Substituição do farelo de soja por farelo de amendoim em rações com alta proporção de concentrado para cordeiros confinados

Marcos Franke Pinto1, Cledson Augusto Garcia2, Darlene Colombo3, Cecilio Viega Soares Filho4, Hamilton Caetano5, Thiago Magnani Grassi6, Max José de Araújo Faria Junior7
1 - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Medicina Veterinária, Araçatuba
2 - Universidade de Marília (UNIMAR)
3 - Universidade de Marília (UNIMAR)
4 - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Medicina Veterinária, Araçatuba
5 - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Medicina Veterinária, Araçatuba
6 - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Medicina Veterinária, Araçatuba
7 - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Medicina Veterinária, Araçatuba

RESUMO -

O farelo de soja (FS) é a fonte de nitrogênio mais utilizada na dieta de ruminantes, representando alto custo de produção no sistema de criação. Objetivou-se avaliar a inclusão de farelo de amendoim (FA) em substituição ao FS na alimentação de ovinos, bem como os efeitos sobre o desempenho animal de cordeiros em confinamento. Foram utilizados 48 cordeiros mestiços Suffolk x Texel, com idade média de 120 dias, e peso médio de 21 kg. Antes do início do experimento, o período de adaptação à dieta experimental foi de 7 dias. Após a adaptação os animais foram confinados durante 42 dias em baias individuais. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, apresentando quatro tratamentos com 12 repetições, levando-se em consideração os diferentes níveis FA em substituição do FS (0%; 33%; 66% e 100%). O ganho de peso médio diário (g/animal) entre os diferentes níveis de substituição de FA por FS foi maior nos animais que receberam 33% de FA na dieta. O farelo de amendoim não influenciou a cor ou o sabor da carne.

Palavras-chave: coprodutos, desempenho, ganho de peso, ovinos, qualidade de carne

Replacement of soybean meal by peanut meal in rations with a high proportion of concentrate for confined lambs

ABSTRACT - Soybean meal (FS) is the most used nitrogen source in the ruminant diet, representing high production costs in the breeding system. The objective of this study was to evaluate the inclusion of peanut meal (FA) to replace FS in sheep feed, as well as the effects on animal performance of lambs in confinement. A total of 48 crossbred Suffolk x Texel lambs were used, with a mean age of 120 days and a mean weight of 21 kg. After the start of the experiment, the period of adaptation to the experimental diet was 7 days. After adaptation, the animals were confined for 42 days in individual stalls. The experimental design of the project was completely randomized, presenting four treatments with 12 replicates, taking into account the different FA levels replacing FS (0%, 33%, 66% and 100%). The mean daily gain (g / animal) between the different FS replacement levels by FS was higher in the animals that received 33% of AF in the diet. FA did not influence meat color or taste.
Keywords: co-products, performance, weight gain, sheep, meat quality


Introdução

No Brasil, o farelo de soja é a fonte de nitrogênio mais utilizada na dieta de ruminantes, representando alto custo de produção no sistema de criação. Pesquisas com fontes alternativas ao farelo de soja estão sendo avaliadas, em relação à sua composição química e suas respostas metabólicas em dietas para animais, com o objetivo de minimizar os custos na produção animal propiciando, portanto, o aumento da margem de lucro dos produtores rurais. Uma alternativa potencialmente econômica seria a utilização de dietas contendo subprodutos de oleaginosas destinadas à produção do biodiesel, como o farelo de amendoim. O farelo de amendoim tem seu valor nutritivo muito próximo ao farelo de soja e superior ao farelo de algodão quando proveniente de processo envolvendo o amendoim descascado e descutilado. O farelo de amendoim apresenta em média 50% de proteína bruta (PB) de elevada degradabilidade ruminal, em relação aos farelos comumente utilizados na nutrição de ruminantes (Goes et al., 2004). No Brasil existem poucos trabalhos desenvolvidos acerca do uso do farelo de amendoim, como fonte de proteína alternativa em substituição ao farelo de soja na dieta de cordeiros, avaliando os efeitos no desempenho animal. Em face disso, objetivou-se avaliar a inclusão de farelo de amendoim em substituição ao farelo de soja na alimentação de ovinos em confinamento, bem como os efeitos sobre o desempenho, as características de carcaça e a qualidade da carne.

