Respostas fisiológicas de cabritos alimentados com glicerina bruta no pré-abate

AYLLE MEDEIROS MATOS1, FREDSON VIEIRA E SILVA2, LAURA LÚCIA DOS SANTOS OLIVEIRA3, JOSÉ REINALDO MENDES RUAS4, VALÉRIA DIAS MARTINS5, AMILTON MAIA FREITAS DE OLIVEIRA6, RAUL HERBERTH FREITAS ROCHA7, JEAN ANTUNES DE SOUSA SILVA8
1 - Universidade Estadual de Montes Claros- UNIMONTES
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar as respostas fisiológicas de cabritos alimentados com glicerina bruta no pré-abate. Vinte e oito cabritos foram distribuídos num delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2×2, sendo cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o confinamento e cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o pré-abate. A glicerina bruta reduz as concentrações de albumina, ureia, cortisol e frequência respiratória de cabritos.

Palavras-chave: caprinos, estresse, glicerol, perfil sanguíneo

Physiological responses of kids fed with crude glycerin in pre-slaughter

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the physiological responses of goats fed with crude glycerin in pre-slaughter. Twenty-eight goats were distributed in a completely randomized design in a 2x2 factorial scheme, with goats that received crude glycerin and did not receive it during confinement and goats that received crude glycerin and did not receive it during pre-slaughter. Crude glycerin reduces the concentrations of albumin, urea, cortisol, and respiratory rate of goats.
Keywords: Blood profile, glycerol, goats, stress


Introdução

O pré-abate expõe os animais a novos fatores, potencialmente estressantes. Quando manejados de forma incorreta durante esse período, uma série de respostas ao estresse pode ocorrer direcionadas a manter a homeostasia (LEHUGEUR, 2012). O período de descanso nos abatedouros permite auxiliar a reidratação dos animais e o restabelecimento de parte das reservas de glicogênio muscular. Assim, o fornecimento da glicerina bruta no pré-abate pode trazer um aumento no grau de bem-estar dos animais, pois o glicerol é convertido, através da gliconeogênese, em glicose (KERR et al., 2009) que, posteriormente, será utilizada repondo a energia gasta durante o transporte. Nesse contexto, a constituição sanguínea permite fornecer informações sobre a situação do metabolismo dos tecidos, podendo ser utilizada para avaliar a resposta do organismo ao estresse a qual os animais são submetidos durante o pré-abate. As alterações fisiológicas causadas pelo estresse também podem ser diagnosticadas, através do exame clínico observando a freqüência respiratória, a freqüência cardíaca e a temperatura retal (FERREIRA et al., 2006). Diante do exposto, objetivou-se avaliar as respostas fisiológicas de cabritos alimentados com glicerina bruta no pré-abate.

