TAXA DE PRENHEZ E IMPACTO ECONÔMICO DA IATF COM DIFERENTES DOSES DE GnRH E REPASSE DE TOUROS

Marlon Nadal Maciel1, Anderson Sander2
1 - Universidade Federal de Santa Maria/Campus Palmeira das Missões
2 - Universidade Federal de Santa Maria/Campus Palmeira das Missões

RESUMO -

Avaliou-se neste trabalho a taxa de prenhez e o custo de dois protocolos de IATF, utilizando-se duas doses diferentes de análogo de GnRH (Profertil®), e repasse com touros. Foram utilizadas 35 vacas Nelore, pluríparas, com aproximadamente 90 dias pós-parto e com condição corporal entre 3 e 4 (escala de 1 a 5). As fêmeas foram selecionadas pela condição corporal e distribuídas aleatoriamente em dois grupos: G100 (N=17) que recebeu administração de 100μg (1ml) de GnRH e 2ml de análogo de Prostaglandina (Prostaglandina®); e G200 (N=18), tratado de forma similar ao G100, diferindo apenas na dose de GnRH, a qual foi de 200μg (2ml). Decorridos cinco dias da IATF, dois touros foram adicionados ao grupo de fêmeas, com a estação de monta durando 45 dias. O diagnóstico de gestação foi realizado através de ultrassonografia, 45 dias após a retirada dos touros. As taxas de prenhez foram, respectivamente, de 83,35% e de 77,77%, para os grupos G100 e G200 (p>0,05). Desta forma, conclui-se que o protocolo Ovsynch pode ter a dose total de GnRH reduzida pela metade, alcançando-se uma redução no custo com o tratamento, sem haver interferência nos índices de prenhez de vacas Nelore que encontram-se em condições similares àquelas descritas neste estudo.

Palavras-chave: sincronização do estro; ovsynch; IATF

PREGNANCY RATE AND ECONOMIC IMPACT OF IATF PROGRAM USING DIFFERENT DOSES OF GnRH AND BULLS MATING

ABSTRACT - In this study the pregnancy rate and the economic impact of a herd of beef cows inseminated at fixed time, by administering two doses of GnRH analogue was evaluetad. Thirty five multiparous cows (Nelore), in approximately 90 days postpartum, and body condition between 3 and 4 (range 1-5) were used. Cows were stratified by body condition and assigned randomly to one of two groups: 1) G100 (N=17); cows received i.m. 100 mg (1ml) of GnRH analogue (Profertil ®) and 2ml of prostaglandin analogue (Prostaglandin ®); and 2) G200 (N=18); cows also received i.m. 2ml of prostaglandin, but received the double dose of GnRH (200 mg; 2 ml) comparing with the G100. After five days of IATF, bulls were introduced in a group of cows for 45 days. Forty five days after season breed finish, pregnancy diagnosis was carried out by ultrasound. Pregnancy rates were 83.35% and 77.77%, respectively, for G100 and G200 (p >0.05). In summary, the Ovsynch protocol may have the total dose of GnRH used halved, with no interference in the pregnancy rates of Nelore cows body score with 3.0 and 4.0 and reducing the cost of hormone treatment, making it more economically viable.
Keywords: estrus syncronization, ovsynch, FTAI