Revisão Bibliográfica

A alimentação é o fator que mais eleva os custos na produção animal, principalmente o fornecimento de alimentos concentrados nas dietas dos ruminantes, utilizados para elevar o desempenho produtivo do rebanho. Os ovinos, como os demais ruminantes, possuem dieta a base de volumosos, no entanto, quando o objetivo é a produção de carne, é necessário um aporte maior de proteína e energia nas dietas, sendo necessária a adição de concentrado, que eleva o custo com alimentação. Dentre os coprodutos da agroindústria, com potencial de uso na alimentação de ruminantes, destacam-se aqueles oriundos da produção de biodiesel (Lage et al., 2012). Com isso, as tortas oleaginosas proveniente da produção do biodiesel surgem como alimentos alternativos para substituição do milho e da soja na formulação do concentrado, e estão sendo testados como opção de minimizar os custos. A utilização de alimentos menos onerosos é bastante viável para melhorar o efeito custo/benefício, podendo levar a um desempenho animal satisfatório. Segundo Santos et al. (2012), as tortas e farelos apresentam grande potencial como fontes alimentares alternativas, principalmente de ruminantes, uma vez que possuem consideráveis concentrações de proteína e extrato etéreo, caracterizando-as como alimentos proteicos e/ou energéticos. O amendoim é uma importante fonte de matéria prima para a produção do biodiesel. Após a extração do óleo, obtém-se a torta, um coproduto com características nutritivas adequadas para ser empregado na composição das dietas para animais que demandam de elevados teores de proteína. A qualidade da torta de amendoim depende, em geral, da qualidade das sementes e do método de extração do óleo, mas normalmente a torta apresenta elevados teores de nitrogênio e de nutrientes digestíveis, em níveis semelhantes aos do farelo de soja (Abdalla et al., 2008). Alimentos alternativos devem ser avaliados quanto aos efeitos adversos ou positivos que eventualmente podem ocorrer sobre os animais que os consomem, principalmente em regiões tropicais. Santos et al. (2012) enfatizam a necessidade da adição de ingredientes alternativos ao farelo de soja e milho com potencial de serem utilizados na terminação de cordeiros, os quais poderão minimizar os custos na produção animal propiciando, portanto, o aumento da margem de lucro dos produtores rurais.