Revisão Bibliográfica

Muitos fatores podem influenciar no bem-estar do animal durante o período pré-abate, a exemplo do transporte, privação de alimentos, mistura de lotes, mudança de ambiente, alta densidade de transporte, entre outros que podem alterar as funções fisiológicas do animal (FERGUSON et al., 2008 e TERLOUW et al., 2008). O estresse é o principal parâmetro utilizado para avaliar o bem-estar animal. Sendo este, uma resposta biológica que um animal exibe quando a homeostasia é ameaçada, necessitando de ajustes fisiológicos para adequar-se aos aspectos adversos do manejo ou ambiente. Os animais respondem aos estímulos estressantes exibindo um ou mais mecanismos biológicos de defesa direcionados a manter a homeostasia (LEHUGEUR, 2012). Nesse contexto, respostas fisiológicas, atividade adrenal e grau de imunossupressão, são fatores que podem ser medidos para avaliar o grau de bem-estar dos animais (BROOM, 1991). A constituição sanguínea reflete de modo fiel a situação metabólica dos tecidos animais, de forma a poder avaliar lesões teciduais, transtornos no funcionamento de órgãos, adaptação do animal diante de desafios nutricionais e fisiológicos e desequilíbrios metabólicos específicos ou de origem nutricional (GONZÁLEZ e SCHEFFER, 2003). Durante o pré-abate, os animais estão em jejum de sólidos, o que os levam a mudar seu metabolismo para adequação da situação. Visto seu reconhecido potencial gliconeogênico (CORI e SHINE, 1935), a glicerina bruta surge como uma alternativa de manejo que pode atenuar o estresse no pré-abate. No processo de produção de biodiesel, ocorre a transesterificação que consiste na separação da glicerina do óleo vegetal. Neste processo cerca de 10% do material transesterificado é retirado na forma de glicerina (DONKIN, 2008). O Brasil é o segundo maior produtor, ficando atrás da Alemanha, e é considerado também o maior mercado consumidor deste biocombustível (MME, 2011). Portanto, a utilização da glicerina bruta na alimentação animal seria uma forma, ecológica, de reaproveitar seu excedente produzido durante o processamento do biodiesel.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental da UNIMONTES na cidade de Janaúba/MG. Vinte e oito cabritos machos não-castrados, sem raça definida, com peso vivo médio inicial de 14,63±3,8 kg foram distribuídos num delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2, sendo cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o confinamento e cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o pré-abate. Os animais foram confinados durante 54 dias, recebendo dieta de acordo com as recomendações do NRC (2007). A glicerina bruta (92 g/100g de glicerol) foi calculada em 10% da dieta total e fornecida uma vez ao dia, separadamente do volumoso e concentrado. Este alimento foi desconsiderado no momento do cálculo da ração e foi fornecido durante os últimos 14 dias de confinamento. Os animais foram transportados ao abatedouro e após o desembarque, ficaram em quatro baias coletivas todas com água e em duas delas foi fornecido 1,176kg de glicerina bruta. Antes do início do fornecimento da glicerina bruta aos animais durante o confinamento e antes do abate, foram aferidas a frequência respiratória e cardíaca e a temperatura retal dos animais. O procedimento de abate começou após 12h de descanso no abatedouro que consistiu na insensibilização dos animais por eletronarcose, seguida pela sangria. O sangue foi coletado durante a sangria e acondicionado em tubos de ensaio. O volume globular médio foi determinado por meio da técnica de microhematócrito (BIRGEL, 1982). A contagem de eritrócitos foi realizada em câmara de Newbauer, usando-se solução de Gower como diluidor. Foi utilizado espectrofotômetro para medição no sangue da albumina, glicose, ureia, ácidos graxos não esterificados, creatina quinase e lactato, cada qual com seu respectivo kit comercial. E o cortisol foi determinado pelo método de quimiluminescência. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e aplicou-se o teste SNK a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Todos os animais consumiram a glicerina bruta durante o confinamento e o pré-abate. Não houve interação entre confinamento e pré-abate para quaisquer variáveis (Tabela 1). Portanto, as variáveis independentes (confinamento e pré-abate) serão apresentadas isoladamente. No confinamento, os animais alimentados com glicerina bruta apresentaram frequência respiratória menor que os que não a consumiram, mas ambos os tratamentos se encontram dentro da faixa considerada normal para caprinos, que varia de 12 a 25 mov. min.-1 (REECE, 1996). O aumento da frequência respiratória é uma forma de manter a temperatura corporal dentro do intervalo normal, através da evapotranspiração pulmonar (MARTINS JÚNIOR et al., 2007). Os animais que receberam glicerina bruta no confinamento apresentaram menor concentração de albumina que os que não a receberam. Da mesma forma, aqueles que receberam glicerina bruta durante o pré-abate também apresentaram menores concentrações de albumina do que os que não a receberam. Isso pode ter sido uma resposta a adaptação dos animais ao tratamento ao qual foram submetidos. A albumina tem sido proposta como indicador fisiológico de desidratação (CAFAZZO et al., 2012),  que os animais podem ter consumido maior quantidade de água quando a glicerina bruta estava disponível. Os cabritos que receberam glicerina bruta no pré-abate apresentaram menor concentração de ureia. O aumento da ureia sérica indica que, devido à privação de alimentos, aumenta-se o catabolismo protéico. Portanto, os cabritos que receberam glicerina bruta no pré-abate demandaram menos energia, o que causou menor degradação de proteínas, e consequentemente, menor concentração de ureia. A atividade do eixo do córtex hipotálamo- adrenal aumenta quando o animal se encontra em situações estressantes, com consequente liberação de cortisol, que provoca um aumento geral de energia do organismo e gasto metabólico (HAMBRECHT et al., 2004). Cabritos que consumiram glicerina bruta no pré-abate apresentaram menor concentração de cortisol, logo, os animais não estavam sofrendo interferências estressoras nas condições em que estavam submetidos. O consumo ou não da glicerina bruta no pré-abate não influenciou os valores de frequência cardíaca, temperatura corporal, VGM, glicose, NEFA, CK, lactato e eritrócito dos cabritos.

Conclusões

O fornecimento da glicerina bruta durante o pré-abate promove redução nas concentrações de albumina, ureia, cortisol e na freqüência respiratória de cabritos. Permitindo assim, reduzir os efeitos do estresse sobre o animal, pois possibilita a reidratação e maior aporte de energia durante o pré-abate.

Gráficos e Tabelas




Referências

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