RENDIMENTO FORRAGEIRO DE CULTIVARES DE SORGO EM FUNÇÃO DA COBERTURA DO SOLO

Camilla da Silva Nóbrega1, Caique Roberto Siqueira Borja2, Danilo Ribeiro Marques3, George Henrique Melo de Sá Marquim Ferraz Nogueira4, José Lypson Pinto Simões Izidro5, José Nildo Tabosa6, Josimar Bento Simplício7, Maurício Luiz de Mello Vieira Leite8
1 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
2 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
3 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
4 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
5 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
6 - Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA)
7 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
8 - Universidade Federal Rural de Pernambuco

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o rendimento forrageiro de cultivares de sorgo, submetidas a duas condições de cultivo do solo (com e sem cobertura morta). A pesquisa foi conduzida, em condições de campo, no Instituto Agronômico de Pernambuco, em Serra Talhada, PE. Os tratamentos consistiram de cinco cultivares de sorgo (SF 15, IPA 2502, Qualimax, IPA 4202 e BRS Ponta Negra) em duas condições de cobertura de solo (presença e ausência de cobertura morta). A unidade experimental medindo 5,0 m de comprimento por 4,0 m de largura foi constituída de cinco fileiras de sorgo, espaçadas 0,80 m entre si. Na produção de matéria seca (PMS) das cultivares de sorgo no sistema tradicional, a cultivar SF 15 obteve maior (P<0,05) acúmulo de fitomassa (15.898,75 Kg ha-1) comparada a cultivar IPA 4202 (7.498,75 Kg ha-1), sendo que a PMS desta cultivar não diferiu das demais. O uso da cobertura morta favoreceu o maior rendimento forrageiro das cultivares IPA 2502, IPA 4202 e Ponta Negra.

Palavras-chave: cobertura morta, produção de forragem, Sorghum bicolor

FORAGE YELD OF SORGHUM CULTIVARS DUE SOIL COVER

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the forage yield of sorghum cultivars, submitted to two soil cultivation conditions (with and without mulching). The research was conducted, under field conditions, at the Agronomic Institute of Pernambuco, in Serra Talhada, PE. The treatments consisted of five sorghum cultivars (SF 15, IPA 2502, Qualimax, Sudan and BRS Ponta Negra) in two soil cover conditions (presence and absence of mulch). The experimental unit measuring 5.0 m long by 4.0 m wide was composed of five rows of sorghum, spaced 0.80 m apart. The cultivar SF 15 obtained higher (P <0.05) phytomass accumulation (15,898.75 kg ha-1) in the dry matter production (PMS) of sorghum cultivars in the traditional system compared to cultivar IPA 4202 (7,498.75 Kg ha-1), and the PMS of this cultivar did not differ from the others. The use of mulch favored the higher forage yield of cultivars IPA 2502, IPA 4202 and Ponta Negra.
Keywords: mulching, forage production, Sorghum bicolor


Introdução

A região semiárida brasileira, anualmente, passa por longos períodos de secas, provocando estacionalidade na produção de forragens e forçando os produtores a aumentarem os custos de produção (BISPO et al., 2007). A complexidade de garantir a mantença dos animais nos períodos secos do ano está diretamente associada a esse fator. Isso ocorre devido a irregularidade das chuvas, aliada às altas temperaturas do ar e a alta taxa de evapotranspiração. De acordo com Bispo et al. (2010), a procura por forrageiras adaptadas a essas condições climáticas é essencial para melhoria da produtividade da pecuária desta região. Uma alternativa viável para os produtores é o sorgo forrageiro (Sorghum bicolor), por sua facilidade de cultivo, tolerância à seca, rapidez de estabelecimento e crescimento e, principalmente, por sua facilidade de manejo para corte ou pastejo direto, além do bom valor nutritivo e da alta produção de forragem (Gontijo et al., 2008). Uma prática muito pertinente é a utilização de cobertura morta por contribuir para retenção da umidade no solo e redução da taxa de evapotranspiração das culturas, garantindo a produção mais regular das plantas cultivadas, sendo importante principalmente nas regiões semiáridas (SANTOS et al., 2012). Nesse contexto, objetivou-se avaliar o rendimento forrageiro de cultivares de sorgo submetidos a distintas condições de cultivo do solo nas condições ambientais do Semiárido de Pernambuco.