Introdução

O Brasil se destaca como produtor comercial e maior exportador de carne bovina do mundo. Entretanto, continuamos com índices produtivos baixos e com uma média de 60% de natalidade, o que retrata um baixo desempenho reprodutivo. Por outro lado, a eficiência reprodutiva, considerando-se o custo/benefício, pode ser um dos fatores responsáveis pelo bom desempenho e pelo retorno financeiro da propriedade. Por isso, ao longo das duas últimas décadas, muitos estudos tem sido desenvolvidos com o intuito de disponibilizar ao produtor um leque maior de alternativas que podem servir para o aumento da produtividade. Neste sentido, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) mostra-se uma eficiente biotecnologia, através da qual as vacas são inseminadas em data pré-determinada. É importante acrescentar que esta técnica permite ainda, a partir da utilização de hormônios que induzem e sincronizam o estro, a possibilidade de diminuição do período de parição, bem como o incremento dos controles gerenciais do rebanho. Por outro lado, quando utilizada em vacas no período pós-parto, sem o repasse com touros, a IATF, independentemente do indutor de ovulação, ainda apresenta taxas de prenhez que oscilam entre 25 e 67% (SIQUEIRA, 2007). Entretanto, os resultados insatisfatórios originados desta grande variação, a qual é fruto de diversos fatores, tanto ligados à resposta individual do animal ao tratamento hormonal, como também ao manejo adotado durante o protocolo de IATF (MACIEL, 2000), podem ser atenuados pelo repasse com touro. Assim, buscando incrementar as possibilidades disponíveis aos produtores, este trabalho analisou a taxa de prenhez e o custo de dois protocolos de IATF, utilizando doses diferentes de análogo de GnRH e repasse com touros.



Revisão Bibliográfica

A regulação do ciclo estral, já bastante conhecida, é realizada, naturalmente, a partir de mecanismos endócrinos e neuroendócrinos, envolvendo, principalmente, o GnRH, além de hormônios adenohipofisários, como o LH e o FSH e de hormônios gonadais, como o estradiol-17ß, a progesterona e a inibina. Por sua vez, o parto é seguido por um período de inatividade ovariana e quiescência sexual antes dos ciclos estrais recomeçarem. A duração desse intervalo parto-ciclo estral é variável e pode ser afetado por fatores como: condição nutricional e metabólica, produção de leite, sucção ou presença da cria, hereditariedade e estação do ano (BALL;  PETERS, 2006). Normalmente, vacas de corte criadas extensivamente possuem um período de anestro prolongado após o parto, principalmente, devido ao balanço energético negativo, o qual é causado pela pouca disponibilidade e baixa qualidade da alimentação no momento de maior exigência nutricional dos animais. Esses fatores têm influência direta na condição endócrina dos animais, especialmente prejudicando a liberação de GnRH e, consequentemente, a frequência de liberação dos pulsos de LH, os quais serão insuficientes à ovulação do folículo dominante, algumas vezes, já presente duas semanas após o parto.

            Por outro lado, a falha na detecção do estro é tida como uma das principais causas dos baixos níveis de concepção em alguns programas de inseminação artificial em bovinos de corte (NASCIMENTO, 2005). Isto, normalmente, se deve a falta de treinamento adequado de pessoal e, também, a fatores ligados ao animal, como por exemplo, a variação do momento da ovulação em relação ao início do estro.

            Assim, na busca pela diminuição dos impactos negativos das falhas na detecção do estro em programas de IA e, também, na tentativa de redução de custos com mão de obra, bem como da redução do período de parição, o que leva a produtos mais homogêneos, nos últimos 25 anos, a pecuária brasileira tem experimentado a popularização de biotecnologias de indução e sincronização do ciclo estral. Muitas delas, envolvem o uso de ProstaglandinaF (PGF) ou de seus análogos, com o objetivo de diminuir os níveis séricos de P4, através da luteólise, acompanhado de aumento na secreção de gonadotrofinas e no estradiol-17β, culminando na ovulação (FERRAZ et al., 2008). Outro hormônio bastante utilizado em protocolos de indução e sincronização do ciclo estral é o GnRH, o qual tem a sua secreção estimulada, pelo aumento nos níveis sanguíneos de estradiol, no sistema porta hipotálamo-hipofisário, promovendo, por sua vez, a síntese e a secreção de LH, bem como a síntese de FSH na adenohipófise (GRUNERT et al., 2005; COSTA, 2006). Portanto, a utilização exógena de análagos de GnRH busca induzir uma descarga hipofisária de LH, seguida da ovulação de um eventual folículo dominante e resultando, também, na emergência de uma nova onda folicular nos dois a três dias seguintes à administração de GnRH (PURSLEY et al., 1995; WOLFENSON et al., 1999).

