Taxa de lotação em caminhões do tipo truck transportadores de bovinos para o abate

Vande Roberto Avalhaes Filho1, Dalton Mendes de Oliveira2, Aline Correia Furtado3, Cleiton José Piazzon4, Loraine Saldanha Escobar5, Letícia Scarelli Rodrigues da Cunha6, Hugo Pereira Flores7
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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RESUMO -

O presente trabalho teve por objetivo avaliar as condições de transporte em caminhões do tipo truck, relacionando a taxa de lotação com hematomas e lesões na carcaça. O estudo foi realizado em frigorífico localizado no município de Aquidauana-MS, onde coletou-se o peso vivo (kg) de 391 bovinos, transportados com lotação máxima de 20 animais. Para avaliar a área ocupada por animal na carroceria utilizou-se as equações do Conselho de Bem Estar Animal (FAWC) e do Comitê Consultivo de Bem Estar Animal (AWAC). Observou-se que animais mais pesados (538,66 kg), necessitam de uma área maior que a disponível no caminhão truck (25,44m²), tanto para FAWC (28,4 m²) quanto para AWAC (27 m²). As maiores frequências de lesão foram verificadas no transporte com menor densidade (kg/m²) e animais mais leves. A lotação de 20 animais pode ser insuficiente para ocupar a área total da carroceria do caminhão truck, ocasionando quedas e choques entre animais e, destes com partes da carroceria.

Palavras-chave: Bovino de corte, contusões, densidade animal, transporte rodoviário.

Stocking rate in simple truck type vehicles transporters of cattle for slaughter

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the transport conditions in simple truck type vehicles, relating the stocking rate with bruises and carcass lesions. The study was performed at a slaughterhouse‬ localized in the city of Aquidauana-MS, being collected the live weight (kg) of 391 beef cattle, transported with a maximum stocking rate of 20 animals. In order to evaluate the area occupied by the animals in the truck body, the equations of the Animal Welfare Council (FAWC) and the Animal Welfare Advisory Committee (AWAC) were used. It was observed that heavy animals (538.66 kg) needed a greater area than the one available in the truck (25.44 m2), both for FAWC (28.4 m²) and AWAC (27 m²).The highest lesion frequencies were observed in the transport with lower density (kg/m²) and lighter animals. The stocking of 20 animals may be insufficient to occupy the total body area of the truck, thus causing falls and shocks between animals and between animals with parts of the body truck.
Keywords: Beef cattle, bruises, animal density, road transport.


Introdução

Devido ao crescimento da cadeia produtiva da carne, tecnologias de criação e abate vem sendo aplicadas a bovinocultura de corte visando alcançar o máximo potencial produtivo. Assim, o cuidado com o bem estar de animais de corte se torna essencial para que se obtenha um produto final de qualidade. Devido a este avanço, o transporte rodoviário de bovinos se tornou habitual e cresceu principalmente em caminhões do tipo truck, sendo considerado no Brasil o mais utilizado para o transporte de animais destinados ao abate (SILVA et al., 2016).  Entretanto, é comum observar no final do transporte a chegada de lotes de animais com níveis de estresse elevados, o que afeta o glicogênio muscular e altera o pH post-mortem, além de várias escoriações e contusões que desvalorizam os cortes (ROÇA, 2001). A retirada das lesões além de implicar em perdas econômicas e redução do rendimento pode causar a desclassificação de carcaças que são tipificadas para exportação. Portanto, uma das possíveis alternativas para reduzir tais perdas oriundas de hematomas e lesões, seria a utilização da taxa de lotação ideal referente ao peso vivo médio dos animais transportados. Assim, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a taxa de lotação de animais destinados ao abate e que são transportados por caminhão do tipo truck, relacionando-a a frequência de hematomas e lesões nas carcaças.



Revisão Bibliográfica

O transporte rodoviário de bovinos juntamente a condições desfavoráveis como densidade, temperatura, desidratação, umidade relativa e distância podem ocasionar em contusões, perda de peso e morte. Estudos comprovam que um manejo pré-abate inadequado e/ou transporte realizado de forma incorreta afeta a qualidade da carne alterando a aparência e a vida de prateleira do produto (CIOCCA, 2007).