Revisão Bibliográfica

O sorgo é uma gramínea originária das regiões áridas e semiáridas da África e parte da Ásia, tendo sido trazida para as Américas inicialmente na década de 50. É considerado o quinto cereal mais importante no mundo, sendo antecedido pelo trigo, arroz, milho e cevada (TARDIN; RODRIGUES, 2008). Segundo Rezende et al. (2011), o sorgo além de ser um alimento de alto valor nutritivo, apresenta alta concentração de carboidratos solúveis, essenciais para conservação dessa forrageira na forma de silagem, pois apresenta adequada fermentação lática, bem como altos rendimentos de matéria seca por unidade de área. Segundo Aquino (2005), a cultura do sorgo é indicada para regiões que apresentam precipitações pluviais variando de 400 a 600 mm por ano ou até menos, dias e noites quentes, com temperaturas médias do ar acima de 25°C, atingindo a maturidade entre 90 a 140 dias. No Brasil, as cultivares de sorgos disponíveis para silagem são classificadas como forrageiras e de duplo propósito (para produção de forragem e grãos). Apesar de possuir a capacidade se adaptar em solos arenosos e de baixa fertilidade, esta gramínea se desenvolve melhor em solos bem preparados, com pH entre 5,5 e 6,5, ricos em matéria orgânica e sem excesso de umidade (LANDAU; SANS, 2009). A utilização de cobertura morta pode contribuir para retenção da umidade no solo e redução da taxa de evapotranspiração das culturas, garantindo a produção mais regular das plantas cultivadas, sendo prática importante principalmente nas regiões semiáridas, onde a demanda evapotranspirativa da planta aumenta em decorrência da alta incidência de radiação solar e baixa umidade do ar, concorrendo para uma maior demanda hídrica (SANTOS et al., 2012). A cobertura do solo evita a ação do impacto da gota de chuva, promove controle de planta daninhas, mantém a temperatura do solo estabilizada, propiciando melhor acumulo de matéria orgânica no solo, que, conjuntamente, melhoram as características químicas, físicas e físico hídricas (MENEZES et al., 2009).

Materiais e Métodos

A pesquisa foi conduzida, em condições de campo, na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco, em Serra Talhada-PE. O rendimento forrageiro do sorgo foi avaliado obedecendo ao delineamento experimental em blocos ao acaso, no esquema fatorial 5 x 2, correspondendo a cinco cultivares de sorgo (SF 15, IPA 2502, Qualimax, IPA4202 e BRS Ponta Negra) cultivadas em duas condições de cobertura de solo (com e sem cobertura), com quatro repetições. A unidade experimental medindo 5,0 m de comprimento por 4,0 m de largura foi constituída de cinco linhas de sorgo, espaçadas 0,80 m entre si. A semeadura foi realizada em 12 de novembro de 2014. No momento do semeio, realizou-se uma adubação com 30 kg ha-1 de nitrogênio (ureia), 40 kg ha-1 de P2O5 (super fosfato simples) e 60 kg ha-1 de K2O (cloreto de potássio). Foram realizadas, ainda, duas adubações de cobertura, aos 25 e 40 dias após a emergência (DAE) da cultura, utilizando-se 50 kg ha-1 de N (ureia) em cada aplicação. Aos 30 DAE foi realizado o desbaste, deixando 15 plantas por metro linear. Em seguida, foi colocada a cobertura morta. O corte das plantas foi efetuado, com os grãos no estádio pastoso-farinácio, a uma altura de 10 cm do solo, com pesagem em campo, das três filas centrais perfazendo uma área útil de 7,2 m² para determinação da produção em matéria verde (PMV) da parcela. A PMV por hectare foi determinada pelo produto entre a produção por metro linear e a quantidade de metros lineares em um hectare. Aleatoriamente, duas plantas de cada parcela foram secas em estufa de ventilação forçada a 55ºC, até o peso constante, para determinação do teor de matéria seca (MS). Determinou-se a produção de MS por hectare pelo produto entre o teor de MS e a PMV por hectare. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

No sistema de cultivo sem cobertura de solo, a cultivar SF 15 obteve maior (P<0,05) acúmulo de fitomassa (15.898,75 Kg ha-1) quando comparada a cultivar IPA 4202 (7.498,75 Kg ha-1), não diferido das demais (Tabela 1). Nas condições do sistema de cutivo com cobertura morta não houve diferença significativa para produção de matéria seca (PMS) entre as cultivares SF 15 e Ponta Negra, sendo os valores de PMS do cultivar SF 15 superiores, em quase o dobro da produção, das cultivares IPA 2502, Qualimax e IPA 4202. O sistema conservacionista de cultivo do solo que utiliza cobertura morta favoreceu o maior rendimento forrageiro das cultivares IPA 2502, IPA 4202 e Ponta Negra, ou seja, nesse sistema de produção essas cultivares apresentaram uma maior produtividade de matéria seca em comparação ao cultivo sem cobertura, reforçando a ideia de que os benefícios do uso da cobertura morta se estendem não apenas ao solo, mas também ao rendimento das culturas. A produtividade média de matéria seca da cultivar SF 15, independente da cobertura do solo, foi de 18.674 kg ha-1, destacando esta cultivar como uma excelente opção para produção de forragem no semiárido pernambucano. Von Pinho et al. (2007) constataram valores de PMS oscilando de 3.000,0 Kg ha-1 a 16.000,0 Kg ha-1 para a cultura do sorgo. Segundo Albuquerque et al. (2010), a PMS de cultivares de sorgo forrageiro está relacionada diretamente com a altura da planta, em que as cultivares mais altas podem atingir maiores produtividades. Segundo Elias et al. (2016) valores de produção de matéria seca de 6,05 t/ha da cultivar IPA 2502, com um acumulado de chuvas de 73,4 mm, sem qualquer tipo de adubação, evidencia o alto potencial produtivo da cultivar avaliada e as características xerofílicas do sorgo, notadamente a adaptação às condições de estresse nesse ambiente.

