Síntese de proteína microbiana em vacas alimentadas com dietas à base de coproduto de fecularia de mandioca e ureia protegida

Kleves Vieira de Almeida1, Maximiliane Alavarse Zambom2, Ana Ruth Estrela Almeida3, Andressa Faccenda4, Dieisson Gregory Grunevald5, Everline Ines Eckstein6, Fernando Andre Anschau7, Cibele Regina Schneider8
1 - Universidade Estadual de Maringá
2 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
3 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
4 - Universidade Estadual de Maringá
5 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
6 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
7 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
8 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a síntese de proteína microbiana de vacas em lactação alimentadas com níveis de ureia protegida associados ao coproduto de fecularia de mandioca. Cinco vacas da raça Holandês foram distribuídas em um delineamento em quadrado latino 5×5. Os tratamentos avaliados foram os níveis 0%, 0,4%, 0,8%, 1,2% e 1,6% de ureia protegida no concentrado. A dieta foi composta por 55% de volumoso e 45% de concentrado. A síntese de proteína microbiana foi determinada através da concentração dos derivados de purinas presentes em amostras de urina spot. Não houve efeito (P>0,05) para alantoína da urina. Houve efeito linear positivo (P<0,05) para as purinas totais e absorvidas, assim como para os valores de N-microbiano, PB-microbiana e PB-mic/kg. Os níveis de ureia protegida associados ao coproduto de fecularia de mandioca não alteraram a síntese de proteína microbiana de vacas em lactação.

Palavras-chave: alantoína, alternativas alimentares, Manihot sculenta Crantz, sincronização

Synthesis of microbial protein in cows fed diets based on coproduct of cassava starch and protected urea

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the microbial protein synthesis of lactating cows fed with protected urea levels associated with cassava starch co-product. Five cows of the Dutch breed were distributed in a 5x5 Latin square design. The treatments evaluated were 0%, 0.4%, 0.8%, 1.2% and 1.6% protected urea levels in the concentrate. The diet consisted of 55% of corn silage and 45% of concentrate. Microbial protein synthesis was determined by concentration of the purine derivatives present in spot urine samples. There was no effect (P> 0.05) for allantoin in urine. There was a positive linear effect (P <0.05) for milk allantoin. There was no effect (P> 0.05) for total and absorbed purines, as well as for N-microbial, PB-microbial and PB-mic / kg. The levels of protected urea associated with the cassava starch coproduct did not alter the microbial protein synthesis of lactating cows.
Keywords: allantoin, alternative food, Manihot sculenta Crantz, synchronization


Introdução

O Brasil encontra-se atualmente entre os maiores produtores mundiais de leite, com uma produção estimada em mais de 35 bilhões em 2015, todavia com uma pequena queda em relação ao ano anterior (IBGE, 2015). Estes dados reforçam a necessidade de técnicas ou alternativas alimentares que aumentem a produtividade animal com a utilização de ingredientes menos onerosos que visem a redução dos gastos com alimentação, já que estes ainda representam a maior parte dos custos de produção. Neste sentido, pesquisas vem sendo direcionadas para a avaliação de fontes de energia e proteína que sejam mais baratas e não comprometam os índices produtivos, além de garantir a qualidade do leite. Esta resposta foi observada por Aguiar et al. (2013), ao utilizarem ureia em substituição ao farelo de soja, reforçaram que fontes de nitrogênio não proteico (NNP) são viáveis na alimentação de vacas leiteiras. Além disso, muitas indústrias tem gerado coprodutos que vem sendo utilizados na alimentação animal sem grandes modificações produtivas. Lima et al. (2015), afirmam que a inclusão do coproduto de fecularia de mandioca demonstrou viabilidade econômica até o nível de inclusão de 10% da matéria seca (MS) da dieta total de vacas em lactação, além de aumentar a produção de leite. Objetivou-se avaliar a síntese de proteína microbiana em vacas da raça Holandês recebendo dietas a base da silagem de coproduto de fecularia de mandioca associada a níveis de ureia protegida.

Revisão Bibliográfica

A utilização dos derivados de purinas por intermédio da excreção urinária para estimar a produção de proteína microbiana apresenta várias vantagens, como rapidez e facilidade na obtenção de amostras. E, ainda, por se tratar de um método não invasivo, ou seja, sem a necessidade da utilização de animais fistulados, evita alterações do comportamento ingestivo, não comprometendo o bem-estar dos animais experimentais. De acordo com Fregadolli et al. (2001) no compartimento ruminal o nitrogênio presente pode ser oriundo de duas fontes: o de origem endógena, derivado da reciclagem da ureia, das células epiteliais de descamação e do processo de lise das células microbianas, e o de origem dietética, composto pela proteína verdadeira e pelo nitrogênio-não-proteico. A disponibilidade de nitrogênio e energia no rúmen são os principais fatores que limitam o crescimento microbiano (CLARK et al., 1992). Por outro lado, o contributo de aminoácidos para o intestino delgado é afetado por fatores que estão relacionados com a velocidade e a intensidade de degradação da proteína dietética no rúmen. Ainda deve-se considerar que, pelo fato de ser responsável pelo aporte de energia, a disponibilidade de carboidratos também pode afetar a eficiência de utilização dos compostos nitrogenados (CAVALCANTE et al., 2006).