Materiais e Métodos

Animais O experimento foi conduzido no setor de Ovinocultura da Fazenda Experimental da Universidade de Marília, Marília, SP. Foram utilizados 48 cordeiros mestiços Suffolk x Texel, com idade média de 120 dias, e peso médio de 21 kg. Os animais foram vermifugados e vacinados contra clostridioses antes do início do experimento. Após a desmama, antes do início do experimento, o período de adaptação à dieta experimental foi de 7 dias. Após a adaptação, os animais foram confinados durante 42 dias em baias individuais com cocho de alimentação e bebedouro. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, apresentando quatro tratamentos com 12 repetições, levando-se em consideração os diferentes níveis farelo de amendoim em substituição do farelo de soja (0%; 33%; 66% e 100%) com base na matéria seca, constituindo os tratamentos experimentais. As dietas completas ofertadas aos animais apresentavam 20% de silagem de milho utilizado como fonte volumosa e 80% de concentrado, elaborado à base de farelo de trigo, milho moído, suplemento mineral comercial para ovinos, bicarbonato de sódio e farelo de soja e/ou farelo de amendoim. A ração foi oferecida na quantidade de 6% do peso vivo e água ad libitum. Avaliação do desempenho Os animais confinados foram pesados inicialmente a cada 14 dias, totalizando 3 pesagens, e quando se aproximaram do peso de abate, as pesagens passaram a ser com 7 dias de  intervalo. O ganho de peso diário (GPD) foi calculado para cada animal a partir do coeficiente de inclinação da reta resultante da regressão das medidas individuais de peso vivo sem jejum em função do tempo, utilizando o procedimento REG do pacote estatístico do SAS (SAS Institute, 2009). Características de carcaça Os cordeiros foram abatidos ao atingirem, aproximadamente, 35 kg de peso corporal, após jejum alimentar de 16 horas. O abate foi realizado no Frigorífico Santa Inês Ltda, localizado no município de Herculândia, SP, seguindo o manejo convencional do frigorífico, de acordo com as normas e exigências da Inspeção Federal (Brasil, 1997). Foi determinado o peso vivo (PV) individual dos animais, no momento do embarque. Ao abate, foram determinados o peso da carcaça quente (PCQ) e o rendimento de carcaça (PCQ/PV x 100). Após a refrigeração, realizada em câmaras frias com temperatura em torno de 0±1oC por 24 horas, as carcaças foram pesadas, para determinação do peso da carcaça fria (PCF), do rendimento de carcaça fria (PCF/PV x 100) e da porcentagem de perda de peso na refrigeração ([PCQ-PCF]/PCQ x 100), ou quebra pelo resfriamento (QR). Após divisão da carcaça, na meia carcaça esquerda foram realizadas as seguintes mensurações: comprimento da perna (CP), perímetro da garupa (PG), profundidade de tórax (PT), largura da perna (LP), comprimento interno da carcaça (CIC) e comprimento externo da carcaça (CEC) (Sañudo & Sierra, 1986). Características de qualidade da carne Na desossa, foram retiradas duas amostras do músculo Longissimus lumborum na altura da 12ª vértebra torácica, que foram identificadas, embaladas em sacos plásticos e armazenadas em freezer a -18ºC até a realização das análises de qualidade da carne. Para a avaliação das características da carne, as amostras foram descongeladas em estufa BOD a 4oC por 24 horas. Antes da avaliação da cor, as amostras descongeladas foram retiradas da embalagem plástica e expostas ao ar por 30 minutos. Em seguida, os atributos da cor L (luminosidade), a (intensidade de vermelho) e b (intensidade de amarelo) foram obtidos em três pontos diferentes das amostras através da luz padrão D 65 e observada a 10ºC utilizando-se espectrofotômetro Mini Scan XE plus (HunterLab) calibrado com padrões branco e preto (CIE, 1986; MacDougall, 1994). Em seguida, as amostras foram pesadas, envoltas em papel alumínio e assadas em forno industrial elétrico (Tedesco, modelo TC06/ELT) à temperatura de 170oC, até atingirem 70oC em seu centro geométrico, o que foi monitorado com o auxílio de um termopar digital; após esfriarem os bifes foram novamente pesados. As perdas na cocção (exsudação + evaporação) foram obtidas pela diferença de peso das amostras antes e após o cozimento. Para análise sensorial, foram utilizados 60 provadores não treinados, consumidores habituais de carne de cordeiro. A preferência dos consumidores foi avaliada por um teste de ordenação (ranking test), onde os consumidores receberam as amostras codificadas com números de três dígitos, de maneira casualizada e balanceada e as ordenaram de acordo com a preferência, atribuindo o número “1” para a amostra preferida, “2” para a segunda melhor, e assim por diante (Figura 1). Os valores atribuídos por todos os provadores para cada amostra foram somados, e a significância da diferença entre as amostras foi determinada pela diferença entre os valores encontrados, utilizando as tabelas propostas por Newell e MacFarlane (1987). Para avaliar a intensidade da percepção dos consumidores em relação à maciez das amostras, foi utilizada o teste de classificação ou graduação (rating test). Os consumidores assinalaram sua impressão numa escala de 10 cm de comprimento, cujo extremo esquerdo indicava “carne macia” e o extremo direito, “carne dura”. A distância entre o extremo esquerdo da escala e o ponto assinalado pelos provadores foi medida e expressa em cm, sendo correspondente à percepção de maciez das amostras (Figura 1). Os resultados foram submetidos à análise de variância e comparação de médias pelo teste de Friedman ao nível de significância de 5%, utilizando o pacote estatístico SAS/STAT (SAS, 2009).