Conclusões

A cultivar SF 15, independente da cobertura do solo, se destaca como uma excelente opção para produção de forragem no Semiárido pernambucano. O uso da cobertura morta contribuiu não apenas para melhorar os aspectos físicos do solo, mas também para o incremento dos constituintes da planta.

Gráficos e Tabelas




Referências

AQUINO, A.J.S. Avaliação do crescimento e de mecanismo de tolerância à salinidade em plantas de sorgo irrigado com águas salinas. 2005. 73 f. Dissertação (Mestrado em Irrigação e Drenagem) – Centro de Ciências Agrárias, Fortaleza, 2005. BISPO, S. V.; FERREIRA, M. A.; VÉRAS, A. S. C.; MODESTO, E. C.; GUIMARÃES, A. V.; PESSOA, R. A. S. Comportamento ingestivo de vacas em lactação e de ovinos alimentados com dietas contendo palma forrageira. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.9, p.2024-2031, 2010. BISPO, S. V.; FERREIRA, M. A.; VÉRAS, A. S. C.; BATISTA, A. M. V.; PESSOA, R. A. S.; BLEUEL, M. P. Palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante. Efeito sobre consumo, digestibilidade e características de fermentação ruminal em ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, p.1902-1909, 2007. ELIAS, O. F. A. S.; LEITE, M. L. M. V.; AZEVEDO, J. M.; SILVA, J. P. S. S.; NASCIMENTO, G. F.; SIMPLÍCIO, J. B. Características agronômicas de cultivares de sorgo em sistema de plantio direto no Semiárido de Pernambuco. Revista Ciência Agrícola, v. 14, n.1, p. 29-36, 2016. GONTIJO, M. H. R.; BORGES, A. L. C. C.; GONÇALVES, L. C.; RODRIGUES, J. A. S.; GOMES, S. P.; BORGES, I.; RODRIGUES, N. M.; CAMPOS, M. M. Potencial forrageiro de seis híbridos de sorgo com capim sudão. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.7, n.1, p. 33-43, 2008. LANDAU, E. C.; SANS, L. M. A. Clima: cultivo do sorgo. Sete Lagoas, MG: Embrapa Milho e Sorgo, p. 62, 2009. MENEZES, L. A. S.; LEANDRO, W. M.; OLIVEIRA JUNIOR, J. P. de; FERREIRA, A. C. de B.; SANTANA, J. G.; BARROS, R. G. Produção de fitomassa de diferentes espécies, isoladas e consorciadas, com potencial de utilização para cobertura do solo. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 25, n. 1, p. 7-12, jan./fev. 2009. REZENDE, G. A.; PIRES, D. A. A.; BOTELHO, P. R. F.; ROCHA JUNIOR, V. R.; SALES, E. C. J.; JAYME, D. G.; REIS, S. T.; PIMENTEL, L. R.; LIMA, L. O. B.; KANEMOTO, E. R.; MOREIRA, P. R.: Características agronômicas de cinco genótipos de sorgo (Sorghum bicolor, L. Moench), cultivados no inverno, para a produção de silagem. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v. 10, n. 2, p. 171-179, 2011. SANTOS, S.S.; ESPÍNDOLA, J.A.A.; GUERRA, J.G.M.; LEAL, M.A.A.; RIBEIRO, R.L.D.; Produção de cebola orgânica em função do uso de cobertura morta e torta de mamona. Horticultura Brasileira, Brasilia v.30, p. 549-552, 2012. TARDIN, F.D.; RODRIGUES, J.A.S. Cultivo de Sorgo. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de Produção, 2ISSN 1679-012X Versão Eletrônica - 4 ª edição Set./2008. Disponível em: <http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/sorgo_4_ed/cultivares.htm>.  Acesso em: 30/01/2017. VON PINHO, R.G.; VASCONCELOS, R.C.; BORGES, I.D.; RESENDE, A.V. Produtividade e qualidade da silagem de milho e sorgo em função da época de semeadura, Bragantia, Campinas, v. 66, n. 2, p. 235-245, 2007.