Dessa forma, é perfeitamente possível avaliar o estado nutricional dos animais com a concretização do balanço nutricional por meio dos produtos absorvidos e da extensão das perdas excretadas. Este estado pode ter efeito direto na sua resposta produtiva (CHEN & GOMES, 1992).



Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no setor de Bovinocultura de Leite da Estação Experimental “Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos Pessoa” e as análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal – LANA, ambos pertencentes a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon – PR, no período de março de 2016 a janeiro de 2017. Foram utilizadas cinco vacas da raça Holandês entre 1º e 4º lactação, com peso corporal médio de 650 ± 32,7 kg e produção média inicial de 26,7 ± 3,06 kg de leite por dia. Utilizou-se o delineamento experimental em quadrado latino (5x5), com cinco tratamentos e cinco períodos experimentais de 21 dias, sendo os 14 primeiros destinados à adaptação e os demais para a coleta de dados. Os tratamentos avaliados foram os níveis: 0%, 0,4%, 0,8%, 1,2% e 1,6% de ureia protegida no concentrado associado ao uso de 75% de silagem do coproduto de fecularia de mandioca em substituição ao milho. Para avaliação de síntese microbiana, no 17° dia do período experimental foi realizada coleta de urina spot, quatro horas após a alimentação da manhã. Uma alíquota de 10 mL de urina filtrada foi acidificada com 40 mL de ácido sulfúrico (0,036 N), a qual foi destinada à quantificação das concentrações urinárias de ácido úrico e alantoína. Outra alíquota de 50 mL de urina filtrada foi refrigerada para a determinação de creatinina (CHEN & GOMES, 1992). O ácido úrico e creatinina foram analisadas pelo método enzimático-colorimétrico utilizando kit comercial. As concentrações de alantoína na urina e também no leite foram obtidas de acordo a técnica descrita por Chen & Gomes (1992). As purinas microbianas absorvidas (PA) (mmol/dia) foram estimadas pela equação proposta por Verbic et al. (1990). O fluxo intestinal de nitrogênio microbiano (g NM/dia) foi estimado a partir da equação de Chen & Gomes (1992). Os dados foram submetidos a análise de variância e regressão polinomial ao nível de 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Não houve efeito significativo (P<0,05) para a alantoína urinária (Tabela 1), a qual obteve uma média de 191,58 mmol/dia. Santos et al. (2011) ao estudarem 18 vacas da raça Holandês distribuídas em seis quadrados latinos 3x3 observaram o mesmo efeito para este parâmetro ao compararem tratamentos com o uso de ureia convencional e encapsulada. Para as excreções de ácido úrico (Tabela 1) não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos avaliados, no entanto, houve tendência (P = 0,059) de aumento linear. Segundo Johnson et al.(1998), a relação entre ácido úrico e derivados de purina na urina pode variar conforme a dieta e o estado fisiológico do animal. Houve efeito linear positivo (P<0,05) para a alantoína do leite em função do aumento dos níveis de ureia (Tabela 1). Este efeito contraria o observado por Oliveira et al. (2001), que ao avaliarem níveis de NNP na dieta de vacas em lactação, observaram comportamento linear decrescente, os quais atribuíram este fato ao decréscimo da produção de leite que ocorreu concomitantemente. De acordo com Gonda e Lindberg (1997), a produção influencia diretamente na determinação da concentração e da quantidade da alantoína excretada no leite. Não houve efeito (P>0,05) para as purinas totais e absorvidas, assim como para os valores de N-microbiano, PB-microbiana e PB-mic/kg NDT (Tabela 1). Estes resultados evidenciam que houve equilíbrio na disponibilidade de esqueletos de carbono, provenientes dos carboidratos, e de amônia proveniente do N degradável. Além disso, a extensa reciclagem de nitrogênio que acontece em animais ruminantes é uma explicação aceitável para a ausência de resposta em função digestiva à atuação sobre o sincronismo entre a digestão de proteína e a de carboidratos (REYNOLDS & KRISTENSEN, 2008). Observa-se (Tabela 1) que não houve efeito para o pH urinário (P>0,05) com média de 8,01. Este fato evidencia que os animais obtiveram um aproveitamento adequado dos nutrientes em todos os tratamentos, sobretudo devido ao tamponamento das dietas para prevenir acidose nos animais.

Conclusões

Os níveis de ureia protegida associados ao coproduto de fecularia de mandioca na dieta de vacas em lactação não alteraram a síntese de proteína microbiana.

Gráficos e Tabelas




Referências

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