A definição da densidade de carga correta é fundamental para garantir melhores condições de bem-estar para os animais durante o transporte. Para tanto, deve-se levar em conta o peso dos indivíduos, e não somente o número de animais transportados. Infelizmente, ainda é comum definir a densidade de carga de bovinos sem considerar a raça, peso e sexo dos animais transportados (TSEIMAZIDES, 2006). Isso se dá, provavelmente, devido às pressões comerciais existentes que, consequentemente, geram um aumento nas densidades de carga, de forma a minimizar os custos com o transporte.

Outro fator que influencia no bem estar dos animais transportados é o design do caminhão, que é caracterizado como apropriado conforme a densidade de carga animal, sexo, qualidade da estrada e tipo de carroceria (SILVA et al., 2016). No entanto, carrocerias com pregos e parafusos expostos, rampas com inclinação inadequada e estruturas que desfavorecem a circulação do ar também são fatores que afetam o bem estar dos animais.



Materiais e Métodos

O projeto foi realizado em frigorífico localizado no município de Aquidauana-MS, onde coletou-se o peso vivo médio (kg) de 391 bovinos, machos, com idade entre 24 a 36 meses, transportados em caminhões do tipo truck com lotação observada de 20 animais. O caminhão truck foi caracterizado como veículo que possui eixo duplo e carroceria medindo 10,60 m x 2,40 m resultando em 25,44 m² de área total. A taxa de lotação chamada de Observada é a praticada por pecuaristas da região e que foi verificada no período de execução do projeto entre agosto e novembro de 2016.

Avaliou-se a área ocupada por animal na carroceria através das equações do Conselho de Bem Estar Animal (do inglês Farm Animal Welfare Council (FAWC)) da União Europeia, (FAWC, 1992) e do Comitê Consultivo de Bem Estar Animal (do inglês Animal Welfare Advisory Committee (AWAC)) criado pela Nova Zelândia (AGRICULTURE VICTORIA, 1996), ambos estabelecem práticas que asseguram o bem-estar animal, sendo:

FAWC: A=0, 021 x PV0, 67

AWAC: A=0,01 x PV0, 78, em que:

A= área mínima (m2) que deve ser ocupada pelo animal; e

PV= peso vivo (kg) do animal.

  Os dados são apresentados de forma descritiva, dessa forma, foram calculadas as lotações por kg/m² e área por m² pela FAWC e AWAC de acordo com a média de peso vivo (kg) dos animais que após abatidos apresentaram frequência de hematomas nos seguintes intervalos 0 a 5; 6 a 10; 11 a 15; >15 e os seguintes números de lesões 0; 1; 2; 3; >3. A área por m² da taxa de lotação Observada foi obtida pela divisão do peso vivo médio/25,44 m². Para obter kg/m², dividiu-se o peso vivo médio (kg) pela área ocupada em m². Todos os resultados foram obtidos com base na área ocupada por animal (m²) segundo FAWC e AWAC.

Caracterizou-se como hematoma todo acúmulo de sangue no tecido causado por trauma. Já como lesão toda injúria excisada por funcionários do frigorífico durante a toalete da carcaça, posteriormente acondicionadas em embalagens plásticas para pesagem em balança do tipo digital com gancho.



Resultados e Discussão

Os dados a seguir de taxa de lotação, foram analisados de forma hipotética, inferindo uma situação que se torna real ao ser verificada de acordo com as equações FAWC, AWAC e nas condições observadas durante a realização desse projeto, kg/m² ocupado por 20 animais por caminhão (Observado), assim, são levados em consideração o peso vivo médio observado para os respectivos animais em cada intervalo de frequência de hematoma e número de lesão.

Os animais que apresentaram a maior quantidade de hematomas por carcaça (>15) não representam a maior densidade, tanto na condição observada (409,93 kg/m²), quanto as avaliadas segundo as equações FAWC e AWAC, comparativamente aos animais que tiveram entre 0 e 5 hematomas (Tabela 1). Teoricamente, a área por m² que 20 animais de 538,66 kg (média do peso vivo para animais entre 0 a 5 hematomas) ocupa é de 28,4 (20 animais x 1,42 m²) e 27,0 m² (20 animais x 1,35 m²), respectivamente, para FAWC e AWAC, no entanto, tais áreas são maiores que o espaço disponível no caminhão truck, que com dimensões de 10,60 m x 2,40 m, apresenta uma área total de 25,44 m².