Materiais e Métodos

 O experimento foi conduzido na Fazenda San Cyro, localizada no município de Sertão-RS, 27º96`57” de latitude Sul e 52º51`00” de longitude Oeste. O período experimental se deu entre os meses de setembro e dezembro e os animais foram manejados em pastagem de azevém (Lolium multiflorum). Foram selecionadas 35 vacas Nelore, pluríparas, com aproximadamente 90 dias pós-parto e com escore de condição corporal de 3 ou 4 (escala de 1 a 5). Os animais foram submetidos a exame por palpação retal e ultrassonografia para identificação daqueles com corpo lúteo e/ou presença de folículos grandes, em pelo menos um dos ovários e, posteriormente, selecionados de acordo com a condição corporal e distribuídos aleatoriamente em dois grupos: 1) G100 (n=17), no qual as vacas receberam 100μg (1ml) de análogo de GnRH (Profertil®) IM no dia 0; 2ml de análogo da Prostaglandina (Prostaglandina®) IM no dia 7 e nova aplicação intramuscular de 100μg (1ml) de GnRH no dia 9; e 2) G200 (n=18), no qual as fêmeas receberam tratamento similar ao G100, diferindo apenas na dose de GnRH, a qual foi de 200μg (2ml) em ambas as aplicações (protocolo Ovsynch). A IATF, realizada no dia 10, foi conduzida por um único inseminador e utilizando uma única partida de sêmen. Na análise dos custos, os parâmetros utilizados foram: custo com a IATF(R$) e custo final IATF+Repasse(R$). Na composição dos custos foram considerados os gastos com hormônios, sêmen, material de inseminação (considerando a depreciação e o custo de oportunidade), inseminador e o custo de utilização de touros. O custo final com IATF foi calculado com base nos custos referentes à inseminação, enquanto no custo final IATF+Repasse, foram considerados os custos da IATF e do repasse para um lote de 35 vacas. Tanto os dados de taxa de prenhez, pelo teste Qui-quadrado, como o impacto econômico foram analisados utilizando-se o programa Excel® (Microsoft Office XP 2007).



Resultados e Discussão

Apesar da presença de um corpo lúteo no ovário das fêmeas selecionadas para o experimento, o que eliminou a possibilidade destes animais estarem em anestro, algumas vacas não responderam satisfatoriamente ao tratamento hormonal e, tampouco, ao período em que permaneceram com touros. Desta forma, estas fêmeas, diagnosticadas como não gestantes, as quais foram mantidas nas mesmas condições que as demais, durante todo o período experimental, podem não ter respondido satisfatoriamente em função de fatores genéticos, ainda não compreendidos, que parecem interferir no metabolismo geral ou diretamente no processo reprodutivo, fazendo com que um grupo de fêmeas, mantidas em mesmo sistema alimentar e de manejo, respondam de modo diferente aos tratamentos hormonais (STAGG et al. 1995; MACIEL, 2000). Também não pode ser descartada a hipótese, em alguma dessas fêmeas, mesmo que nenhum sinal clínico aparente tenha sido observado, de interrupção da gestação ainda em fase inicial, o que poderia, dependendo da causa, comprometer a retomada do ciclo estral, impossibilitando o início de uma nova gestação dentro do período experimental. Além disso, mais importante do que o escore corporal da fêmea durante a estação reprodutiva, é a sua condição metabólica, a qual não foi avaliada neste experimento. Por outro lado, as taxas de prenhez detectadas neste trabalho foram de 82,35% (14/17) e 77,77% (14/18; p>0,05) para os grupos G100 e G200, respectivamente, resultados estes que podem ser considerados bons, especialmente, se levados em conta o período pós-parto em que estas fêmeas se encontravam, o relativamente curto período de inseminação e acasalamento ao qual estes animais foram submetidos, bem como com outros experimentos conduzidos em situações semelhantes a este (Baruselli et al., 2004; Rocha et al., 2007).. Em relação à análise de custos, determinou-se que o custo final da IATF + Repasse foi de R$ 126,03 no G100 e de R$ 141,71 no G200, ou seja, observou-se uma diminuição no custo de R$ 15,68/vaca no primeiro, apenas com a redução nas doses de GnRH adotadas no protocolo Ovsynch. Destaca-se que esta diferença pode variar de acordo com o custo da dose de GnRH, entretanto, se considerarmos que este valor pode ser multiplicado pelo número de vacas em um rebanho de cria, que muitas vezes pode chegar a mais de 1.000 fêmeas, ele não deve ser desprezado por nenhum produtor.