Resultados e Discussão

Foi observada diferença (P<0,05) no ganho de peso médio diário entre os diferentes níveis de substituição de farelo de amendoim em substituição ao farelo de soja, sendo que o GMD foi maior (P<0,05) nos animais que receberam 33% de farelo de amendoim na dieta (Tabela 1). Duarte et al. (2015) não observaram efeito na substituição do farelo de soja pela torta de amendoim, no consumo de matéria seca, medido em gramas por dia, em porcentagem do peso corporal ou em gramas por unidade de tamanho metabólico, embora a torta de amendoim apresentasse apenas 1 ponto percentual de diferença em proteína bruta, quando comparado ao utilizado no presente experimento. Esses resultados demonstram que a presença de farelo de amendoim na dieta não prejudicou o atendimento adequado da demanda nutricional dos animais nem a aceitabilidade do concentrado. Embora os teores de extrato etéreo tenham aumentado com o aumento dos níveis de farelo de amendoim, não chegaram a ultrapassar os níveis de 6%, valor máximo recomendado nas dietas para ruminantes (Vasconcelos e Galyean, 2007), o que colaborou para que o consumo de matéria seca não fosse influenciado. Possivelmente a padronização dos teores de FDN e do tamanho de partículas pequeno das dietas colaborou para que o consumo fosse semelhante. Em consequência do maior GMD dos animais que receberam 33% de farelo de amendoim, esses animais apresentaram maior peso de carcaça quente, peso de carcaça fria e profundidade de tórax (P<0,05), entretanto não foi observada diferença (P>0,05) no rendimento de carcaça quente e rendimento de carcaça fria, quebra por resfriamento (QR), perímetro de garupa, largura de perna, comprimento interno da carcaça (CIC) e comprimento externo da carcaça (CEC) (Tabela 2). Apesar disso, os animais que receberam dieta somente com farelo de soja, apresentaram maior comprimento de perna (P>0,05) em relação aos animais que receberam diferentes níveis de farelo de amendoim (Tabela 2). Ribeiro et al. (2015) avaliaram a substituição do farelo de soja com melaço de cana pelo farelo de amendoim, com a adição ou não de melaço de cana em rações de creep feeding sobre o ganho de peso médio diário e o consumo de concentrado inicial de cordeiros até quinze dias após a desmama. Os autores concluíram que o farelo de amendoim pode ser utilizado como substituto ao farelo de soja e ao melaço de cana na formulação de concentrados iniciais para cordeiros, sem prejudicar o desempenho produtivo, podendo minimizar os custos da ração. Da mesma forma, Duarte et al. (2015) concluíram que a torta de amendoim pode substituir totalmente o farelo de soja na alimentação de cordeiros. A cor da carne não sofreu influência do nível de farelo de amendoim na dieta dos cordeiros. No sistema L*a*b* (CIE, 1986), utilizado neste trabalho, “L” corresponde à luminosidade, indo do preto (0) ao branco (100), “a” vai do verde (valores negativos) até a faixa do vermelho (valores positivos) e “b” vai do azul (valores negativos) até o amarelo (valores positivos). A carne e gordura associada sempre apresentam valores positivos de “a” e “b”, mas não existem muitos estudos sobre a cor da carne de cordeiros. Dessa forma, além de demonstrar que o farelo de amendoim em substituição ao farelo de soja não alterou a cor da carne, os valores apresentados na tabela 3 servem de referência para outros estudos envolvendo esse produto. Na tabela 3 ainda é possível observar que a porcentagem de perda de peso no processamento térmico da carne também não diferiu entre os grupos estudados. Na tabela 4 são apresentados os resultados da análise sensorial. Na escala de maciez, o escore 5 equivalia a “regular”. A medida foi feita da borda esquerda (carne macia) até o ponto marcado pelo consumidor. Portanto, números menores correspondem à carne mais macia. Não foi verificada diferença entre os grupos, mas todas as amostras foram consideradas muito macias, pois as médias ficaram todas bem abaixo de 5, que correspondia ao conceito “regular”. Da mesma forma, não houve diferença em relação à aceitabilidade das amostras (P>0,05), demonstrando que a substituição de farelo de soja por farelo de amendoim não influenciou o sabor da carne. É importante observar que os consumidores podiam dar para cada amostra os escores 1 a 4. Portanto, o ponto médio era 2,5. Observa-se, na tabela 4, que as médias de todos os grupos ficaram muito próximas desse valor.

Conclusões

A substituição do farelo de soja pelo farelo de amendoim pode ser recomendada, como uma alternativa na confecção de concentrados, substituindo até 33% da MS o farelo de soja na alimentação de cordeiros, sem prejuízos ao consumo e ganho de peso dos animais, proporcionando uma economia dos custos da ração. O farelo de amendoim não influencia as características sensoriais da carne de cordeiros.

Gráficos e Tabelas




Referências

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