALMER, 1989). A primeira imunidade dos recém-nascidos frente ao A. marginale é a imunidade fornecida por anticorpos colostrais, sendo que estes anticorpos maternos desaparecem depois de 9 a 12 meses (POTGIETER; STOLTZ, 1994). Entretanto, os bezerros permanecem resistentes mais tempo do que os anticorpos transferidos passivamente (POTGIETER; STOLTZ, 1994). Estudos de Ribeiro (1991) sobre os aspectos epidemiológicos da anaplasmose bovina em quatro regimes de manejo em Minas Gerais indicaram que esta é uma doença de característica endêmica no Estado. Ao observar o curso natural da doença em bezerros criados semi-estabulados verificou-se que todos se tornaram infectados em torno de 62 dias de idade. Os anticorpos colostrais persistiram por um período variável de 12 a 40 dias, com todos os animais apresentando parasitemia e a metade, que apresentou sintomas clínicos, curou-se espontaneamente.Materiais e Métodos
O presente estudo ocorreu em um lote de nove bovinos adultos, idade média superior a 18 meses, da raça Holandesa e criados a pasto. Os animais pertencem Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Instituto de Ciências Agrárias, campus Unaí MG. Para o diagnóstico da doença foi realizado exame clinico, esfregaço sanguíneo e necropsia do animal que veio a óbito. Os níveis riquetsemicos nas bezerras naturalmente infectadas foram determinados usando esfregaço sanguíneo. O esfregaço sanguíneo, corado com Giemsa, foi examinado para a identificação da presença intra-eritrocítica do A. marginale baseado na morfologia. Foi considerado animal acometido por anaplasmose, todo aquele que apresentou resultado de volume globular inferior a 27% e riquetsemia igual ou superior a 0.01% (RIBEIRO e REIS, 1981).Resultados e Discussão
As alterações clínicas comumente observadas na anaplasmose aguda são aumento de temperatura corporal para 40 – 41 ºC e redução do hematócrito para valores inferiores a 18 % (Theiler, 1911). No presente estudo, acompanhamos um surto de anaplasmose em um lote de oito bovinos adultos pertencentes ao Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Dois animais do lote, com três meses de idade já haviam apresentado clinicamente a patologia e se recuperaram. Com 18 meses um novo indivíduo apresentou sinais clínicos da doença, como anorexia, apatia, pelo arrepiados e ásperos, mucosas pálidas e ictéricas, tremores musculares, dispneia e ranger de dentes, com evolução aguda corroborando com GONÇALVES em 2000. Embora tenha sido medicado, veio a óbito. O protocolo terapêutico adotado foi dose de Dipropionato de Imidocarb, 2,1 mg/kg no primeiro dia de atendimento clínico, além de hidratação oral de solução mineralizada. No segundo dia Oxytetracyclina 20 mg/kg que seria repetida em 48h, porém o animal veio à óbito. O diagnóstico confirmatório foi feito através da necropsia e exame de esfregaço sanguíneo. Nos achados necroscópico foram observada palidez da carcaça, sangue ralo, vesícula biliar distendida e conteúdo denso e viscoso, coração pálido e friável, esplenomegalia, hepatomegalia e rins distendidos e escurecidos, abomaso com conteúdo compactado (Figura 1). Embora os animais sejam criados a pasto, os mesmos foram mantidos em casinhas individuais durante os primeiros 20 dias e posteriormente em baias individuais ate 60 dias de vida. Assim, provavelmente não desenvolveram de foram adequada sua imunidade. Adicionalmente, no momento anterior a infecção e morte por anaplasmose, observou a presença de alguns carrapatos. A anaplasmose é uma doença de característica endêmica, onde os animais tornam-se infectados em torno de 62 dias de idade e, os anticorpos colostrais persistiram por um período variável de 12 a 40 dias, com todos os animais apresentando parasitemia e a metade, que apresentou sintomas clínicos, curando-se de forma espontânea (RIBEIRO, 1991). Em casos severos, onde os animais apresentam hematócrito inferior a 18%, tão importante quanto o tratamento medicamentoso, é a transfusão sanguínea com o intuito de repor as células vermelhas do sangue e ajustar a volemia do animal afetado (Theiler, 1911). Assim, acrescido a provável falta de imunidade dos animais, podemos adicionar a falta de tratamento suporte e transfusão sanguínea. A primeira imunidade dos bezerros contra A. marginale é a imunidade fornecida por anticorpos colostrais. Em rebanhos de bovinos suscetíveis, a mortalidade em decorrência da anaplasmose é maior em animais mais velhos (KOCAN et al., 2010). Os animais mais novos adquirem a infecção e, quando manifestam sintomas clínicos, são mais resistentes do que os adultos, em virtude dos mais jovens ainda apresentarem hemoglobina fetal, o que prejudica parcialmente a multiplicação do agente no sangue e determina uma maior atividade eritropoiética da medula óssea (RISTIC, 1960). Também a presença de anticorpos maternos adquiridos pelo colostro (CORRIER; GUZMAN, 1977) confere uma imunidade parcial. Nos animais adultos, a doença apresenta-se de forma aguda ou hiperaguda. O Dipropionato de imidocarb tem sido utilizado por mais de 30 anos no tratamento da doença em determinados territórios. Onde a utilização é permitida, o Dipropionato de imidocarb é geralmente administrado aos bovinos por injeção subcutânea na dose de 2,1 mg/ kg para a atividade contra anaplasmose aguda. Por sua vez, as tetraciclinas são drogas bacteriostáticas, sendo seu uso indicado via intramuscular, na dose de 20 mg/kg a cada 48 horas durante três dias (KOCAN et al., 2010).Conclusões
A anaplasmose é uma enfermidade que, quando acomete animais adultos leva a um prognostico desfavorável. Mesmo com a instituição correta do tratamento. Provavelmente a agressividade do quadro clinica culminando em morte está ligada a virulência da estirpe, carga infectava e imunidade do animal.Gráficos e Tabelas
Referências
- CORRIER, D. E.; GUZMAN, S. The effect of natural exposure to Anaplasma marginale and Babesia infections on native calves in an endemic area of Colombia. Tropical Animal Health and Production, v.9, n.1, p.47-51, 1977.
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- Kocan, K.M.; De La Fuente, J.; Blouin, E.F.; Coetzee, J.F; Ewing, S.A.; The natural history of Anaplasma marginale. Veterinary Parasitology, v.167, n.2-4, p.95–107, 2010.
- Palmer, G.H. Anaplasma vaccines. In: Wright, I.G. (Ed.), Veterinary Protozoan and Hemoparasite Vaccines. p.1–29, 1989.
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- Ristic, M. Bovine anaplasmosis. In: Kreier, J. Parasitic Protozoa. (Ed.), v.4. Academic Press, New York, 1977, p.235–249.
- RISTIC, M. Anaplasmosis. Advances in Veterinary Science, v.7, n.1, p.111-192, 1960.
- THEILER, A. Further investigations into anaplasmosis of South African cattle. In: 1º Report of the Director of Veterinary Research. Department of Agriculture of the Union of South Africa, p.7–46, 1911.
- Vidotto, M.C.; Vidotto, O.; Andrade, G.M.; Palmer, G.; Mcelwain, T.; Knowles, D.P. Seroprevalence of Anaplasma marginale in cattle in Paraná State, Brazil, by MSP, 5 competitive ELISA. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v.849, n.1, p.424-426, 1998.