Conclusões

Desta forma, conclui-se que o protocolo Ovsynch pode ter a dose total de GnRH reduzida pela metade, alcançando-se uma diminuição no custo com o tratamento hormonal, sem haver interferência nos índices de prenhez de vacas Nelore que encontram-se em condições similares às descritas neste estudo.




Referências

BALL, P.J.H.; PETERS, A.R. Reprodução em bovinos. 3ª Ed. São Paulo: Roca, 2006.

BARUSELLI, P. S.; REIS, E. L.; MARQUES M. O. Técnicas de manejo para otimizar a eficiência reprodutiva em fêmeas bos indicus. Grupo de Estudo de Nutrição de Ruminantes – Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal – FCA – FMVZ – Unesp Botucatu, São  Paulo, 2004, p.18.

COSTA, A.N.L. Sincronização do estro e da ovulação em novilhas girolandas: comparação entre dois protocolos hormonais “CIDR-B” e “OVSYNCH” Fortaleza, 2006. 65p. (Dissertação em Zootecnia) Universidade Federal do Ceará, 2006.

FERRAZ, H.T.; VIU, M.A.O.; LOPES, D.T., et al. Sincronização da ovulação para realização da inseminação artificial em tempo fixo em bovinos de corte. PUBVET, v.2, n.12, mar, 2008.

MACIEL, M.N. Programa hormonal associado ao desmame temporário, na indução de ovulação em vacas de corte durante o anestro pósparto. 2000. 51 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) Universidade Federal de Santa Maria – RS.

NASCIMENTO, V. A. Avaliação de protocolos hormonais para inseminação artificial em tempo fixo em vacas lactantes da raça nelore. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosas, para obtenção do título de Mestre em Zootecnia. Viçosas Minas Gerais 2005.

PURSLEY, J. R.; MEE M. O.;  WILTBANK, M. C. Synchronization of ovulation in dairy cows using PGF and GnRH. Theriogenology , v. 44 p.915-923, 1995.

ROCHA, J.M. et al. IATF em vacas Nelore: Avaliação de duas doses de ECG e reutilização de implantes intravaginais de progesterona. Medicina Veterinária, Recife, v.1, p. 40 – 47, jan – jun, 2007.

SIQUEIRA, L. C. Esteróides no controle da regressão de folículos de diferentes diâmetros para uso em sistemas de inseminação artificial em tempo – fixo de vacas de corte no pós-parto. Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária UFSM – Santa Maria – RS, 2007.

STAGG, K.; DISKIN, M. G.; SREENAN, J. M.; ROCHE, J. F. Follicular development in long-term anoestrous suckled beef cows fed two levels of energy postpartum. Animal Reproduction Science, v. 38, p. 49-61, 1995.

WOLFENSON, D.; SONEGO, H.; SHAHAM-ALBALANCY, A. et al. Comparison of the steroidogenic capacity of bovine follicular and luteal cells, and corpora lutea originating from dominant follicles of the first or second follicular wave. Journal of Reproduction and Fertility v. 117, n.2, p. 241 246, 1999.

 

 

 







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