No Brasil, utiliza-se no transporte de bovinos a densidade média de 390 a 410 kg/m² (DINIZ et al., 2011). Quando comparada à média utilizada aos dados calculados, observa-se que mesmo levando em consideração a média nacional, ainda sim a área da carroceria seria insuficiente para comportar a densidade de carga de animais pesados, sendo que 20 animais de 538,66 kg, a densidade ocupada por m² seria maior (423,47 kg/m²) do que o recomendado. Isso infere que o fato da taxa de lotação Observada ser maior do que a recomendada pode ser um fator benéfico em relação a hematomas nas carcaças, quando se transporta animais mais pesados, já que estes foram menos acometidos. Em comparação, as equações FAWC e AWAC, equivaleriam à densidade menor e dentro do intervalo, 379,24 kg/m² e 399 kg/m², respectivamente, ou seja, a densidade para comportar supostamente 20 animais de 538,66 kg de peso vivo seria melhor analisada pela equação AWAC, já que a densidade está no intervalo preconizado no Brasil, dessa forma, estaria de acordo com normas internacionais do comitê de bem-estar da Nova Zelândia.

Ao comparar a área (m²) ocupada pelos animais no caminhão truck (25,44 m²) com as áreas determinadas por FAWC (1,40 x 20) e AWAC (1,33 x 20), respectivamente, 28 e 26,6 m² percebe-se que a taxa de lotação acima da capacidade do caminhão, contribuiu para o menor aparecimento de lesões (0 e/ou 1 lesão) (Tabela 2).

Ao comparar kg/m² na condição Observada com FAWC e AWAC, observa-se que valores menores, ou seja, animais mais leves (410,43; 354,02 e 311,03 kg) tendem a apresentar maiores números de lesões em taxas de lotação mais baixas. Verifica-se que em densidade (kg/m²) abaixo do recomendado (390 a 410 kg), os animais não ocupam a área mínima determinada dentro do caminhão, propiciando quedas, contusões, pisoteio e choques contra partes da carroceria e contra outros animais do lote.

 

Conclusões

A menor quantidade de hematoma na carcaça está associado a maior taxa de lotação nesse estudo para animais mais pesados, já em relação as equações, a AWAC representou melhor a densidade praticada em território nacional.

Em relação a lesões, animais mais leves sofrem maior influência da área em m², sendo assim, a densidade de carga deve ser maior que a normalmente utilizada em caminhões do tipo truck, no intuito de reduzi-las.



Gráficos e Tabelas




Referências

AGRICULTURE VICTORIA, Agriculture. Animal Welfare Advisory Committee. 1996 Disponível em: <http://agriculture.vic.gov.au/agriculture/animal-health-and-welfare/animal-welfare/committees>. Acesso em: 23 março 2017.

CIOCCA, J.R. Efeitos da distância e do tipo de veículos usados no transporte de bovinos sobre o pH final e a freqüência de hematomas como indicadores de bem-estar. Monografia (Graduação em Zootecnia), Faculdade De Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal, 2007.

DINIZ, P.P. et al. Efeitos Do transporte no Bem-Estar e qualidade da carne de bovinos. Revista Brasileira de Engenharia de Biossistemas, v.5 n.3, p. 137-141. 2011.

FAWC (Farm Animal Welfare Council). FAWC updates the five freedom. Veterinary Record. 17, 357, 1992.

ROÇA, R.O. Abate humanitário de bovinos. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária Botucatu, v.4, p. 73-85. 2001.

SILVA, J.L. et al. Welfare and meat quality of cattle transported over different distances and in differently designed trucks (truck, trailer and double deck) in the region of Cuiabá/MT/Brazil. Archives of Veterinary Science, v.21, n.3, p. 68-76, 2016.

TSEIMAZIDES, S. P. Efeitos do transporte rodoviário sobre a incidência de hematomas e variações de pH em carcaças bovinas. 60p. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal, 2006.